quinta-feira, 25 de julho de 2013

Museu...



Amanhã é a inauguração oficial, as primeiras impressões - ao longe - são as melhores... Uma obra que estava inquestionavelmente em falta no universo do Benfica.

Qual bardo rancoroso

"O jogo com o Peñarol, uma equipa duríssima, arbitrado por Bruno Paixão, um árbitro mole, serviu para Markovic e Djuricic se irem capacitando da muita pancada que vão levar.

QUASE um milhão. Mais precisamente 927 mil telespectadores assistiram em suas casas à transmissão do primeiro derby da temporada de 2013/2014. É uma audiência digna de ambos os contendores mesmo tratando-se da discussão de um troféu regional, há muito esquecido pelo calendário oficial de provas. E, em desabono, tratando-se também de um frente a frente entre equipas secundárias dos rivais de Lisboa.
Na jornada de abertura da Taça de Honra da AFL, a transmissão em sinal aberto do Benfica-Sporting dos pequenitos alcandorou-se ao 3.º lugar no campeonato das audiências e do share, classificando-se à frente do Jornal das 8 da TVI e do programa de entretenimento emitido, à mesma hora, pela SIC.
Noite de vitória para a RTP, está visto, à pala de um joguinho de futebol entre os reservistas, sem ofensa para ninguém, dos dois maiores emblemas do país.
Está, assim, explicada a irritação que atingiu os benfiquistas depois do mini derby da Taça de Honra. Foi, sim, um mini derby mas com maxi audiência pelo que o desconchavo da exibição, somado ao resultado favorável ao rival e à clamorosa ausência de atitude da equipa que se apresentou em campo, contribuíram para uma onda de desalento que varreu as nossas hostes já de si desalentadas por um passado recente.
O bom senso e a contenção com que se deve olhar para estes jogos da pré-temporada aconselham a não dar uma importância desmedida às incidências do tal primeiro derby da época. Mas como explicar aos benfiquistas, ainda atordoados com o fatídico mês do último maio, que perder com o Sporting - quer seja em chinquilho, quer seja a feijões - é uma coisa absolutamente aceitável e que não faz mossa?
O Benfica terminou a época de 2012/2013 em prfunda depressão. O Benfica e os benfiquistas, obviamente, fragilizados pela maré de infelicidades que se abateu sobre a equipa nos momentos decisivos da última temporada, os adeptos interpretam qualquer deslize individual ou colectivo em campo como mais um mau agouro de dimensão apocalíptica.
O Benfica-Sporting a contar para a Taça de Honra serviu para testar a juventude do chamado plantel secundário mas serviu, sobretudo, para pôr à prova o estado anímico da nação benfiquista que, viu-se, está pelas ruas da amargura.
Grande trabalho tem pela frente Jorge Jesus para recuperar os níveis de confiança da equipa e, muito principalmente, dos adeptos nesta pré-temporada que se pode considerar atípica, visto que é costume o Benfica fazer pré-temporadas de carácter empolgante. Excessivamente empolgantes até, não é verdade?

SE, no horário nobre da RTP, a vasta audiência televisiva do jogo mais importante da jornada inaugural da ressuscitada Taça de Honra da AFL contribuiu para engrossar o estado de desânimo dos adeptos do Benfica - não há volta a dar a isto, perder com o Sporting será sempre uma chatice -, contribuiu também, por outro lado, para reforçar os princípios da aventura empresarial da Benfica TV.
Nos 18 primeiros dias da Benfica TV a pagar, a estação registou 80 mil adesões, número significativo tendo em conta que a época oficial ainda está a umas quantas semanas de distância. Confesso que a minha ignorância neste ramo de negócios chega ao ponto de não saber concluir se 80 mil clientes em duas semanas é muito, pouco ou nada.
Presumo, no entanto, que sejam números animadores até porque, do outro lado do Atlêntico, logo chegou a voz autoritária do presidente do FC Porto em digressão protestando, em nome da ética e da concorrência leal, contra a licença atribuída ao canal oficial do Benfica para transmitir os seus jogos e não só.
E se Pinto da Costa se preocupa com ética e concorrência é porque o assunto só pode ser mesmo muito sério.

DO ponto de vista do consumidor benfiquista da Benfica TV, sugiro humildemente aos operacionais do marketing do canal que pensem em oferecer uns bonitos e visíveis autocolantes aos cafés e restaurante que são ou venham a ser assinantes.
Qualquer coisa do género Aqui há Benfica TV para colar nas portas. Digo isto porque vi muitos benfiquistas em férias no sul do país a percorrer tasca a tasca à procura do nosso canal para poderem ver os jogos de preparação da equipa na Suíça.
Até encontrarem, o que também não foi muito difícil. Bom sinal.

NO início da semana, A BOLA deu conta da reedição pela Dom Quixote do ensaio de Marcelo Duarte Mathias sobre Albert Camus, o grande escritor franco argelino. A Felicidade em Albert Camus é o título da obra pela primeira vez editada no Brasil em 1975 e pela primeira vez editada em Portugal em 1978.
Camus foi guarda-redes na sua Argel e nunca escondeu a paixão pelo futebol. É dele uma das frases mais bonitas sobre a essência do jogo:
- Tudo aquilo que aprendi sobre a moral dos homens, aprendi-o no futebol.
Romântico, não é?
E é um preceito que se aplica todos os dias se quisermos olhar para o futebol e para as coisas do futebol através dos olhos de Camus.
Um exemplo recente? No último sábado, em Caracas, o presidente do FC Porto, discursando para uma sala a transbordar de emigrantes portugueses, maioritariamente portistas, contou uma anedota:
- Papa Francisco quer incluir na sua visita a Portugal uma ida ao Estádio do Dragão para ver onde Jesus se ajoelhou - disse ao jeito de bardo rancoroso.
Peço o favor a Albert Camus de lhe responder no meu lugar:
- Tudo aquilo que aprendo sobre a moral dos homens, aprendi-o no futebol.
Como podem constatar, o preceito camusiano aplica-se uma vez mais e maravilhosamente.
Ao longo da ligação de Jorge Jesus ao Benfica - já vai para a quinta temporada -, não foi esta a primeira vez que o presidente do FC Porto se referiu ao técnico do inimigo. Fê-lo sempre com grande cordialidade e simpatia, causando inevitáveis engulhos na Luz até porque Jorge Jesus pareceu sempre aceitar mimos do Dragão com um beneplácito civilizacional a todos os títulos despropositado, tendo em conta o que há para ter em conta.
No que diz respeito a Jorge Jesus, registe-se que Pinto da Costa mudou agora a agulha. Ressuscitado pelo golo de Kelvin, o presidente do FC Porto passou a considerar o treinador do Benfica como mais um para achincalhar. O joguinho perverso dos elogios a Jesus terminou. Já não precisa de o fazer.
Quanto a Jesus, que nunca recusou os elogios de Pinto da Costa no tempo deles, que se mantenha igualmente firme nos tempos do achincalho.
Literalmente, que lhe responda à Camus:
- Tudo aquilo que aprendi sobre a moral dos homens, aprendi-o no futebol.
Desportivamente, que lhe responda ganhando.

ONTEM, em Portimão, o Benfica a sério empatou 1-1 com o Peñarol. Foi um jogo interessante com boas promessas e com a certeza de que sem Cardozo, ou alguém por ele, o Benfica passa a actuar sem referência na frente o que implica um modo novo de jogar. Veremos, lá mais para a frente, se é melhor assim ou antes pelo contrário.
O jogo com o Peñarol, uma equipa duríssima como de costume, arbitrado por Bruno Paixão, um árbitro mole como de costume, terá servido também para os supertalentosos Markovic e Djuricic se irem capacitando da muita pancada que vão levar no campeonato português.
Outra coisa boa da noite de ontem em Portimão: não sofremos nenhum golo de bola parada."

Leonor Pinhão, in A Bola

Benfica: muita parra e pouco golo

"Apesar do domínio, encarnados empatam (1-1) com os uruguaios do Peñarol.
Em mais um "particular" de rodagem com vista à nova época, cumprido em Portimão, o Benfica não foi além de uma igualdade, denunciando já a habitual propensão atacante, a que não correspondeu, contudo, a desejada eficácia. Foi, no entanto, evidente a grande disponibilidade e à vontade do conjunto, sobretudo das linhas mais adiantadas, onde - Markovic à parte - é tudo gente da pretérita temporada, que, por isso mesmo, se conhece bem.
E se o sérvio foi o único "intruso" do sexteto, a verdade é que não se deu por isso, já que surgiu em grande estilo, jogando rápido e fazendo jogar, como ficou patente no golo que, aos 17', colocou o Benfica em vantagem. Arranque, tabela com Gaitán, recepção perfeita após passe deste e, finalmente, remate a não dar hipóteses a Castillo.
Era a confirmação de um jogador de classe, que só não arrastou consigo o grupo para um triunfo concludente porque o Peñarol empatou a seguir (Rodriguez, 24'), explorando alguma hesitação de Sílvio, um lateral-direito a situar-se uns furos abaixo do seu congénere Cortez, no outro flanco, que, por várias vezes (e ao contrário daquele) apareceu no apoio ao ataque.
Até ao intervalo, o Benfica continuou a mandar no terreno, por força da lucidez de jogo dos alas Salvio e Gaitán, que, desta forma, acolitavam a preceito a tal grande esperança sérvia. Isto enquanto Lima, no eixo, se apresentava como a gazua para os casos mais bicudos. Porém, as várias tentativas, em especial protagonizadas por Gaitán, esbarraram mo muro defensivo contrário.
A 2ª parte foi outra história. E pouca teve pelas substituições (excessivas) levadas a cabo. O Peñarol mudou meia equipa, mas para pior, pelo menos no tocante à agressividade ofensiva. Os uruguaios praticamente abdicaram, neste período, de chegar à baliza de Artur, continuando, assim, o Benfica a usufruir de um maior domínio territorial, mesmo depois das também muitas alterações efectuadas.
Jorge Jesus acabou por substituir toda a gente, começando a dança ao quarto de hora, com a entrada em força da falange sérvia. Mitrovic rendeu Garay, enquanto Sulejmani e Djuricic entraram para o meio, passando este último a coordenar o jogo nas costas de Rodrigo, enquanto Markovic passou a actuar mais descaído na esquerda. Já a dupla titular de médios mais recuados (Matic e Enzo) deu lugar a Amorim e, depois, a André Gomes.
Como em geral acontece quando a mudança dos intérpretes atinge tais proporções, o fio de jogo baralha-se e a trama perde consistência. Foi isso que sucedeu, embora o Benfica tenha sido a equipa sempre mais virada para o ataque, merecendo destaque, nesta fase, um superior remate de Djuricic a que Castillo se opôs com uma grande defesa.
Em jeito de síntese, dir-se-á que o Benfica, com um meio-campo e um ataque que dão plenas garantias, tem apenas à retaguarda alguns aspectos que inspiram cuidados e que são, de resto, herdados da ápoca anterior. Mas no mais, tem reforços de grande qualidade, como são os casos sobretudo de Djuricic, Markovic e Sulejmani, a fazerem lembrar o melhor que a velha escola jugoslava lançou nos mais exigentes palcos, e, ao mesmo tempo, continua a poder contar com quase todo o plantel do ano passado. A questão é agora conjugar essas duas vertentes, uma tarefa que, apesar da dificuldade da escolha, não se afigura assim tão ingrata."

Sobre nomes dos clubes (II)

"Em Portugal há genéricos clubísticos para todos os gostos. Um dos mais frequentes é o de União (ainda aqui a influência do britânico United), umas vezes tratado no feminino como a União de Leiria, outras no masculino como o União de Lamas (ou da Madeira, que curiosamente não tem o nome da ilha no nome) ou ainda o caso que, embora referido no feminino, raramente é chamada de União (como a Oliveirense).
Depois há o Desportivo (das Aves ou de Chaves), Associação Desportiva, Lusitânia (Lourosa e Açores), Académica e Académico, Estrela (Amadora, Calheta, Vendas Novas), Recreio (Águeda), Ginásio (Alcobaça, Figueirense), 1.º Maio (Sarilhense, Naval e do Funchal, ainda que aqui sem o nome da cidade). Curioso é o Clube de Ponte de Sôr começar a designação por Eléctrico.
Um dos mais disseminados cá e lá fora é o Atlético. Além do Atlético Clube de Portugal, o Casa Pia Atlético Clube, o de Cacém, Malveira, Marinhense, Riachense, Valdavez e, no estrangeiro, o de Madrid e Blbau (ainda que aqui na variante basca do Athletic), o Osasuna, o Atlético Mineiro e o Paranaense no Brasil, ou incluído na designação completa do River Plate, Boca Juniors, Vélez Sarsfield na Argentina, do Peñarol no Uruguai, do Petro de Luanda ou do Panathinaikos na Grécia.
Também não faltam os clubes ligados ao mar: o Beira-Mar de Aveiro, o de Monte Gordo e o de Almada, o Marítimo do Funchal, o S. Félix da Marinha, o Mira-Mar, o Marinhense e o Marinhais. Ou, por via dos descobrimentos, o Vasco da Gama de Sines.
Por fim, há um clube que dá pelo nome da cidade precedida pelo artigo masculino: simplesmente O Elvas."

Bagão Félix, in A Bola