terça-feira, 1 de julho de 2014

Ser Benfiquista

"Façam lá ideia do que terá sido a alegria dos miúdos benfiquistas Sub-14 que, depois de eliminarem o Barcelona, venceram o Real Madrid na final do XIII Torneo Futbol Reino de Leon! Terá sido igual ou maior que a alegria das Marias benfiquistas do Hóquei em Patins que, depois de vencerem o Bicampeonato Nacional, conquistaram a Taça de Portugal? As Marias do Hóquei do Benfica - que, para além de Marias de chamam Anas, Bárbara, Andreia, Raquel, Lina, Rute, Rita, Margarida, Marta e Inês - fizeram o pleno da modalidade, seguindo o grande exemplo do palmarés da equipa masculina Sénior.
No Atletismo, atletas do Benfica brilharam na Selecção Nacional que disputou o Campeonato da Europa de Nações, com destaque para Dulce Félix, a única atleta da Selecção portuguesa que venceu uma prova do torneio, nos 5.000 metros, e para Nélson Évora, terceiro no triplo salto, e a Júnior Teresa Carvalho, terceira classificada no salto em comprimento.
Também a equipa de Juniores femininos de Futsal do Sport Lisboa e Benfica se sagrou bicampeão Distrital, depois da Seniores terem conquistado a Taça de Portugal.
E é assim o Benfica. Mais que um Clube de Futebol - modalidade na qual a equipa principal ganhou tudo o que de melhor havia para ganhar a nível nacional -, uma imensa colectividade de campeãs e campeões das mais diversas modalidades e escalões. Num País em que cada governo se empenha em fechar mais escolas que o anterior, a formação do Sport Lisboa e Benfica, num grande número de modalidades, é uma escola modelo de prática saudável e nobre do desporto e da cultura física.

E isto é um grande motivo de orgulho para todos os que se formam nas modalidades desportivas, os que competem, os que vencem e os que partilham simplesmente a alegria de Ser Benfiquista."


João Paulo Guerra, in O Benfica

"Vai meu irmão, pega esse avião..."

"De afogado na Baía à deriva no Amazonas, Portugal perdeu-se com tanta água que foi metendo. Voará pelos céus do Brasil com o destino marcado de Lisboa.

MANAUS - Nós céus do Brasil cruza-se o Mundo. Holandeses voam para Porto Alegre, Croatas para o Recife; Gregos para Belo Horizonte e Espanhóis e Ingleses a caminho de casa. Portugal perde-se em aeroportos, de Campinas a Salvador, de Salvador a Manaus, de Manaus a Brasília. Mas não há salvador. Afogado na Baía; à deriva do Amazonas. Tanta água. Tanta água metida pela defesa portuguesa. Barco de dois canos ao fundo, como se diria na saudosa batalha naval praticada às escondidas da mestra palmatória no banco da escola. Que sobrou, e durante tão pouco tempo? Um submarino? E cuidado! Em Portugal, lá na terra do patrício, submarino é palavra proibida, ou pelo menos devia ser.
Em homenagem ao Chico (esse mesmo, o Buarque) e aos 70 anos que acabou de cumprir, vou esbulhar mais alguma da sua imaginação para tapar os buracos da minha. «Vai meu irmão, pega esse avião...», podíamos quase ouvi-lo cantar depois de mais uma vez o portugalzinho do nosso descontentamento exibir as tão evidentes fraquezas que mesmo que quisesse não conseguia esconder. Não, não adianta «jogar pedra na Geni». Nem no Ronaldo, nem no Paulo Bento, nem em ninguém. O Destino marca a hora, mesmo quando há cinco horas de diferença de Lisboa e os termómetros marcam 29.º às nove da noite enquanto comemos costela de tambaqui - sim, costelinha mesmo, ainda que tanbaqui seja peixe grandão lá das águas do Rio Negro e do Solimões. O Destino marcou cedo a hora da Equipa-de-todos-nós, se calhar cada mais menos de nós.
«Pede perdão
Pela omissão
Um tanto forçada».
Bem, aí lá estarei um pouco mais de acordo vendo a festa alheia e a sorumbática passagem lusitana por estas praias e rios que viram chegar as caravelas agora transformadas em canoas frágeis que andam à deriva nas curvas da vida.

Antecipação e falta dela
Escrever por antecipação não é muito do meu gosto. Nunca tive jeito para central. Antecipar não é o meu forte. Aliás também não tem sido o forte dos nossos centrais, muito mais antecipados do que antecipadores, e no caso de Pepe até sobretudo precipitado. Mas é a vida. O ditame do fecho do jornal que me obriga a escrever com Salvador e Manaus na memória fresquinha como um choque de Brahma, mas ainda sem Brasília.
O irmão meio avôzinho dos brasileiros já pegou novo avião, se calhar no momento em que o aqui rabisco chega às mãos do pacientíssimo leitor que faz o danado favor de me ler, em direcção a Lisboa onde voltarão a carpir-se mágoas dos Mundias que continuam a ser-nos ingratos.
A bola é uma mulher. Redondinha, mas feminina por demais. Com requebro de menina baiana.
«Menina baiana tem um jeito que Deus dá
Menina baiana tem defeito
Que também que Deus dá».
É, por isso, caprichosa. Adora quem a trata bem e despreza que a trata mal. Temos tratado mal a menina, não é? Por isso, não há pose de machão português que nos faça seduzi-la. E a bola não é mulher que se compre, como qualquer periguete seresteira, ou como aquela velhinha simpática que se instalava à porta do hotel da selecção oferecendo serviços carinhosos a preços convidativos. Azar o dela, que de convidativa nada tinha. Nem sempre o Altíssimo é justo com os seus filhos...
«Vai meu irmão
Pega esse avião
Você tem razão de correr assim...»
Espera! Espera! Aguenta ái um pouco, amigo Chico. Correr assim? Escreveste correr assim? Mas correr, como? Correr, correm os outros. Nós deixamos correr o marfim, isso sim. E a segunda sílaba de marfim é simplesmente fim.
«Ritmo morno
De andar na areia
De água doente, de alagados», rimava Carlos Drummond de Andrade, poeta maior da língua que é di cá e di lá, com o Atlântico pelo meio e, como dizia o Caetano. «Uma ilha rodeada pelo espanhol por todo o lado». Foi esse o nosso ritmo, desde o primeiro de todos os minutos. Corram o filme para trás - tão para trás com aquele exagero de passes sempre para trás - e vejam a cara dos nossos rapazes: monco caído; cada golo sofrido é uma facada que penetra entra a terceira e a quarta costela, rasgando por dentro, trucidando a carne e a alma como facão de gaúcho de rodízio. Quem levanta a cabeça? Quem dá um grito, seja ele do Ipiranga ou não? Drummond outra vez:
«O ritmo do chumbo (e o peso)
Da lesma da câmara lenta
Do homem dentro do pesadelo».
Era isso mesmo que eu queira dizer: o pesadelo. Obrigado Carlos pela sua infinita habilidade de escrever tão melhor do que eu.
Fecha-se a noite. Na esplanada do «Canto da Peixada» a costela de tambuqui - isso mesmo, costela, que peixe também pode ter costela - retempera desilusões. Daqui a pouco há avião para pegar. Pelos céus do Brasil onde se cruzam países felizes e países tristes. Onde estão os dias alegres do País Triste?
A Amazónia fica longe, longe. A pouco e pouco vai-se entrando pela selva e pelos labirintos do Rio Negro e do Solimões. Quem encontrará o caminho de volta? Dá pena ver Cristiano Ronaldo perdido no labirinto confuso de um Futebol sem duende. Quando eu era garoto, nos documentários que antecediam os filmes que passavam no Condes ou no Paris, havia uma voz grossa de um brasileiro que comentava: «Essa é a Floresta Amazónica, onde jamais a mão do homi pôs o pé.!» Pois, aqui também Portugal não o pé. Que avião pegará agora? Há um casal mudo sentado na beira do passeio. Camisolas vermelhas: cinco quinas azuis. O Chico é que sabia:
«Mas não diga nada
Que me viu chorando
E prós da pesada
Diz que vou levando».
Olhem, se puder ainda mando uma notícia boa..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Diz-se por aí...

"Diz-se por aí que as contas da FIFA andam do avesso. Desde relatórios poucos claros até contas mal feitas, tudo parece possível dentro da contabilidade do maior organismo do Futebol. A título de exemplo flagrante, as contas deste Mundial: a FIFA previu um total de 2,6 biliões de reais para a construção das infraestruturas necessárias e esse custo ascendeu a 8,9 biliões. A FIFA e, por arrasto, a Presidência Brasileira tê, apostado na mensagem da ampla vantagem que fica para o Brasil depois de um mês do Mundial, para além dor retorno financeiro. Estas contas, mais uma vez, parecem feitas sem grandes bases de solidez. Não se vislumbra como a construção do estádio Arena Pantanal em Cuiabá, por exemplo, com um custo total de 646,5 milhões de reais e capacidade para 44 mil adeptos poderá algum dia gerar retorno financeiro ou mesmo social, numa região em que os estádios acolhem em média cerca de 2 mil adeptos por jornada.
Entretanto, nos bastidores, a FIFA solicitou o obteve uma importante isenção fiscal para os rendimentos derivados do Mundial (estimado em cerca de 1,1 biliões de reais), ao mesmo tempo que esses rendimentos são distribuídos por uma série de entidades empresariais especialmente criadas para este evento associadas... à própria FIFA.
A nível interno, no entanto, as contas parecem não ser fáceis de fazer, sobretudo quando se trata de investigar as alegadas suspeitas de corrupção no âmbito do processo de atribuição do Mundial de 2022 ao Qatar. Desde as alegadas transferências de 2 milhões de dólares para o antigo vice-presidente Jack Warner até ao circuito do transferências que envolve também Mohamed Bin Hamman, membro executivo da FIFA no Qatar, não há forma de se anteverem conclusões seguras por parte do comité de ética daquele organismo internacional. Continua tudo ao contrário. E, por agora, as contas da FIFA assemelham-se muito a uma entrevista de Vanessa Huppenkothem: sensuais... mas muito pouco credíveis."

André Ventura, in O Benfica

Mais Mundial

"No momento em que escrevo estas linhas, as hipóteses de Portugal pro prosseguir a sua caminhada no Campeonato do Mundo são mais ou menos iguais às das Honduras.
O saudoso José Torres, em situação semelhante pediu um dia que o deixassem sonhar. É o que nos resta. Porém, quando esta edição chegar às mãos do estimado leitor, o mais provável é que todo o país já tenha acordado para uma realidade amarga - embora não de todo inesperada.
Mas há mais Mundial para além de Ronaldo, Paulo Bento e lesões musculares, defesas impossíveis, futebol de ataque, e tudo aquilo que gostamos de ver, tem acontecido quase diariamente no certame brasileiro. Até agora, poderia mesmo qualificar este campeonato como o de maior qualidade das últimas décadas. Porventura, desde os tempos em que o romantismo mágico de Zico, Sócrates e Falcão cedeu a vez ao cinismo calculista de Rossi, Conti e Gentile, num Brasil-Itália que marcou um antes e um depois na história do desporto-rei. Estávamos em 1982.
Se quanto à qualidade do Futebol as coisas têm corrido bem, já quanto às arbitragens não podemos dizer o mesmo.
Nunca defendi a introdução de meios tecnológicos que pudessem perturbar o ritmo dos jogos com pausas indesejáveis. Depois do que tenho visto nestas semanas, talvez não mantenha a mesmo opinião. Rara tem sido a partida sem erros grosseiros de arbitragem. Juízes da Nova Zelândia, Gambia, Guatemala, Uzbequistão, Tahti ou El Salvador - sem experiência recomendável para uma competição desta natureza -, e sem falar de outros que infelizmente conhecemos mais de perto, têm desvirtuado, e em alguns casos arruinado, aquilo que os jogadores tanto se vão esforçando por fazer em campo. Há selecções eliminadas por erros de arbitragem. Há selecções qualificadas com erros de arbitragem. Com optimismo, esperemos que na fase eliminatória o panorama melhore substancialmente, pois o futebol praticado tem feito por merecer. Caso contrário, a FIFA não poderá continuar a assobiar para o ar."

Luís Fialho, in O Benfica