quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Toni. "Ser campeão e voltar a adjunto não é dar um tiro no pé, é ficar sem pés"

"Há 20 anos, os futuros campeões nacionais saíram goleados de Setúbal (5-2). Para Toni não foi um momento encarado como um drama.
Domingo, 21 de Novembro de 1993. Benfica, Boavista e Sporting partilham a liderança do campeonato com 15 pontos, com o FC Porto a dois de diferença. Na décima jornada do campeonato, as águias têm uma deslocação aparentemente simples ao terreno do último classificado. Em Setúbal, o Vitória tem apenas três pontos e precisa urgentemente de começar a vencer. O Sporting-FC Porto é o jogo da jornada (Domingos marca o único golo aos seis minutos), mas o escândalo do dia é a goleada que o Benfica sofre - 5-2 na primeira derrota da equipa de Toni na temporada (desde então os encarnados só sofreram cinco golos num jogo do campeonato no 5-0 do Dragão em 2010/2011). O encontro serve de lição e a partir daí os futuros campeões partem para uma época inesquecível que é coroada com o 6-3 ao Sporting em Alvalade no jogo do título. O i falou com Toni e recordou os principais momentos.
- Como foi saber que Paulo Sousa e Pacheco iam abandonar o Benfica?
- É um período difícil na vida do Benfica, económico e financeiro, em que o clube ficou vulnerável a estes ataques. Houve jogadores que saíram porque puderam rescindir por justa causa. Saiu o Paulo Sousa, o Pacheco, e poderia ter saído o João Pinto, que ficou fundamentalmente devido ao senhor Jorge de Brito e a Valentim Loureiro, que também foi uma peça importante na recuperação do jogador. Houve ainda ali uns ameaços do Rui Costa?
- Para o Sporting também?
- Sim. Os estragos ficaram limitados ao Paulo Sousa e ao Pacheco. Depois houve que reformular a equipa, que ainda ficou com uma base muito importante e boa para poder discutir os desafios que tinha pela frente: campeonato, Taça de Portugal e ir o mais longe possível na Taça das Taças. Não se pôs a cabeça na areia, porque o que conta são aqueles que ficam, e houve um compromisso e uma cumplicidade muito grande entre todos. Mesmo nos dias que antecederam a pré-época, a situação do treinador também não estava consolidada, a minha continuidade não estava definida?
- Do seu lado ou do da direcção?
- Do lado da direcção. As coisas ficaram na mesma, a equipa técnica continuou e partimos com ambição e com a vontade de ser campeões.
- Do ponto de vista anímico e mental, o arranque foi um bocado sofrido?
- Sim. Aquilo que queríamos era arrancar com três vitórias em vez dos três empates. Mais do que aquele 3-3 no Porto, houve dois jogos em que empatámos [1-1 na Luz com o Estoril e 1-1 em Aveiro com o Beira-Mar] o que tornou o começo periclitante. Não foi brilhante, não foi um começo em que o Benfica foi mandão como depois acabou por ser.
- Sentiam que estavam mal?
- Sim, mas isto não interessa como começa mas sim como acaba. Há realmente um começo hesitante do Benfica, mas a equipa recupera, as vitórias trazem confiança e, se houver dúvidas, ficam dissipadas com os triunfos.
- Depois dos três empates há seis vitórias consecutivas e é nesse momento que vão a Setúbal jogar contra uma equipa que estava em último com apenas três pontos. Houve excesso de confiança?
- Não. Lembro-me perfeitamente desse jogo e lembro-me até que nessa semana há um jogo da selecção [Itália-Portugal, 1-0, com Veloso, Rui Costa, João Pinto e Vítor Paneira no onze e ainda Neno e Rui Águas no banco] e praticamente só tive os jogadores comigo na sexta-feira. Mas, mais do que escudar-me com isso, lembro-me de o Vitória de Setúbal ter dois jogadores muito importantes. Sobre a direita tinha um brasileiro muito rápido que era o Sérgio Araújo e depois um ponta-de-lança nigeriano, que infelizmente que já morreu, que era o Yekini. Não era um jogador muito dotado do ponto de vista técnico, mas fisicamente era impressionante.
...
O Vitória de Setúbal chega de forma muito fácil ao 3-0 [Yekini 29', Sérgio Araújo 39' e Paulo Gomes 52'], depois houve uma reacção e chegamos ao 3-2 [Vítor Paneira 55' e Aílton 66'] e estamos perto do 3-3, mas aparece o 4-2 [Yekini 73'] que sentencia o jogo [Chiquinho Conde faz o último aos 82']. Realmente, houve Vitória de Setúbal a mais para Benfica a menos.
- Foi muito mau?
- As derrotas nunca devem ser encaradas como um drama. São sempre pontos perdidos para que possamos corrigir coisas que possam não ter estado tão bem e que nos levem a prosseguir o nosso caminho. Depois dessa derrota só vai aparecer outra uns meses depois [Abril, com o Salgueiros]. Isto reflecte que foi mais um acidente do que outra coisa qualquer. Se a equipa estivesse mal, iria estar mal mais vezes. Não acusa a derrota, só perde com o Salgueiros meses mais tarde e depois na última jornada com o Boavista, quando faço algumas alterações para alguns jogadores serem campeões. Podia lembrar-me também do 7-1, em que é a única derrota do Benfica no campeonato e que é um acidente. Gostaria de perder sempre 7-1 com o Sporting e 5-2 com o FC Porto ou o Vitória de Setúbal e ser campeão. Nunca fiz das derrotas um drama, mas pontos de partida para trilhar outros caminhos sem cometer os erros.
- No final do jogo disse que "quando a justiça do resultado não deixa dúvidas só se pode dar os parabéns ao adversário e ao futebol". Houve alguma reacção negativa durante a semana dos adeptos?
- Quando se perde 5-2 num clube como o Benfica é natural que não se fique insensível. Mas a pressão é inerente à profissão que se escolhe, não existe só no jogador e no treinador. Quando se chega ao final de um jogo que se perde por 5-2, não se pode invocar que só se teve os jogadores à sexta, porque se tivéssemos marcado sete golos tínhamos vencido 7-5. Como não marquei, perdi. Perdi e tenho de reconhecer o mérito ao adversário, não posso arranjar desculpas esfarrapadas. Quando é assim tenho de dar os parabéns à outra equipa e ao mesmo tempo fazer o meu discurso para os jogadores?
- E qual é que foi?
- Nada está perdido. Isto não põe em xeque todo o trabalho que fizemos nem deixa de nos desviar minimamente do nosso objectivo. Temos é de saber as razões objectivas que nos levaram a este desaire e tirar ilações. E não podemos abdicar dos nosso princípios. O importante é que a confiança não seja abalada. Nesse jogo há um jogador que acabo por tirar da equipa, não como bode expiatório, porque quem assume a derrota é o treinador?
- Está a falar do Abel Xavier?
- Sim. Começou por sair logo ao intervalo, para entrar o Aílton? Sim, mas aí temos de arriscar e tentar inverter a situação. O Abel Xavier foi um jogador que nunca perdeu a minha confiança mas era importante ter uma conversa com ele. Depois acaba por ser uma peça muito importante no decurso da época, mas há um período em que para salvaguardar o jogador temos de tomar decisões que deixem a equipa sempre acima de todos. E o Abel Xavier percebeu a minha conversa e acabou por fazer um resto de campeonato forte.
- Há uma mudança depois desse jogo. Kulkov ainda não tinha jogado e depois passa a ser titular indiscutível, entra no jogo seguinte e só falha três jogos até ao final.
- Vamos associar o Mostovoi e o Yuran ao Kulkov. O Benfica teve três grandes jogadores ao seu serviço, mas tiveram dificuldades em se afirmar e os dois últimos nem no FC Porto se afirmaram, com o clube a dar-lhes logo a corda aos sapatos ao fim de um ano. Se lermos uma entrevista que o Yuran já deu, ficamos a perceber muito daquilo que foi a sua passagem. Disse que enquanto treinador não gostava de ter jogadores com o carácter dele. Aí está a resposta para aqueles que na altura foram meus críticos.
- Mas centremo-nos no Kulkov. 
- De todos era o mais cerebral. Mas tal como Yuran era um amante da noite e estava fora até às cinco, seis da manhã. Era espectacular no último passe e se tivesse encarado o futebol de uma forma profissional teria sido o que quisesse. Tinha uns pés, uma inteligência, um sentido posicional espectacular.
- Na recepção ao Sporting houve alguma conversa diferente por ser o regresso de Paulo Sousa e Pacheco?
- Não, as pessoas tomaram as suas decisões e seguiram o seu caminho. O importante é que se seja um profissional íntegro na defesa do clube em que se está. Nunca deixei de ser amigo deles. Eles fizeram uma opção, não sei se se arrependeram ou se para eles a decisão que tomaram foi certa. Foi um problema deles, não tinha sequer de questionar. É natural que o adepto assobiasse, eles não estavam à espera de receber palmas. Eu compreendi as posições que tomaram, mais nada.
- A meio da época, Manuel Damásio é eleito. Há alguma consequência? 
- Quando as mudanças acontecem a meio de uma época nunca são muito boas. O nosso objectivo desde o primeiro dia era o campeonato, e disso ninguém nos desviava. Continuámos a desenvolver o nosso trabalho dentro das dificuldades financeiras que o clube vivia porque os meses passaram a ter muito mais de 60 dias. Aliás, 59, porque 60 já dava direito a rescisão, mas os jogadores sabiam que estavam num clube sério que não ficava a dever um escudo a ninguém. O nosso compromisso não podia ser afectado porque tínhamos era de cumprir com as nossas responsabilidades. Sabíamos que do outro lado ia acontecer o mesmo. Foi por isso que conseguimos manter sempre a chama viva, apesar dos problemas financeiros.
- Já falou no Yekini e no Sérgio Araújo. Que mais jogadores se destacavam?
- Havia um jogador brasileiro do Marítimo que se chamava Heitor. Não havia explicação para aqueles livres directos, de "três dedos", como os brasileiros lhes chamam. Depois havia um outro brasileiro no Beira-Mar que molhava sempre o bico contra nós?
- O Dino? Que marcou ao Benfica em Aveiro nessa época?
- Sim, é esse. Era rápido. Depois o Boavista também tinha sempre bons jogadores e há equipas que são historicamente complicadas. No meu tempo havia a CUF, o Vitória de Setúbal, o Vitória de Guimarães, a Académica, o Varzim, com um estádio em que o vento era difícil...
- Pedro Barbosa, Ziad??
- Sim, esses. Havia outro no Gil Vicente, um careca, o Caccioli.
- Se lhe falar no 8-0 ao Famalicão, qual é a primeira memória que tem?
- É a de um rapaz chamado Celestino, que faz dois golos na própria baliza. Até acho que foi a maior goleada dessa época. Foi num jogo à noite na Luz?
- Neste 8-0, o plano geral do estádio mostra as bancadas quase desertas.
- No meu tempo de jogador, os jogos eram sempre à tarde e a média de espectadores era 45 mil. Quando os jogos eram à noite e passaram a ser transmitidos, ficou mais complicado. Nesse jogo não notei um divórcio entre adeptos e equipa mas pode ser um sinal de que seria um jogo mais fácil. Mas não posso explicar com certeza.
- A segunda derrota da época, com o Salgueiros, fica a meio dos encontros com o Parma. A campanha europeia afectou o campeonato?
- O objectivo sempre foi ser campeão, mas depois chega o momento das decisões, ali em Abril e Maio. É quando se conjugam alguns jogos que têm carácter decisivo para as diferentes competições. Aí não nos divorciámos da prova europeia. Aliás, fizemos um jogo de grande qualidade contra o Parma na Luz, tivemos oportunidade para golear, mas o que fica para a história é o 2-1. Depois em Itália, jogamos com dez a partir dos 20 minutos e só a 15 minutos do fim é que somos eliminados com um golo do Sensini.
- O empate com o Estrela antes do dérbi foi duro?
- Nunca projectei os dérbis em função do que se fez para trás. É sempre emoção, incerteza no resultado. Os dérbis são feitos de outras coisas, há-de ser sempre assim. Não sabemos quem vai ganhar nem o que vai acontecer. Mas é certo que se ficaria mais reforçado psicologicamente se tivéssemos vencido o Estrela. 
- Houve algo de diferente antes desse dérbi?
- Não. É uma semana muito especial para todos, mas não se treina mais do que nas outras. Há detalhes em que nos prendemos mais na abordagem, mas é mais uma semana especial para os adeptos e para a imprensa do que para aqueles que se envolvem nele. A única carga que traz é o detalhe, especialmente nas bolas paradas?
- O 3-2 no dérbi, num livre estudado, é resultado disso?
- O futebol não é basquetebol, não há a jogada um, dois e três. No momento, são os intérpretes que decidem tudo. A marcação de um livre lateral é sempre resultado da leitura que o jogador faz do leque de opções que tem e para haver essa sintonia e sincronização de movimentos tem de haver uma enorme capacidade de leitura. Naquele momento tudo se conjugou.
- O Queiroz disse numa entrevista recente ao i que só faltou o Neno entrar pelo lado direito. Houve alguma indicação durante o jogo para explorar esse flanco?
- Os próprios jogadores conseguem aperceber-se disso, através da sua cultura táctica. Não foi o Toni que mandou as tropas atacarem pelo lado direito. E o Neno também pagou para esse peditório, porque os dois golos que sofremos foram num ponto que não era forte nele, em bolas paradas. Mas não tinha lido essa do Neno?
- Queiroz também disse que o Veloso parecia um miúdo de 17 anos ao pé do Pacheco.
- O Veloso ainda hoje continua a ter o mesmo corpo que quando jogava. Já não tem é a força que tinha. Mas era daqueles jogadores que todos os treinadores gostavam de ter. Era uma máquina. Tivesse o filho a raça que o pai tem?
- O título aparece em Braga, contra o Gil Vicente.
- Sabíamos que estávamos perto e não o deixámos fugir. Não deixámos para outro dia. Entrámos determinados, o adversário também não estava a jogar em casa e soubemos ultrapassar esse obstáculo. 
- Quando é que sabe exactamente que não vai continuar?
- Antes do jogo de Alvalade já sabia que estava tudo tratado.
- E os jogadores sabiam?
- Não sei, talvez alguns. Para mim nunca teve importância, embora tivesse mais um ano de contrato, porque tinha era de ser profissional até ao fim. E sabendo disso já há uns tempos, desde Março (já não era propriamente o corno, que é o último a saber), nunca me desviei do objectivo. No fundo, foi só a forma como conduziram as coisas. Quem dirige um clube como o Benfica procura sempre o melhor e se achavam que outro treinador [Artur Jorge] era o homem com o perfil ideal, era muito simples. A forma é que me deixou magoado. Antes, Mortimore já tinha sido despedido depois de ganhar o campeonato e a Taça. Eu tinha ganho um e depois fiquei como adjunto de Eriksson. Se calhar era algo que não voltaria a fazer, ser campeão e voltar a adjunto. Não é dar tiros nos pés, é ficar sem pés mesmo.
...
Esse tempo já não volta mas orgulho-me dos 34 anos que estive no clube, como jogador, como treinador-adjunto, como director, como treinador. A história não apaga isso, mas não vivo agarrado ao passado. Vivo com o trajecto que o Benfica faz, com os seus êxitos, vivendo e sofrendo com isso.
- Foi por causa disso que nunca mais treinou outra equipa em Portugal?
- É uma decisão que tomei há muito tempo. Há razões que me levaram a que o fizesse.
- Pessoais, profissionais, sentimentais?
- Há uma mistura de muita coisa. Fica assim, fica no ar..."

Felizmente não passou a bola a ninguém

"Assim entrou para a lenda Cristiano Ronaldo - que já há muito tinha entrado para a história - com aqueles três golos iguaizinhos

DIFICILMENTE esquecerei aquele golo marcado por Karel Poborsky ao Sporting de Braga, em 1988, no Estádio da Luz.
Foi assim:
O checo pegou na bola à saída da área do Benfica e desatou a correr. Foi correndo e fintando todos os adversários e quando chegou à área adversária ainda se deu ao luxo de pregar uns quantos nós cegos em quem lhe apareceu pela frente antes de concluir a jogada com um remate certeiro que deu golo.
Vi esse jogo no estádio. Lembro-me do entusiasmo nas bancadas enquanto Poborsky avançava pelo campo sempre em grande velocidade e com a bola colada aos pés. Confiávamos todos no talento do checo e, em boa verdade, não confiávamos muito no talento da maioria dos seus colegas.
E, por isso mesmo, das bancadas gritava-se para Poborsky:
- Vai! Vai!
- Não passes a ninguém!
- Karel, não passes a bola!
E ele não passou a bola a ninguém e fez um golo inesquecível.
Na noite de terça-feira, muito me lembrei de Poborsky e dos incentivos dos adeptos do Benfica em prol da cavalgada solitária - não lhe fosse um colega estragar a jogada - ao ver Cristiano Ronaldo fazer precisamente a mesma coisa, e por três vezes, na Suécia.
Confesso-vos que ao ver Cristiano Ronaldo a receber a bola ainda longe da baliza sueca, transportei-me até aquele jogo de 1998 e dei comigo a gritar:
- Vai! Vai! Não passes a bola a ninguém!
E, felizmente, não passou. Assim entrou para a lenda Cristiano Ronaldo - que já há muito tinha entrado para a história - com aqueles três golos iguaizinhos, depois de três cavalgadas solitárias sem que o prodígio se tentasse com tabelinhas ou com outras menoridades do futebol colectivo.
Portugal está no Mundial de 2014.
Mas que grande artista.

JORGE JESUS foi suspenso por 30 dias pela justiça desportiva e só voltará ao banco do Benfica no fim de 2013. Deliberou rápido, em função dos padrões correntes, o Conselho de Disciplina da Liga e, quanto a mim, deliberou bem.
Não podia passar sem consequências o ataque de filoxera que acometeu o nosso treinador nos instantes que se seguiram à saborosa vitória do Benfica em Guimarães.
A justiça desportiva entendeu que o treinador do Benfica interpretou gestos grosseiros, à vista de todos, e que proferiu injúrias ao alcance de quem as ouviu e, neste particular, já não foram todos, apenas os circundantes.
Por sua vez, o CD da Liga, depois de ouvir os implicados, decidiu que Jorge Jesus não agrediu nem stewards, nem polícias, nem escuteiros e que também não atropelou nenhum fotógrafo numa eventual fuga para a frente. E mais uma vez vejo-me a concordar com a justiça desportiva. O treinador do Benfica, pelo que as imagens mostram, não bateu em ninguém,
Trinta dias de suspensão parece-me castigo suficiente para que Jorge Jesus, na próxima ocasião em que sinta a percorrê-lo as urgências do motim, pense duas vezes no assunto antes de avançar de peito feito contra as injustiças do mundo.
Admito que os adversários, especialmente os rivais do Benfica, considerem curto o castigo e não demorem a pôr cá fora que o Benfica domina isto tudo não só desde o tempo do Salazar como também do tempo do nosso rei D. Carlos I e último. É deixá-los falar. Ou, à laia de ponto final, digam-lhes que nós sabemos muito bem quem é que manda nisto tudo desde os últimos treze primeiro-ministros.
Voltando às coisas sérias, perdoem-me o interlúdio.
Também na justiça comum, e por causa dos mesmos desacatos, é Jorge Jesus alvo de um processo que já corre no Tribunal de Guimarães. Saúde-se, portanto, a celeridade da justiça, quantas vezes infamada por ser lenta, melhor dito, lentíssima. O treinador do Benfica, que arrisca pena de prisão, foi ouvido na passada segunda-feira no DIAP e saiu pelo seu pé.
É bem provável que Jorge Jesus vá malhar com os ossos nos calabouços primeiro do que o quarteto de jogadores do FC Porto acusados, também com suporte de imagem, de terem batido em dois stewards de serviço no Estádio da Luz, já lá vão quatro muito bem passados anos.
Quatro anos, é verdade. Como o tempo voa. Pelos jornais, ficou-se a saber que o treinador do Benfica se defendeu em sede de inquérito judicial descrevendo pormenorizadamente o incidente de Guimarães. Foi há tão pouco tempo que Jesus, já não sendo propriamente um jovem, lembra-se de tudo.
Já o incidente da Luz, por ter sido há quatro anos, não pode estar tão fresco na cabeça dos envolvidos. Helton, por exemplo, apesar de ser um homem razoavelmente novo não se lembra de nada do que se passou com os stewards na Luz. E foi precisamente isto que afirmou em tribunal o guarda-redes do FC Porto.
Alguém lhe pode levar a mal?

NAS selecções de Portugal dos pequeninos, os sub-21 e os sub-19, também a vida é bela. Esta semana despacharam os seus oponentes com grande pinta. Nas suas jovens selecções que estiveram em acção destacaram-se as exibições e os golos de um conjunto de jogadores do Benfica made in Seixal.
Não lhes vou escrever os nomes porque tudo o que contribua para cultos de personalidade em idades tão juvenis pode revelar-se nefasto. Mas que jogaram e marcaram como uns valentes, é indesmentível. Esta é uma boa notícia para os benfiquistas. A formação começa a dar frutos e é razoável pensar que, um dia destes, vamos começar a ter jogadores portugueses da casa na primeira equipa.
Já no jogo da Taça, com o Sporting, jogaram cinco portugueses de encarnado: André Almeida, Sílvio, Rúben Amorim, André Gomes e Ivan Cavaleiro. Nem todos foram titulares, é certo, mas todos deram o seu contributo numa noite muito especial e muito vibrante.
Estou quase tentado a pensar que, finalmente, temos berçário.

A Câmara Municipal de Lisboa vai comparticipar na edificação de um estátua a Cosme Damião, fundador do Benfica, através de um programa de apoio a propostas de cidadãos. Discutível? Sim, como tudo na vida.
Por uma questão de feitio, preferia uma estátua a Cosme Damião inteiramente paga por benfiquistas, cidadãos anónimos ou não tão anónimos, de modo a não ficar a dever nada aos poderes instituídos.
Se nos anos 50 do século passado, liderados por um presidente extraordinário, Joaquim Ferreira Bogalho, os benfiquistas construíram o Estádio da Luz à força de trabalho e de generosidade sem pedir um tostão ao Estado nem à Banca, não seria certamente impossível para tão alta gente, no século XXI, erguer uma estátua ao seu fundador sem recurso ao erário público.
O FC Porto, por exemplo, manifestou-se em comunicado contra esta sinergia Câmara Municipal de Lisboa - Sport Lisboa e Benfica que considerou «um luxo» e, utilizando uma linguagem muito articulada com os tempos de penúria em que o país vive, defendeu o rigor nas «contas públicas».
Estou cem por cento de acordo com o comunicado do FC Porto.
Tal como esta ideia da estátua ao fundador do Benfica nasceu de uma petição pública enquadrada em termos legais, é agora de esperar que o FC Porto das causas justas lance imediatamente uma petição pública, não para a edificação de uma estátua ao fundador do clube - visto que António Nicolau de Almeida foi destituído dessa honra -, mas no sentido da devolução à Câmara Municipal de Gaia e aos seus munícipes do centro de treinos do Olival.
A bem do erário público, naturalmente.
É que o Diário de Notícias ainda há pouco tempo noticiava que pagando o FC Porto à depauperada edilidade gaiense uma renda simbólica de 500 euros mensais, o referido centro de treinos do Olival só estará pago no longínquo ano de 2666. Nenhum de nós estará cá para ver.
Se ninguém fizer nada para obstar a esta situação, daqui a 653 anos, quando a Câmara Municipal de Gaia recuperar o seu investimento, acredito que a estátua a Cosme Damião ainda estará de pé porque sete séculos não serão suficientes para fazer aparecer um arqueólogo que se atreva a mudar a história do clube.
Gosto de Cosme Damião, naturalmente, porque sou do Benfica. E gosto do nome do nosso fundador. Tem nome de dois santos, São Cosme e São Damião, os santos da medicina.
Votos de boa saúde, para todos!"

Leonor Pinhão, in A Bola

Aos potes

"Pote 1 (jogadores candidatos à Bola de Ouro FIFA que estarão no Brasil): Cristiano Ronaldo (Portugal), Messi (Argentina), Ribery (França), Xavi (Espanha), Iniesta (Espanha), Van Persie (Holanda), Robben (Holanda), Neymar (Brasil), Falcao (Colômbia), Neuer (Alemanha), Pirlo (Itália), Schweinsteiger (Alemanha), Suárez (Uruguai), Lahan (Alemanha), Cavani (Uruguai), Ozil (Alemanha), Hazard (Bélgica), Thiago Silva (Brasil), Muller (Alemanha), Yaya Toure (Costa do Marfim). A ordem é a minha.
Dos 23 nomeados só não vão Ibrahimovic (Suécia), Bale (País de Gales) e Lewandowski (Polónia). O primeiro por culpa de Cristiano Ronaldo, o segundo pelos pais o terem registado no País de Gales (tal qual o azar de Ian Rush e Giggs) e o terceiro por ainda não se ter naturalizado alemão (como o fizeram Podolski e Klose).
Quanto aos potes dos países, estarão as melhores equipas da Europa, a que se juntam a Bélgica equipa sensação, a Suíça de um grupo acessível e a Bósnia liberta dos play-off com Portugal. O Brasil terá a companhia dos outsiders Equador e Chile, da fábrica de talentos que é a Colômbia e, claro está da Argentina e Uruguai. África contará com as melhores selecções: Camarões, Nigéria, Costa do Marfim e Gana (além da Argélia). Por fim, os crónicos EUA e México (com Costa Rica) na América do Norte, a Ásia como recorrentemente com o Japão a Coreia do Sul e com a surpresa Irão. A Oceânia com a obrigatória Austrália.
Creio que Portugal é o país com mais seleccionadores (e de diferentes gerações) nos potes: Paulo Bento, Carlos Queiroz e Fernando Santos. Notável!
Agora, aos potes em 6 de Dezembro na Costa do Sauípe!"

Bagão Félix, in A Bola