quarta-feira, 9 de julho de 2014

Um quotidiano previsível

"Adepto que se preze gosta do defeso. É por esta altura que todos os sonhos são possíveis: que vislumbramos no '8' que vimos no YouTube o craque que, lá para Abril, vai decidir o título; que fantasiasmos com o ponta-de-lança letal, mas de técnica apurada, que finalmente chegará; e que temos a certeza de que vamos descobrir a próxima pérola africana, um avançado explosivo, de remate potente. Este presente de ilusões artificiais alimenta, como poucas outras coisas, a paixão pelo futebol. Por esta altura, deixamos que as manchetes de jornais nos mintam, como que para prolongar um sonho que sabemos que nos afasta da realidade.
Eu quero acreditar em todas as contratações do Benfica, moverem por uma fé que anuncia um futuro de novas glórias e de novos talentos. Mas é também chegado o momento de reclamar por uma pré-temporada que se inicie com uma estrutura estável, com os mesmos jogadores do ano anterior. Como benfiquista tenho direito a, exijo mesmo, um quotidiano previsível?
Reparem, não estou a dizer que gostava que os jornais desportivos parassem de me iludir. Quanto a isso, a minha disposição é a de sempre: prefiro ser o último a descobrir a verdade. Para que vejam, ainda acredito que o Klinsmann vai jogar no Benfica e que é desta que o Ulf Kristen assina. A questão é outra. Podem entrar jogadores e, com alguma razoabilidade, até estou disponível para aceitar algumas vendas - desde que, claro está, acima dos 20 milhões. O que não aceito é que se desmantele uma equipa de um momento para outro.
O assunto é bem sério. Como muitos outros país, tenho responsabilidades acrescidas. Estou a educar duas crianças no benfiquismo e preciso de referências estáveis, que lhes transmitam valores seguros. Não posso garantir aos meus filhos que o Oblak vai ser o melhor guarda-redes do Mundo, explicar-lhe que devemos confiar sempre nas decisões do Enzo e anunciar-lhes que este vai ser o ano da afirmação do Markovic e, subitamente, a minha palavra perder valor, porque nada do que lhes prometi se vai confirmar.
Senhor presidente, pense também nisso."

Mais, menos e mais ou menos

"Mais: o comovente abraço e as palavras entre o vencedor David Luíz e o derrotado James Rodriguez. Um momento que exprime a beleza do futebol além das quatro linhas.
Mais: o desempenho desse menino colombiano, para mim e até ver, o melhor de todos (a par de Robben). Depois de ter passado pelo Porto, pena estar agora num clube assintomático como é o Mónaco. Merece bem mais do que o generoso e filantrópico físico monegasco.
Mais: a importância dos guarda-redes, com exibições insuperáveis de alguns.
Mais: o poderio teutónico feito de rigor, trabalho, disciplina e de não deslumbramentos patetas.
Menos: a brutal agressão de um jogador colombiano nas costas de Neymar, que o impede de jogar e de nós e vermos jogar. Veremos agora o que dirá a FIFA, às vezes tão lesta para coisas menores.
Menos: a imposição da mesma FIFA em determinar abusivamente a duração (parcial) de hinos nacionais. Chega a ser grotesco ver o hino do país anfitrião (que, de facto, é longo) ser cortado, com os brasileiros a (bem) continuá-lo, ainda que só por voz.
Menos: a desconsideração da representação portuguesa. Jogadores inebriados e incapazes de um gesto de naturalidade, sempre afastados do povo que os alcandorou a ícones.
Menos: uma delegação portuguesa que esteve no Brasil como se tivesse estado na Mongólia, sem a ligação que se impunha com a diáspora portuguesa e com instituições que exprimem a nossa presença secular por aquelas terras.
Menos: um Brasil apenas sofrível e inimaginavelmente humilhado.
Mais ou menos: a organização e a arbitragem."

Bagão Félix, in A Bola

PS: Mais ou menos a arbitragem?!!! Por favor, consócio Félix... tem sido uma desgraça. Infelizmente esperada. Infelizmente... para continuar!!!
Também discordo do esquecimento do Di Maria entre os melhores deste Mundial... até se lesionar, era o melhor da sua Selecção, e conjuntamente com o Robben os únicos dribladores deste Campeonato!!! Depois da Champions, principalmente da Final da Luz, se o Di Maria (e o Robben) no final do ano, não fizerem parte do 'trio' da Bola de Ouro, será uma vergonha...

A arte e o engenho

"A radiografia está feita há muito tempo: somos um país vendedor em matéria de futebol. E por muito que se teime em dizer que não é bem assim, os números explicam quase tudo. Os clubes em Portugal não têm dinheiro para pagar salários ao nível do que se passa em Inglaterra, França, Itália o Turquia, isto para já não falar do mercado asiático. E daí ser fácil perceber as movimentações a que estão sujeitos os jogadores do Benfica, Sporting e FC Porto.
Os adeptos, na sua maioria, já se conformaram com as saídas dos seus craques e os exemplos vindos do Benfica (Di Maria, Ramires, David Luíz, Witsel, Matic e Garay, entre outros), FC Porto (James Rodriguez, João Moutinho, Falcão, Hulk, Deco e Lucho González) e Sporting (Miguel Veloso, João Moutinho e Nani) são bem eloquentes. A insatisfação é imediata quando o cifrão é elevado.
E no meio disto tudo, qual é o papel que cabe ao treinador? Talvez seja o cargo mais difícil no futebol português actual, onde há pouca margem de tolerância para os erros. Não ganhar um título significa que está aberta a porta de saída no final da temporada.
O resultado, como se sabe, é o que conta, e por pior que seja o plantel relativamente à última época, a exigência dos adeptos é sempre maior. A lei do mercado tem ajudado imenso a valorização do treinador português, que se tem mostrado bem habilitado e competente noutras ligas. Uma das razões tem a ver precisamente com o facto de ser obrigado a trabalhar na base da improvisação - as equipas mudam todos os anos, os recursos são inferiores, os adversários na Europa apresentam-se mais fortes e consistentes e quando é chegada a altura de analisar as questões mais em pormenor os dirigentes não têm contemplação.
Esta temporada, a Liga portuguesa tem um dado novo: Benfica, Sporting e FC Porto querem ir longe na Liga dos Campeões. Jorge Jesus, Marco Silva e Julen Lopetegui não podem defraudar as expectativas dos adeptos. Os três não vão ter vida fácil. Jesus vale-se da experiência de cinco anos de águia ao peito. Já mostrou ter arte e engenho para gerir o plantel, um dos segredos quando se aposta em tantas frentes. Marco Silva e Julen Lopetegui vão conhecer um mundo novo. Têm ambição, mas isso não chega. São precisos resultados. E muitos golos."