quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Talisca só está a 69 golos de Ronaldo

"Facciosismos à parte, não há quem não preveja um futuro brilhante a este longilíneo baiano com um pé esquerdo que, como bombardeiro ou como raquete, é sempre um terror de eficácia.

ANTES de o árbitro espanhol apitar o início do jogo de anteontem, na Luz, o Benfica era o último classificado do Grupo C com 1 mísero ponto somado e o simpático Maribor, que só jogaria no dia seguinte, era o penúltimo classificado do Grupo G com 2 míseros pontos somados.
Ou seja, à entrada para a 4.ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões o campeão português tinha menos pontos no saco do que o campeão da Eslovénia que, sem desdém pelo fraco poderio do futebol esloveno, rivaliza com equipas como o Ludogorets e como o Malmo na compita pelo título de pior equipa em prova. E trata-se da prova mais importante do mundo disputada entre clubes.
No entanto, a vitória suada e merecida sobre o Mónaco veio repor a decência na caminhada europeia do Benfica, caminhada que se deseja longa e profícua como as anteriores mas que se apresenta difícil e com dois brutos escolhos pela frente.
Com quatro jornadas disputadas o Benfica tem agora mais 1 ponto do que o Maribor que se desunhou ontem para empatar com o Chelsea, naquele que foi o resultado mais surpreendente da jornada europeia.
Mas, lamentavelmente, não chega ultrapassar os eslovenos em número de pontos somados. Para o Benfica continuar em qualquer uma das competições que se jogam na Europa são indispensáveis vitórias em São Petersburgo, dentro de duas semanas, e na recepção ao Bayer de Leverkusen, no próximo dia 9 de Dezembro, na Luz.
Tivesse o Benfica a sorte de lhe ter calhado no Grupo um Maribor, um Ludogorets ou mesmo um Malmo, os 4 pontos que leva agora somados chegavam e sobravam para assegurar a presença na Liga Europa tendo em conta que ainda tem três jogos por disputar. Mas não calhou. Paciência.
Se calhar o Benfica devia protestar energicamente contra a pouca sorte que lhe sai sistematicamente no rifa nestes arranjos da UEFA. Desconheço se a UEFA tem um Comité da Pouca Sorte Persistente.
Se tem, urge um comunicação do Benfica a exigir, por exemplo, a repetição do sorteio ou qualquer outra acção mais drástica desde que faça intelectualmente sentido para dar mais força à causa, tal como se impõe. Ou mesmo uma corrida de Estado até ao Facebook para que o lamento a transbordar de dignidade chegue a toda a parte.
O Grupo C é, na verdade, muito equilibrado em termos de qualidade média-superior da Liga dos Campeões. O jogo da tarde de terça-feira veio provar isso mesmo. Em São Petersburgo houve um belo desafio, tal como na Luz. O resultado podia ter pendido para cada um dos lados mas acabou por ser feliz o Bayer de Leverkusen que é, indiscutivelmente, a equipa mais madura e melhor preparada do Grupo para estes confrontos internacionais.
Por isso mesmo segue a equipa alemã destacada na liderança a um passo da qualificação. É-lhe suficiente vencer em casa o Mónaco no próximo dia 26 para somar 12 pontos e dar o assunto por encerrado. E é, precisamente, com isso que os benfiquistas, entre os quais me incluo, estão a contar. A contar imenso.
Há, no entanto, coisas mirabolantes a acontecer nesta edição 2013/2015 da Liga dos Campeões. O Zenit, por exemplo, equipa patrocinada pela Gazprom, a ultra poderosa empresa russa que patrocina também a UEFA, divide agora os últimos lugares do Grupo C com o Benfica, equipa patrocinada pelo BES e pela PT, empresas que são flagrantes casos de preocupação do nosso sistema financeiro e empresarial.
Feitas todas as contas em Dezembro, se o Benfica perder para o Zenit o seu lugar no comboio da Liga dos Campeões ou no eléctrico da Liga Europa julgo que será da maior pertinácia a elaboração de um protesto a dirigir à UEFA.

NÃO foi contra o Liverpool que Cristiano Ronaldo marcou o tão ansiado 72.º golo que lhe valerá ultrapassar Raúl na lista dos melhores marcadores de sempre da Liga dos Campeões. Mais cedo ou mais tarde vai acontecer. Prevê-se um longo reinado para o português até porque o jovem Talisca só na noite de anteontem é que marcou o seu primeiro golo na Liga dos Campeões. Foi um golo suficiente para o Benfica ganhar um jogo importantíssimo. Está agora o nosso Talisca a 69 golos de igualar a conta pessoal de Cristiano Ronaldo e a 70 de igualar os registos na mesma prova de Raúl e de, agora, Lionel Messi.
A manter o ritmo que vem exibindo desde que chegou ao Benfica não vai demorar a chegar lá.
No futuro mais próximo, os benfiquistas contam muito com Talisca para marcar golos em São Petersburgo dentro de duas semanas e para marcar golos na Madeira já no próximo domingo. E para continuar a marcar indiscriminadamente.
De um modo geral, facciosismos à parte, não há quem não preveja um futuro brilhante a este longilíneo baiano com um pé esquerdo que tanto funciona como bombardeiro ou como raquete, mas que é sempre um terror de eficácia.

E por falar em eficácia, o jovem Talisca marcou na noite de sexta-feira da semana passada o golo que foi suficiente para que o Benfica vencesse o Rio Ave e se segurasse na liderança do campeonato. Basicamente era o que se queria. O jogo com a excelente equipa de Vila do Conde, o Rio Ave de Tarantini e de Ukra, dois portugueses acima da média, teve, para lá do golo de Talisca, dois momentos muitíssimo preocupantes.
Um momento muito preocupante para os adeptos do Benfica quando, nos festejos que se seguiram ao golo do Talisca, o jovem Lisandro Lopez saltou intempestivamente para o colo do nosso guarda-redes Júlio César que logo o abraçou e ergueu pelos ares pondo em risco a recuperação do problema de saúde que o vinha afastando da titularidade.
Das bancadas da Luz ouviu-se o grito de preocupação de uns quantos milhares:
- Lisandro, olha as costas do homem!
Felizmente que a condição física de Júlio César não sofreu abalos com a comemoração do golo que valeu a vitória sobre o Rio Ave. A prova chegou na terça-feira no jogo com o Mónaco. Júlio César esteve em altíssimo plano nas poucas vezes em que teve de intervir e sabe-se como é só para alguns fazer muito bem quando o serviço é pouco e espaçado.
O segundo momento preocupante do jogo com o Rio Ave foi preocupantíssimo, tal como o primeiro, mas para os rivais do Benfica. Aconteceu quando o fiscal de linha invalidou aquilo que seria o golo dos visitantes numa decisão inapelavelmente correcta do ponto de vista das Leis do Jogo mas que viria a motivar uma nunca vista fúria teórica exigindo-se ao dito fiscal de linha que, a bem do progresso, ajuizasse mal o lance por motivos de implantação do solo.
Não é de espantar, no entanto, esta reacção. É bem portuguesa no sentido das lides nacionais com a Justiça. Não é paixão pelas leis, é paixão pelas tecnicalidades conforme conforme são ou não são convenientes.
O fora-de-jogo existiu mas não devia ter sido assinalado porque o bandeirinha estava mal implantado - foi a conclusão a que chegaram os campeões do ridículo depois de, em vão, terem distorcido linhas imaginárias e intenções reais.
Não é caso único. Aliás, de boas e de más implantações está o inferno cheio.
Por exemplo:
As escutas do Apito Dourado existem e foram ouvidas por milhões mas como não foram autorizadas por um juiz bem ou mal implantado não valem de nada...
O caso Cardinal existiu mas como o vice-presidente em causa está mais mal do que bem implantado em Alvalade, enfim...

UMA outra equipa patrocinada pela Gazprom perdeu ontem na Liga dos Campeões. Afinal a Gazprom não manda nada."

Leonor Pinhão, in A Bola

Ninharias (II)

"Ontem falei de ninharias. De ninharias hoje falo. O técnico do Rio Ave (excelente jogo e só batido pela ninharia de Talisca) declarou que, no golo anulado à sua equipa por fora de jogo mínimo, aceitava a decisão, mas criticou o árbitro assistente por estar afastado da posição ideal para ajuizar. E, por isso, foi áspero para a arbitragem. Está no seu direito. Mas o que é mais correcto e justo: uma boa decisão com o decisor mal colocado ou uma má decisão com o decisor primorosamente situado? A obsessão (sem excepção) com as arbitragens quando se perde é tão grande que, à míngua de argumentos materiais sobre as decisões, se digladia sobre os considerandos. É  como se o treinador preferisse que um seu jogador falhasse um golo com um belo chuto aparentemente falhado.  E por que são tão categóricos no banco sobre se foi ou não offside quando tão distantes do melhor ponto de observação?
José Mourinho continua igual a si mesmo. Se há paz, procura a guerra. Sem adversário, inventa-o. Com o habitual cinismo narcísio, veio engendrar uma explicação para o facto de o colega compatriota Jorge Jesus não estar entre os 10 escolhidos da FIFA: não ter passado a fase de grupos da Champions! Por acaso, esqueceu-se do ex-treinador da Juventus, A. Conte que está na lista, eliminado tal como o Benfica na Champions e pelo Benfica na L. Europa... Já agora quantos títulos teve Mourinho para lá figurar? Zero. Jesus fez o pleno em Portugal e foi finalista na desconsiderada Liga Europa. Ou há critérios objectivos ou é uma palhaçada. É como se a escolha para melhor marcador de golos fosse subjectiva..."

Bagão Félix, in A Bola