terça-feira, 29 de julho de 2014

Fomos 2 vezes à Fonte !!!

Mérida 1 - 2 Benfica B

Primeiro jogo nesta mini-digressão a Espanha, em Mérida, terra natal do Lolo, acabou por ser o Rui Fonte (de regresso a Espanha!!!) a marcar os 2 golos...
Jogaram de início: Santos; Semedo, Alfaiate, Valente, Gaspar; Amorim, Pinto, Costa, Guedes; Lolo, Fonte. Começaram no banco: Thierry; Ramos, Cardoso; Estrela, Dawidowicz; Frisenbichler.

Amanhã temos novo jogo com o Extremadura...

Estou assustado

"Na semana passada, Jorge Jesus tentou tranquilizar-nos, dizendo para não estarmos 'assustados por terem saído muitos jogadores pois vamos fazer uma equipa com a dimensão e a exigência do Benfica', para acrescentar que 'claro que demora um pouco mais de tempo do que o normal'. Percebo o optimismo da vontade do treinador, mas por mais voltas que dê, não consiga deixar de estar assustado. Podia enunciar muitas razões, destaco três.
Incerteza: estamos a 12 dias do primeiro jogo oficial e há demasiadas questões em aberto - desde jogadores para posições-chave que ainda se terão de juntar ao grupo (pelo menos um 6 e um guarda-redes), como muitos outros que podem ainda sair. Este contexto de incerteza faz parte do futebol de hoje, em que grande parte dos passes de jogadores é detida por fundos. Mas, convenhamos, a razia que temos sofrido bem como o tempo que se tem demorado a encontrar substitutos, tem poucos paralelismos e leva-nos a questionar a capacidade de planeamento do clube.
Imaturidade: a ideia de que se pode construir uma equipa para ganhar campeonatos apenas com jogadores jovens é peregrina. Numa época longa e exigente é necessário talento, mas são igualmente precisos alguns cabelos brancos em lugares decisivos. Por mais futuro que tenham os atletas da formação ou os jovens estrangeiros, sem jogadores capazes de estabilizar emocionalmente a equipa e de ter voz de comando em campo, não se vai lá. Ora, neste momento, só Luisão, Maxi, Rúben e Lima reúnem estas características. A permanência de Enzo é, por isso, fulcral para oferecer maturidade ao meio-campo.
Qualidade: vender é uma lei de ferro do futebol moderno. O problema não foram os jogadores que saíram, mas, sim, o facto de, até ver, os jogadores que saíram serem individualmente muitos superiores aos que entraram (Rodrigo por Derley; Garay por César; ou, pior, Enzo por Talisca; já para não referir que Candeias e Pizzi juntos não fazem um Markovic). Como bem sublinhou Jorge Jesus, 'só trabalho não chega, tem de haver qualidade'."


PS: Aqui está um bom exemplo da retórica (versão suave) que tem sido usada ultimamente. Concordando em alguns pontos, realço somente o exagero. Por exemplo em vez de comparar o Garay com o César, porque não fazer a comparação com o Lisandro; em vez de comparar o Markovic com o Pizzi e o Candeias, porque não comparar o sérvio com o Salvio (ausente na maior parte da época anterior)...

Uma bola no meio do «Ballet Azul»

"Falemos ainda um pouco mais sobre Alfredo Di Stéfano, ídolo de Eusébio, um dos maiores entre os maiores entre os maiores, tão recentemente desaparecido. Recordemos a sua passagem pela Colômbia.

Di Stéfano. O ídolo de Eusébio. Vou falar sobre ele mais um pouco, se o leitor que faz o semanal sacrifício de me ler, dá licença. Di Stéfano foi único, por isso merece. E a sua vida cheia de aventuras.
Vamos até à Colômbia, em 1948.
Em 1948  Mundo era ligeiramente mais pequeno do que é hoje. Em 1948, o que se passava na longínqua Colômbia só chegava aos ouvidos da Europa se viesse em forma de bula papal, ou coisa que o valha.
Agora já não é bem assim. Desde que a televisão queira, sabemos neste preciso minuto, tudo o que se passou na Colômbia há, digamos, 10 centésimos de segundo. Se a televisão não quiser, sabemos na mesma, embora tenhamos dúvidas sobre autenticidade dos acontecimentos. De qualquer forma, e mesmo que a televisão queira, nunca temos bem a certeza sobre a autenticidade dos acontecimentos.
Em 1948, na Colômbia foi assassinado o líder de esquerda, Jorge Elicer Gaitán, em Bogotá. O país mergulhou em dez anos de insurreição e criminalidade: um período conhecido por «La Violencia». Mais de 200 mil mortos. No seu castelhano musicado, os colombianos chamaram a esse dia 9 de Abril de 1948 «El Bogotazo». Exactamente. E ainda faltavam dois anos para o «Maracanazo».
Em 1948, na Colômbia, as coisas tornaram-se um pouco confusas. Em todos os aspectos. O público colombiano tornou-se tão louco por futebol como os seus colegas do Brasil, da Argentina ou do Uruguai. E os clubes colombianos entraram numa febre consumista sem paralelo na história do jogo.
Alfonso Senior Quevedo: fundador do Clube Milionarios de Bogotá, foi igualmente o criador da Dimayor, em finais de 1947. Dimayor: a primeira liga profissional colombiana, a primeira liga profissional a não colocar restrições à utilização de estrangeiros. O argentino Adolfo Pedernera foi a estrela que abriu o caminho, assinando pelo Milionarios. Cinquenta outros argentinos firmariam, na semana seguinte, contratos com clubes colombianos.
No centro de «La Violencia», o futebol, na Colômbia, era uma festa. Chamavam-lhe o «El Dorado».
Há tanta coisa para escrever sobre o El Dorado que dava um livro. Fiquem descansados: não será um livro. Mas não prometo que para a semana não volte a falar no assunto... Ou que, pelo menos, não volte a falar de Di Stéfano.
Voltemos ao Milionarios: eis que chega Di Stéfano, vindo do River Plate. E o uruguaio Hector Scarone, treinador campeão do Mundo, e 1930. E Nester Rossi, Hector Rial, Antonio Baez, Reinaldo Mourín, Pedro Cabillón, Alfredo Castillo, Tomás Aves, Julio Cozzi, Raúl Pini e Hugo Reyes, todos argentinos. Pedernera já tinha vindo. E Alcides Aguilera, Angel Otero, Jose Saule e Victor Bruno Lattuada, uruguaios. E o paraguaio Julio Cesar Ramirez, e o peruano Ismael Soria, e o brasileiro Danilo. E havia os colombianos Francisco Zuluaga, Manuel Fandiño e Gabriel Uribe.
Em 1948, a Colômbia era longe, longe, longe. Por isso a gente não se lembra, nem há quem se lembre por nós. Não fora o caso talvez soubéssemos recitar de cor, assim mesmo em WM: Cozzi; Zuluaga e Raul Pini; Julio Cesar Ramirez, Nestor Rossi e Ismael Soria; Reyes, Pedernera, Di Stéfano, Baez e Reinaldo Mourin.
Carlos Arturo Rueda: foi talvez o maior nome do jornalismo desportivo colombiano. Um dia, ao ver o Milionarios bater o Real Madrid, em Caracas, disse convicto: «Esta é a melhor equipa do Mundo! Um verdadeiro Ballet Azul!» O nome ficou.
De 1948 a 1953, cinco campeonatos consecutivos, mais de 100 golo marcados por época. Os resultados repetiam-se: 5-0, 5-1, 5-2. O Ballet Azul tinha uma regra: chegando aos cinco, entretinha-se o público. Uma bola no meio do ballet.
Mas, em 1948, a Colômbia ainda era demasiado longe para a gente saber disso. Pelo que é importante recordá-lo. Di Stéfano merece. E o futebol também."

Afonso de Melo, in O Benfica