segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O écran do presidente

"Depois do episódio das “quotas em atraso”, os clubes contestatários reiteram a intenção de destituir Mário Figueiredo. No terreno da batalha, o presidente da Liga sublima a “cruzada” contra o monopólio dos direitos audiovisuais dos jogos dos campeonatos profissionais.
A denúncia está na Autoridade da Concorrência (AC) desde Abril de 2012 e os argumentos contra o “grupo vertical” de Joaquim Oliveira/Controlinveste/PPTV estão para apreciação. A AC é tradicionalmente lenta a responder, mas Figueiredo aposta nessa resposta para provar que os clubes apenas recebem um terço do que poderiam auferir em “regime de centralização”. Para explicar a contestação, alega “pressão” do “operador”: “É difícil aos clubes morderem a mão de quem ainda os alimenta.” A AC emerge assim como uma espécie de Tribunal Constitucional para a continuidade do governo de Figueiredo. A decisão de uma questão iminentemente jurídica converteu-se numa questão estrategicamente política. Se o “direito” tem esta preponderância, vejamos as perguntas.
São ou não válidos os contratos de cessão dos direitos televisivos que excluem a possibilidade de os direitos serem cedidos a outras entidades (“exclusividade”)? São ou não são válidas as cláusulas que estabelecem a duração dos contratos por longos períodos (“duração excessiva”)? São ou não são válidas as cláusulas que atribuem à PPTV/Sport TV direito de preferência relativamente à aquisição dos direitos de transmissão dos jogos relativos às três épocas subsequentes ao fim dos contratos (“prorrogação abusiva”)? São ou não são válidas as cláusulas de alargamento dos direitos cedidos a todos os direitos de transmissão televisiva e multimédia (“amplitude abusiva”)?
Estes contratos, com estas características, em “rede” e na titularidade de um só “grupo”, fecham ou não o “mercado” à “entrada” de qualquer outro operador interessado na aquisição dos direitos audiovisuais? São ou não são estes contratos a tradução de um “abuso de posição dominante”, que ofende as regras da União Europeia e a lei nacional sobre a liberdade de concorrência e, por isso, devem ser extintos? Ou, pelo menos, deve ser decretada a sua redução para um período inferior de duração, já decorrido à data actual na maioria dos casos?
Juridicamente, o problema é dos mais aliciantes. Politicamente, o actual “ciclo de poder” pode abanar com as respostas. Falta saber se é ou não o “criador” que vai conviver com a “criatura”. Isto é, se é ou não Figueiredo que vai beneficiar – a haver respostas positivas e em tempo – de uma das suas bandeiras eleitorais..."

O General e o seu labirinto

"1. O General nunca foi de muitas falas. Como dizia essa figura de humor finíssimo chamada Aventino Teixeira, apenas coronel: «militar culto só se for autodidacta!» O coronel era autodidacta; o General não. O General pouco aprendeu em todos estes anos de vida. Criou uma imagem de tanta seriedade que nunca ninguém o viu rir. Cultivou uma imagem de tal rectidão que qualquer um diria que engoliu uma vassoura. Talvez ninguém seja capaz de lhe apontar o que quer que seja à honestidade. Eu não sou, certamente. Mas já podemos todos apontar-lhe algo às amizades e à decência dessas amizades. O General tornou-se, de há muitos anos para cá, uma espécie de fantoche do Madaleno que o exibe onde quer e quando quer. Provavelmente são tão amigos, que o Madaleno o trata, com aos bons amigos, por «filho da puta». E isso não é maneira de tratar um general, quanto mais o General. É esse o seu problema. Ou o seu labirinto. Onde se perdeu e nunca mais encontrará o caminho de volta.

2. Já que falo em fardas, não sei se os polícias que se queixam de uns empurrões dados por Jorge Jesus estiveram na grande manifestação que entupiu umas poucas de ruas de Lisboa na passada semana. Sei que o largo no qual se concentraram parecia, depois da debandada, uma lixeira: copos de plástico, papéis, restos de comida. Depois, como está agora na moda, avançou o fascismo manifestativo: por causa de quem se manifesta, o cidadão que não se manifesta chega tarde ao trabalho, demora mais duas horas a regressar a casa, vê-se privado da mais simples das liberdades - a de se deslocar livremente pelas ruas da sua cidade.
Não sei se os polícias que avançaram com um processo contra Jorge Jesus por causa de uns empurrões também contribuíram para a grande vergonha da falta de asseio e de educação ao que assisti ao vivo. Nem se Jesus já tem o relógio de volta..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Na carraça da frustração

"O Benfica está numa fase de reabilitação competitiva. Mais competente, mais feliz, mais escorreita, a equipa acumula sucesso. Lidera o Campeonato, poderia ter essa condição avolumada, casa as arbitragens fossem isentas. Que dizer do jogo frente ao Marítimo? Perante o Sporting? Ante o Beleneneses? Foram pontos subtraídos, susceptíveis de conferirem um comando inquestionável, incontroverso, irrefutável.
E no lado oposto, pelo menos numa das bandas antagónicas? O FC Porto, qual Pai Natal, vestido de azul, presenteia os adversários, também muito a nós, com presentes ou imprevistamente equacionáveis. E se a arbitragem fosse isenta? Não estariam os portistas com o mesmo pecúlio pontual do Estoril ou do Gil Vicente. Com tochas ou sem tochas, com animosidade interna ou sem ela.
Há dias, o antigo responsável (?) pelo Futebol do Benfica saiu a terreiro. Investiu a cólera em Jorge Jesus, defendeu Luís Filipe Vieira e Rui Costa, figura que até terá impedido de entrar no balneário. António Carraça prestou um péssimo serviço à causa benfiquista (será que é do Benfica?), só falou quando o Clube o indemnizou. A entrevista foi um auto-elogio, egocêntrico, perturbador.
Carraça, por quem até nutro consideração pessoal, prestou um péssimo serviço à causa vermelha. O despeito tem o limite do bom sendo. Limite benfiquista? É preciso amar o Clube, não apenas mercantilizar sentimentos. Para que conste. Mais o apreço a Jesus, a outros visados. Ao nosso Benfica."

João Malheiro, in O Benfica

Vitórias importantes

"1. Uma semana feliz. Mesmo sem jogar bem, vitória importante na Bélgica e liderança no Campeonato, passado-se, em escassas três jornadas (1), de cinco pontos de atraso para dois de vantagem sobre o FC Porto (embora a par com o Sporting). A continuação na Liga dos Campeões está complicada, mas o problema esteve na Grécia, naquela que foi a melhor exibição da época. Domingo, no Rio Ave, não gostei da exibição (1.ª parte lentíssima...), mas foi excelente o resultado e recuperámos Lima (que livre!).

2. As 'civilizadas' claques do FC Porto fizeram o mesmo ao autocarro do clube (com a equipa lá dentro) que haviam feito há alguns anos ao carro do treinador Co Adriaansen, para o obrigarem a deixar o clube. Até petardos lançaram. Edificante!

3. Os nossos Juniores somam e seguem na Liga Europeia Jovem. O Benfica, com quatro vitórias e um só empate, já está apurado para a fase seguinte, a eliminar, num só jogo (por que não em casa e fora?). Enquanto se trata de trabalho e não simplesmente de (muito) dinheiro para contratar jogadores, estamos ao nível dos melhores da Europa. Estou com grande expectativa relativamente à sequência da competição.

4. O presidente da Federação, Fernando Gomes, deu uma extensa entrevista a A Bola e Bola TV. Mas continuámos sem saber o que pensa sobre o facto de o período de transferências se estender até final de Agosto (com os campeonatos já iniciados) e, já agora, sobre a 'janela' de inverno (mês de Janeiro). Seria importante saber-se e conhecer a posição da Federação Portuguesa. Em Agosto, toda a gente critica mas, depois, todos esquecem...

5. É raro o dia em que o presidente do Sporting, Bruno Carvalho, não fale publicamente ou para os órgãos de informação. Claro que, a certa altura, sai asneira (e já ninguém liga). Até admito que a história da retirada do vermelho da bandeira nacional tenha sido apenas uma piada (de mau gosto, mas enfim), sem qualquer intenção especial. Mas é o risco de quem muito fala. A certa altura pouco acerta..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Tudo pelo título

"Decorridas onze jornadas da Liga, estamos finalmente no topo da classificação.
A época iniciou-se aos soluços, mas, com o decorrer das semanas, e resistindo às contrariedades que nos surgiram por diante (de arbitragens altamente penalizadoras, a uma série interminável de lesões), lá chegámos ao lugar onde gostamos de estar. Independentemente da questão formal sobre quem lidera efectivamente a tabela, a verdade é que nenhum clube tem mais pontos que o Benfica, sendo que já defrontámos, fora de casa (empatando), aquele que figura a nosso lado. Não é preciso puxar muito pela memória para nos recordarmos quão precário pode ser um primeiro lugar antes do final da prova. Porém, para quem até há pouco mais de um mês andava por uma tristonha terceira posição, a cinco pontos da liderança e a três do segundo colocado, tomar a dianteira não pode deixar de constituir factor de motivação acrescida – até pelo simbolismo que tal representa, depois das especulações e desconfianças que acompanharam a equipa desde o inglório final da temporada anterior. Esse dossier, de resto, parece - agora sim - finalmente fechado. O que se passou por lá ficou, e o momento manda que nos unamos em torno dos objectivos que queremos, e podemos, alcançar.
O principal de todos é precisamente este Campeonato, que tem, até ao Natal, três jogos fundamentais. Arouca, Olhanense e V.Setúbal são o tipo de partida em que é rigorosamente proibido vacilar, e onde o grande desafio se coloca no âmbito dos índices de concentração competitiva. Neste momento, nada - nem mesmo o sonho de um dificílimo apuramento europeu -, nos pode afastar da rota das vitórias domésticas. Os próximos nove pontos têm de ser nossos, de forma a entrarmos em Janeiro com a moral em alta, e recebermos, de peito feito, aquele que ainda considero tratar-se do principal opositor nesta luta. O Campeonato parece querer pôr-se a nosso jeito. Não podemos voltar a desperdiçá-lo. A hora é de união, e não permite hesitações: todos por um, e tudo pelo título!"

Luís Fialho, in O Benfica