quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Eu estive lá

"Tenho mais de 30 anos de Estádio da Luz. Tempo suficiente para já ter visto de tudo: conquistas gloriosas, derrotas formativas e jogadas mágicas. De todas guardo igual memória. Aprendi a gostar do Benfica com vitórias como as da caminhada rumo à final da UEFA com Eriksson; com derrocadas como a sofrida com o Liverpool, em meados dos oitenta, às mãos de Bento, que era um gigante; ou com dribles como os do Diamantino, que num jogo contra o Porto, de tanto fintar o Laureta, acabou por deixá-lo sentado.
O futebol é ma ficção que podemos viver, sentados na bancada. Mas não há nisto nada contemplativo. Quem vê futebol com paixão no estádio, participa do jogo. Sei que é assim. Os medos dos adeptos (a ansiedade que sentimos numa bola mal atrasada para o guarda-redes, as dúvidas em relação a um defesa que teima em deixar-nos mal), bem como a nossa confiança (traduzida na alegria que vislumbramos no extremo a quem as fintas saem sempre), ligam-nos ao jogo, mas transmitem-se também ao jogo. O Benfica é a continuação do que passa nas bancadas da Luz.
De tudo o que vivi, não me recordo de uma noite como a de 16 de Setembro de 2014. Escrevo por extenso a data dessa terça-feira, em que perdemos com o Zenit, pois passará a estar inscrita na minha memória, lado a lado com outros momentos formativos de benfiquismo.
Para trás vai ficar a sonolência colectiva do início da partida e a história esquecerá o resultado. Quando olharmos para este dia, recordar-nos-emos, todos os que lá estiveram, do cântico espontâneo e prolongado. Sei de certeza firme que o que se passou naquela noite vai ser o suplemento de alma para grandes conquistas e que, no fim da época, quando Luisão levantar a taça, o fará com a força de todos nós, que empurramos o Benfica para as vitórias. A cantar."


PS: Sobre este assunto não posso deixar sem referência, a forma como esta manifestação de Benfiquismo (que eu também participei), foi recebida pelos nossos 'supostos' rivais!!!
A ignorância demonstrada sobre o significado destes cântico, só me deixa ainda mais orgulhoso de ser Benfiquista...

Gramática e D'Artagnan

"Este meu pontapé-de-saída é em redor de outros pontapés, mais ou menos literários, mais ou menos teatrais. Refiro-me à expressão pontapés na gramática que é considerada ofensiva. Se fosse defensiva melhor seria dizer contrapés na gramática. Ou, ainda, se fosse culposa e objecto de penalização, talvez se pudesse falar de mão na gramática. É uma expressão que junta futebol e linguística. Há quem seja melhor na gramática dos pontapés de que nos pontapés na gramática. E, pelo que vi nos últimos dias, há quem, acima de qualquer suspeita, se considere num estádio superior no mundo dos pontapés e da gramática. Ou seja, conciliando em pleno a gramática do futebol e o futebol da gramática.
Sabemos que a gramática também tem a ver com as orações bem divididas e educadas. Nestas, o sujeito é fundamental. Mas o predicado é indispensável. Assim como os complementos, atributos e apostos ou continuados.
Alguém escreveu que a discrição é a gramática da boa linguagem, que se aprende com o uso. Por isso, há outras gramáticas na vida, como a gramática da civilidade. E nesta, quantas vezes um analfabeto é melhor professor do que um catedrático. Nem sempre o problema está na gramática propriamente dita. Pode estar, mais acentuadamente, na dialéctica, na lógica, na retórica e na oratória. De que alguns se alimentam freneticamente para manter a gramática (de outros) numa posição dramática.

P.S. Parece-me que ele é íntimo com D'Artagnan é gramaticalmente inadequado. Em vez de íntimo com D'Artagnan deve dizer-se íntimo de D'Artagnan ou que tem um contacto íntimo com D'Artagnan... No melhor pano caí a nódoa."

Bagão Félix, in A Bola

O verdadeiro Mourinho

"Talisca é um jogador brasileiro do Benfica de 20 anos, que, no entanto, já originou uma polémica entre dois treinadores que tinham idade para ser quase seus avós. E que ganham milhões.
O caso foi este: Mourinho disse que os ingleses conheciam bem Talisca, que só não foi para Londres por razões burocráticas. Jesus respondeu que "eles conheciam tanto o Talisca como eu conhecia o D’Artagnan".
O caso não ficou por aqui.
Mourinho replicou e, numa alusão às falhas gramaticais de Jesus, disse: "Eu tento educar-me para não dar pontapés na gramática".
Convenhamos que este tipo de ataques não é bonito. Jesus não tinha de pôr em causa as afirmações de Mourinho. Mas as suas palavras foram ditas em jeito de desabafo, com a impulsividade própria das pessoas simples.
Mourinho foi mais refinado. Não tentou contrariar Jesus: tentou atacá-lo no amor-próprio, espetar-lhe a faca, dizendo que ele é um ignorante, que fala mal e portanto devia estar calado.
Uma coisa são as ‘bocas’, normais no mundo do futebol. Outra são os ataques pessoais. E estes revelam mais sobre quem os faz do que sobre as suas vítimas."