sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O receio dos benfiquistas

"Logo pela meia noite não acaba a tortura dos benfiquistas, porque uma lei absurda mantém o mercado da Rússia aberto até ao fim de Fevereiro. Estamos em primeiro na Liga, em prova na Liga Europa, nos quartos-de-final da Taça de Portugal e nas meias-finais da Taça da Liga. Era possível ao Benfica fazer melhor? Seria, mas a verdade é que a época está lançada com excelentes perspectivas. Todo o receio dos benfiquistas se centra na possibilidade de perder vários dos seus melhores jogadores numa fase da época decisiva. Logo pela meia noite já saberemos (em parte) e podemos fazer a acta final deste mês de transferências.
Este mês de Fevereiro, com oito jogos, será exigente e decisivo nas nossas aspirações. Barcelos amanhã e Penafiel na quarta-feira, poderão marcar a tónica do mês, enquanto os adversários escolhem depois da hora e na secretaria quem joga connosco na Taça da Liga.
Jorge Jesus sabe bem da hipocrisia deste discurso à volta da formação. A sua experiência não o deixará entrar em cantos de sereia. Muitos dos hipócritas deste discurso eram os mesmos que aplaudiam de pé a naturalização de Pepe, Liedson ou Deco, em nome da competitividade da Selecção Nacional.
O Benfica deve jogar com os melhores que tem e Jorge Jesus sabe bem disso. Que idade tem Markovic? Que idade tem Oblak? Jorge Jesus respondeu bem quanto aos critérios que presidem às suas escolhas. Os melhores sempre os melhores e para ganhar.
Amanhã em Barcelos estará o fantasma do jogo da primeira volta, dois golos em período de descontos deixaram o Benfica no trilho do título, no jogo da Luz. Em Barcelos não queremos perder o rumo, até porque, mais dia menos dia, pode haver outros adversários com galo. Temos que fazer a nossa parte."

Sílvio Cervan, in A Bola

Os insubstituíveis

"O futebolista Matic deixou o Benfica e foi para o Chelsea receber um ordenado chorudo e fora das possibilidades de qualquer clube português. O Benfica recebeu por esta venda um valor bem significativo, ainda que aquém das expectativas criadas. Objectivamente, no plano desportivo, o Benfica deixou partir um dos seus futebolistas mais importantes. Isto é um problema e, para o ultrapassar, há que arranjar uma solução. Há no Benfica quem já nos tenha dado provas de que as soluções existem e são implementadas. É, também, para encontrar soluções que muitos dos profissionais do futebol do Benfica recebem ordenados chorudos e fora das possibilidades do cidadão comum. As saídas de Witsel e Javi Garcia foram lidas como apocalípticas até que Enzo e… Matic demonstraram ser soluções com claras mais-valias desportivas relativamente aos que haviam saído.
O mesmo já acontecera com David Luís e Garay e, anteriormente e com outros contornos, na substituição de Ramires por Sálvio ou, ainda que mais demorada, a de Simão por Di Maria. Em todos estes casos se gritou pelo apocalipse e se carpiram antecipadamente profecias de desgraças futuras. É natural, faz parte de uma ‘voluptas dolendi’, um comprazimento na dor, que enforma e enferma a alma lusitana. Recordo que as deserções de Pacheco e Paulo Sousa também levaram a que se antecipasse o pior, mas que foi sem eles, e também a eles, que ganhámos por 3-6, em Alvalade. Aliás, desde que vi o Dito e o Rui Águas saírem para o FCP e substituídos pelo Ricardo (o melhor central que vi no Benfica, depois do Humberto) e pelo Vata (que acabou como melhor marcador do campeonato), percebi que no futebol só a bola é insubstituível. Haja optimismo nos adeptos e competência nos profissionais para, mais uma vez, se substituir o “insubstituível”."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ou o Porto ganha ou a Taça da Liga acaba, já!

"Temo, por amor ao espírito competitivo, que esta seja a última edição da Taça da Liga. Aliás, analisando os factos mais recentes, mais vale acabar com a aberração duma vez por todas.

AGUARDO tranquilamente a confirmação, a explicação ou até mesmo o desmentido da notícia que no início desta semana veio baralhar e muito as mentes benfiquistas, entre as quais incluo a minha própria mente.
Trata-se da notícia da venda de André Gomes a um empresário, Jorge Mendes, pelo valor de 15 milhões de euros. A pronto, presume-se.
Assim não vale, com o devido respeito. Não vale a pena prometerem-nos num dia que o futuro do Benfica será made in Benfica para noutro dia constatarmos com legítimo espanto que, no caso de André Gomes, será made in Benfica”, isso sim, mas o futuro de um Liverpool, de um Mónaco de um City, isto para referir nomes de alguns dos clubes apontados como destino de André Gomes.
Outros como eu, ainda mais baralhados com a notícia e pessimistas por natureza, vêm já o futuro made in Benfica num qualquer rival.
Não discuto a verba propalada. 15 milhões de euros é a quantia exacta e a politicamente correcta para selar a operação, se é que a operação existe mesmo nos termos em que foi noticiada.
Foi por 15 milhões de euros que o Sporting vendeu Cristiano Ronaldo ao Manchester United e Cristiano Ronaldo era já uma estrela da Liga portuguesa quando foi para Inglaterra mudar de ares e fazer-se um fabuloso futebolista.
Ora André Gomes ainda não é uma estrela da Liga nacional, terá jogado esta temporada uns quatro ou cinco minutos, tempo suficiente para se fazer um enorme pé-de-vento sobre o atraso com que se iniciou o último FC Porto-Marítimo, mas tempo mais do que insuficiente para conferir a André Gomes o estatuto com que Cristiano Ronaldo chegou a Manchester.
Foi, portanto, um grande, um extraordinário negócio para o tesoureiro Benfica que, de uma penada, vê 40 milhões (Matic+Gomes) a entrar para a caixa e se os vê entrar é porque, certamente, faziam lá falta. E esse é um pormenor muito respeitável.
Acontece, perdoem-me a heresia, que não sou do Benfica nem por causa do Eusébio nem, muito menos, por causa do tesoureiro. Sou do Benfica porque sim.
Também não vou deixar de ser do Benfica por causa do André Gomes embora me custe vê-lo partir e me custe ainda mais sentir-me vagamente confundida pela inconstância do discurso no que respeita à imperiosidade da chamada formação.
Julgo que, noutras circunstâncias, melhor dizendo, sem o background sonoro, tão recente que ainda estala nos ouvidos, do tal Benfica futuro e português, a saída de André Gomes causaria menos engulhos.

O último jogo, com o Gil Vicente para a Taça da Liga, serviu para ganhar (e é para isso que os jogos todos servem) e serviu também para lançar de uma assentada, no último quarto de hora, três jovens jogadores portugueses vindos da formação: João Cancelo, Hélder Costa e Bernardo Silva.
Entraram cheios de vontade e sem medo de discutir cada lance. O pessoal adorou.

PARA além de outros atributos, Bernardo Silva tem um pé esquerdo que mais parece uma colher.

- PAULO, é FUNDAMENTAL dizeres que a Taça da Liga NÃO É PRIORITÁRIA!
Paulo disse. Não o critiquem. Mal acabou a renhidíssima partida com a equipa insular, o treinador vitorioso fez questão de acentuar perante o batalhão de jornalistas que a Taça da Liga não é competição de interesse maior para o emblema que traz cozido ao peito.
- Paulo, FOI À PORTO!
Ups.. Esta não era para dizer, mas disse-o com a mesma convicção de sempre. Critiquem-no se quiserem. Eu acho que não é caso para isso. Quem diz a verdade não merece castigo.

AI a Taça da Liga! Pobrezita, desgraçada logo à nascença, um mísero caneco que tem ao seu redor o ambiente espesso das grandes complicações.
Ou não tem sido sempre assim?
- Desta já estamos livres! – disse o presidente do FC Porto assim que, na edição de 2011/2012, saiu eliminado na meia-final com o Benfica no Estádio da Luz.
Lembram-se?
Na edição da 2012/2013 ainda foi pior, teve de levar com o calvário até à última gota e só se viu livre quando perdeu a final para o Sporting de Braga.
É verdade que esteve quase a ver-se livre mais cedo mas os órgãos da justiça da entidade organizadora não foram na conversa do Vitória de Setúbal que reclamou, na secretaria, irregularidades cometidas pelo FC Porto na utilização indevida de jogadores.
Francamente, sadinos…

TEMO, por amor ao espírito competitivo, que esta, a de 2013/2014, seja a última edição da Taça da Liga. Aliás, analisando os factos mais recentes mais vale acabar com a aberração de uma vez por todas.
O Sporting, por exemplo, já anunciou com todas as letras que daqui para o futuro jogará com os seus juniores e com os seus juvenis na Taça da Liga caso não lhe seja atribuído, na secretaria, o direito de receber o Benfica no próximo dia 12 de Fevereiro, data aprazada para a meia-final da corrente edição.
Sem vontade de agourar e, muito menos, sem o menor empenho em desmerecer as legítimas aspirações dos nossos vizinhos da Segunda Circular, abundantemente expressas em comunicado oficial, julgo que nenhuma instância, desportiva ou civil, lhes deferirá a pretensão.
Fazer prova de intenção de dolo no atraso do início do jogo no Dragão é uma impossibilidade jurídica moderna. E ainda bem que é assim.
No passado, há mais de meio século, houve um árbitro que foi irradiado por ter consentido que um determinado jogo começasse com 5 minutos de atraso. É verdade, foi irradiado o Inocêncio Calabote ainda que tenha alegado em sua defesa que tinha o seu relógio acertado pelo relógio da Sé de Évora, cidade de onde era natural.
De nada lhe valeu.
Nos tempos modernos nada disto seria possível de acontecer. E mesmo que, com o recurso a tecnologias de ponta, houvesse quem, no túnel de acesso ao relvado, tivesse gravado uma hipotética conversa assim…
- Mota, faça o favor de acertar o teu relógio pelo relógio da Torre dos Clérigos!
- Ai que lá se vai mais um talho!
… Mesmo assim não conseguiria fazer valer o Sporting a sua reclamação para as instâncias competentes. E porquê? Porque a gravação da hipotética conversa não foi autorizada por nenhum juiz de toga.

TUDO isto somado concorre para a extinção pura e simples da dita Taça da Liga num futuro próximo, iminente.
O Sporting, atrevo-me a antecipar em função do já exposto, jogará na próxima temporada com crianças, o que sendo adorável não é exequível em termos competitivos. E é, sem dúvida, uma forte machadada na importância da competição porque o Sporting é um grande.
Tendo em conta a desejável longevidade da Taça da Liga, esta situação extremada criada por Bruno de Carvalho deixa o Benfica numa posição extraordinariamente difícil visto que vai jogar ao Dragão contra o FC Porto, e não a Alvalade contra o Sporting, e a uma só mão a meia-final da corrente edição.
Cabe, portanto, ao Benfica, por portas travessas, decidir já no próximo dia 12 sobre o futuro da Taça da Liga.
Se conseguir bater o FC Porto em sua casa a contar para a Taça da Liga – proeza raramente atingível pelo Benfica quando se trata de jogos a contar para o campeonato – temos o caldo entornado e será o adeus da Taça da Liga ao calendário oficial de competições.
A única salvação para a Taça da Liga é esta:
Ou o FC Porto ganha o caneco ou a Taça da Liga acaba, já!

FALTAM 15 dias para o FC Porto-Benfica da Taça da Liga. Faltam 15 dias para, de uma maneira geral, os sportinguistas fazerem as pazes com o FC Porto. Ou estarei a exagerar?

BENFICA e FC Porto terão de jogar 8 vezes em Fevereiro. Se os dois rivais seguirem em frente na Taça de Portugal e na Liga Europa, o mês de Março será igualmente intenso. Já o Sporting tem outro figurino competitivo. Cabe-lhe realizar 14 jogos mas 14 jogos distribuídos pelos meses de Fevereiro, Março, Abril e Maio. E nenhum deles terá prolongamento, certamente.
É por esta e por outras que a presente Liga tem bastos motivos de interesse, não só práticos como teóricos."

Leonor Pinhão, in O Benfica

Resistir

"Estamos a 31 de Janeiro, e até às doze badaladas da meia-noite, a angústia ocupará os nossos espíritos. Alguém deixará o plantel? Como ficará a equipa? Como ficarão os adversários? Quem sairá mais enfraquecido desta espécie de roleta de Inverno? E a Turquia? E a Rússia? E os árabes? Ainda estarão abertas a negócios? Até quando? Porquê? Não me recordo de quem partiu a infeliz ideia de abrir o mercado de transferências de jogadores em plena competição. Mas partiu, seguramente, de alguém que gostava pouco de Futebol.
Se o calendário de Verão já oferece muitas dúvidas (sobretudo pelo seu encerramento tardio), esta 'janela' de Janeiro é uma verdadeira monstruosidade. Porém, ela existe, pelo menos até ao dia em que, para além de recolher os ovos de ouro, os agentes interessados se lembrem também de cuidar de galinha que os põe.
Entretanto, e com o entusiástico suporte da comunicação social, assistimos, durante semanas a fio, a uma hemorragia noticiosa - coberta de falsidades, pressões, interesses e jogadas de bastidores típicas desta espécie de off-shore global em que se transformou o Mundo da bola - que deixa as equipas expostas à incerteza, quando não a vulnerabilidades desportivas inesperadas, justamente na fase da temporada em que a estabilidade tem um preço mais elevado. É injusto pedir a qualquer treinador que forme um conjunto, mantenha automatismos, e incremente uma dinâmica ganhadora, quando, num ápice, em momento chave, vê sair porta fora alguns dos mais valiosos elementos da sua equipa. E, pior que isso, vê outros permanecer contrariados, perante o aceno de agentes parasitários, para quem o futebol se tornou terreno fértil para dinheiro fácil.
Poucos estão a salvo. Apenas os financeiramente mais poderosos, sendo aqui o Futebol uma perfeita metáfora da própria vida.
Situado num País periférico, o Benfica não escapa a estas ameaças. É forçado a enfrentá-las, e por vezes a ceder-lhes.
Que a meia-noite chegue depressa. Que o mercado feche a porta. Que o futebol resista."

Luís Fialho, in O Benfica

Matic / Mata

"Diz o povo sabiamente que o que não mata engorda. Depois de ter lido que o até agora jogador do Chelsea Juan Mata foi transferido neste inconcebível mercado de Inverno (que é, como que quem diz, no meio da batalha) por cerca de 45 milhões de euros para o rival Manchester United, creio que aquele provérbio se transformaria, no Reino Unido, em que Mata engorda!.
Não me detenho na pertinente observação do treinador do Arsenal Arsène Wenger ao criticar o tempo desta transferência, ou seja quando o Chelsea acaba de jogar com o Man. United sem Mata e o Man. City e o Arsenal vão jogar mais tarde já com o Mata no Man. United. É assim o futebol do poder e o poder do futebol: ranhoso, manhoso e agiota.
Falo sobretudo da contabilidade do Chelsea. Vejamos: há 3 anos saiu Matic para o Benfica, convencionalmente por 5 milhões e envolvido na transferência de David Luíz. Algo constrangido, um magnata russo pressionado por um luso técnico (que saberia os passos seguintes) recompra o passe do sérvio por 25 milhões. Mais 20 milhões que na venda ao Benfica. Vai daí, vendem Mata por 45 milhões, precisamente mais 20 milhões do que lhes custou a versão II de Matic. Vinte por vinte, contas saldadas.
O que me custa neste dédalo de má-fé negocial e de esperteza é o baixo preço (mesmo que, segundo li, a pronto pagamento) relativo a Matic, agora visivelmente ainda mais desolador quando comparado com o valor de transacção de Mata, um jogador inferior ao ex-benfiquista. Como sócio do Benfica sinto-me engasgado...
Volto aos adágios populares: «quem com ferro mata, com ferro morre». Neste caso, «quem com Matic compra, com Mata vende»..."

Bagão Félix, in A Bola

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Mais uma vitória...

Leixões 1 - 2 Benfica B

Mais uma boa vitória fora de casa, algo que ultimamente está a acontecer com mais frequência, num jogo sempre muito disputado, onde voltámos a 'deixar' o adversário aproximar-se no marcador, tornando assim últimos minutos, muito complicados emocionalmente: para os jogadores, e para os adeptos!!!

Fehér 10 anos depois

"O tempo do tempo é variável na vida e memória de cada um. Perante uma efeméride de uma morte esse mistério do tempo adensa-se. Passaram 10 anos desde o dia da morte de Fehér. A morte, o único tempo certo da nossa existência, é não determinável no tempo de cada um. Por isso, a morte faz da vida um trajecto quase imortal na cabeça de uma criança, um desenlace longínquo no coração de um jovem, uma incerteza certa na alma de um velho. Na juventude pensamos na morte sem a esperar e na velhice esperamo-la sem nela às vezes já pensar.
Há 10 anos escrevi em A BOLA um texto sobre o trágico desenlace em Guimarães. Revisito-o agora. Há vidas e há mortes. Mesmo que iguais no obituário são, em nós, diferentes. Fehér morreu naquele segundo que, inexoravelmente, separa a vida da morte e que, então, foi dramaticamente o tempo de um só segundo. Sem possibilidade de despedida. Ali, separado de nós por um controlo remoto de uma televisão, entrou directo na casa da nossa alma. Mesmo assim, teve o tempo para sorrir. O tempo para adormecer. Numa relva molhada que acolheu silenciosamente os pingos de suor do seu último trabalho.
Na sinfonia turbulenta dos sons despreza-se muito essa nota que é apenas o silêncio. Mas, o silêncio na morte já diz tudo no respeito de nada dizer. Porque o silêncio é o eco da nossa existência e o som da nossa não existência.
Com o tempo, o tempo da normalidade voltou. Assim o exige o presentismo e o frenesim do quotidiano alimentado pela roldana da rotina.
Mas a morte daquele jovem continua a fazer-nos pensar na vida para além da opressão do detalhe. O mistério prossegue."

Bagão Félix, in A Bola

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O guarda-redes dos guarda-redes

"Possuidor de uma audácia singular, um enorme espírito de sacrifício e uma generosidade sem limites, Manuel Bento é, para muitos, o mais carismático guardião de sempre do futebol português.

Quando tive de pensar o rol de conteúdos do nosso Museu, uma das ideias que primeiro se me impôs foi a d' «O meu onze». Uma plataforma para os visitantes poderem escolher a sua equipa de sempre, partindo dos ídolos de todas as épocas.
Quem vem hoje ao Museu dispõe efectivamente dessa possibilidade e os resultados estão lá, em permanente actualização. Nalguns casos, reflectindo a escolha dos participantes, noutros, não.
Ora, é mesmo aí que eu quero chegar. Na parte que me toca como adepto, sinto um misto de surpresa e desilusão por não ver na baliza desta equipa intemporal o meu querido Bento. Está lá o Preud'Homme, que igualmente admiro, tal como o 'Zé Gato', que ainda vi actuar, ou o lendário Costa Pereira, que é no mundo dos guardiões uma espécie de deus perfeito.
Claro que não me passa pela cabeça contestar as escolhas do público. Mas deixem-me lá afirmar, só desta vez, que o glorioso Galrinho é o guarda-redes dos guarda-redes.
Talvez possam acusar-me de ter com ele estabelecido laços fortes através das cadernetas de cromos e dos jogos de caricas; de inúmeras vezes, lhe ter vestido o bigode nas peladinhas de rua; de me ter deixado repetidamente hipnotizar com as suas saídas à Kamikaze, ora pelo chão, ora pelas alturas; talvez possam acusar-me de ter sonhado com ele a meter golos de penálti na União Soviética e a decidir, com um destemor só seu, eliminatórias europeias; de o ter visto demasiadas vezes a colocar a bola, com a precisão de um basquetebolista, lá bem adiante, nos pés do Chalana; talvez possam acusar-me de concordar com a ideia de que passou a carreira a desmentir as pernas de alicate e a estatura pequena com pulos mais altos e velozes que os de um saltador à vara; talvez possam acusar-me de propaganda, mas deixem-me lá dar vida a esta página com quem me ajudou a semear valores como a audácia, o espírito de sacrifício e a genoridade nos meus sonhos de menino.
Do Riachense ao Goleganense, do Goleganense ao Barreirense, do Barreirense ao Benfica, do Benfica à selecção nacional. Guarda-redes dos guarda-redes? Bento! Manuel Galrinho Bento! Quanto à sua história, ela está mais do que contada e eu não vou querer acrescentar-lhe um ponto. Ponto.

Manuel Galrinho Bento
Golegã, 25 de Junho de 1948 - Barreiro, 1 de Março de 2007
Épocas no clube: 20 (1972/73 - 1991/92)
Jogos: 636
Títulos: 8 Campeonatos Nacionais; 5 Taças de Portugal; 2 Supertaças; 6 Taças de Honra
Internacionalizações: 63"

Luís Lapão, in Mística

Só o Benfica!

"Regressado das Américas, cheio de fama e troféus, o Benfica desceu à Baixa de Lisboa para um autêntico banho de orgulho clubista e fervor colectivo.

Naquele tempo estavam ainda por nascer o papamóvel e a limusina descapotável que levaria Kennedy à desventura, no coração de Dallas.
Mas nas artérias de Lisboa corria já outra fé, outro sangue.
É de aceitar que, à semelhança de outros momentos na nossa história, terá sido um misto de crença comum e consanguinidade o que levou todos os bons chefes de família da capital a abandonarem tudo naquela noite, adivinhando-se, nesse tudo, as mães, os filhos, as sogras e as esposas.
Na verdade, a primeira coisa que me vem à ideia quando ponho os olhos nesta admirável fotografia de 1957 é o magote de esposas e famílias que foi preciso abandonar naquela noite por causa de m amor maior chamado Benfica.
Regressado das Américas, cheio de fama e troféus, teve imperiosamente que desfilar entre o povo, como se de um rei se tratasse.
Depois de África, em 1950, e da América Latina, em 1955, o agora campeão nacional e vencedor da 'Taça' encerrava assim, em clima de festa, mais uma grande digressão, desta feita ao Brasil e aos Estados Unidos.
Era já um Benfica sem fronteiras, conquistador! E assim os heróis em carne e osso desceram à Baixa no fabuloso Somua, de fabrico francês, para se banharem copiosamente de fervor colectivo e de um inevitável sentimento de irmandade.
A segunda coisa que me vem à ideia é novamente uma questão de género. Intrometida no meio de mil homens, uma mulher!
Naquele cenário tão fortemente masculino, que Joana d'Arc era aquela que teve a audácia de se montar à garupa do esplendoroso cavalo de lata com uma Reflex na mão?
Não tendo maneira de esclarecê-lo, resta-me a esperança de que esta página desperte a memória de algum leitor mais informado.
Até lá, vou-me ficando pela reacção simplificada de meia dúzia de pessoas a quem mostrei a imagem e que, tendo em conta o padrão sexista daqueles tempos, concordaram que 'só o Benfica!...'

Foi assim...
Jornada gloriosa
Durante a digressão, que durou mais de um mês, o Benfica disputou 11 jogos, tendo registado cinco vitórias, quatro empates e duas derrotas. Em golos, 31 marcados e 14 sofridos. Pelo meio, o embate com grandes emblemas do futebol brasileiro, como o Flamengo, o América, o Santos e o Palmeiras."

Luís Lapão, in Mística

A conquista de Apolo

"Em 1957, uma vitória por 3-0 sobre o Palmeiras, em São Paulo, deu ao Benfica o Troféu Saturnia. O triunfo constitui, desportivamente, o ponto alto de uma digressão ao Brasil e aos Estados Unidos.

Quando espreitaram de um ónibus fortuito os arranha-céus de São Paulo, estavam longe de se imaginarem conquistadores do Pacaembú.
Nesse momento anfiteatral, digno de Roma ou Atenas, tinham já rubricado, dois anos antes, um honroso 2-1. Glosando esse facto, a imprensa local falava agora em revanche. O adversário era o Palmeiras, recém reforçado com o grande Formiga.
Vinda de boas exibições, frente ao Flamengo de Zagalo, e ao Santos, de Pelé, bicampeão paulista, houve quem visse na nossa equipa uma das melhores estrangeiras que até então por lá se exibira. Os elogios, porém, não impediram que outros olhares lhe profetizassem com os bandeirantes uma derrota rotunda.
Foi neste clima entremeado que os 'manuéis' de seu Otto desembarcaram no duche escocês do Hotel Esplanada, onde foram pensar na melhor maneira de enviar para Lisboa o Troféu Saturnia.
Corria o ano de 1957. Veio a hora do tira-teimas a 25 do mês de Junho. Dominando o jogo desde o primeiro ao último minuto, os benfiquistas brindaram Formiga e companhia com um carinhoso 3-0 e os cumprimentos de José Águas, que fez hat-trick.
No final, estalejaram foguetes. Houve volta de honra. O estádio inteiro aplaudiu de pé.
O deus Apolo, que dava corpo ao Saturnia, foi circulando entre mãos, vestindo de música e poesia, como lhe era próprio, a epopeia encarnada.
Já se perfilavam no horizonte São Salvador e Recife. Mais ao longe, Fall River e Nova Iorque, ansiando a estreia dos campeões portugueses nos Estados Unidos. No dia seguinte, enquanto se passeavam pela cidade e faziam compras, os paladinos do Pacaembú cruzaram um mar de felicitações. E assim seguiram, de humor adequado, em direcção à Baía. Terra de felicidade, espécie de Ilha dos Amores, recomprensadora, onde, segundo escreveu no seu diário o jogador Calado, 'as morenas frajolas eram aos centos'."

Luís Lapão, in Mística

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O voo negro que encantou Paris

"Em 1973, Eusébio, aos 31 anos, marcava golos atrás de golos - só no Campeonato foram 40. Ganhou a sua segunda «Bota de Ouro» e o Benfica foi Campeão concedendo apenas dois empates.

Voltemos a Eusébio. Mais do que não esquecê-lo, é preciso relembrá-lo. Recordo-me desse auxiliar indispensável, há tanto tempo escrito já: «Viagem em Redor do Planeta Eusébio». E recuo até 1973. 1973 foi um ano marcante na carreira de Eusébio. Profundamente marcante! Marcou 40 golos no Campeonato Nacional.
O Benfica foi Campeão com apenas dois pontos perdidos: 28 vitórias e 2 empates; 101 golos marcados e 13 sofridos. Só num jogo não marcou: na Tapadinha, com o Atlético, na penúltima jornada (0-0). Nenhuma outra equipa faria melhor.
Na Luz, foi infernal: Leixões: 6-0 (3 golos de Eusébio); Beira-Mar: 9-0 (3 golos de Eusébio); Sporting: 4-1 (4 golos de Eusébio); Belenenses: 5-0 (3 golos de Eusébio); FC Porto: 3-2 (Eusébio não jogou); Farense: 3-0 (Eusébio não jogou); Atlético: 2-0 (1 golo de Eusébio); Boavista: 4-1 (1 golo de Eusébio); U. Coimbra: 6-1 (2 golos de Eusébio); Barreirense: 3-0 (estranhamente, Eusébio não marcou); V. Setúbal: 3-0 (1 golo de Eusébio); U. Tomar: 2-1 (2 golos de Eusébio); V. Guimarães: 8-0 (3 golos de Eusébio); Montijo: 6-0 (4 golos de Eusébio).
A linha avançada do Benfica era, provavelmente, a melhor desde o tempo das vitórias na Taça dos Campeões: Nené, Eusébio, Vítor Baptista, Artur Jorge, Jordão e Simões.
Em 1973, Eusébio marcou o seu último golo pela Selecção Nacional. Em Coventry, em Inglaterra, por causa dos conflitos que se viviam em Belfast, na fase de apuramento para o Campeonato do Mundo de 1974, frente à Irlanda do Norte. Resultado: 1-1. Eusébio converteu um penálti, aos 84 minutos. O guarda-redes era Pat Jennings, do Tottenham.
Em 1973, Eusébio fez o seu último jogo pela Selecção Nacional. No Estádio da Luz, frente à Bulgária (2-2). Lesionado, foi substituído por Jordão, aos 28 minutos. Eliminado do Campeonato do Mundo, Portugal trocaria de seleccionador: saiu José Augusto e entrou José Maria Pedroto. A Selecção portuguesa bateu no fundo: Pedroto inventou a renovação e ficou para a história como o seleccionador que só ganhava ao Chipre.

Esse Eusébio que já não serve...
Em 1972/73, a época na qual Pedroto decidiu que Eusébio já não servia para a Selecção Nacional, Eusébio marcou 76 golos. Sete-seis: 76. Por extenso: setenta e seis!
3 na Taça de Honra: Belenenses 1 e Atlético 2; 40 no Campeonato: Leixões 4, Beira-Mar 3, U. Coimbra 3, Sporting 4, Belenenses 4, U. Tomar 3, CUF 3, Atlético 1, Montijo 5, V. Setúbal 1, FC Porto 1, Farense 2, V. Guimarães 3; 2 na Taça dos Campeões: Malmo 2; 3 na Selecção Nacional: França 2 e Irlanda do Norte 1; 28 em jogos particulares: Selecção da Indonésia 4, Benfica Luanda 1, Sporting Luanda 2, Selecção Frankfurt 1, Selecção Hong-Kong 3, Selecção Chinesa 2, Misto Macau 2, Marítimo 1, Seiko 2, Caroline 1, Anderlecht 2, Nottingham Forest 1, Boavista 1, Málaga 2, Estrela Vermelha 3.
Eusébio tinha 31 anos. E marcava golos como nunca.
Em Paris, Eusébio soube sempre ser feliz. Desde aquela tarde dos três golos ao Santos, no Parque dos Príncipes. E os franceses souberam sempre amar Eusébio de uma forma dedicada, apaixonada, como só os franceses são capazes de amar. Diferente dos ingleses, pois claro, que lhe devotaram mais admiração e respeito do que verdadeira paixão.

Só por uma das sessenta e quatro vezes que jogou com a camisola dos cinco escudos azuis de Portugal, Eusébio esteve Paris. Mas, nessa noite de Março de 1973, Eusébio ofereceu a Paris todo o seu esplendor: o esplendor de Portugal!
FOTO: de costas, na sua grande passada larga, imponente, Eusébio fura pelo meio de dois adversários, o 2 e o 4; Eusébio tem a braçadeira de «capitão» na manga esquerda, e o 10 nas costas; dir-se-ia um 2014 em movimento tripartido. Data: 4 de Março de 1973. Local: Parque dos Príncipes, em Paris. Legenda: «Guarda - Estava anunciada guarda negra para Eusébio. Negra ou branca, a verdade é que 'capitão' português foi estreitamente vigiado durante todo o encontro, como nesta fase em que aparece entre Broissart e Adams».

Guarda negra: os franceses tinham avisado que, contra Eusébio, utilizariam dois centrais altos, fortes e negros - Adams e Marius Trésor. A defesa direito, outro homem das colónias: Broissart.

Eusébio nem ligou aos avisos. Também não ligou ao facto de a França se ter adiantado no marcador, aos 36 minutos, por Molitor. Dois minutos depois, empata, num penálti a castigar falta de Trésor sobre Abel. No último minuto do jogo, como que para assinar o «grand finale» ao seu estilo único, um centro de Pavão, na esquerda, apanha de surpresa todos os habitantes da grande-área francesa menos... Eusébio: um mergulho, um desvio de cabeça, um golo bonito, suave, irretocável. Um voo negro que encantou Paris!
Cornus, o guarda-redes francês, conforma-se: «Aquele golo de Eusébio deixou-me siderado! Na posição em que ele se encontrava esperei que ele fizesse o remate com o pé e nunca com a cabeça. É claro que, quando ele meteu a cabeça, fiquei logo batido. Não tive qualquer hipótese! Não foi golo - foi um golão!»

A imprensa francesa reservava-lhe, mais uma vez, a habitual ladainha de elogios.
Dany Rebello, jornalista do «Journal du Dimanche», em título: «Eusébio derrotou a França!»
Manchete do «L'Équipe»: «Et, par dessus, ils avaient Eusébio...» E, no interior, em quatro páginas de crónica e reportagem, Eusébio, Eusébio, e outra vez Eusébio: «Eusébio, le roi du Parc».
Primeira página do «Parisien Liberá»: «Un vrai festival Eusébio!»
Que inveja tenho dos franceses: para eles era fácil escrever sobre Eusébio."

Afonso de Melo, in O Benfica

Demónios e anjinhos

"Paulo Fonseca parecia possuído quando se apresentou aos jornalistas para dissecar as emoções extremas da última jornada do apuramento da Taça da Liga, sintetizando o que acabara de se passar com a frase lapidar que, no FC Porto, figura em primeiro lugar na tábua dos mandamentos para uma vida feliz: “Nós não fazemos o papel de anjinhos.”
À mesma hora, em Penafiel, treinador e presidente do Sporting falavam de imoralidade e de suspeitas de favorecimento por omissão, por parte da Liga, incapaz de garantir a mais básica das equidades desportivas, a da garantia que todos os concorrentes têm as mesmas condições para lutar pelas vitórias, a começar pelo respeito e observância dos próprios regulamentos de competições. E sim, as queixas do Sporting voltam a soar como justificação tardia e como demonização de um vencedor que nunca olha a meios para alcançar os objetivos. Neste caso, o FC Porto fez tudo o que, aparentemente, a permissividade dos delegados da Liga lhe permitiu, com um elevado grau de profissionalismo, perversidade à parte, que fez toda a diferença na recta final da corrida ao golo, com o Sporting. Mais penálti, menos penálti, mais golo duvidoso menos erro escandaloso, já se sabe como acaba a história: no fim ganha o Porto.
Muitos anos e quatro presidências depois da célebre denúncia de Dias da Cunha, o Sporting prossegue a sua luta virtual contra moinhos que sopram cada vez mais forte, tendo acrescentado em Penafiel a sua longa lista de vitórias morais ou, de acordo com o presidente, mais uma derrota imoral. Parece sina, mas trata-se simplesmente da expressão de diferenças acumuladas pelo tempo, com a consolidação de profissionais e métodos que não se importam, não se importam mesmo nada, de serem confundidos com demónios e coriscos.
A equipa do Sporting realizou nos últimos meses uma enorme recuperação desportiva e bate-se agora em campo de igual para igual com os rivais, chegando a dar a sensação de que já nada lhe falta para poder chegar novamente aos títulos. No entanto, a meio da temporada, já foi eliminada das duas Taças e resta-lhe o campeonato, com apenas 14 jogos para disputar em quatro meses – o que pode redundar em handicap positivo, considerando que os adversários vão jogar duas vezes por semana a partir daqui, em quatro frentes. Vai sobrar muito tempo aos responsáveis leoninos para estudarem os métodos diabólicos e deixarem, o mais rapidamente possível, de serem tratados como anjinhos pelos adversários."

Tranquilos

"1. Mais uma vitória tranquila com o Marítimo, já sem Matic. Janeiro tem corrido bastante bem, sem grandes 'notas artísticas' mas com triunfos seguros. Fevereiro, com uma sucessão de jogos a meio da semana, será bem mais complicado, mas há que confiar (e apoiar...).

2. Jorge Jesus não é nenhum especialista da palavra, todos o sabemos. Mas também não é justo colocarmos na sua boca intenções que ele não teve. Ele disse que 'só nascendo dez vezes' podemos encontrar outro Matic na Formação do Benfica. Mas acrescentou logo: 'também acho que no mercado em nenhuma parte do Mundo seríamos capazes de encontrar um substituto para ele'. E disse mais, na mesma ocasião: 'para mim, o Matic é o melhor médio-defensivo do Mundo, é escusado ir à equipa A ou à equipa B, pois é algo que não existe'. Podemos criticar Jesus por não dar mais oportunidades aos nossos jovens da Formação, mas não é justo que o critiquemos neste caso concreto.
Infelizmente, cada vez os jogadores dão menos entrevistas, a comunicação social tem que falar dos principais emblemas e só quem fala todas as semanas são os treinadores. Depois, cada pequeno caso é explorado e 'inflacionado'...

3. Claro que a venda de Matic não agradou a nenhum benfiquista, a começar pelo presidente. Por ela própria e pelos valores envolvidos, inferiores ao seu real valor. Simplesmente, agora é fácil criticar. Se tivesse sido vendido no verão, provavelmente teria rendido mais. Mas o objectivo passava por apostar forte na Liga dos Campeões, na esperança de passar a Fase de Grupos e receber aí boa parte do que não se ganhou na transacção de jogadores. Infelizmente, não passámos e, pelos vistos, não restou alternativa.

4. «Há pseudo-intelectuais a falar de futebol como se percebessem alguma coisa do assunto e a darem opiniões ridículas sobre arbitragem. Estão a chegar fogo ao Futebol, são incendiários que julgam estar a fazer um grande papel. Criam um clima insustentável aos próprios árbitros» (Agosto de 2011).
«Estão sempre a falar de árbitros é ridículo e estúpido, mas como há muitos estúpidos vamos continuar a falar disso» (Dezembro de 2012).
Quem disse isto? O grande amigo dos árbitros, a alguns dos quais deu em tempo boas ajudas, de nome Pinto da Costa..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Grandes Esperanças

"Já escrevi nesta coluna sobre os benefícios da Formação (6 de Dezembro passado) mas não corro o risco de me repetir, porque hoje vou escrever concretamente sobre Esperanças. Antigamente, havia um escalão na organização desportiva informalmente designado por Esperanças. Nas Esperanças desembocavam as Promessas, os jovens oriundos da formação que pelo seu potencial representavam o futuro imediato das instituições e das modalidades desportivas. O termo Esperanças assentava muito bem e essa realidade e ao que se esperava daqueles jovens. Chegou mesmo a haver uma Selecção de Esperanças, composta por jovens atletas de quem se esperava mais.
A minha esperança, como Benfiquista, é que o Benfica venha a concretizar com a actual geração de Esperanças, do Futebol como de todas as modalidades, o desiderato enunciado pelo presidente - sobre o Benfica «made in Benfica» -, propósito muito bem secundado e desenvolvido nas primeiras edições deste Ano Novo do nosso Jornal O Benfica - «Talento marca SLB» - e da revista Mística - «O Benfica tem futuro».
Não vou falar de nomes. O Benfica tem grandes Esperanças em todas as modalidades e nada pior que alimentar a vaidade de uns, a inveja de outros e as ilusões de muitos mais. Alguns dos jovens atletas do Clube chegaram já aos escalões mais elevados da competição e o Benfica só terá a ganhar que tais Esperanças consigam firmar-se como certezas. O que dá aos Benfiquistas esperança nas suas Esperanças é, desta vez, a palavra do presidente: projecto para o futuro, a equipa de Futebol profissional baseada na Formação. A palavra do presidente é para fora e também para dentro do Clube."

João Paulo Guerra, in O Benfica

domingo, 26 de janeiro de 2014

Convincente...

Esmoriz 0 - 3 Benfica
12-25, 17-25, 22-25

Fechou assim um excelente fim-de-semana para o Voleibol do Benfica. Depois da grande vitória de ontem, mais um jogo muito bem conseguido hoje... Só dois jogadores, repetiram a titularidade: Flávio e o Roberto. Os outros foram suplentes contra a Fonte do Bastardo: Tavares, Ché, Kibinho e o Magalhães. Mesmo assim a fluidez do jogo não se ressentiu, com o Miguel Tavares muito bem na distribuição... E tal como ontem, tivemos muito bem no Serviço, nota-se que a equipa está confiante...

Roubalheira do costume...

ABC 26 - 26 Benfica

Antes do jogo as contrariedades já eram muitas: o castigo do Carneiro (outra estória surreal...!!!), lesão do Pedroso, e a lesão do Álvaro Rodrigues que esteve no banco mas não foi utilizado; o próprio Tiago Pereira está a sair de uma lesão; o adversário em casa é sempre difícil, venceu inclusive os jogos com os Corruptos e com o Sporting; somando tudo isto, com a história de 'brancas' desta equipa, as minhas expectativas não eram muitas...
Mas o jogo contrariou as minhas previsões... o Benfica controlou praticamente todo o jogo. Muito bem a defender, com o Álamo de regresso às grandes exibições, e com muita calma no ataque, procurando as soluções colectivas, com muitos cruzamentos...
A 18 minutos do fim da partida estávamos a vencer por 15-20, o ABC pediu um desconto de tempo, onde o treinador adjunto do ABC passou o tempo todo, aos gritos com os árbitros... A partir deste momento, tudo mudou. É verdade que além das decisões absurdas dos apitadeiros, também cometemos alguns erros no ataque, mas que equipa não sentira na pele a roubalheira que estava a decorrer?!!! Valeu tudo, faltas atacantes em catadupa, jogo passivo ao Benfica após 10 segundos de ataque, livres de 7 metros contra o Benfica por correntes de ar, e exclusões para todos os gostos, acabámos mesmo o jogo com 3 jogadores excluídos: Carmo, Dario e Costa!!!
Não é a primeira vez que isto acontece ao Benfica, não é a primeira vez que isto acontece em Braga (o ano passado com os manos 'Metralha' Martins... foi mais do mesmo!!!!). Mas muito sinceramente com esta dupla não estava à espera. Considero o Duarte Santos e o Ricardo Fonseca, a mais imparcial dupla de árbitros no Andebol Português. Acho que são um pouquinho menos incompetentes do que os outros, mas até hoje, achava que não eram 'frutados' e que não sentiam um ódio a tudo o que veste de vermelho (algo raro nos apitadeiros, em qualquer modalidade...!!!), mas hoje foram incapazes de resistir à pressão... Quando vi o José Costa logo no início do jogo a ser excluído por duas vezes, pensei logo que seria muito complicado aos árbitros manterem o critério até ao fim, mas durante algum tempo conseguiram... mas os últimos 18 minutos foram maus de mais... O jogo terminou com o José Costa a ser rasteirado e placado (literalmente), sendo marcado uma falta contra o Benfica, e com o Zé Costa a ver o cartão vermelho!!!
Até o nosso treinador, que é tão reticente em falar das arbitragens no final das partidas, não conseguiu resistir na entrevista no final do jogo... Foi mau demais!!!

Vitória...

Lusitânia 66 - 73 Benfica
14-21, 15-14, 19-22, 18-16

Para terminar este sábado vitorioso, nada melhor que uma vitória 'mais ou menos' tranquila na Terceira!!! Mais ou menos, porque no último período ofensivamente, engasgámos um pouco, felizmente na defesa, por mérito nosso e algum demérito do adversário, aguentámos o Lusitânia à distância, a diferença nunca foi menor que 5 !!!
Espero que a não utilização do Carlos Andrade tenha sido somente por precaução, já chega de lesões!!! O ocaso do Cláudio Fonseca também é estranho... Mesmo com a ausência do Andrade na rotação, acho arriscado obrigar o Doliboa e o Thomas fazer os 40 minutos.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Meia-dúzia... sai mais barato!!!

Benfica 6 - 1 Corruptos

Pedi uma reacção no último jogo com o Venderell, e a equipa reagiu!!! A entrada foi demolidora, isto depois do Trabal ter defendido um penalty logo nos primeiros minutos!!! Nós estávamos claramente pressionados, outro resultado sem ser a vitória era uma desgraça, mas a ansiedade que às vezes ataca esta equipa, hoje, não apareceu... o facto dos golos terem aparecido no início, ajudou ao esclarecimento...

Parece impossível, mas fiquei chateado com o golo da consolação dos Corruptos!!! Com a derrota do Valongo, a classificação ficou mais apertada, mas não vencer em Valongo na próxima jornada, é mandar este esforço fora!!! Os pontos desperdiçados com o Turquel, o Sporting e a Oliveirense, após esta exibição, são ainda mais absurdos!!!
Apesar da goleada, voltámos a falhar todas as oportunidades de 'bolas paradas' que tivemos!!! Isto não é normal...!!! Com uma percentagem de aproveitamento aceitável, a goleada tinha sido ainda maior...

Como é que é possível o filho-da-puta do costume, continuar a agredir adversários (e adeptos...) e não ser castigado em conformidade?!!!

Excelente

Benfica 3 - 0 Fonte do Bastardo
25-20, 32-30, 25-20

Melhor jogo da temporada. Entrada demolidora no 1.º Set, com 6-0, os Açorianos ainda reduziram a diferença durante o Set, mas o Benfica nunca tremeu...
No 2.º Set não tivemos tão bem, o marcador chegou a mostrar 20-24, mas com o Roberto no serviço, nunca nos demos por vencido, e nas vantagens, mesmo com várias decisões absurdas por parte do 2.º árbitro, vencemos. E ficou claro, que o triunfo no jogo não nos iria fugir...
Voltámos a entrar de forma demolidora no 3.º Set, a diferença foi sempre grande... perto do fim, o mesmo 2.º árbitro, resolveu embirrar com a rotação da Fonte, e assim distribui o mal pelas aldeias!!!

O Marcel ofensivamente fica a perder para o Kibinho, e mesmo para o Zelão, mas no bloco é melhor que o Kibinho. Hoje, acabou por ser muito importante... Bom regresso ao Flávio à titularidade. O Gaspar esteve consistente. O Coelho esteve muito bem... O Honoré do costume... Mas o MVP tem que ser o Roberto com os serviços no 2.º Set, a recuperar a desvantagem de 20-24!!!

Primeira derrota da Fonte do Bastardo, neste Campeonato, e ficou assim vingado a derrota também por 0-3 na Terceira. Apesar da superioridade demonstrada, este resultado pouco significado tem na decisão final do Campeonato... Mas pelo menos deu para libertar alguma pressão psicológica que podia acumular em caso de derrota.

PS: Noutras latitudes, uma nota de parabéns para a Telma Monteiro, que em representação de uma Selecção Europeia, venceu o seu combate, ajudando assim a Europa a derrotar a Ásia, por 10-4, numa competição que decorreu hoje na Rússia.

Pleno !!!

Benfica 1 - 0 Gil Vicente

Tal como no jogo contra o Leixões, voltámos a ter uma exibição agradável, de uma equipa Benfiquista composta essencialmente por segundas opções... Mais uma vez, acabámos por pecar na finalização. Acho mesmo, que o Leixões deu-nos mais trabalho defensivo do que o Gil Vicente, que também vez descansar alguns dos titulares...
De regresso a Belém, bem perto da Farmácia Franco (tudo isto em dia de saudade dupla: Eusébio e Fehér!!!), tivemos um Benfica dominador, com muita posse de bola, nem sempre com boas decisões, perdulário, com muita juventude a mostrar vontade em triunfar no Benfica... podíamos e devíamos ter vencido por mais!!!
Entre os titulares, aquele que despertava mais atenção era o André Gomes... Eu que critico muitas vezes a atitude, e as decisões do André, acho que fez um excelente jogo, e com mais uma arma: muito bem na marcação das bolas paradas, cantos e livres laterais... conjuntamente com o Amorim, será uma excelente opção para o lugar do Enzo... O Amorim também provou hoje, que na ausência do Fejsa, será ele a 1.ª opção para o substituir. Bom regresso do Sulejmani, com um golo... A jogada que dá o penalty merecia golo... até pela bola à barra no golo, o Funes também merecia marcar. O Ivan continua a mostrar que dentro da área é muito perigoso, as saídas para drible são fulminantes, mas não é extremo... O Djuricic continua a não aproveitar estes minutos para convencer... Nas laterais tanto o Sílvio como o Almeida, tiveram intratáveis a defender e bem a atacar... Os Centrais, dentro das limitações tiveram bem: se passa a bola, não passa o jogador... Simples!!!
O Bernardo, o Hélder Costa, e o Cancelo tiveram poucos minutos para se mostrarem, mas todos eles tiveram bem, mostrando personalidade, qualidade... e tal como os restantes companheiros, falharam na finalização, não foi Hélder?!!! 

Qualificação para as Meias-finais da Taça da Liga, com três vitórias em três jogos, e com nenhum golo sofrido!!! Neste momento ainda não sei qual será o adversário (Corruptos ou Sporting), mas tendo em conta o calendário apertado de Fevereiro, gostaria que houvesse coragem de apresentar uma equipa parecida com esta nesse jogo...!!!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

(E)ternamente Eusébio

"Foi a madrugada mais cruel da minha vida. Aquele telefonema acordou-me, não sei se sonhava, decerto almejava. 'Passa-se qualquer coisa de grave com a Eusébio, a informação é segura'. foi o meu despertar. Ainda não batiam as sete, impunha-se ligar à Flora. Do outro lado da linha, a Sandra, filha mais nova, com um lacónico e molhado 'o pai faleceu', amarrotou-me emocionalmente. Houve ali raiva, fúria, danação.
Acordei Portugal, acordei o Mundo. O Eusébio partiu. Ainda em estado de choque, pensamentos em turbilhão. Acordei o Simões, acordei o Toni, precisava de mimo, de conforto, de partilha. Liguei ao Luís Filipe Vieira, não tardou a responder, senti-lhe lágrimas a embargarem uma voz irresoluta.
Espreitei, de forma veneranda, um texto que havia escrito. 'Era hipnose, era rajada, era batuta, era sedução'. Era, era mesmo. Era passado, era o que eu não queria que fosse. O passado teve presente, o passado passava a ter só passado.
Foram vinte anos de convívio quase quotidiano. Muitas estórias, muitas confissões, muitas cumplicidades. Tantos momentos de aprazimento, de júbilo, de ledice. Outros de malogro, de angústia, de frustrações, mas sempre em sintonia. Centenas e centenas de refeições em conjunto, centenas e centenas de viagens curtas ou longas, centenas e centenas de telefonemas. Só sabia, só sei de memória o número de Eusébio. Aqueles nove dígitos, vezes muitas, quando discados, valiam emoção, alvoroço, sentimento. Também amor.
O meu ídolo de infância despediu-se. Horas antes, não tantas, havia-me ligado a marcar um almoço na Tia Matilde. Um desejo do Eusébio estabelecia imperativo, ditame. Padrinho de um dos meus casamentos, celebrado no Minho, percebia-lhe carisma, mais ainda carisma magnético. Ter sido seu biógrafo constitui a honra suprema da minha vida profissional e da aptitude pela causa bonita da bola.
Agora, agora mesmo, acabo de receber um texto de Cristiano Ronaldo. 'Eusébio é um figura emblemática, não só de todo um País, mas também do Futebol mundial, com quem tive a felicidade, honra e prazer de conviver; é uma referência e uma lenda que perdurará para a eternidade'. Há dois anos, quando atingiu a condição de septuagenário, organizei-lhe uma festa, na sua Luz, tal como havia feito em ocasiões anteriores. Disse 'Eusébio tem setenta anos? É porque está ainda mais próximo da imortalidade'. Estava mesmo. Agora, como nenhum outro, como nenhum jamais, diviniza a mais portuguesa das palavras, a palavra saudade."

João Malheiro, in O Benfica

A encomenda

"A “estrutura perfeita” perdeu no Estádio da Luz e viu os cinco pontos de vantagem que lhe garantia loas ao plantel e encómios ao líder da fina ironia transformarem-se em três de atraso para o Benfica.
A “estrutura perfeita” reagiu insurgindo-se contra o árbitro, Artur Soares Dias. O mesmo Soares Dias que herdou o apito e consolidou carreira sempre na sombra da Torre das Antas. Ao culpar o dito Soares Dias, a “estrutura perfeita” limpou a imagem do seu treinador, Paulo Fonseca. O mesmo Paulo Fonseca que herdou o cargo e consolidou a carreira na sombra da última jornada do campeonato transacto. Ao culpar o dito Soares Dias, a “estrutura perfeita” desculpabilizou-se de ter substituído James e Moutinho por Licá e Josué. Mas a “estrutura perfeita” foi mais longe e exigiu a nomeação do amigo Proença para as próximas contendas com o Glorioso. A tradição ainda é o que era e desde Garrido que há sempre um Proença a ser desejado e “nomeado” para participar e contribuir para a festança. Assim, com uma “nomeação” tão atempada como avisada, não admira que a “estrutura perfeita” tenha um treinador a garantir que festejará na última jornada do campeonato. Aliás, diga-se que esse treinador, apesar da curta carreira, já tem alguma experiência em garantir campeonatos na derradeira jornada. E é assim que a “estrutura perfeita” garantia há uns meses que só os estúpidos é que falavam de arbitragem e que agora, falando de arbitragens, não só deixaram de ser estúpidos como encomendam os foguetes para jornada final. Faltou-lhes apenas dizer que a culpa da derrota na Luz se deveu ao facto de terem jogado à tarde, quando a tradição os habituara a jogar no calor da noite. Mas, garantidamente, a “estrutura perfeita” valer-se-á, também, do retomar dessa tradição."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Um abraço a António Veloso

"Arséne Wenger, treinador do Arsenal, disse ontem: «Sinto-me culpado por não ter ninguém para anunciar». Há uma ilusão de que comparando se fica mais forte. Wenger sublinha que só vale a pena comprar se aumentar a qualidade. Por cá, os adeptos do Benfica esperam apenas não vender... muito. Matic faz falta mas foi bem vendido, Ola John foi bem emprestado, mas o que se lê na imprensa é aterrador. Os jornais já nos venderam meio plantel. A nossa esperança está no facto de a maioria das notícias, normalmente, não serem verdadeiras. Sendo aborrecido para os jornalistas, seria, neste caso, simpático para os adeptos do Benfica.
O Benfica cumpriu bem frente ao Marítimo e iniciou uma contagem decrescente sem grande margem de erro. Faltam 14 jogos para o sonho do Campeonato, dois (o de amanhã não conta) para o sonho da Taça da Liga e quatro para o sonho da Taça de Portugal. José Mourinho, numa Gala de Jornalistas em Inglaterra, orgulhou-se de respeitar as Taças (de Inglaterra e da Liga), colocando as melhores equipas para as tentar vencer. É também pelo tamanho da ambição que Mourinho é dos melhores de sempre, por cá passou despercebido. Foi pena, estamos a desperdiçar lições.
Esta semana fica marcada por uma série de reportagens televisivas, na SIC, onde se mostra as dificuldades que atingiram o estrelato. Impressiona por esse auge ter tido relativamente perto no tempo, e pela dimensão dos jogadores em causa. Ver o nosso capitão António Veloso naquelas circunstâncias foi, para mim, doloroso. Era dos meus jogadores preferidos de juventude. Pela entrega e pelo respeito com que tratou a nossa braçadeira merece aqui o meu abraço. Festejei muitos títulos que António Veloso nos ajudou a conquistar, e festejarei muito em breve quando ele ultrapassar esta fase, como sempre, à campeão."

Sílvio Cervan, in A Bola

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Questão de higiene

"1. O arrazoado do Madaleno e do seu empregado seria de um comicidade extrema não fora esconder o objectivo sinistro de condicionar os árbitros. Num Futebol minimamente decente, tais manobras valeriam castigos pesados, suspensões ou multas pecuniárias. No futebolzinho à beira-mar plantado, há intocáveis. Gente impune e inimputável. Esqueçam o sentido pejorativo das palavras: para eles contêm virtudes. Para nós, que já tivemos tempo para nos cansarmos de tão bacocas diatribes, resta-nos paciência. Um dia o tempo, esse grande escultor, varrerá o lixo para os confins da memória.

2. Cada um encarou a morte de Eusébio da forma mais íntima ou menos íntima que soube. Descobrimos que ele tinha um amigo em cada esquina, mesmo que não o soubesse em vida. Todos o viram jogar, e ele não desmentiu ninguém porque não era capaz disso. Outros, como dizia Nelson Rodrigues, até foram capazes de assobiar um minuto de silêncio, o que é revelador da educação que lhes deram. Finalmente, houve quem primasse pela ausência. Por vergonha? Por decoro? Seja como for, é preciso sublinhar que tais ausências tiveram um mérito: foram profundamente higiénicas!"

Afonso de Melo, in O Benfica

O teste das 100 horas e o teste das 5437 horas

"Paulo Fonseca está há 5437 horas e silêncio à espera que jornalistas, comentadores e outros sacripantas tenham a coragem e opinem sobre o 'penalty' no Paços- Porto da última época.

MATIC não foi a única baixa na equipa do Benfica que cumpriu na tarde de domingo o seu jogo com o Marítimo. Considere-se a constituição da equipa titular no arranque da temporada corrente e logo se verá que, para além da ausência sem regresso de Matic, o Benfica venceu o Marítimo não dispondo dos contributos de outros elementos sonantes e teoricamente indispensáveis em Agosto.
Tais como Salvio e Cardozo, afastados há muito tempo por questões de saúde, e até tal como Artur, a quem poucos vaticinariam uma transição relâmpago para o banco assim que o jovem Oblak entrou em acção por obra de um acaso.
O guarda-redes esloveno ainda não sofreu um golo, registo que apraz registar, mas, mais cedo ou mais tarde, vai-lhe acontecer uma coisa dessas, tão natural afinal tratando-se de futebol. Seria bom que os adeptos do Benfica se preparassem para essa eventualidade. Oblak não é imbatível. Aliás, ninguém é imbatível.
E seria bom que Oblak se preparasse e se defendesse de outra eventualidade que funcionará sempre contra si: a do endeusamento precoce, chamemos-lhe assim, esse disparate tão comum num emblema que, por norma, não aposta de caras na juventude, muito menos, na excessiva juventude num posto da maior importância.
Sem menosprezo por Artur, confesso que me encanta ver Oblak a guardar a baliza do Benfica. Estou preparada para não mudar de opinião no inevitável momento em que o rapaz sofrer um golo. Não estou, no entanto, preparada para o ver ser vendido até ao final do mês. Mas isso não vai acontecer.

FOI um teste, disse Paulo Fonseca. Justificava, assim, em conferência de imprensa as 100 horas de silêncio a que se impôs depois do clássico da Luz. O presidente do clube veio corroborar a afirmação do treinador. 
Assim que terminou o jogo, ainda no balneário, ambos, treinador e presidente, afinaram uma originalíssima estratégia de silêncio sobre o trabalho do árbitro Artur Soares Dias no intuito de testar a honestidade dos jornalistas e dos comentadores.
- Vamos lá ver se os sacripantas têm coragem de chamar os nomes todos ao árbitro! – era este, basicamente, o teste.
Esgotadas as 100 horas de piedoso silêncio, presidente e treinador vieram a público e concluíram em prol da sagacidade de mais uma estratégia genial.
Os jornalistas e comentadores não tiveram, de facto, coragem física e intelectual para denunciar o frete feito ao Benfica pelo árbitro do Porto.
Grande espanto? Pois se é esta a história do futebol português nas últimas três décadas…
Concluído o teste e com o resultado admirável já exposto, a discussão passou a centrar-se num pormenor não menos interessante. De quem foi a ideia do teste? Do presidente ou do treinador? Quem se lembrou de esperar 100 horas para protestar contra penaltis perdoados ao adversário num jogo de tamanha importância?
De um modo geral, as opiniões nem sequer se dividem, como se costuma dizer. Presidente é presidente e com tantos anos na função, sendo considerado mais inteligente do que todos os presidentes adversários já nascidos ou por nascer, a ideia do teste só poderia ter sido de Pinto da Costa.
Atrevo-me, no entanto, a discordar da maioria esmagadora.
A ideia foi de Paulo Fonseca.
Aliás é uma velha prática do novo treinador do FC Porto. Tão velha que já vem dos tempos em que era treinador do Paços de Ferreira. O actual treinador do FC Porto está, por exemplo, há 5437 horas em silêncio – o mais longevo dos testes ainda em curso – à espera que os jornalistas, os comentadores e outros sacripantas tenham coragem para opinar sobre aquela grande penalidade assinalada pelo árbitro Hugo Miguel no escaldante Paços de Ferreira-FC Porto que encerrou a última Liga e consagrou a equipa visitante como campeã nacional.
Nem uma palavrinha pronunciou o então treinador do Paços de Ferreira sobre o lance ocorrido a uns belos metros da entrada da área pacense e que resultaria no castigo máximo com que os eternos campeões abririam o marcador.
5437 horas non-stop de teste, que valentia, senhores!

O Benfica chegou ao cabo da primeira volta do campeonato na liderança isolada da tabela o que é absolutamente assombroso tendo em conta que transportou do fim da época passada para o início desta época um conjunto de fantasmas, de irresoluções e de traumas capazes de sepultar qualquer tipo de sonhos de grandeza. E facto assombroso tendo também em conta que, por altura do São Martinho, o mesmo Benfica levava já 5 pontos de atraso em relação ao sempre eterno campeão FC Porto.
Posto isto, é contra toda a lógica a liderança do Benfica a meio da prova. É por causa destas coisas, surpreendentes, que o futebol arrasta multidões.
Parte para a segunda volta o Benfica depois de ter vendido um dos seus melhores e mais influentes jogadores, o sérvio Matic, e contando que até ao final do mês outros jogadores, igualmente de enorme categoria e peso na equipa, podem também sair para outros clubes.
Posto isto, se o Benfica chegar ao fim da segunda volta do campeonato na posição em que terminou a primeira volta, tratar-se-á de um caso imensamente original e digno de estudo.

O presidente do Sporting entregou às autoridades competentes um projecto de alteração de normas e preceitos que regem as competições oficiais no nosso país.
Bruno de Carvalho defende, por exemplo, «o sorteio puro» dos árbitros no lugar das nomeações em vigor. Concordo totalmente com o presidente do Sporting nesta questão.
Nomear árbitros implica uma política de nomeações e, quanto à política das nomeações, estamos conversados. O sorteio dos árbitros é democrático.

NÃO foi feliz Jorge Jesus quando referiu que os jovens da formação do Benfica teriam de «nascer dez vezes» para poderem substituir Matic. Depois emendou a mão sem se atrapalhar muito, o que foi positivo porque revelou respeito, ainda que tardio, pela tal miudagem do Benfica que vai marcando presença em todas as selecções jovens de Portugal.
Houve jogadores que reagiram publicamente às primeiras palavras do treinador da equipa principal em termos que muito me agradaram. E que só podem ter agradado também ao próprio Jorge Jesus. O que queremos nós afinal dos nossos atletas? Gente com personalidade, carácter, ambição. E disso, felizmente, parece que temos.

JUSTIFICA-SE uma longa conversa com Pinto da Costa no canal de televisão do clube e ela, a conversa, surgiu quando mais se esperava, ou seja no rescaldo da derrota do FC Porto na Luz.
Foi todo um discurso para o interior do FC Porto, do princípio ao fim. Um discurso entendido como necessário para dentro e com vários destinatários.
A defesa de Paulo Fonseca é questão interna. O ataque a Fernando Gomes, presidente da FPF, é questão interna. O ataque a António Oliveira é questão interna. O ataque a comentadores do FC Porto é questão interna. O ataque à venda de jogadores abaixo da cláusula de rescisão é questão interna e altamente controversa. O ataque a Artur Soares Dias é também questão interna.
Ou será que não é? Cada um tem o Pedro Proença que merece embora o próprio Pedro Proença tenha vindo dizer, e muito a propósito, que em Portugal ninguém merece os árbitros que tem.

PARA o campeonato nacional, conforme manda o calendário, Benfica e FC Porto voltam a encontrar-se na última jornada da prova. Quereria isto dizer que vamos ter sossego até Maio se não se desse a possibilidade real de os dois rivais poderem jogar um com o outro mais cinco vezes até ao fim da temporada.
Pode acontecer, não é certo, mas pode mesmo acontecer.
Pode acontecer que Benfica e FC Porto se voltem a encontrar na meia-final da Taça da Liga (isto se o FC Porto vencer o seu grupo), pode acontecer que Benfica e FC Porto se voltem a encontrar em duas mãos na meia-final da Taça de Portugal (isto, com todo o respeito, se o Benfica conseguir eliminar o Penafiel e se o FC Porto conseguir eliminar o Estoril) e até pode acontecer que se venham a encontrar lá mais para diante numa eliminatória da Liga Europa, competição em que estão ambos envolvidos.
Será que o país resistiria a mais seis clássicos até às férias grandes?
Duvido."

Leonor Pinhão, in A Bola

Ainda Eusébio

"Foi miserável a «homenagem» a Eusébio na gala da FIFA. Trinta escassos segundos delineados à pressa e sem vontade por Blatter/Platini. Um somítico momento que revela a falta de carácter de quem assim age ou lidera. Tivesse sido um jogador francês (e não só) e tudo o resto passaria para segundo plano. Revoltante!
Mas voltemos à magia universal do nosso Eusébio. Recordo aqui um momento por mim vivido. Em Março de 1998 estive na Bósnia e Herzegovina, integrado nas Comissões Justiça e Paz da Igreja Católica. Estava-se no rescaldo da sangrenta e dolorosa guerra civil. Ficámos em Banja Luka, segunda cidade do país. Sem hotéis, destruídos ou fechados pela guerra, cada um de nós foi recebido em casa de famílias católicas. Coube-me um humilde 6.º andar, sem elevador activo, de um casal com idades perto da minha (tinha então 49 anos).
Nos três dias que lá estive, só à noite os encontrava. Como não sabiam falar outra língua que não fosse o servo-croata, os nossos contactos eram praticamente gestuais. Numa das noites, quiseram oferecer-me um chá. Enquanto a mulher o fazia, tentei encontrar um modo de me exprimir que fosse entendível. Percebi que ele gostava de futebol. Falei-lhe então de Eusébio. De imediato, o meu anfitrião repetiu «Eusébio» e abraçou-me entusiástica e comovidamente. Uma língua universal e um esperanto ali nascido nos uniram, como se já não houvesse obstáculos linguísticos. O chá quente veio reforçar o calor dos nossos corações irmanados através de Eusébio. A mesma religião nos fez juntar e Eusébio nos fez comunicar com alegria universal.
É isto que aquele vil dueto desdenha e nunca perceberá."

Bagão Félix, in A Bola

À hora certa

"Sou do tempo em que as tardes de domingo eram sinónimo de futebol. A jornada começava integralmente às 15.00 horas, e terminava às 17.00 horas. No horário de Verão, acrescentava-se uma hora. À noite viam-se os resumos, já no conforto do lar, preparando uma semana de trabalho ou de escola, conforme o caso. A partir da década de noventa, as transmissões televisivas foram afastando o futebol do seu horário natural, afastando, com isso, o povo dos estádios.
Talvez fosse esse o intuito daqueles a quem convinha que a estrutura de receitas dos clubes ficasse cada vez mais dependente do cachet televisivo, tolhendo-lhes assim a capacidade negocial, numa relação de poder que se foi tornando cada vez mais assimétrica.
Ao passo que nas principais ligas europeias continuámos a ver as principais partidas disputadas à luz do dia, em Portugal quase todos os jogos foram progressivamente empurrados para horário nocturno - por vezes aos sábados, mas também aos domingos, e até às segunda-feiras. Lá fora, estádios cheios. Cá dentro, bancadas tristes e despidas. Lá fora, sustentabilidade financeira. Cá dentro, operadores televisivos ricos e clubes falidos.
No caso do Benfica, tratando-se de um emblema com implantação de norte a sul do país, parte significativa dos sócios e adeptos viu-se impedida de se deslocar à Luz. Para quem resida, por exemplo, em Viseu, Guarda, Bragança ou Faro, sair do estádio às 23.00 horas, e ainda ter de suportar uma longa viagem, não pode deixar de ser um exercício penoso, sobretudo se no dia seguinte houver que trabalhar bem cedo.
O regresso do futebol às tardes de domingo (ou de sábado) é pois uma excelente notícia que esta temporada trouxe aos benfiquistas. Principalmente àqueles que vivem fora de Lisboa, e para quem ao próprio jogo há que acrescentar a duração da viagem de regresso a casa.
Vicissitudes várias talvez ainda não tenham permitido que tal se reflicta com firmeza no número de espectadores no estádio. Mas o tempo irá seguramente dar razão a esta aposta."

Luís Fialho, in O Benfica

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Jesus e os jovens

"Um dia destes discutia-se na TVI o tema das oportunidades dadas pelos grandes clubes aos jogadores da formação, e o bombo da festa era Jesus, acusado de não apostar nos jovens futebolistas. Ora, o tema não pode ser tratado levianamente. Vejamos:
1 - Nos grandes clubes aparece, se aparecer, um jogador de top por ano. E isso não supre as necessidades do plantel. Acresce que esse jogador, regra geral, acaba por render financeiramente pouco a clube, pois faz pressão para sair muito cedo. Vejam-se os casos de Simão, Ronaldo, Quaresma, Bruma, etc.
2 - Para responder às exigências do plantel, os grandes clubes precisam de recorrer a estrangeiros, pescados nos países produtores de jogadores (Brasil, Argentina, Colômbia, Sérvia...). E, depois, os treinadores têm de tratar os portugueses e os estrangeiros em pé de igualdade, pondo a jogar os melhores.
3 - Os estrangeiros são muito mais rentáveis para os clubes. Já vêm com a formação feita, podem ser rapidamente valorizados e apresentados na montra europeia, originando lucros de dezenas de milhões. Vejam-se Hulk, Falcão, James, David Luiz, Matic, etc.
4 - Elogia-se o Sporting por recorrer muito à formação. Mas qual tem sido a performance da equipa principal do Sporting nos anos recentes? Tem sido comparável às do Benfica e FC Porto? Quanto a este ano, ainda é cedo para falar.
5 - Um treinador muito elogiado pela aposta nos jovens é Rui Vitória. Mas ele constitui uma equipa para o meio da tabela. Para equipas a lutar pelos lugares cimeiros e a jogar na Europa, isso não é possível.
6 - De um modo geral, Jesus não se tem enganado nas apostas que faz. O plantel do Benfica vale o dobro ou o triplo de quando ele entrou, o clube faz transferências milionárias, os jogadores tê-se valorizado muito. Algumas adaptações que fez, como Coentrão, Matic ou Enzo, foram verdadeiros achados.
7 - Alguns jovens a que Jesus não deu muitas oportunidades, como Miguel Rosa, Roderick ou mesmo Nelson Oliveira, não se têm afirmado categoricamente em clubes de menor dimensão. Como poderiam jogar no Benfica?
Portanto, caros leitores, para falar em jogadores da formação é preciso pensar em muita coisa. Não basta lançar umas 'bocas' na TV."

Rescisão da cláusula

"Cláusula de rescisão: 50 milhões. Rescisão da cláusula: 25 milhões. Exactamente metade da primeira. Afinal o que significa esse limite? Manobra de negociação? Algoritmo de fantasia? Desde os 100 milhões de Hulk aos 50 milhões de Matic, tudo se esfuma por estado de necessidade do vendedor, por birra, impaciência ou mercenarismo do jogador ou por interesse de um intermediário.
Aceito a dificuldade de contrariar esta situação, mas confesso a minha desolação no caso de Matic, um jogador de classe que custa ver sumir quando o Benfica é finalmente líder. Deixei de acreditar nessa costumeira e universal frase de peito feito: «só sai pela cláusula de rescisão, ponto final». Como foi possível a um jogador impor todas as condições que quis, a meio de uma época, num clube como o Benfica, traindo até quem o formou para a alta-roda do futebol?
Sem Matic, o Benfica perdeu uma importante locomotiva. «Um tiro no pé», como escreveu João Bonzinho. O «melhor médio defensivo do mundo» segundo Jorge Jesus. Por uma pechincha. E logo nesta fase do campeonato, em que qualquer rearranjo que Jesus consiga (e ele tem dado provas de competência nesta matéria) é sempre muito mais difícil ou quase impossível. Oxalá me engane.
Se já o prolongamento do mercado de transferências até 31 de Agosto é manifestamente inconveniente, a sua reabertura em Janeiro é obscena. Tudo a favor dos tubarões plutocráticos de meia-dúzia de clubes que põem e dispõem a sue bel-prazer. Até com treinadores portugueses... E por favor os Matic que nos poupem a essa caricatura de porem a mão na camisola junto do coração. Ponham-na antes nos bolsos."

Bagão Félix, in A Bola

Duas leituras

"O Benfica está disposto a fazer um esforço para segurar Rodrigo nesta abertura no mercado de transferências, lemos todos na primeira página de ontem de A BOLA.
Como se que se lê retira sempre mais do que aquilo que está escrito, acabo por deduzir algo que me surpreende. Não pelo conteúdo, mas pela forma. A mensagem que me chega é que o Benfica está disposto a sacrificar as contas para não prejudicar a vertente desportiva.
Com Cardozo a tentar recuperar de complicada lesão e ainda sem data para o regresso - Jesus disse no fim de semana que não sabe quando poderá contar com o paraguaio, e para o reforçar acrescentou que talvez nem o departamento médico arriscasse uma previsão - o Benfica encontrou finalmente um onze e um princípio de jogo, que funcionam.
Não foi fácil, como se comprovam alguns deslizes. Parte do sucesso virá do facto de Rodrigo estar já amplamente adaptado ao futebol português e à equipa, outro, naturalmente, da qualidade superior de um meio-campo onde Gaitán e Enzo Pérez se assumem como jogadores de classe mundial e outro ainda ao facto de todo o grupo ter passado a conseguir aplicar em campo as ideias de Jorge Jesus, e as dinâmicas por ele impostas.
Perder Matic foi já uma machadada no plantel, deixar sair Garay pode complicar a estabilidade defensiva - ainda que Jardel e Steven Vitória sobrem para as encomendas em Portugal - mas o maior perigo que, a meu ver, enfrenta hoje o Benfica é o de ficar sem o seu goleador. No plantel não se vislumbra alguém com capacidade para decidir como ele - isto porque Cardozo não está bem, claro. Lima foge para os flancos e precisa de várias oportunidades para fazer um golo, Funes Mori ainda não mostrou os créditos que levaram à contratação. Segurar Rodrigo será, então, a melhor forma de Luís Filipe Vieira dizer que o objectivo supremo é mesmo o sucesso desportivo. Deixá-lo ir é aceitar o que a sorte destinar. Resignado."

Nuno Perestrelo, in A Bola