quarta-feira, 2 de abril de 2014

Pé de laranja lima

"Sou um admirador de Lima. Um jogador que sabe, como poucos, aliar a sagacidade de um ponta-de-lança com inteligência táctica e grande disponibilidade física. Corre, corre, corre, pela direita, pela esquerda, ao meio, à frente, atrás. Sendo o melhor marcador encarnado é, também, o 1.º defesa do Benfica (a par do magnífico Rodrigo).
Mas é sobre os seus golos que escrevo estas linhas. Provavelmente bastaria ter sido ele a marcar os penalties e estaria no primeiro lugar da honrosa e motivadora Bola de Prata deste vosso jornal. Por isso, há duas falhas que ainda não digeri. A primeira em Barcelos, no último, por Cardozo que havia regressado à competição 15 minutos antes e depois de longa paragem. Jesus disse, então, que, nada de alterando, a hierarquia é Cardozo primeiro, depois Lima, finalmente Rodrigo (recorde-se que Lima há havia marcando um penalty neste lamacento jogo). Custou dois pontos. Na última jornada, Lima voltou a não marcar. A hierarquia foi para o maneta e o remate foi para Eduardo. Não censuro Rodrigo, que fez, aliás, um excelente jogo e está em plena forma. Felizmente desta vez não custou pontos. Mas custa-me a perceber que não tenha sido Lima a marcar. Ele que tem sido letal da marca de grande penalidade, por regra sereno de espírito e seco de remate. Pode haver razões que não vislumbremos. Mas não compreendo que momentos decisivos nestas últimas jornadas possam ser aferidos, ainda que respeitavelmente, por outros critérios pessoais, afectivos, compensatórios, etc. Em suma: a prioridade deve ser para Pé de laranja (cor das chuteiras) Lima. Como no romance juvenil de Mauro Vasconcelos."

Bagão Félix, in A Bola

Vitória em Torres...

Física 4 - 9 Benfica

A Física este ano está mais fraca, por isso a vitória era esperada... mas os 4 golos sofridos não são um bom indicador para aquilo que ainda falta esta época!!!

Números crueis

"Estatística... Há quem a ame e há quem a odeie, mas poucos lhe serão indiferentes, tal a forte presença no dia a dia. Quem não vive sem ela é o desporto de alta competição, no qual o sucesso cada vez mais se alcança nos pormenores que podem fazer a diferença. Goste-se, ou não, já nem os adeptos vivem sem ela, entregando-se a discussões intermináveis em seu redor: «A minha equipa tem o melhor ataque!», «Ah, mas a minha tem a melhor defesa!»
Deu-me para pensar nisto uma destas madrugadas, enquanto via Moneyball - Jogada de Risco, película de 2011 sobre o homem que mudou o basebol. Com Brad Pitt, no papel principal, o filme contra a história de Billy Beane, antigo jogador que, como director-geral dos Okland Athletics, foi o primeiro (em 2002, imagine-se) a implementar um elaborado e completíssimo sistema estatístico que alterou para sempre o modo como treinadores, directores, jornalistas e adeptos vêem o basebol. Os resultados foram incríveis: depois de oito jogos consecutivos a perder, Beane viu a sua ditadura dos números levar a equipa a uma série de 20 vitórias seguidas, que se mantém como a 2.ª melhor da história, só pior que a 21 dos Chicago Cubs em 1935.
A proeza que o uso da estatística ajudou a conquistar foi, inicialmente, olhada com desconfiança mais dilui-se num ápice por outros emblemas e, hoje, não há equipa que não siga o método de Billy Brad Pitt Beane. Os Boston Red Sox foram os primeiros e o resultado foi épico: conquista, em 2004, da World Series que o clube não conseguia desde... 1918.
E pensar que, à conta dos números e contra tudo e todos, aquele director-geral cometeu a crueldade de dispensar a grande estrela da equipa, o endeusado por imprensa e adeptos Peña, porque havia um suplente cujos registos apresentavam maior qualidade...
A propósito do endeusamento e de números cruéis: quando Quaresma se estreou, o FC Porto estava em igualdade pontual com o Benfica e, agora, está a 15 pontos; e quando Luís Castro substitui Paulo Fonseca, os dragões estavam a nove pontos das águias e, agora estão a 15. Mas isso não outras contas..."

João Pimpim, in A Bola

Nada acontece por acaso

"Olhando para a classificação do campeonato português e descontando os mais que muitos erros de árbitros - umas vezes a favorecer, outras a prejudicar cada um dos clubes - facilmente se confirma que nada é fruto do acaso.
Começando no topo: o Benfica mantém-se fiel ao modo de funcionar de anos recentes, não vendeu estrelas no arranque da temporada, antes fazendo várias contratações. Mantém performance semelhante e está como em anos anteriores. Está sozinho, porque o FC Porto não manteve a nível que o levou ao tricampeonato.
Logo abaixo: o Sporting reorganizou-se e mesmo reduzindo as despesas conseguiu formar um grupo coeso e motivado, capaz de voltar a ganhar mais do que as vezes que perde. Paga como preço por alguma inexperiência a distância pontual para a liderança.
Mais abaixo: o FC Porto anda irreconhecível, mas também irreconhecível é a equipa que vai evoluindo com as camisolas às riscas azuis e brancas. Do super dragão de anos anteriores saíram Falcao, Hulk, João Moutinho, James e até Lucho, já este ano - as entradas ficam a léguas em qualidade.
Estoril e Nacional ocupam os lugares europeus, algo que só é possível porque um como outro, mantêm princípios de organização que deram resultados no passado, bem como lideranças técnicas de sucesso. Normal, portanto.
Em sexto lugar, o SC Braga paga o preço de não se ter ainda estabelecido como grande, apesar de para tal trabalhar. Muitas mudanças de jogadores e de treinador, e o ano calhou mau. Sendo surpresa, sobretudo pelo passado recente, não é escândalo.
Na luta pela manutenção, o Paços de Ferreira para por ter querido dar passo maior que a perna e por evidente desnorte. O Arouca parece estar salvo, porque se reforçou em Janeiro de forma inteligente. Belenenses e Olhanense não se prepararam como deviam e agora esperam milagre."

Nuno Perestrelo, in A Bola