terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Solta-se o beijo...

"1. Havia gente nervosa no Estádio Municipal de Coimbra no final do jogo entre a Académica e o FC Porto. Normal. Há gente que não sabe o que é perder, sobretudo quando o árbitro (orgulhosamente profissional!) faz o seu trabalho e esse trabalho se resume em contribuir de toda a forma que está ao alcance do seu apito para que aqueles que não sabem perder nunca percam. Anda assim, de 60 em 60 jogos, lá vem uma derrota. E o povo, esse, enerva-se.

2. O presidente do FC Porto não foge no apoio ao seu treinador em desgraça. Saiu do Estádio Municipal de Coimbra de braço dado com a infeliz figura. Ao ouvir os primeiros insultos, consta que lhe terá dado no pescoço um beijo significativo. Depois, o treinador entrou no autocarro que seguia para as Antas e o presidente do FC Porto subiu para a sua limusine presidencial. Aqui, os caminhos separaram-se...

3. Nas Antas, o povo enervado recebeu a equipa e o pobre treinador com insultos, pedras e tochas acesas. Parece que, por falar em tochas acesas, apareceu um iluminado a jurar que há por todo o Portugal treinadores aflitos para serem recebidos com insultos, com pedras e com tochas acesas. Por seu lado, o presidente do FC Porto, pode não ser o «Lone Ranger», mas também não é tonto. Dispensa insultos, dispensa pedras e dispensa tochas acesas. Fica-se pelo beijo que se solta...

4. Quem, de facto, parece gostar de insultos, de pedras e de tochas acesas são os polícias que guardavam esse local pacífico que se chama Antas e não por acaso foram em tempos locais de descanso eterno. Pelo menos desta vez não se queixaram. Nem moveram processos..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Lixívia 13

Tabela Anti-Lixívia:
Benfica......30 (-7) = 37
Sporting.....32 (-1) = 33
Corruptos...30 (+7) = 23
Braga.........18 (+2) = 16


Jornada curiosa, onde os três clubes 'grandes' foram beneficiados com - pelo menos - um golo ilegal!!! A diferença foi depois, enquanto o Benfica pouco tempo depois foi prejudicado várias vezes pelo mesmo fiscal-de-linha; enquanto o Sporting logo a seguir ao benefício também foi prejudicado; os Corruptos foram beneficiados do princípio até ao fim do jogo!!! É uma questão de consistência...!!!

Como já escrevi na crónica ao jogo, o 1.º golo do Benfica, foi irregular, o Lima está em fora-de-jogo. Mas, a 'linha' que a Sport TV colocou em directo também não está correcta, pois em vez de usarem a bola como 'marca' usaram o pé do penúltimo defesa do Olhanense, e assim até a bola de jogo, está em fora-de-jogo!!!

Mas ainda na 1.ª parte o mesmo fiscal-de-linha errou pelo menos 2 vezes, ao marcar dois foras-de-jogo inexistentes ao Benfica, ambos em situações de golo (e ainda houve mais dois que me deixaram dúvidas):

No penalty pedido pelo Gaitán, acho que a decisão foi correcta. O Nico teatralizou a queda, é verdade que o Celestino 'esticou' a bunda, mas não foi o suficiente para ser marcado penalty...
Disciplinarmente ficou um amarelo por mostrar ao Maxi, é verdade... Mas quem quiser discutir este lance, tem que discutir os vários amarelos que ficaram por mostrar ao Celestino, ao Pelé, ao Diakéte, etc... com um critério apertado, o Olhanense não acabava com 11...


Os erros têm graus diferentes. Por exemplo, o fora-de-jogo do Lima, é uma lance complicado para o Fiscal... porque 1 segundo depois da bola sair dos pés do Nico, dois jogadores do Olhanense recuam e colocam o Lima em jogo.
Agora o penalty marcado a favor do Sporting, é um história diferente. Uma coisa é o árbitro ser enganado por uma simulação, ou simplesmente não ver a falta, agora inventar uma falta que não existe, com a visibilidade totalmente desimpedida, é muito grave. E discutir se a suposta falta é fora da área ou fora do campo é um absurdo, porque pura e simplesmente não existe falta... essa discussão foi inventada pelos Lagartos para tentar amenizar as criticas ao árbitro!!!
Sporting vs Belenenses - penalti escandaloso - falta fora de campo ?

O penalty que pouco depois ficou por marcar a favor do Sporting, e totalmente diferente: o Montero até remata à baliza, e existe sempre a questão da intensidade do agarrão... é daqueles lances que raramente são marcados... e ainda por cima o resultado já estava desbloqueado.
Este é um dos problemas destas Tabelas da Verdade, é sempre complicado calcular as consequências dos erros, conforme o momento do jogo, onde eles ocorrem...

Em Vila do Conde, mais empurrão gigantesco, que passou ao lado das grandes parangonas dos avençados. O 1.º golo dos Corruptos nasce de uma falta inexistente, aliás a falta devia ter sido marcado contra os Corruptos!!! E o 2.º golo é precedido de fora-de-jogo... Só o 3.º golo é que é legal!!!
Nos últimos minutos ainda ficou por mostrar um Vermelho directo ao Alex Sandro, que quis provocar um amarelo, mas ia partindo a perna ao adversário... Nos últimos minutos, também tivemos oportunidade de observar as capacidades de 'mergulho' do Kelvin!!!

Em Braga nada a assinalar...



Anexos:
Benfica
1.ª-Marítimo(f), D(2-1), Jorge Sousa, Prejudicados, (2-2), (-1 ponto)
2.ª-Gil Vicente(c), V(2-1), Paulo Baptista, Prejudicados, Sem influência no resultado
3.ª-Sporting(f), E(1-1), Hugo Miguel, Prejudicados, (0-2), (-2 pontos)
4.ª-Paços de Ferreira(c), V(3-1), Paixão, Nada a assinalar
5.ª-Guimarães(f), V(0-1), Bruno Esteves, Prejudicados, Sem influência no resultado
6.ª-Belenense(c), E(1-1), Jorge Tavares, Prejudicados, (2-0), (-2 pontos)
7.ª-Estoril(f), V(1-2), Manuel Mota, Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
8.ª-Nacional(c), V(2-0), Jorge Ferreira, Nada a assinalar
9.ª-Académica(f), V(0-3), Hugo Pacheco, Prejudicados, Sem influência no resultado
10.ª-Braga(c), V(1-0), Nuno Almeida, Prejudicados, Sem influência no resultado
11.ª-Rio Ave(f), V(1-3), Paixão, Nada a assinalar
12.ª-Arouca(c), E(2-2), Rui Costa, Prejudicados, Beneficiados, (3-2), (-2 pontos)
13.ª-Olhanense(f), V(2-3), Vasco Santos, Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar

Sporting
1.ª-Arouca(c), V(4-1), Rui Costa, Nada a assinalar
2.ª-Académica(f), V(0-4), Soares Dias, Beneficiados, Sem influência no resultado
3.ª-Benfica(c), E(1-1), Hugo Miguel, Beneficiados, (0-2), (+1 pontos)
4.ª-Olhanense(f), V(0-2), Benquerença, Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
5.ª-Rio Ave(c), E(1-1), Xistra, Prejudicados, (2-1), (-2 pontos)
6.ª-Braga(f), V(1-2), Paulo Baptista, Nada a assinalar
7.ª-Setúbal(c), V(4-0), Duarte Gomes, Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
8.ª-Corruptos(f), D(3-1), Soares Dias, Nada a assinalar
9.ª-Marítimo(c), V(3-2), Bruno Esteves, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
10.ª-Guimarães(f), V(0-1), Paulo Baptista, Nada a assinalar
11.ª-Paços de Ferreira(c), V(4-0), Jorge Ferreira, Nada a assinalar
12.ª-Gil Vicente(f), V(0-2), Jorge Sousa, Nada a assinalar
13.ª-Belenenses(c), V(3-0), Hugo Pacheco, Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado 

Corruptos
1.ª-Setúbal(f), V(1-3), João Capela, Beneficiados, Impossível contabilizar
2.ª-Marítimo(c), V(3-0), Jorge Ferreira, Beneficiados, Sem influência no resultado
3.ª-Paços de Ferreira(f), V(0-1), Rui Costa, Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
4.ª-Gil Vicente(c), V(2-0), Hugo Pacheco, Prejudicados, (3-0), Sem influência no resultado
5.ª-Estoril(f), E(2-2), Rui Silva, Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
6.ª-Guimarães(c), V(1-0), Proença, Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
7.ª-Arouca(f), V(1-3), Vasco Santos, Beneficiados, Impossível contabilizar
8.ª-Sporting(c), V(3-1), Soares Dias, Nada a assinalar
9.ª-Belenenses(f), E(1-1), Miguel Mota, Beneficiados, (2-1), (+1 ponto)
10.ª-Nacional(c), E(1-1), Xistra, Nada a assinalar
11.ª-Académica(f), D(1-0), Capela, Beneficiados, (2-0), Sem influência no resultado
12.ª-Braga(c), V(2-0), Paulo Baptista, Nada a assinalar
13.ª-Rio Ave(f), V(1-3), Bruno Esteves, Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)

Braga
1.ª-Paços de Ferreira(f), V(0-2), Bruno Paixão, Nada a assinalar
2.ª-Belenenses(c), V(2-1), Xistra, Beneficiados, Impossível contabilizar
3.ª-Gil Vicente(f), D(1-0), Vasco Santos, Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Estoril(c), V(3-2), Capela, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Arouca(f), V(0-1), Marco Ferreira, Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)
6.ª-Sporting(c), D(1-2), Paulo Baptista, Nada a assinalar
7.ª-Nacional(f), D(3-0), Soares Dias, Nada a assinalar
8.ª-Académica(c), D(0-1), Benquerença, Beneficiados, Sem influência no resultado
9.ª-Rio Ave(c), D(0-1), Jorge Tavares, Nada a assinalar
10.ª-Benfica(f), D(0-1), Nuno Almeida, Beneficiados, Sem influência no resultado
11.ª-Olhanense(c), V(4-1), Soares Dias, Nada a assinalar
12.ª-Corruptos(f), D(2-0), Paulo Baptista, Nada a assinalar
13.ª-Setúbal(c), V(2-0), Xistra, Nada a assinalar

Jornadas anteriores:

Épocas anteriores:

Desembarcaram incógnitos no Rossio...

"O Paris Saint-Germain chega a Lisboa e é boa altura para recordar que a primeira equipa estrangeira a visitar a velha «capital do Império» foi precisamente francesa, já lá vão mais de 100 anos. E também foi sobre um clube francês a primeira vitória internacional do Benfica.

está o Paris Saint-Germain de regresso a Lisboa. «Soyez les bienvenus». diremos nós a quem a hospitalidade só fica bem, ainda que não haja grandes recordações da última visita do Benfica a paris, mas enfim, é mesmo assim o Futebol, feito de vitórias e derrotas, umas mais bonitas, as outras mais feias.
Nestas páginas que levam quase o título de «Se bem me lembro», não fora o caso da maior parte das vezes não me lembrar e ter de jogar mão aos jornais antigos e às memórias alheiras, e de tal frase já estar de há muito tomada pelo inesquecível Vitorino Nemésio, cabem desta vez recordações das primeiras visitas de equipas francesas a Lisboa e ao Benfica, já lá vão mais de 100 anos, vejam bem.
Em Maio de 1911, na Estação do Rossio, desembarcavam os quase desapercebidos representantes do Stade Bordelais Université Club, fundado a 18 de Julho de 1889 sob o nome de Stade Bordelais, «tout simplement», se me é permitido o francesismo.
Uma união com os clubes universitários da sua zona de Bordéus, Sainte-Germaine, ofereceu-lhe o Université Club. Dedicados sobretudo ao Râguebi, os jovens do Stade Bordelais também tinham orgulho da sua equipa de Futebol, campeã de França precisamente nesse ano de 1911 em que se apeavam à beira Tejo. Antes desse título, que seria o último, já tinham sido campeões em 1899, 1904, 1905, 1906, 1907 e 1909. Isto é, uma equipa de respeito. Que repartia com o Racing Club, o Stade Français e o FC Lyon a supremacia do futebol francês do período pré- I Grande Guerra.
Ora, foi este clube francês que agora vegeta pelas profundezas das divisões secundárias sob o nome pouco menos do que ininteligível de Union Stade Bordelais - Clube Athlétic Vordeaux - Bègles Gironde, o primeiro adversário internacional do Benfica. Matéria que aprofundei aquando da escrita do livro «Se Mais Mundo Houvera...», dedicado à vocação internacional dos 'encarnados', que já contam com mais de 700 jogos realizados fora de Portugal (entre oficiais e particulares, como está bem de ver), num registo de fazer inveja a qualquer clube do Mundo.

Um pontapé no peito de Cosme Damião
MUITO bem, regressemos a 1911. Pela primeira vez um clube estrangeiro visitava Lisboa. O jornal «Os Sports Ilustrados» era o mentor da ideia, o patrocinador do convite. Estávamos perante a oportunidade única de trazer até Lisboa um «team» de inegável categoria, habituado a receber no seu campo mais de 10 mil espectadores. Não se olhou a custos. Nas páginas de «Os Sports Ilustrados» podia ler-se: «Os desportistas de Lisboa assistiram, realmente, a três belíssimos desafios, jogados com ardor, mostrando os berdeleses uma técnica perfeita do Futebol. A concorrência aos desafios foi bastante grande para o nosso meio, mas pequena ainda para compensar monetariamente os organizadores. Estes, porém, desde começo tinham feito o sacrifício completo dos seus interesses, na intenção benemérita de favorecer desportivamente o nosso meio, o que não pode deixar de ser reconhecido pelos portugueses, pois, de contrário, cometeriam uma revoltante injustiça».
Dia 19 de Maio instalavam-se os franceses em Lisboa. E logo um azar, uma contrariedade, os debilita para o primeiro encontro aprazado, contra o CIF, Clube Internacional de Futebol, campeão de Lisboa, primeira equipa portuguesa a deslocar-se ao estrangeiro, a Madrid, em 1906. Um acidente de automóvel, ainda que sem grande importância, incapacita três jogadores do Stade Bordelais. O Internacional aproveita e vence, por 2-1. Em seguida é a vez da selecção da Associação de Futebol de Lisboa jogar contra os franceses. Vitória mais gorda, 5-1, com participação de três jogadores do Benfica: Henrique Costa, Cosme Damião e Artur José Pereira. Todos os jogos se disputaram no campo da Feiteira, propriedade do Benfica, e coube aos 'encarnados' fechar a ronda.
Dia 22 de Maio, o Stade Bordelais vence, por 4-2, num encontro capaz de entusiasmar o público presente. As vedetas francesas exibem-se ao seu nível. Cazeaux, Ribot, Lassalle e Harders arrancam os aplausos das bancadas. Reza a história que fazia parte da equipa do Bordéus um italiano de «marca raspadeira» que terá desferido um pontapé no peito de Cosme Damião, deixando-o sem sentidos. Ainda assim, o Benfica chega ao intervalo em vantagem: 2-1. Não basta. Os franceses são mais organizados. José Domingos Fernandes vinga o seu «capitão» momento de um canto contra o Benfica: desfere-lhe uma cabeçada nos queixos que o faz perder uns dentes. O italiano reclama, em castelhano: «Usted nos és un hombre - és um cafre!» O árbitro Merik Barley dá o jogo por terminado. Está cumprido o primeiro passo de uma gigantesca história internacional que levaria o Benfica a defrontar todos os grandes clubes do Mundo e a viajar por todos os continentes.
E, já agora, que ainda sobra espaço na página, recordemos que datou do início de Abril de 1912 a segunda visita de uma equipa francesa a Lisboa. Desta vez o patrocínio do convite pertenceu ao Clube Internacional de Futebol e a escolha recaiu sobre o novo campeão de França, o La Vie au Grand Air du Médoc, de Mérignac, nos arredores de Bordéus. O La Vie au Grand Air du Médoc já havia visitado Portugal no ano anterior, deslocando-se ao Porto onde bateu o FC Porto por 1-0.
Em Lisboa, estreou-se a 7 de Abril, no campo das Laranjeiras, propriedade do CIF. Adversário: o CIF. Vitória lusitana, por 1-0. No dia seguinte, como acontecera no ano anterior, é a vez de entrar em campo a selecção da Associação de Futebol de Lisboa. A vitória foi gorda: 5-0. Nela participaram dois jogadores do Benfica: Henrique Costa e Artur José Pereira. Finalmente, no dia 11 de Abril, o Benfica goleou o La Vie au Grand Air, por 6-1, sob chuva intensa e num confronto quezilento e cheio de interrupções. Pela primeira vez o Benfica vencia um conjunto estrangeiro. Hábito que saberia manter ao longo da sua história."

Afonso de Melo, in O Benfica