quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Por favor, não inventem

"Na entrevista muito interessante que deu ao Record, Jorge Jesus colocou o dedo na ferida: 'Há aí uns malucos que querem inventar, e quando eles quiseram avançar com quotas de jogadores, o nosso campeonato vai estar ao nível da Turquia, da Grécia, da Bélgica, da Holanda.'
O pressuposto de Jesus é correcto. Ao contrário do que é sugerido por muitos dos que insistem sistematicamente na ideia do que é 'preciso repensar o futebol português', o melhor que nos podia acontecer é que se mexesse pouco no futebol português, que não aparecessem 'malucos a inventar'.
Convém ter presente que, tendo em conta a dimensão do nosso país, o seu carácter periférico, o escasso poderio económico e o número reduzido de atletas federados, os resultados do nosso futebol deveriam ser vem piores do que são. Isto é verdade em termos competitivos (veja-se o ranking UEFA dos nossos clubes), mas, não menos relevante, se consideramos a dimensão financeira - Porto e Benfica têm sido capazes de desenvolver com sucesso um modelo económico assente na valorização e venda de jovens talentos estrangeiros e portugueses.
Ora se, em lugar de dar condições para que possam prosseguir estratégias autónomas, nas quais combinam investimento em jovens de outros países com aposta nos portugueses de excelência, os clubes fossem obrigados a postar nos jovens portugueses, apenas por serem portugueses, estaríamos, de facto, a nívelar por baixo.
Sejamos realistas: não há jogadores nacionais de excelência em número suficiente para permitir aos grandes clubes manterem-se competitivos. E, pior, com onzes maioritariamente formados por portugueses, os melhores não se habituariam a jogar, desde novos, com os melhores. Em última análise, o André Gomes e o Rúben Neves, para dar apenas dois exemplos, seriam objectivamente prejudicados."

Nomes e originalidades clubistas (I)

"A interrupção do campeonato é um bom pretexto para divagar sobre curiosidades. Assim me pus a pensar no nome pelo qual os clubes são mais chamados (nos media ou pelas pessoas).
O Futebol Clube do Porto é - não sei porquê - o que, frequentemente, é referido pelo seu nome completo. Ou seja além do nome próprio (Porto), pelo apelido (Futebol Clube), mesmo que se fale de outro desporto que não futebol... Um pouco à imagem do seu presidente que, não rato, é chamado por quatro nomes. Fazendo uma comparação, não vejo o Barcelona ser conhecido pelo seu nome completo Futbol Clube Barcelona.
Já o Benfica dá mais pelo nome próprio do que pelo completo Sport Lisboa e Benfica que se usa mais esparsamente. Curiosamente é dos grandes o que, no seio dos adeptos, é também aclamado pelo sigla SLB.
O Sporting Clube de Portugal não tem, na verdadeira acepção da palavra, nome próprio, pois Sporting - como, é quase sempre mencionado em versão curta - é também comum apelido. Havendo muitos, a intensidade do seu uso não é uniforme. O Braga é muitas vezes acompanhado por Sporting, tal como o Covilhã ou o Espinho (aqui para também não se confundir com a Académica de Espinho). Menos frequentemente o é o Farense e quase nunca o Olhanense.
Disse há dias o presidente, do SCP: «Uma das grandes vantagens do Sporting é que se chama Sporting Club de Portugal.(...) Nós representamos Portugal, ou outros (...) províncias ou bairros». Esclarecedora e original essa dita vantagem, sem dúvida. Eu, pela minha parte, sinto-me às mil maravilhas no bairro..."

Bagão Félix, in A Bola

PS: A referência constante ao Futebol Clube Corrupto, em vez de usar simplesmente o nome próprio, tem uma explicação simples: diferenciar o clube da cidade... Portuenses não são Portistas, e são muitos os bons exemplos.