quarta-feira, 27 de agosto de 2014

4.ª Prata Mundial para Telma Monteiro !!!

Grande dia em Chelyabinsk, Rússia, para a nossa Telma Monteiro, que conquistou pela 4.ª vez na sua carreira, a medalha de Prata num Campeonato do Mundo de Judo... É verdade que fica sempre um sabor amargo, ter estado tão perto do Ouro, mas um curriculum destes não pode ser menosprezado, bem pelo contrário.
Já o disse anteriormente - creio que no rescaldo dos Jogos Olímpicos -, a Telma, é um dos melhores atletas Portuguesas de sempre, em qualquer modalidade, em masculinos ou femininos...!!!
São 4 Ouros em Campeonatos da Europa (mais 1 Prata, e 4 Bronze a nível Europeu), e agora são 4 Pratas em Campeonatos do Mundo (mais 1 Bronze a nível Mundial). Sem falar das Taças do Mundo, e dos Campeonatos de sub-23 e Juniores... Espero que tudo corra bem até ao Rio 2016, a Telma merece um grande resultado nos Jogos Olímpicos...
A única frustração de hoje é saber que a Japonesa Udaka (mais uma vez, foi uma Japonesa!!!), venceu no Ponto de Ouro (morte súbita), não com um ataque, mas com um castigo para a Telma, que acabou desclassificada, numa altura onde já se notava muito cansaço, e pouco esclarecimento...!!! Isto tudo, depois de um percurso imaculado cheio de Ippons, onde só a Americana Malloy tinha obrigado a um combate completo:
- Nishanbayeva (Caz), Ippon, 21 segundos
- Malloy (Eua), Yuko
- Kocher (Sui), Ippon, 39 segundos
- Dorjsuren (Mon), Ippon, perto do final do combate...
- Udaka (Jap), desclassificada, Ponto de Ouro

Sorteio Champions 2014/15

Terminou hoje a qualificação para a Champions, e assim já sabemos a ordem dos Potes para o sorteio de amanhã.
Numa rápida analise às nossas possibilidades, destaco as dificuldades nos 3 primeiros Potes, só no Pode 4 podemos encontrar algumas facilidades. Vamos quase de certeza ter um Grupo, com 3 equipas a lutar pelos 2 lugares de qualificação para os Oitavos. E tal como nas épocas anteriores, é fundamental a classificação para os Oitavos, não só pela questão financeira, mas também devido à sobrecarga extra, que é jogar na Liga Europa... o ano passado, deu para gerir, mas este ano, parece que o plantel será mais curto...!!!

O Pode 2 é fortíssimo, com alguns dos recentes milionários, só o Basileia mete menos respeito, mas mesmo assim os Suíços são uma equipa muito experiente na Champions, e o ano passado por exemplo derrotaram o Chelsea nesta fase!!!  Neste Pote, ainda existe a questão política do Shakhtar, com os jogos na Ucrânia a realizarem-se provavelmente em Kiev...
O Schalke 04 é claramente o menos-milionário, mas também não temos boas memórias com eles... O resto venha o diabo e escolha: não gostava de jogar contra o Garay, Javi e Witsel; o Dortmund parece-me estar a passar um fase de transição, com muitos jogadores novos a chegarem; o City tem 2 equipas...; o PSG (do David Luiz) e a Juventus foram adversários o ano passado, creio que os Franceses mesmo assim seriam melhores, já que os Italianos não nos podem ver pela frente...!!!

No Pote 3, não me importava nada de jogar com os Lagartos, os mais fraquinhos - por larga margem... -, mas como isso não é possível... Temos aqui vários 'conhecidos': o Olympiakos da época anterior, e o Ajax e o Bilbau desta pré-época... e as coisas correram sempre mal!!! Não gostava de ir jogar ao sintético de Moscovo com o CSKA, e também não temos boas memórias (antigas é verdade) do Galatasaray!!! Sendo assim sobram poucas: eliminámos recentemente o Bayer na Liga Europa, mas neste momento são provavelmente a 2.ª melhor equipa Alemã; e o Liverpool está a fazer o seu regresso à Champions, apesar do muito dinheiro gasto em contratações, parecem-me mais fracos que o ano passado, mas da última vez que jogámos com eles, as coisas também não correram bem...!!!

O Pote 4, sendo o mais 'fácil' tem duas armadilhas: Roma e Mónaco. É verdade que a época do Mónaco começou mal, mas as competições internas, não contam para a Champions, e o Mónaco tem um plantel muito forte... Anderlecht, Malmo, Ludogorets, Bate ou Maribor são todos adversários acessíveis... deixo de fora o Apoel, porque esta equipa tem conseguido ultimamente resultados surpreendentes na Europa!!! Como também é importante manter as viagens curtas, talvez um regresso à Bélgica, ou uma volta pela Eslovénia sejam as minhas preferências...

Como nota humorística seria engraçado ter o Sporting, no grupo do Bayern, seria uma bonita homenagem à última participação dos Lagartos na Champions, onde saíram vergados, a um histórico 12-1, nos dois jogos!!!

Pote 1
Real Madrid
Barcelona
Bayern Munique
Chelsea
Atlético Madrid
Arsenal
SL BENFICA
Corruptos

Pote 2
Schalke 04
Borrusia Dortmund
Juventus
PSG
Shakhtar Donetsk
Basileia
Zenit
Manchester City

Pote 3
Sporting
Bayer Leverkusen
Olympiakos
CSKA Moscovo 
Ajax
Athletic Bilbau
Liverpool
Galatasaray

Pote 4
Anderlecht
Malmo
Roma
Ludogorets
APOEL Limassol
BATE Borisov
Maribor
Mónaco

PS: Foi tornado público nos últimos dias uma estatística muito interessante. O Benfica é a equipa Europeia, com mais 'pontos' nas competições europeias nos últimos 5 anos...; e a 4.ª nos últimos 10 anos!!! Isto, com uma soma aritmética simples, sem ponderar se os jogos são da Champions ou da Liga Europa.
É óbvio que estas vitórias, foram obtidas na sua maior parte, na Liga Europa, mas mesmo assim, dando o relativo desconto, é impossível não destacar o excelente trabalho que o Benfica (dirigentes, treinadores e jogadores) tem feito nas últimas épocas na Europa... Isto depois de várias épocas de desilusões, com a excepção do ano do Koeman. Mas infelizmente a memória é fraca...
Num tempo, onde cada vez mais o dinheiro faz a diferença, onde o Benfica está limitado financeiramente por fazer parte de um mercado pequeno (e mal explorado...), não é fácil competir directamente, com os velhos e com os novos milionários do Futebol Europeu...

Vitória, em inferioridade numérica...

Oliveirense 0 - 1 Benfica B

Uma excelente vitória jogando fora, algo que deveria ser habitual... temos qualidade para isso.
Sem o Guedes, que está a treinar com a equipa principal, o Hélder resolveu reforçar a defesa, com o João Nunes a lateral direito, o Dawidowicz a trinco, e o Semedo na ala direita... deixando o ataque para o Fonte, com a ajuda do Costa. Creio que o Hélder estava com algum receio da altura do adversário... que era o líder do Campeonato, até esta jornada, só com vitórias !!!
Ainda bem este jogo se realizou agora, pois este é um dos piores 'batatais' da II Liga, e assim ainda deu para jogar à bola...!!!
Jogámos praticamente toda a 2.ª parte com 10, após a expulsão do João Nunes (2.ª em 4 jogos!!!)... O golo foi marcado, já depois da expulsão, aliás jogámos melhor com 10 !!!
Nos últimos minutos conseguimos aguentar os 3 pontos...

Varela; Lindelof, Valente, Nunes, Gaspar (Alfaiate, 75'); Dawidowicz, Pinto; Teixeira (Cardoso, 87'), Semedo, Costa; Fonte (Romário, 81').

Indiferença

"O El País publicou um significativo texto sobre o notável jogador austríaco Matthias Sindelar, que, em 1939, foi encontrado morto na cama do seu quarto com a sua mulher Camila Castagnola, judia de origem italiana. Sindelar, filho de emigrantes checos judeus, negara-se a jogar pela Alemanha nazi que passara a integrar a Wunderteam (equipa maravilha, como era chamada a selecção austríaca), como consequência de a Áustria ter passado a província de Ostmark. Hitler não perdoou. O cerco ao jogador apertou-se, até que um dia a polícia informou a sua morte. Assim terminou a vida e carreira de um jogador que foi eleito o melhor atleta austríaco do século passado. Ficou conhecido como o Mozart do futebol. Um dramático exemplo de quando os desportistas ainda eram homens e não apenas máquinas lubrificadas a euros e dólares.
Albert Ebossé, jogador camaronês, morreu no domingo. Havia emigrado para jogar na Argélia, na idade de todos os sonhos. Marcara até o golo da sua equipa, o que não evitou a derrota por 1-2. Foi barbaramente atingido por uma pedrada das muitas lançadas por adeptos inconformados.
Eis dois exemplos dramáticos do lado mais perverso do desporto. O totalitarismo mais cruel e desumano a impor as regras e a esmagar a liberdade mais singela e a fúria totalitária de quem vê um simples jogo de futebol como se de uma guerra se tratasse.
Curioso é que por cá, a notícia do assassinato do jovem africano surge no rodapé jornalístico. Esta semana, o que vai alimentar a semana noticiosa é, bem mais prosaicamente, saber se J. Jesus vai ou não estar no banco no derby.
A indiferença tudo banaliza. Até a própria indiferença..."

 Bagão Félix, in A Bola

Quando a Pantera tinha fome

"Na véspera de o Benfica voltar a jogar contra o Boavista para o Campeonato, recorde-se Outubro de 1969, tempo de eleições e de uma goleada por 8-0 com seis golos de Eusébio.

O Boavista está de volta à I Divisão. Vou deixar para outras núpcias a minha opinião sobre tal regresso e para as calendas tudo o que levou à sua viagem pelos recônditos do futebol português - embora essa opinião já tenha sido largamente publicada.
Também vou deixar de lado os considerandos sobre as supostas eleições livres que terão ocorrido em Portugal no dia 26 de Outubro de 1969, com enorme afluência segundo os jornais censurados da época, e que obrigaram à antecipação da 6.ª jornada do Campeonato Nacional para a véspera.
Tudo matéria do maior interesse, como é óbvio, mas que merece prosa cuidada e se sujeita a um ou outro remoque de pé de página, está bem de ver.
Por isso, fico-me pelo Boavista - próximo adversário do Benfica neste campeonato de 2014/15 - e pelo mês de Outubro de 1969.
É que também pelo futebol se fez história. Fica, dessa forma, a política de lado.
No dia 25, portanto, o Boavista veio à Luz. Não sabiam o que os esperava os jogadores das «camisolas esquisitas» - alcunha que lhes seria posta muito anos mais tarde pelo guarda-redes Walter Zenga, do Inter de Milão, na antecipação de um confronto para a Taça UEFA. Muitos deles eram bem conhecidos do futebol português: Mário João, Barbosa, Celso, Lemos... Não sabiam o que os esperava nem era fácil de adivinhar. Uma tempestade vermelha e um vendaval Eusébio soprariam em Lisboa e desfariam em pedaços a equipa dos quadradinhos.
Na altura, chamaram-lhes ingénuos. Havia neles uma vontade de se bater de igual para igual, uma genica ofensiva sem sustentação, um ímpeto suicida que os levou a atirarem-se de cabeça para debaixo da máquina trituradora que contava com a Pantera Negra em todo o seu esplendor.
Por mais que lhes tenham gabado a coragem, foram varridos como ramos secos de árvores antigas à passagem de um tufão.

Uma enlouquecida dança vermelha
Nessa tarde, na Luz, Eusébio marcou seis golos. Não era a primeira vez que o fazia e não iria ser a última.
A linha avançada do Benfica era composta por Simões, Torres, Eusébio e Diamantino. Atrás deles postavam-se Toni e Coluna. Demolidores.
Aos 17 minutos, já o Benfica vencia por 2-0 e os canhendos dos jornalistas presentes registavam algumas outras oportunidades perdidas.
2-0: dois golos de Eusébio, aos 10 e 17 minutos.
Nas bancadas, não havia quem duvidasse da goleada. A supremacia técnica, táctica e atlética dos encarnados era de tal ordem que vinha aí a degola dos inocentes. E a Pantera tinha fome.
Ao intervalo, o resultado era quase quadrado: quatro-a-zero. Torres e Coluna fizeram a diferença no marcador. Mas o melhor estava ainda para vir. Eusébio, Eusébio, Eusébio e mais Eusébio.
Sim, isso mesmo: quatro vezes Eusébio em 45 minutos.
Eusébio para todos os gostos; Eusébio em todos os feitios.
Revelam as crónicas que Diamantino foi terrível de inquietação e talento. Que a firmeza de Toni e de Coluna se fez sentir por todo o campo. E que Eusébio foi sendo Eusébio a cada um dos minutos que corria por entre os ponteiros do relógio como grãos de areia fina por entre os dedos de uma mão. Há quem diga - esses que viram e que eu leio, ávido de interesse - que Eusébio podia ter marcado mais quatro, cinco, seis golos. Que os seus remates tonitruantes assustavam o guarda-redes Quim, levantando-lhe os cabelos em cachos encrespados no alto da nuca. Pode ser que haja exagero nessas prosas inflamadas, mas Eusébio sempre foi, por si só, um exagero.
A Pantera Negra tinha fome e devorava peças de xadrez. 46, 53, 54 e 81 minutos: mais quatro golos a somar aos primeiros dois. As eleições do dia seguinte podem ter ferido de morte o regime em Portugal. Mas, pelas bancadas da Luz, o ritmo frenético vermelho nada tinha que ver com revoltas sociais. Era uma dança. Uma dança do fogo enlouquecida no centro da qual ardiam adversários desesperados.
8-0: seis golos de Eusébio! Com ponto de exclamação!
Eusébio devia levar sempre ponto de exclamação!"

Afonso de Melo, in O Benfica