quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Para o Tozé este vai ser o campeonato do túnel

"Quando Tozé se encaminhou para cobrar o 'penalty' muitos pensaram: «Se o rapaz falhar vai haver falatório quinze dias.» Poucos pensarem no contrário, porém...

TALVEZ não seja mera questão de fé mas sim um dado instruído por uma vida cheia e experimentada o que me leva a acreditar que, entre os candidatos ao título, a equipa capaz de vencer o maior número de jogos com exibições medíocres é a que tem mais hipóteses de vir a ser campeã feitas as contas.
Superstição? Chamem-lhe o que quiserem.
O que importa é que, à luz desta minha singela convicção, a carreira do Benfica neste campeonato está a ser verdadeiramente empolgante.
Sucedem-se as vitórias tangenciais em jogos de fraca intensidade e de raro acerto, lastimosos pecados temperados pela já tradicional aflição dos minutos finais.
Indiscutivelmente, custou tanto ganhar ao Nacional como já tinha custado ganhar ao Rio Ave na jornada anterior. E o campeonato fica agora a marinar durante duas semanas para o bem e para o mal.
Sem ainda ter jogado nada de especial o Benfica fica a marinar para o bem porque segue no primeiro posto da tabela e tem essa posição garantida até 30 de Novembro, dia em que joga em Coimbra com a Académica no reatamento da prova.
Depois se verá o que acontece. Que há entre os benfiquistas uma grande saudade de ver a equipa jogar bem, isso há. Que venha depressa esse Benfica que nos sabe encantar porque isto assim como tem estado só serve para enervar toda a gente, inclusivamente os rivais. E serve também para liderar a prova, o que não deixa de ter valor.

PARA os adeptos do Benfica este último Sporting - Paços de Ferreira ficará como aquele jogo em que o Sporting jogou contra 10 e não conseguiu ganhar, o que é grave em termos retóricos.
Não ganhando o Sporting contra 10, roubou-nos a possibilidade de acusarmos o rival de só conseguir ganhar quando joga contra 10 como, aliás, eles fazem connosco quando o Benfica joga contra 10 e ganha.
Ou não é assim?

POR comparação com o percurso da época passada na Liga nacional, o Sporting-candidato faz pior do que o Sporting-não-candidato.
Já na Liga internacional, a dos Campeões, o Sporting faz melhor do que na época passada até porque em 2013/2014 nem compareceu. Passou o ano inteiro a jogar dentro de portas, um sabido descanso.
O Sporting do último ano lutou com o Benfica pelo título até tarde por estar folgado. E também por não ter de suportar a pressão da imprensa e do presidente do clube a exigir-lhe que fosse campeão vindo, como vinha, de um inaudito 7.º lugar no campeonato.
Também, e pelas mesmas razões, o Liverpool lutou pelo título em Inglaterra em 2013/2014. Livre de compromissos europeus, a equipa de Anfield Road por pouco, por muito pouco, falhou o título que persegue já há uma quantidade de anos.
Correctamente, temos em Espanha e em Inglaterra mais casos de equipas que por estarem fora das competições europeias brilham nas respectivas provas internas. Trata-se do Valência e do Southampton que andam nos lugares cimeiros das respectivas tabelas a surpreender quem ainda se surpreende com estas coisas.
Neste último fim de semana o Valência, ao contra´rio do que vinha fazendo, até nem esteve particularmente inspirado. Empatou em casa sem golos com o Atlétivo de Bilbau. Fez-lhes falta, certamente, o Jonas cujos serviços dispensaram, imprudentes.
Nesta última jornada do nosso campeonato, ficou bem patente essa questão do cansaço que as idas à Europa a meio da semana provocam nas equipas que têm muito afazeres. O Benfica arrastou-se por toda a segunda parte no jogo da Madeira e o Sporting viu o Paços de Ferreira mandar no resultado e no jogo de Alvalade até Montero conseguir empatar com um golo 100% legal, assinale-se.

AS equipas portuguesas que jogam na Liga Europa não se queixam de cansaço. O Rio Ave teve pernas para se desembaraçar tranquilamente da Académica depois de ter jogado com Steaua. Mas, curiosamente, foi o Estoril que melhor deu provas de arcaboiço para sobreviver fisicamente a um jogo internacional a meio da semana.
O Estoril jogou na quinta-feira em Moscovo, bem longe, e no domingo só não ganhou ao FC Porto, que jogara na terça-feira em Bilbau, bem mais perto, porque Julen Lopetegui lançou Oliver para os minutos finais do jogo da Amoreira dando-lhe ordens estritas para só marcar no tempo de descontos não fosse o Estoril, mais fresco do físico e das ideias, ter tempo para se colocar de novo em vantagem.
Lopetegui será, certamente, um excelente treinador mas como actor é fraco. Quase diria, com o devido respeito, que roça o canastrão. Quando Lopetegui é espicaçado para improvisar sobre um qualquer tema soprado dos bastidores normalmente perde toda a naturalidade, arregala os olhos em jeito de desculpa e a coisa saiu-lhe sem brilho, sem pinga da convicção.

FOI, portanto, de olho arregalado que Julen Lopetegui, a quem sopraram uma bucha institucional mal terminou o jogo na Amoreira, lá se viu forçado a improvisar sobre o sempre cadente da arbitragem para convencer a sua plateia de que é por causa dos árbitros que o FC Porto está a 3 pontos do líder do campeonato.
- De árbitros não falo, vi o jogo do Benfica - disse na pele desconfortável de quem tem de se justificar e de arregimentar solidariedade para a causa pessoal e colectiva em consequência de um resultado menos bom.
Há gente francamente susceptível em todos os emblemas, gente exagerada e pronta a reagir ofendida sempre que ao lado do adversário tocam no nome do seu mais que tudo. Aconteceu assim na noite do domingo. Houve muito benfiquista que não gostou da referência ao nome do seu clube emitida pelo treinador do FC Porto.
Houve também quem corresse a isentar Lopetegui de qualquer pecado realmente sério porque, tendo em conta as circunstâncias, ao treinador basco até poderia ter tocado um papel pior do que aquele a que se viu coagido pelo 2-2, assim tivesse ele oportunidade de dar asas em público aos seus pensamentos.
Que sarrabulho grassaria pela nação se Lopetegui, no lugar de dizer que viu o jogo do Benfica, dissesse isto:
- Meus amigos, quando a grandes penalidades, o Jackson que ponha os olhos no Tozé!
Ou perguntasse isto:
- Mas, amigos, onde é que está a tal grande organização de que me falaram?
Ou se despedisse de todos com isto:
- Besitos! Besitos! Besitos!
Em Novembro, 3 pontos de avanço ou de atraso não definem o nome do campeão, é verdade. Mas definem uma impressão, uma dúvida. Será que o mundo está a mudar? Não, não acreditem nisso.

QUANDO Tozé se encaminhou para cobrar a grande penalidade tendo diante de si a baliza e o enorme Fabiano, muitos pensaram:
- Se o rapaz falhar vai haver falatório durante quinze dias.
Mas poucos, nem os mais ousados, terão pensado:
- Se o rapaz NÃO falhar vai haver falatório durante quinze dias.
No entanto, foi o que veio a suceder. O rapaz não falhou e o falatório está instalado.
Conclusão:
Para o Tozé este vai ser o campeonato do túnel. Sobre isso é que não há dúvida nenhuma.

DUNGA levou Talisca para a Turquia com os grandes do Brasil mas o actual líder dos goleadores do campeonato português viu ontem sentado no banco os seus colegas darem cabo dos donos da casa. O Brasil joga na próxima terça-feira na Áustria e, provavelmente, o jovem Talisca continuará sentado no banco a ver os seus colegas dar cabo dos austríacos. Não desmoralizes, jovem Talisca. Quando voltares tens um jogo muito importante com o Moreirense para a linda Taça de Portugal."

Leonor Pinhão, in A Bola

André Almeida

No Benfica sempre tivemos jogadores, que faziam a diferença... e outros que fazem os equilíbrios. Parabéns ao André Almeida pela renovação, merecida...

Tento e tentos

"No futebol, à semelhança desta mesmo palavra e de muitas outras, adaptámos vocábulos ingleses. Um deles, por sinal e mais fascinante, é golo, importado do goal/inglês, que quer dizer objectivo ou alvo. Tal como no idioma francês (but) ou, mais forçadamente, no alemão (tor), mas nestes casos sem sombras de anglicismo.
De facto, o golo é o propósito, o fim a alcançar. Com os pés, cabeça, joelho, barriga, costas, excepto com a parte do corpo, por sinal, a mais apetrechada: mãos e braços.
Curioso é que, de vez em quando, ainda que em decrescendo, se diz também tento em substituição de golo. Até acho interessante este termos que tem várias e diferentes significações. No futebolês, tento está associado a um instrumento que se usava para marcar pontos num jogo. Já com outra origem etimológica, e enquanto substantivo, tem outros sentidos. Por exemplo, ter tento ou, em versão mais anatómica, ter tento na língua. Ou, com ar crítico, sem tento nem propósito.
O interessante é que nestas últimas acepções, o tento (ou falta dele) também está muito presente no futebol. Observem-se as fartas declarações de jogadores, treinadores, presidentes para ver como poderíamos medir o superávite ou o défice de tento. Aliás, o tento na língua dos protagonistas varia na razão dos tentos a menos na baliza.
Passando do substantivo para o verbo, há jogadores que dizem «eu bem tento» no período de jejum entre dois tentos. Uma versão semelhante ao «quase». O problema é que não há «quase tentos». Só lhes resta «levantar a cabeça» à espera de tentar um novo tento. E nestes casos, há adeptos que só se acalmam com um golo, ainda que seja de água..."

Bagão Félix, in A Bola