sexta-feira, 4 de abril de 2014

Jesus continua a bater recordes

"O campeonato não está decidido mas está quase. Ganhar em Braga foi determinante. Neste momento, pese embora a prudência da equipa técnica e jogadores, os adeptos já vaticinam a jornada para os festejos. Mesmo eu, pessimistas de serviço, dou comigo a fazer contas para comprar o cachecol do 33.º título. Ora, se ser campeão nacional era o objectivo principal, vamos agora tratar de objectivos secundários com a mesma competência. A vitória de ontem na Holanda foi a prova de que Jorge Jesus continua a bater recordes com a equipa do Benfica. Desde 1969 que o Benfica não vencia na Holanda. Se pensarmos que a segunda mão é fácil, podemos ter surpresas desagradáveis, mas se fizermos um jogo intenso e aplicado estamos outra vez numas meias-finai europeias. A Liga Europa parece desenhada para a Juventus ganhar em casa, mas podemos bem contrariar esse desígnio, tal como outros já foram contrariados. Basileia está na meia-final, e o FC Porto está quase.
Uma palavra para o treinador do FC Porto, que vê os mesmos jogos que nós, diz coisas sensatas e ganha e perde com igual elevação. O FC Porto não está em crise nenhuma. Numas meias-finais da Taça de Portugal, nas meias-finais da Taça da Liga, à porta das meias-finais de uma competição europeia e só agora fora da luta pelo título nacional, este FC Porto pode fazer uma excelente época. O problema do FC Porto não é a sua época, mas aquela que o Benfica está a fazer. O Benfica não é para o FC Porto um adversário, é um complexo. Ora, como o Benfica está melhor, a fazer melhor, e a jogar melhor, esse complexo esconde uma temporada até muito positiva. O que tem faltado ao FC Porto são derrotas do Benfica para festejar. O que faz falta ao Benfica, para o FC Porto entrar verdadeiramente em crise, é festejar muito e por muitos motivos.
Segunda-feira contra o Rio Ave e quinta-feira contra o AZ podemos e devemos dar mais dois passos para esses festejos."

Sìlvio Cervan, in A Bola

Vaidade e verborreia

"1. Há uma frase do Antigo Testamento que, em latim, vai assim: vanitas vanitatum et omnia vanitas. Eu traduzo: vaidade das vaidades, tudo é vaidade. A vaidade é uma doença. E há quem a pratique como se fosse uma religião. No futebol há os artistas - os jogadores; e os directores dos artistas - os treinadores. Todos os outros deviam reduzir-se à sua insignificância secundária. Alguns pura e simplesmente não conseguem: lá está, é uma doença.

2. Ver um árbitro num programa de televisão a distribuir beijos e abraços sublinhados com querido para aqui e querido para ali foi-me absolutamente deprimente. Senti vergonha: não por mim mas pela figurinha. Há quem chame aos árbitros juízes. Porque têm de decidir. As decisões isentas e ponderadas não se tomam por ente excessos de intimidade. Tomam-se com distância e isenção. Mas, por falar em tomar, não há compridos que se tomem contra o excesso de vaidade.

3. Tão deprimente como um árbitro que ainda percebeu que a sua função não é a de ser vedeta é ver um presidente de um clube histórico sofrer de verborreia aguda. Não controlar os músculos que comandam a língua também deve ser uma doença. Coordenar o discurso já é uma questão que não tem solução. Isto é: irremediável!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Do dolo e outras coisas cómicas...

"O Conselho de Justiça da FPF deu como provado que o FC Porto provocou, dolosamente, o atraso do início do jogo que disputou, para a Taça da Liga, com o Marítimo. Mas, num acórdão que constituirá preciosa doutrina para os vindouros, nem que seja a contrario sensu (e se calhar também para alguma stand up comedy...) os doutos conselheiros plasmaram que não se provou que essa acção dolosa visava o prejuízo de terceiros, neste caso, do Sporting, parte interessada no apuramento para as meias-finais da Taça da Liga. Trata-se, de uma conclusão imaginativa, porque consagra o princípio do crime sem vitima.
A justiça, em Portugal, não passa por um bom momento, a crise limita ainda mais os meios ao serviço da lei e uma série de prescrições em casos mediáticos arrasta pela lama e credibilidade de um dos pilares da nossa sociedade. Infelizmente, também no futebol, onde todas querelas jurídicas são altamente publicitadas, das decisões dos Conselheiros de Disciplina e Justiça não resultam quaisquer ganhos para a imagem do sector.
Veja-se, por exemplo, o castigo a Luís Filipe Vieira que, carregado de razão, falou contra o árbitro do Benfica-Belenenses, disputado há 24 semanas: dois meses de suspensão. Mas o presidente do SC Braga que, carregadíssimo de razão se atirou ao árbitro do Rio Ave-SC Braga da Taça da Liga, em termos ainda mais pejorativos, passou entre os pingos da chuva da justiça desportiva.
São situações destas que fazem com que se olhe para os membros dos órgãos disciplinares do futebol sem a consideração que as suas atribuições normalmente justificariam. É por isto que o Conselho Superior da Magistratura não gosta de ver juízes na Justiça do futebol. Nem nos camarotes..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Competência à prova de títulos

"Quando, em Maio do ano passado, contrariando opiniões oriundas dos mais diversos quadrantes internos e externos, bem ou mal intencionadas, Luís Filipe Vieira decidiu, convictamente, renovar contrato com o treinador Jorge Jesus, afirmou também que pretendia uma temporada igual à anterior, mudando apenas o desfecho final.
É verdade que ainda não ganhámos nada. Mas estamos em pleno mês de Abril, e podemos já dizer que, independentemente do desfecho das várias competições que disputamos, a época 2013-14 está, de facto, a ser muito semelhante à anterior.
Semelhante na força competitiva da equipa, semelhante na qualidade de futebol apresentado, semelhante nas esperanças que nos vai abrindo no horizonte. Estamos destacados na liderança da classificação, mantemo-nos firmes em todas as provas, sonhamos vencer tudo, ou quase tudo. Falta, 'apenas', o final diferente. É preciso dizer que, com Jorge Jesus ao leme, o Benfica realizou as melhores cinco temporadas das últimas décadas. Não se trata de uma opinião. São factos, que podemos comprovar olhando para a pontuação dos vários campeonatos desde o início dos anos noventa.
Sem interferências externas em 2012, e com um pouco mais de sorte em 2013, estaríamos agora a bater-nos pelo 'Tri'. O que, diga-se, faria justiça a todo um trabalho que começa nas condições criadas pela administração, acaba no valor e empenho dos jogadores, mas passa, também, pela indiscutível competência de um técnico nem sempre bem entendido por todos.
Importa ainda lembrar que, em 2009,ocupávamos um discreto 23.º lugar no ranking da UEFA, e neste momento estamos numa brilhante 6.ª posição, apenas superados por Barcelona, Bayern, Real Madrid, Chelsea e Man. United. Nestas cinco temporadas chegámos sempre, pelo menos, aos quartos-de-final de uma prova europeia - sequência inédita na história internacional do clube.
Há momentos em que é fácil decidir. No rescaldo da dramática primavera de 2013 não o era. E é nas horas difíceis que se encontram os verdadeiros líderes."

Luís Fialho, in O Benfica

Justiça com Nuno

"Qual é a maior herança na história centenária do nosso Clube? Por mais e maiores que sejam os troféus, de resto abundantes, nada substitui, em grandeza, o seu património humano. Atletas e técnicos, basicamente. Responsáveis primeiros pelo estatuto de clube mítico, motivo de orgulho do Benfica, apenas partilhado por meia dúzia de emblemas desportivos em todo o mundo.
Sem Eusébio, sem Coluna, cruelmente desaparecidos, o universo benfiquista pode recordar-se de um ano doloroso como poucos. Ainda assim, as homenagens que foram prestadas aos dois grandes símbolos atestam a generosidade, veneração mesmo, do cosmos vermelho, apostado também em dedicar-lhes, a breve trecho, saborosas conquistas.
Quando se fala no exaltante passado, no respeito e admiração por todos os que serviram a causa rubra, é de elementar justeza sublinhar a importância do presidente Luís Filipe Vieira. Não há memória, pelo menos nas últimas décadas, de termos um líder tão próximo, no plano emocional, de todos aqueles que fizeram a gesta do Benfica.
Há escassas horas, o regresso de Nuno Gomes à estrutura do futebol, num cargo vocacionado para as relações internacionais, é mais um episódio que se inscreve nesse contexto. O antigo avançado, jogador de enorme agrado popular, profissional irrepreensível, inteligente e aprumado, desportista modelar, benfiquista fidedigno, vai acrescentar maior valia aos actuais quadros do Clube.
Luís Filipe Vieira operou justiça. Nuno Gomes vai operar competência. Todos nós, vamos operar aplausos."

João Malheiro, in O Benfica

Aguenta Coração!

"Faltam cinco jornadas, três das quais em casa, e a vantagem mantém-se confortável. Mas nós sabemos, por saber de experiência feito, como são estas coisas. E também sabemos que, dos nossos adversários mais directos, um voltou a ganhar com um golo irregular, outro voltou a escaqueirar a loiça na sequência de uma derrota. Mas pensemos em nós, pois só de nós dependemos.
O Benfica tem um calendário terrível até ao fim da temporada. Depois de sete jogos em Fevereiro e oito em Março, seguem-se em Abril três jogos para o Campeonato - em casa com o Rio Ave e Olhanense, fora com o Arouca -, dois jogos para a Liga Europa, com o AZ Alkmaar, um jogo para a Taça, em casa. Pelo menos, pois há um Taça da Liga pendurada não se sabe de quê nem até quando.
De maneira que agora, e como se viu em Braga, é pedir ao coração que aguente, pois está tudo em aberto: o Benfica pode ganhar tudo, alguma coisa, ou nada. Cá por mim, coloco o Campeonato como prioridade, porque é a competição que dá o título de Campeão, o que mais se adequa ao Sport Lisboa e Benfica. O Clube Campeão. Mas ainda bem que o Benfica está em todas e luta por todos os títulos. Só chegar a esta fase de todas as competições é um feito extraordinário. O Benfica está este ano em alta no Club Worl Ranking - 9.º lugar da lista dos melhores do mundo e em Portugal o resto é paisagem - pela época que tem feito, independentemente do que venha a ser o resultado final, e pela extraordinária época que fez no ano passado.
De maneira que até final da época é jogo a jogo e com uma recomendação especial ao coração para que aguente. Viu-se em Braga, como a gestão do esforço nos bate no peito. O que nos vale é a confiança: não esperamos milagres nem favores. Somos Benfica."

João Paulo Guerra, in O Benfica

Já só faltam oito!

"1. Não gostei da exibição em Braga, demasiado passiva. Faltou o segundo golo para justificar essa passividade. A equipa da casa nunca chegou a ameaçar muito (mérito nosso também) mas há sempre a possibilidade de surgir em golo inesperado.
Depois, no final, outra contrariedade: não foi chamado Lima (que tem estado impecável a marcar penalties) para a grande penalidiade e... não houve golo. Mas ganhou-se com toda a justiça e agora já só faltam oito pontos em cinco jogos para o título ser finalmente nosso. Segunda-feira teremos que ganhar mais três...

2. Apesar das péssimas condições atmosféricas, foi um êxito mais uma Corrida do Benfica, que homenageou o nosso saudoso António Leitão. Entre os milhares de concorrentes na corrida, há a salientar os 4.931 que completaram os 10 Km da corrida, mais 49 por cento (!) que o anterior recorde de 3.305 e mais 15 por cento que os 4270 que há meses completaram a Corrida do Sporting, realizada em dia bem mais agradável e sem a concorrência de outras provas como houve agora.

3. O presidente do Sporting, Bruno Carvalho, completou um ano à frente do seu clube e o balanço segundo os sportinguistas, é bastante positivo. Depois de muito dinheiro mal gasto, de um nunca muito bem explicado depósito de dinheiro na conta de um árbitro assistente, efectuado a mando de um vice-presidente (e do qual o clube nunca se demarcou), enfim após um triste mandato, as coisas estão bem melhores no seio do nosso eterno rival. Embora falando demasiado, Bruno Carvalho tem-se demarcado da política dos seus antecessores que, com poucas excepções, sempre se 'atrelaram' a Pinto da Costa e às suas lamentáveis atitudes, mantendo uma triste política de vassalagem que em nada beneficiou o futebol português... e o próprio Sporting.

4. Fazendo contas 'à Bruno Carvalho', o FC Porto pode lamentar-se pelo facto de, em duas jornadas apenas, ter sido prejudicado em nove pontos que lhe dariam o 2.º lugar: um golo mal anulado e um penalty não marcado em Alvalade e no Nacional não são seis pontos. Com três que o Sporting somou indevidamente, estaria em 2.º lugar.
Este Campeonato, realmente, está muito diferente: até o FC Porto tem razão para se queixar das arbitragens! Algo nunca visto em 30 anos..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

As boas-vindas

"Esta é a terceira vez que digo “bem-vindo sejas” ao Nuno Gomes. A primeira vez já vai longínqua, era a saudação a uma jovem promessa do futebol. A segunda vez já era a saudação a uma certeza do futebol, feita de benfiquismo, de classe e inteligência fora e dentro do campo. O primeiro regresso foi um momento de renovar a esperança no futuro e uma garantia de que Nuno Gomes era um fiel depositário dessa esperança. Regressou já como um capitão, um líder da equipa, independentemente de ostentar ou não a braçadeira.
Nas doze épocas de Benfica soube ser e soube estar, soube ser o tempo e o modo, soube ser o profissional, o adepto e assumir o papel de símbolo que a muito poucos está reservado e que, no futebol moderno, é cada vez mais escasso. Para se ser símbolo é necessário ter a mística, a fidelidade, a classe e a paixão pelo Clube. Nuno Gomes soube ter tudo isto. Nos tempos que correm, estes símbolos escasseiam e são essenciais como referência. Depois de ter saído para terminar a carreira noutras paragens (nunca gostei da ideia de o ver jogar por outro clube português que não o nosso), regressa pela segunda vez à nossa casa. 
Em Maio do ano passado, no aeroporto de Amesterdão, depois de uma final europeia perdida, encontrei o adepto Nuno Gomes, anónimo na multidão, de cachecol, aborrecido com a derrota, mas orgulhoso pelo benfiquismo. Disse-lhe pessoalmente que estava chegado o momento de lhe dar, novamente, as boas-vindas ao Benfica, agora na condição de dirigente. Quase um ano depois, as boas-vindas estão consumadas. O futuro do Benfica constrói-se dirigido, também, com símbolos como Rui Costa e Nuno Gomes. Dêmos, então, as boas-vindas ao futuro."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica