"O riso é, na sua essência, uma lídima expressão de liberdade. Por isso, há quem se ria por tudo e por nada e há quem adore pessoas que façam rir. São uns felizes, certamente.
Não me refiro ao humor britânico que é a forma inteligente de se ser suave no humor e a via suave de ser inteligente no humor.
Nem ao humor negro que segrega a graça através da desgraça.
Nem ao humor vítreo que vive nos olhos paredes-meias com o cristalino e que nos dá a riqueza de poder olhar o humor de espírito e de desfrutar do espírito de humor.
Refiro-me antes ao riso quase incontido que se manifestou, há dias, no mundo do nosso doméstico futebol. Onde abundam pessoas bem-humoradas e pessoas com toneladas de humor.
Há sempre humor escondido por detrás de uma polémica arbitragem, de um cartão amarelo ou vermelho ou de um resultado desportivo nem sempre desejado. O que ainda não sabia é que também há formas de riso à tripa-forra por entrevistas de terceiros. Neste caso, pode até acontecer que o riso seja uma capciosa forma de não chorar, ou, pelo menos, de contornar o que não se gosta de ouvir. Talvez até um rir a bandeiras despregadas para dissimular um riso amarelo (ou de outra cor...).
Há quem julgue o riso um produto de pacotilha. Ou liofilizado, com direito a desconto na mentira, ironia ou omissão. Ou programado, com horas certas e locais convenientes.
Nestas alturas, vem-me à memória o que, um dia, Miguel Esteves Cardoso escreveu: O riso é lindo. Não é preciso rir de. Rir de é uma inferioridade. Nem sequer é preciso rir porque. O melhor é rir sem fazer a mínima ideia porquê.
Afinal tudo é risível..."
Bagão Félix, in A Bola