sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Temos de jogar muito mais

"Seria mentiroso se dissesse que gostei daquele jogo de domingo na Madeira ou daquela exibição a preto e branco tão distante daquilo que o Benfica sabe e já produziu. Seria hipócrita se não dissesse que gostei muito de ganhar os três pontos na Madeira. Ainda mal retemperado do sofrimento de 90 minutos, próximos do pior desta época, sentei-me a ver os jogos dos rivais, intervalados de outras ofertas desportivas mais atractivas. No final da noite o resultado era excepcional. O Benfica a jogar pouco faz melhor do que os assumidos concorrentes a jogar bem. Sporting e FC Porto ficaram amarelos com Paços de Ferreira e Estoril e no fim da noite a exibição do Benfica nem parecia tão pálida como às 18 horas. O fleumático Bobby Robson diria «three points very good, three points». A classificação é óptima mas teremos que jogar muito mais para ser campeões. Este descanso é um cansaço. Primeiro porque os nossos melhores jogadores actuam sem parar ao serviço das suas selecções e segundo porque todos os dias nos vendem meia equipa no mercado de Janeiro.
Bruno de Carvalho, numa altura em que parecia ter dado alguma estabilidade ao Sporting, resolveu entrar em guerra com 7 dos 10 milhões que habitam Portugal. Para quem está em oitavo lugar na Liga e ainda em todas as provas que quer vencer, não me parece uma estratégia muito sagaz. O FC Porto, que é terceiro classificado e já não disputa o seu segundo maior objectivo, mostra uma estabilidade que me parece bem mais apropriada.
Jonas mostrou mais uma vez ser o joker nas aquisições do Benfica. A mim enche-me as medidas, pelo que joga, pelo que defende, pela qualidade de recepção e passe tanto como pelos golos que marca. Jonas é classe e o futebol com classe é muito mais bonito. Jonas joga assim com a equipa abaixo daquilo que é capaz, imaginem com a equipa a jogar bem."

Sìlvio Cervan, in A Bola

A mesma cantiga

"Há várias tendências que se repetem na história do futebol português das últimas décadas. As arbitragens protegerem o FC Porto nos momentos decisivos é uma delas. O Sporting queixar-se espalhafatosamente das mesmas, exacerbando pequenos prejuízos, e ignorando benefícios, é outra. Mas há uma terceira, verdadeiramente pavloviana, que se repete a cada campeonato que o Benfica lidera, mormente quando a distância para a concorrência começa a ter algum significado.
Sempre que tal acontece, surge um coro de comentadores e escribas mais ou menos encartados, mais ou menos assumidos, pouco ou nada isentos, a entoar uma música já muito batida: 'o Benfica está a ser levado ao colo'. Foi assim em 2005, foi assim em 2010, foi assim a dada altura da temporada passada, pelo que não devemos agora, ficar particularmente surpreendidos.
A melodia não tem graça, mas o concerto é afinado. Ora diz um, ora escreve outro, até fazer vingar a máxima de que uma mentira repetida muitas vezes pode transformar-se numa verdade.
Tomemos por exemplo a última jornada. No Estoril vi um penálti claríssimo ser perdoado ao FC Porto, ainda na primeira parte. Em Alvalade, vi um golo irregular ser bem anulado (sendo essa, por sinal, opinião partilhada por todo o painel de um programa insuspeita Sport TV). Na Choupana, o único erro que recordo foi um fora-de-jogo de centímetros, num lance que, estou em crer, Júlio César deteria. Poderia ainda lembrar a única derrota do Benfica nesta Liga, e uma grande penalidade claríssima sobre Gaitán, que ficou por assinalar na área bracarense. Mas, eles não se calam, nem irão calar-se enquanto o Benfica seguir na liderança.
Nós não nos deixamos impressionar. Mas confesso o meu receio de que árbitros e assistentes encarem as coisas de outro modo, e tendam a procurar dissipar o ruído da pior forma possível. No fundo, uma questão de coragem, ou de falta dela. E é preciso dizer que as minhas expectativas relativamente a essa gente também não são elevadas."

Luís Fialho, in O Benfica

Os números...

"Não são apenas os números que geram certezas nem consolidam tendências incontornáveis. Não se trata apenas dos três pontos de diferença do FC Porto ou os expressivos sete pontos face ao nosso rival da Segunda Circular. Trata-se de consolidar um espírito de vitórias e de solidez.
A instabilidade ou a rotatividade excessiva prejudicam o normal funcionamento dos clubes e, a jusante, o próprio desempenho desportivo, minando a confiança dos jogadores, da equipa técnica e dos próprios adeptos. A grande virtude do Benfica esta época não é sequer a de conseguir agrupar um conjunto de jogadores imbatíveis, mas a de consolidar uma rotina de sucesso, de credibilidade que percorrer os alicerces do Benfica, desde a direcção até ao banco de suplentes.
E deve ter sublinhado um elemento que tenho vindo a enfatizar: a capacidade de Jorge Jesus no desenvolvimento e adaptação do potencial dos jogadores à sua disposição. A extraordinária performance de Talisca no decurso da presente época ai está para confirmar isso mesmo, assim como o desenvolvimento claro do instinto concretizador de Jonas. Quando a instituição se consolida e se credibiliza, os resultados surgem naturalmente, sem necessidade de declarações patéticas ou manobras financeiras duvidosas. Quando os dirigentes se afirmam como líderes naturais, toda a estrutura se ressente e todos os órgãos, todos os funcionários, todos os sócios se mobilizam para um apoio incondicional que só pode resultar em mais obtenção de títulos.
Termino com os parabéns à nossa BTV, órgão de comunicação de excelência, que chegou, com apenas seis anos de existência à final da categoria de 'melhor canal desportivo do ano'. Mais uma vez, a lição a retirar é apenas esta: quando a liderança é firme, credível e sonhadora, os resultados surgem. Na televisão e no estádio.
A partir daqui, já o sabemos sonhar é possível... e o céu o limite!"

André Ventura, in O Benfica