terça-feira, 30 de julho de 2013

Martins, o Grande

"Meu caro Fernando Martins:
Não sei se muita gente se lembra, eu lembro-me: discutia-se o seu primeiro Relatório e Contas e por entre os ataques que a oposição, assanhada, lhe fazia, voaram cadeiras pelo ar. Apresentou a demissão e começou a ficar lívido. Saltou da plateia um médico a assisti-lo, soube-se que era um principio de ataque cardíaco. (Não, não me esqueço de que, na semana seguinte, voltou dizendo que afinal não se demitia e reforçava o trunfo da manga: era Eriksson para o lugar de Baroti que Queimado lhe impusera - e com Eroksson tudo mudou...)
Não sei se muita gente de lembra, eu lembro-me: a final da Taça de 1983 marcou-se para as Antas e ao saber-se que o adversário do Benfica era o FC Porto abriram-se movimentações para a devolver ao Jamor. Pinto da Costa, a coberto do remoque:
- Lisboa não pode colonizar o resto do país...
Aprovou em AG que ou jogaria lá ou não jogaria. Adiada ficou a final sine die, os seus jogadores foram de férias. (Não, não me esqueço de que, por via do seu jogo de cintura, convenceu-os a darem saltinho da praia ao estádio onde com golo de Carlos Manuel o Benfica venceu e você revelou ainda mais o seu carácter:
- Foi para evitar que o FC Porto pudesse cair na II Divisão, que decidi que viéssemos às Antas. É que nós precisamos deles para mostrar que somos os melhores, nunca se esqueçam...)
Sim, era assim: mais do que o presidente que lançou a lógica do clube-empresa, que fez do Benfica tão imenso como já fora, o presidente que mais ataques sofreu dos seus pares em bastidores e AG - foi o presidente que nunca precisou de ir pelo terrorismo para ganhar ao destino o futuro. (E não, não me esqueço de, em mandato de João Santos, lhe retirarem o camarote vitalício que lhe tinham dado no Terceiro Anel. Foi uma tropelia, você sentiu-a com mágoa, com a mesma mágoa que sentira ao perder as eleições, mas essa mágoa nunca foi rancor, eu sei - e é isso que faz a diferença entre os homens grandes e os outros...)"

António Simões, in A Bola

Os árbitros e a questão essencial

"Os árbitros portugueses poderiam escrever um novo livro do desassossego. Falta-lhes, porém, em talento literário o que lhes sobeja em assunto. A única consolação é que os árbitros sabem que não é de hoje que haja gentes e poderes com uma mal disfarçada vontade de os controlar, de os manipular. A experiência do passado recente, com o famigerado apito dourado, foi traumatizante e os árbitros são os primeiros a sentirem que têm de se liberar dessa imagem de serventes de poderes obscuros.
Recentemente, a discussão sobre independências, influências, maledicências e interferências agudizou-se e os árbitros voltaram a estar próximos de uma revolta. A Bola foi acompanhando clamores e estados de espírito e foi sabendo das razões dos árbitros insatisfeitos. Demos, também, a versão federativa e, aí, não foi menos espantoso verificar que há uma ideia institucionalizada na FPF de que o novo modelo de classificações foi pensado e programado para que os árbitros não regressem a vícios antigos de lobis e compadrios, dando vantagens a quem as não merece.
Fica por salvaguardar o essencial. As últimas classificações tiveram como resultado algumas aberrações indefensáveis e se a FPF se obriga a defender critérios inatacáveis e acima de qualquer vício tem de começar por assumir os erros anteriores, perceber as suas origens e dar garantias de que esses erros não se repetirão.
PS - Por falar em árbitros. Como foi possível que Hugo Pacheco, o árbitro do recente FC Porto - Celta, não tenha expulso Kelvin? Procurou proteger o jogador? E não perceberá que essa atitude só pode prejudicar um jovem com talento mas com preocupantes comportamentos de risco?"

Vítor Serpa, in A Bola