sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Espadas e pescoços

"1. Uma dúvida triste paira sobre o pescoço dos adeptos do Benfica como a espada do velho Dâmocles. Nas suas épocas acreditaram demais e receberam de menos. Agora sentem-se firmes na sua ideia de não voltar a investir emocionalmente numa equipa que, no seu entendimento, os deixou ficar mal. E assim, negam-lhe o seu apoio, ficam em casa, deixam o Estádio da Luz a um inacreditável abandono. «A derrota é uma doença que só a vitória cura», dizia Mário Filho. Talvez só as vitórias sucessivas possam tirar os adeptos do Benfica deste ser medo de novas frustrações. Mas os garotos de cócoras não parecem estar pelos ajustes. E eles é que decidem sob a benção do Madaleno.

2. O Azeiteiro-da-cabeça-d'unto abana a cauda alegremente: ele é o verdadeiro animal de estimação do Sistema.

3. As entrevistas encomendadas do presidente do Porto são quase tão hilariantes como as ordinarices cheias de erros de sintaxe do Copiador-de-livros-alheios. Com que então vai escrever um livro sobre o «Apito Dourado»? Vamos ficar a saber o quê? O câmbio das prostitutas no Calor da Noite? Quantos árbitros foram sempre em frente até à sinistra casa que ficava perto de uma agência funerária? Quem foi o bufo que permitiu uma conveniente fuga para a Corunha?
Esperamos ansiosamente por tão brilhante obra. Mas alguém de bom senso reveja-lhe o português.

4. «Quem vier a seguir a mim só tem que não estragar»: que frase extraordinária. E não estragar o quê? A fruta? Também a espada da honestidade paira sobre o pescoço de tal delfim.

5. Um rapazito excitado e meio histérico que se rebola de gozo por dar uns chutos na bola com profissionais que não têm outro remédio senão aturá-lo embora seja, pelas costas, motivo de chacota, disse do alto da sua inexistência: «Rui Costa? Não conheço.» Cópia barata do Madaleno, não surpreende pela ignorância. Também não sabe quem é o Manuel Fernandes."

Afonso de Melo, in O Benfica

Temos de jogar mais e melhor

"A vitória sobre o Estoril seria até a parte mais importante a conseguir no António Coimbra da Mota, mas aquele sufoco voltou a deixar os adeptos perto do enfarte do miocárdio. Marcar cedo, falhar uma grande penalidade, desperdiçar três ou quatro ocasiões de golo e depois de fazer o 2-0 que nos dava algum sossego, ver o inferno de volta dois minutos depois é de mais...
O Estoril é uma boa equipa, mas vinha cansada de um jogo europeu e só não gelou as hostes encarnadas por milímetros. Temos de jogar mais e melhor. Se há alguém que nos habituou a pôr a equipa a jogar bem foi Jorge Jesus e por isso lhe pedimos essa característica de volta.
Os títulos dos jornais de segunda-feira era: 'Suspiro', 'Alívio', 'Suspense' ora estamos saudosos daqueles outros que seriam: 'Demolidores', 'Nota Artística', 'De Luxo'. Aqui ficam as sugestões para rotular os próximos jogos.
Contra o Estoril houve um grande golo de Cardozo que nos evitou males maiores. Agora que se ganha falta jogar bem.
Não há necessidade de explicar que o terceiro lugar no campeonato não satisfaz um só benfiquista, e por isso são os cinco pontos que nos afastam do único lugar que queremos, que nos empurram para melhorar.
As boas classificações no Benfica são títulos e as excepções podem apenas ser provas europeias de qualidade e prestígio que não alcançam o título. Tudo o resto sabe a pouco para os adeptos encarnados. São grandes a dar, podem e devem ser enormes a exigir.
Esta paragem pode ser benéfica para estabilizar e recomeçar uma série de vitórias. Assim espero, com a certeza de que tal só é possível a jogar bem, a subir o nível das exibições e não fazer de um 2-1 sofrido o Elixir da Juventude da Lucky Luke. Não somos tão ariscos como o Joe Dalton, nem tão burros como o Averrell Dalton. Somos apenas adeptos exigentes e apaixonados sem vocação para Rantanplan."

Sílvio Cervan, in A Bola

Crença rubra

"Horas antes do Estoril-Benfica, tertúlia vermelha, na minha zona de residência. Muito, mas muito ceticismo. Ripostei com firmeza. "Vamos ganhar". Ouvi críticas, demasiadas críticas. Percebi o desalento, depois do empate com o Belenenses, da derrota em Paris. Continuei a objectar. Fui convincente? Não sei, não sei mesmo.
Sei que o Benfica, pouco depois, bateu o seu oponente, num jogo sem casos, disputado num dos recintos mais complicados da nossa actualidade futebolística. Foi uma exibição deslumbrante? Não foi. Foi um triunfo inequívoco? Foi mesmo.
Na mesma roda de comparsas, fizemos a retrospectiva do embate. Voltei a ouvir censuras, muitas censuras. Insisti na réplica. Socorri-me de vários exemplos do nosso historial. Fui convincente? Não sei, não sei mesmo.
Sei que o Benfica é um universo numeroso, disso tenho orgulho incontido. Sei que o Benfica tem adeptos com opinião, muitas vezes desencontrada, disso tenho consciência irreplicável. Mas também sei que um Benfica desunido conduz, fatalmente, à tragédia. Disse-o em tom altissonante. Fui convincente? Sei, sei mesmo que fui.
Um benfiquista, por mais desassossegado que esteja, não pode, não deve, utilizar argumentos de um portista ou de um sportinguista. Tem direito a opinar? Tem, com certeza. Mas, mais do que tudo, tem o dever de procurar fazer a defesa do seu superior património emocional. Os melhores benfiquistas reconhecem-se nos piores momentos. Como? Não descrendo. Antes, querendo. Antes ainda, crendo. Sempre. Sempre mesmo."

João Malheiro, in O Benfica

Cardozo

"1. Já aqui defendi o nosso ponta-de-lança, Cardozo, em mais de uma ocasião,nomeadamente quando era assobiado por numerosos adeptos que não gostavam do seu estilo algo 'molengão'. Muitos desses que o assobiavam são agora os que mais o louvam e mais lamentam quando ele não está em campo. Domingo passado, no Estoril, foi ele quem marcou (de forma excelente) o nosso segundo golo. Lembrei-me disso a propósito de Jorge Jesus, que já foi idolatrado (lembram-se dos aplausos quando o seu nome era referido?) e agora é muito contestado. Não sei se é ou não o treinador ideal para o Benfica. Sei que é o nosso treinador actual e por isso, independentemente dos erros que possa haver, tem que ser defendido. Só quem lá está dentro tem condições para  procurar as melhores soluções para os problemas da equipa.

2. O presidente do Sporting não passa uma semana sem falar uma ou mais vezes. Ou me engano muito, ou ainda se irá arrepender. Lamentável foi ele dizer que não conhecia o nosso Rui Costa, que até foi muito correcto na apreciação que fez... e que foi depois muitas vezes apenas parcialmente reproduzida. Rui Costa disse, a dada altura, respondendo a uma crítica de Bruno Carvalho a Jorge Jesus: 'se o treinador do Benfica é para treinar, o presidente do Sporting é para presidir e já o vi treinar com os jogadores'. Mas acrescentou logo: 'cada um domina a sua casa como bem entende e eu não posso criticar o presidente do Sporting por treinar com os jogadores, mas nem ele nem ninguém pode acusar o treinador do Benfica por tentar defender os interesses do Clube'. Se todos fossem intelectualmente honestos, o Mundo seria bem melhor. Embora muitas vezes os jornais deixassem de ter 'manchetes' para fazer...

3. Não posso deixar de aqui reproduzir a melhor piada crítica que me lembro de ler nos últimos anos. É do site Benfiliado e foi 'descoberta' por Leonor Pinhão, que colocou na sua crónica da semana passada, em A Bola. É a propósito da inauguração do museu do FC Porto, realizada no dia em que (dizem eles) o clube comemorou 120 anos (que na realidade são apenas 107). Museu que, no entanto, ainda não está pronto e apenas poderá receber visitas a partir do final do mês. Diz o site: 'Podem abrir as portas ao público e aproveitam logo para comemorar o 13.º aniversário do museu.' Bem apanhada!"

Arons de Carvalho, in O Benfica