sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Pontos perdidos com equipa banal

"Com muito respeito pelo Sporting e a sua história, e por muito que me custe admitir, o Benfica perdeu dois pontos com uma equipa banal no domingo. O Sporting é uma equipa com um bom treinador, mas um discurso desadequado à sua realidade. Não me parece com argumentos de candidato ao título e não me parece perto de Benfica e FC Porto. O Benfica perdeu dois pontos, por isso percebo a alegria sportinguista pelo empate na Luz, no fundo o Benfica fez igual à Académica e quase igual ao Arouca.
O FC Porto ao manter Jackson, fez o essencial para ser um enorme candidato ao título nacional. Jackson é decisivo num campeonato como o português. As hipóteses do Benfica dobravam se Jackson tivesse saído.
Verdade que as chances do FC Porto também aumentavam muito se Enzo não ficasse no Benfica. Foi excelente o esforço feito para o manter. Fiquei muito satisfeito com a permanência do argentino e aguardo para ver os médios grego e italiano no sistema táctico do Benfica. A escassez de recursos ficou muito menor com estas chegadas.
Jorge Jesus foi ao Fórum Internacional de Treinadores realçar uma ideia óbvia, e de elementar bom sendo: os campeonatos devem começar com os plantéis fechados. Assim havia respeito pelo trabalho dos técnicos, pelos adeptos e verdade desportiva.
O Benfica tem agora argumentos para disputar todas as provas nacionais, que diga-se, são todas suas. A loucura neste defeso europeu fez clubes gastarem milhões e ficarem mais fracos. Com metade desse dinheiro o Benfica seria campeão europeu. O futebol ainda vê milagres, embora a tendência seja de perda de capacidade dos clubes portugueses a nível internacional. Hoje ser adepto do Real Madrid e ter chama deve ser difícil. Gastar dinheiro não é sinónimo de ficar melhor mas há quem gaste tanto, que não ganhar nada parecerá ridículo.
Em semana de Portugal-Albânia, boa sorte para uma Selecção muito renovada."

Sílvio Cervan, in A Bola

Palma Cavalões

"Fechou o mercado de transferências. Isto é uma boa notícia para os adeptos do futebol e uma péssima notícia para os jornalistas desportivos. Os adeptos de futebol gostam de notícias e procuram-nos nos jornais desportivos. Os jornais desportivos gostam de especulações e detestam notícias. A notícia, normalmente traz associado um facto. As 'notícias' nos jornais desportivos baseiam-se em especulações encomendas de empresários/clubes, boatos infundados e uma incompetência militante em não conseguir destrinçar o ruído da mensagem. Ou seja, o adepto procura saciar a sede de notícias em água inquinada. Como resultado, surge uma progressiva, galopante e preocupante ausência de confiança no jornalismo desportivo, colocando-o num patamar idêntico ao da imprensa cor-de-rosa da coscuvilhice de cabeleireiro.
Só assim se explica que nenhum dos jornais (e foram todos!) desportivos nacionais tenha pedido desculpa por ter enganado repetidamente os leitores sempre que garantiram (e fizeram-no durante meses) a venda de Gaitán Enzo e, inclusivamente, Luisão. O Enzo foi diariamente 'vendido' ao Valência (cujo treinador teve repetidamente atitudes parolas de um pato-bravo do futebol ao serviço do novo-riquismo bacoco). Gaitán foi semanalmente 'vendido' ao Mónaco e Luisão foi garantido durante um mês inteiro na Juventus.
A realidade desmentiu os 'factos' inventados pelos três jornais desportivos diários nacionais.
Perante isto, conclui-se que os 'Palma Cavalões' do jornalismo actual continuam a ser feitos daquilo que Eça adjectivava como 'canalha', 'vil bolinha de matéria pútrida!...' e 'chouricinho de pus!'. Nada mudou nem mudará."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Culpas e desculpas

"1. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol qualificou de incompetente a participação de Portugal no Campeonato do Mundo de Futebol, realizado no Brasil, entre os dias 12 de Junho e 13 de Julho. Não teriam sido precisos dois meses de inquéritos internos para chegar a conclusão que entra pelos olhos dentro com a força da luz do Sol.
A culpa da evidente incompetência mantem-se mais ou menos solteira, embora o departamento médico tenha fornecido uns noivos para o acompanharem ao altar.
Figura mediática do futebol português, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol assume-se acima das responsabilidades que deverá assumir.

2. Em Alvalade, por seu lado, toda a gente pede desculpas. A sinceridade do acto de contrição pouco importa.
É uma prática que conduz, tal como na vida católica e apostólica, ao arrependimento e à redenção.
Teria o seu quê de edificante, não fosse a pobreza do argumento de tal película com tão pouco de bíblica.
Quanto à proverbial e deplorável grosseria do messias de pacotilha que engendra tão desavergonhado argumento, essa não tem desculpa.
A obtusidade vem-lhes, certamente, do berço. Os bigorrilhas de nascença não são perdoáveis: são inimputáveis."

Afonso de Melo, in O Benfica

Um a um

"1-Um erro individual impediu o Benfica de alcançar a sétima vitória consecutiva em Dérbis para o Campeonato disputados em casa, permitindo ao Sporting voltar a marcar na Luz – algo que não sucedia desde 2006-07.
O espectáculo foi grandioso (dentro e fora das quatro linhas), e a nossa equipa mostrou fulgor. Mas em jogos desta natureza, um simples detalhe pode fazer a diferença. Não adianta crucificar Artur, que noutras ocasiões já foi herói. É manifesto o seu défice de confiança, e cabe-nos também a nós, adeptos, ajudá-lo a readquirir a tranquilidade necessária para superar este momento menos bom, e regressar aos níveis revelados em 2011 e 2012.
Em Alvalade, na segunda volta, com Artur ou sem Artur, recuperaremos os pontos agora perdidos.
2-Finalmente encerrou o “mercado”. Dos últimos dias, uma nota de tranquilidade, e um motivo de preocupação.
A nota de tranquilidade prende-se com as permanências de Enzo Perez e Nico Gaitán, tão somente os dois melhores jogadores do último Campeonato. O Presidente prometeu que só sairiam pela cláusula de rescisão, e cumpriu a palavra dada. Como ninguém bateu as cláusulas, eles aí estão, incorporando a espinha dorsal do Campeão Nacional, e desmentindo as teses mais catastrofistas. Juntamente com Sálvio, formarão o núcleo duro do nosso futebol criativo. Continuaremos a ouvir Tango na Luz.
O motivo de preocupação reside no centro do ataque, onde me parece que as saídas de Cardozo e Rodrigo não ficaram devidamente colmatadas, e para onde se esperava um reforço de peso. É de realçar que nos quatro jogos oficiais já realizados (seis, se contarmos com a Taça de Honra), nenhum avançado benfiquista marcou qualquer golo. O futebol faz-se de golos, e sem eles não adianta jogar bonito ou empolgar plateias. Lima é um excelente ponta-de-lança, mas atinge normalmente os seus picos de forma em fases mais adiantadas das épocas (já foi assim no ano passado), e as alternativas não parecem à altura das exigências. Oxalá a realidade venha a dissipar este meu receio."

Luís Fialho, in O Benfica

Diz-se por aí... (derby)

"Foi qualquer coisa de extraordinário ver os adeptos sportinguistas abandonarem o Estádio da Luz. Saíam vitoriosos, confiantes, cheios de si mesmo por terem conseguido, ao final de umas tantas épocas desportivas, marcar um tento.
No entanto, ao contrário do que se possa pensar, o erro de Artur - que pode, efectivamente, acontecer a qualquer jogador em qualquer circunstância - nada mudou em termos de prestação de ambas as equipas e de prognóstico para o Campeonato.
O Benfica mostrou um futebol de classe, um fortíssimo Eliseu, um inspirado Gaitán e um sempre motivado Salvio, fundamental na elevação do nível de toda a equipa. O Sporting evidenciou um Adrien que parece cada dia mais desgastado e um Nani que não se encontrou e dificilmente se encontrará neste Sporting. É verdade que, como equipa, o Sporting revelou-se mais afiando, mas continua a ser um colectivo para se superar pontualmente e a nível interno, com extremas fragilidades defensivas, sem qualquer possibilidade de uma ambição credível ao título e, muito menos a qualquer título europeu.
Aliás, a alegria e o entusiasmo com que os leões abandonavam a Luz, emitindo gritos de vitória e hasteando bandeiras euforicamente, são a expressão fidedigna disto mesmo: o Sporting vai lutar pelo 3.º ou 4.º lugar. E Bruno Carvalho terá de continuar, provavelmente, a fazer o papel de treinador e a sentar-se na cabine da equipa técnica, junto ao relvado.
O Benfica tem de continuar a jogar este futebol, que confere magia à Liga e uma alegria autêntica aos milhões de adeptos por todo o mundo: dos potentes remates de Talisca, à liderança de Luisão, passando pelas combinações extasiantes entre Salvio e Gaitán, é por este caminho que renovaremos o triplete.
Como dizia um grande teórico do futebol, os resultados por vezes apenas permitem fazer prognósticos. Mas a magia constante com a bola nos pés garante a concretização dos sonhos."

André Ventura, in O Benfica

Encarnado é o vermelho-amor

"À hora a que escrevi esta crónica, ainda o mercado de transferências não fechou e são intermináveis as horas para que se inicie o clássico de Lisboa. Não obstante um e outro desfecho, os quais desejo ardentemente que sejam favoráveis às minhas pretensões de adepto e sócio benfiquista, há uma realidade que não deverá merecer-nos dúvidas: o Benfica tem equipa para revalidar o título.
É bem verdade que durante a temporada tive temores, dúvidas e até algumas angústias. Confesso. Aquietei-me, contudo, quando pensei que mantemos uma base sólida de grandes jogadores, mas também o mesmo treinador e equipa técnica, o mesmo sistema de jogo e, sobretudo, a mesma Direcção.
A estrutura directiva, encabeçada pelo Presidente Luís Filipe Vieira, é um garante de benfiquismo. O amor expresso que estes nossos representantes têm pelo Clube leva-me a crer que tudo farão para manter a hegemonia futebolística que o Benfica tem demonstrado nos últimos anos. Um campeão não se constrói com um punhado avulso de bons jogadores (embora ter bons jogadores ajude muito!). Tão determinante quando estes é a estrutura profissional para o futebol, que no caso do Benfica é do melhor que há nível planetário. Esta Direcção tem demonstrado que é seríssima nos deveres e obrigações mas astuta e apaixonada para voltar a criar um grande Benfica!
Em suma, uma grande Direcção, um bom treinador, excelsas condições de trabalho, magníficos e inigualáveis adeptos, são condições suficientes para que a tal base sólida de grandes jogadores que constituem o actual plantel do Benfica lute pelo título.
E, pensando assim, sou hoje um homem descansado, tanto quanto o cortador de relva do Estádio do Bessa!"

Carlos Campaniço, in O Benfica