quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Será Markovic o sucessor de Vata?

"Vata foi um jogador que o Benfica foi buscar ao Varzim no final da década de 80 e que jogando só aos bocadinhos conseguiu ganhar uma Bola de Prata.

A equipa mais gamada - para utilizar uma expressão consagradamente popular e de significado vago - nas três primeiras jornadas do campeonato é o Benfica e este título, que ninguém quer, assenta-lhe como uma luva.
Embrenhados no caso Cardozo, que se iniciou em finais de Maio e que só acaba quando o Paraguaio marcar um golo e correr para Jorge Jesus - se não correr para Jorge Jesus é porque o caso, afinal, não está encerrado -, os Benfiquistas , independentemente das suas responsabilidades, entenderam como apenas corriqueiras as decisões de Jorge Sousa, no Funchal, na jornada 1 e as decisões de Hugo Miguel, em Alvalade, na jornada 3.
Somos assim. Um bando de frouxos, no qual me incluo. O facto de a equipa ainda não ter jogado nada de especial desmotiva, em nome da vergonha, qualquer tipo de conversas ou de lamentos sobre questões da arbitragem.
Joguem à bola! - é o que os adeptos exigem neste arranque porque não lhes entra na cabeça que os mesmos jogadores que tão bem se comportaram em campo até Maio tenham desaparecido de jogar, de lutar e de ser felizes como o foram por quase toda a temporada de 2012/2013, mais precisamente até à data do jogo com o Estoril.
E como jogar à bola tem-se visto pouco, vai de isentar os malandros dos árbitros nestas três primeiras jornadas do campeonato. Uns snobs, eis o que somos, uns grandes snobs. E isto em futebol não tem cabimento a não ser que se esteja em Inglaterra, o país do fair play. Mas como estamos em Portugal, o país da verdade desportiva, há que chorar, gritar, ameaçar e fazer, sobretudo, muito barulho quando em três jornadas, feitas as contas, o resultado podia ter sido outro na Madeira e outro em Alvalade se os árbitros fizessem por cumprir as leis do jogo.
Estamos assim a 5 pontos do FC Porto e Agosto ainda nem tinha terminado. Se pensarmos que há dois anos o Benfica perdeu um campeonato em que chegou a ter 5 pontos de avanço em Fevereiro e que no ano passado perdeu um campeonato em que chegou a ter 4 pontos de avanço em Abril, estes 5 pontos de atraso em Agosto pesam já umas quantas toneladas.
É o que parece, não vale a pena aborrecermo-nos com minudências.
Analisar, dissecar, criminalizar o golo solitário com que o FC Porto conseguiu vencer o Paços de Ferreira já perto do fim do jogo é um exercício vão.
Certamente que o empurrão descarado de Jackson Martínez nas costas do defensor pacense antes de cabecear para o golo, tal como a mochila feita a Cardozo por Maurício em Alvalade, tal como a posição ex-irregular de que nasce o golo do Sporting constam do novo livro de interpretação das regras que Pedro Proença foi explicar, há duas semanas, aos jogadores do Benfica no Seixal.
Comparadas com o caso Cardozo e com o mau futebol que a equipa vem praticado, estas questões são encaradas como menores em nome da decência.
E, sempre em nome da decência, já é larga a desvantagem do Benfica para os líderes.
Vamos lá então à recuperação!
E a recuperação também tem os seus quês. Tomemos o exemplo de Markovic, de todas as caras novas aquela que já conseguiu cair no goto dos adeptos e da crítica. Trata-se de um jovem sérvio, tem apenas 19 anos, que tem vindo a ser utilizado na parte final dos jogos e que, por sorte ou por saber, tem ajudado com golos a dar a volta a resultados menos bons, como aconteceu com o Gil Vicente e com o Sporting.
Será Markovic o novo Vata? Para os mais novos, que não sabem, Vata foi um jogador que o Benfica foi buscar ao Varzim no final da década de 80 e que jogando só anos bocadinhos, raramente foi titular, conseguiu ganhar uma Bola de Prata, troféu que consagra o melhor marcador do campeonato.
Francamente, parece-me que Markovic tem sobre Vata vantagens e argumentos que o colocam num outro patamar. O tempo o dirá. Mas com 5 pontos de atraso à terceira jornada e tendo em conta o historial desta equipa quando se viu com 5 e com 4 pontos de avanço, não fará grande mal ao mundo dar uma alegriazinha à malta pondo o sérvio em acção pelo menos uma parte inteira do jogo.
Vão ver como não se arrependem.

JOÃO MOUTINHO fez, finalmente, a sua estreia da I Liga Francesa e foi o homem do jogo. E logo em Marselha, contra o Olympique, um adversário poderoso, com ambições. O Mónaco viu-se perder mais dos pés de Moutinho saíram os lances que permitiram a reviravolta e asseguraram o triunfo da multimilionária equipa do Principado.
Rui Barros, por ter feito uma bonita carreira no Mónaco, foi logo consultado pela imprensa francesa para opinar sobre a valia do seu compatriota. Disse-lhe que Moutinho é um jogador excepcional que «sabe fazer tudo». Ao ponto de achar um desperdício ver Moutinho numa equipa que não tem um nome à altura do talento algarvio.
Acreditei que ainda verei João Moutinho num grande europeu. Esta aventura monegasca é apenas um interlúdio com benefícios fiscais no percurso de um jogador excepcional.

QUEM também é excepcional, ninguém duvida, é Gareth Bale, o jovem galês que o Real Madrid acaba de comprar ao Tottenham por 91 milhões de euros. Não me vou demorar em considerações sobre a obscenidade da verba em causa. Garantem-me os mercantilistas que só a venda de camisolas com o nome de Bale estampado nas costas ajuda bem a amortizar o investimento. Será?
Gareth Bale é um jogador do outro mundo e, assim sendo, é natural que tenha ido parar ao Real Madrid. E, convém que se diga, é também excepcionalmente esperto. Aterrou em Chamartín e não perdeu tempo: «Cristiano Ronaldo é o chefe, é o melhor do mundo», disse ao melhor estilo da fleuma e da diplomacia britânica.
O galês sabe quem vai encontrar no balneário do Santiago Bernabéu. Cristiano Ronaldo, que tem um futebol parecido com o seu, vive lá e carrega consigo a fama e o proveito de ser o melhor do mundo, à frente de Messi, ou o segundo melhor do mundo, atrás de Messi.
Se esta discussão tem servido para animar e, por vezes, enfurecer, os fãs de um e de outro, Bale colocou-se incondicionalmente ao lado do seu próximo colega de equipa.
O português deve ter gostado. Já os castelhanos da plantilla podem ter achado menos graça a esta profissão de fé de Bale logo à chegada. É lá entre eles.
Excepcionalmente esperto teria sido Neymar se tivesse dito a mesma coisa assim que aterrou em Nou Camp. 'Messi é o chefe, é o melhor do mundo'. Mas não disse, o que também se compreende e aceita. Um é brasileiro e o outro é galês, vêm de culturas diferentes embora não custe a adivinhar que, em breve, será entre eles a discussão sobre quem é o melhor do mundo.
Voto em Bale, por antecipação.

MORREU Pal Csernai, o treinador húngaro que substituiu Eriksson quando o sueco partiu para Roma no fim da temporada de 1983/1984. Não seria fácil para nenhum treinador ocupar o lugar de Eriksson, afável e correctíssimo com toda a gente. Csernai primou pelo oposto. Intratável e incorrectíssimo.
Num ano com Csernai o Benfica ganharia apenas uma Taça de Portugal, numa final com o FC Porto, o que foi considerado pouco à época. Não deixou grandes amigos na Luz. Era o género de treinador que não tinha problemas em apontar a dedo os jogadores que, segundo ele, não cumpriam.
Numa célebre e infeliz eliminação europeia com o Estrela Vermelha de Belgrado, Csernai não foi de modas e acusou Álvaro Magalhães, o nosso brioso defesa-esquerdo, de ser «o pai da derrota».
Por falar em defesa-esquerdo, tudo indica que com a chegada de Siqueira dá-se por resolvido um problema que já dura há alguns anos. Será desta?"

Leonor Pinhão, in A Bola

UEFA, geografia e política

"Há semanas reparei que um clube do Cazaquistão - um país asiático - quase atingia a fase de grupos da Liga dos Campeões.
No tempo da União Soviética bem se poderia afirmar que o Europa do futebol ia até aos confins da Ásia. Desmembrada a URSS, filiaram-se na UEFA a Arménia, o Azerbaijão e a Geórgia que estão na chamada e discutida Eurásia. Mas, desde 2002, também a asiática selecção cazaque foi incluída! Não foi a primeira nem a única. Basta recordar a Turquia só europeia em permilagem, bem como Israel desde 1991.
Na geografia uefeira há desde as selecções desejadas em qualquer sorteio (Malta, Liechtenstein, São Marino, Andorra) até às selecções que não correspondem a países. A situação mais antiga é a do Reino Unido que fornece quatro equipas: Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales. E que este ano tem a quinta, Gibraltar, já admitida como membro de pleno direito, o que contribui para acirrar o diferendo entre Espanha e Grã-Bretanha. Outro caso curioso é o das Ilhas Féroe, território com autonomia ligado à Dinamarca e 48.000 habitantes... Já a Gronelândia com o mesmo estatuto (e 57.000 habitantes) não está na UEFA, ainda que aí a geografia nos diga que já pertence ao continente norte-americano.
Há Estados europeus que não estão na UEFA: o Vaticano por óbvias razões e o Mónaco que joga em França... E o Kosovo por enquanto. Chipre representa apenas parte da ilha (exclui a auto-denominada Rep. Turca de Chipre do Norte).
Ainda há os candidatos a candidatos, como a Catalunha, treinada por J. Cruyff, que lá vai fazendo uns joguitos amigavelmente provocatórios.
UEFA, geografia e política: para todos os gostos!"

Bagão Félix, in A Bola