"O Sporting beneficiou de 7 'penalties'. E apenas concretizou um. Acontece que, esta época, cada pontapé de canto contra o Benfica é, praticamente, um 'penalty', pela ansiedade que gera e pela taxa de sucesso do adversário.
SEGUI no fim-de-semana passado, através da Eurosport, alguns jogos da fase final do Campeonato do Mundo de Futebol de Mesa. Cá para nós, matraquilhos. Basicamente, é uma grande maçada.
Cada jogo de matraquilhos disputado ao mais alto nível, visto que era de um campeonato do mundo que se tratava, redunda numa inominável seca graças à mestria dos jogadores.
Explico-me melhor.
Por serem todos exímios praticantes não têm dificuldade em fazer passar a bola das linhas defensivas para a dos médios e, num ápice, da linha dos médios para a dos avançados, sem que as linhas adversárias o consigam impedir. E vice-versa.
Quem tem a bola, raramente a perde e, assim sendo, quase todas as jogadas terminam invariavelmente da mesma maneira: isto é, de penalty. Com a bola bem presa sob os pés do boneco central da linha de três avançados, o manipulador de valia de internacional ensaia em mil malabarismos a estocada final. E são mais as vezes em que a bola entra do que as vezes em que, antes pelo contrário, não entra.
Ao contrário da algazarra que é sempre uma matraquilhada disputada por amadores, seja em tascas ou em cantinas universitárias, onde a bola, velocíssima, parece ter vida própria tais são as trajectórias que toma à revelia das intenções dos seus praticantes, posso assegurar-vos que são uma verdadeira sensaboria os jogos da fase final do Campeonato do Mundo de Futebol de Mesa.
O excesso de técnica mata o espectáculo. Caso raro mas verdadeiro. O Mundial de Matraquilhos é, resumindo, um campeonato de penalties. Penalty para lá, penalty para cá. A coisa torna-se soturna ao cabo de cinco minutos.
Não há carambolas, nem bola a voar da mesa para fora, nem auto-golos, nem golos de cabeça absolutamente por acaso, sem que o boneco cabeceador tenha feito algo que justificasse final tão feliz.
E nunca se houve gritar:
- Roleta não vale!
Nem, melhor ainda:
- Está nêspera! - quando a bola se imobiliza misteriosamente fora do alcance de ambos os adversários e é preciso relança-la à mão para o imenso tabuleiro.
Digam lá se não é de valor, numa semana em que o Benfica foi goleado na Luz pelo Sporting acabando, no entanto, por ganhar o jogo, iniciar esta empreitada com a descrição, ainda que bastante genérica, do que me pareceu urgente ressalvar do aborrecido Mundial Futebol de Mesa em comparação com as nossas matraquilhadas tão imprevisíveis e, por isso, mesmo tão animadas.
Tudo é perfeição no Mundial de Matraquilhos. perfeição, tédio e um não acabar de penalties.
COM a liberdade e a autoridade que me são conferidas nesta página, atribuo ao cidadão paraguaio Óscar Cardozo o título de adepto do ano do SLB.
Do ano civil, entenda-se. Aquele que começou a 1 de Janeiro último e que terminará no próximo dia 31 de Dezembro.
Podem-me contestar a decisão por ser extemporânea, precipitada. Ainda falta um mês e meio até que 2013 acabe e quem sabe se, até lá, não aparecerá outro adepto, ou mesmo sócio, capaz de uma proeza qualquer que a todos encante.
No entanto, duvido de que, quem quer que seja o candidato, se consiga bater com Óscar Cardozo pelo título de adepto do ano, distinção que, a meu ver, se vai ganhando durante 365 dias à porfia e não por uma noite de brilharete avulso seja em que mês for.
É evidente que a prestação do paraguaio na noite de sábado contribuiu para o peso desta nomeação. Mas só contribuiu em 50 por cento. E não foi por ter marcado três golos ao velho rival, coisa que já tinha feito, na época passada, em Alvalade. Isto, segundo os critérios da Liga com os quais não concordo porque um dos golos atribuídos a Óscar Cardozo foi, inequivocamente, um auto-golo de Rojo.
Neste último jogo com o Sporting, o que pôs fim à discussão sobre o nome do adepto do ano não foi a veia goleadora do paraguaio. Cardozo, por norma, marca muitos golos ao Sporting, daí não veio grossa novidade. No sábado só foi diferente porque não se tratou de Cardozo mas sim de meio-Cardozo, visto que se magoara seriamente no jogo anterior e a sua utilização esteve em dúvida até à hora de entrar em campo.
Provavelmente, se a Liga portuguesa fosse organizada pela ONU, Cardozo não tinha jogado. Já ouvi protestos assanhados pela sua utilização no sábado contrariando todas as disposições médicas e humanitárias em vigor.
No entanto, o meio-Cardozo magoado que se apresentou a jogo deu uma grande lição aos magoados adeptos do Benfica, aos que ainda não recuperaram a alma perdida naquelas duas semanas fatídicas do último Maio.
E sabe-se que adepto sem alma é meio-adepto. Ponham, portanto, os meios-adeptos os olhos no meio-Cardozo, também ele magoado, mas mais do que capaz de fazer o que se lhe pedia nesta última ocasião. E sem hesitações. Só por isto já merecia a distinção de adepto do ano. Mas houve mais.
Os outros 50 por cento que contribuíram para a atribuição do título de adepto do ano a Cardozo surgiram naqueles instantes depois do último descalabro da temporada, no Jamor, quando um inconformado Óscar Cardozo se dirigiu ao seu treinador em termos desabridos, pedindo-lhe explicações, apontando-lhe o dedo.
Foi feio? Foi pois. Mas quantos adeptos do Benfica não teriam feito exactamente a mesma coisa se para tal tivessem tudo oportunidade? Oh, falsos moralistas!
No melhor e no pior, em 2013, existiu uma simbiose perfeita entre o paraguaio e os adeptos do Benfica. Houve vezes em que um e os outros pareciam a mesma coisa.
Por isso, Óscar Cardozo inteiro e meio-Óscar Cardozo, elejo-te o adepto do ano.
Tenho dito.
NÃO tenho ideia de ter o Benfica feito uma choradeira por sair de Alvalade, a 31 de Agosto, vergado ao peso de um empate num jogo em que o golo de Montero nasceu de posição irregular. E se tudo o que acontece na área é penalty, ficou então um muito sugestivo penalty por marcar contra os donos da casa quando Maurício se pôs às costas de Cardozo, qual mochila.
O golo irregular de Montero foi, aliás, o início de uma saga de golos em posição irregular deMontero, saga triunfal que marcou as primeiras jornadas da Liga sem que os seus responsáveis piassem e sem que a Assembleia da República se tivesse de debruçar sobre o assunto.
Duarte Gomes foi o árbitro do último derby. Terá perdoado um penalty para cada lado. André Almeida jogou a bola com a mão na área e o lance seguiu sem consequências nefastas para o Benfica.
Já no prolongamento, Rojo, na sua área, mandou Luisão ostensivamente ao chão e o lance seguiu com consequências nefastas para o Sporting, não por Duarte Gomes ter assinalado o penalty devido, mas porque a bola embateu numa das arestas mais fatais do crânio do 'capitão' do Benfica que, estando deitado ao comprido na relva, foi dos mais surpreendidos com a obtenção do golo que haveria de decidir a eliminatória.
Não foi o melhor jogo do século mas foi um jogo intenso e com golos espectaculares. O de Diego Capel, por exemplo, é um golaço. Ainda que o espanhol estivesse adiantado em relação ao momento do passe de Wilson, como se pode ver tranquilamente na imagem da Sport TV se nos abstrairmos de todas as linhas imaginárias da boa vontade e nos concentrarmos apenas na linha efectiva que delimita a área, traçada a cal.
O Sporting, através dos seus responsáveis, reclama dois penalties. Num terá razão. No outro, no lance entre Montero e Luisão, já me parece que Montero entra de pé em riste para ganhar a bola a Luisão, que tem o colombiano nas costas e não o vê chegar. Admito, no entanto, que esteja errada e que tenha sido mesmo penalty.
Na verdade, o Sporting beneficiou de 7 penaltis durante o jogo todo. E apenas concretizou um. Acontece que, esta época, cada pontapé de canto contra o Benfica é, praticamente, um penalti, pela ansiedade que gera e pela taxa de sucesso do adversário. Foi assim, mais uma vez, no jogo com o Sporting.
Ouvi de uma criança uma explicação muito plausível para este fenómeno:
- Quando davam todos as mãos estas coisas não aconteciam!
Dar as mãos é tudo numa equipa de futebol."
Leonor Pinhão, in A Bola