quinta-feira, 27 de junho de 2013

Em 104 jogadores haverá, certamente, um defesa-esquerdo

"Surandí chora por Lisandro Lopez. Mas chora mesmo? Beto abandona o Sporting e já pode, finalmente, ir para o Real Madrid

1. FOI o próprio Beto quem anunciou que estava de saída do Sporting por «razões pessoais». Beto jogou dez anos em Alvalade o que faz dele uma figura com importância no clube. Roberto Severo de seu nome verdadeiro fica conhecido por Beto para todo o sempre.
Espanta-me, aliás, como o antigo defesa central do Sporting foi na conversa de trocar um nome tão importante e romanesco como Roberto Severo por um diminutivo que, sendo muito respeitável, nada tem de singular.
Esclareça-se que o Benfica também teve o seu Beto, um brasileiro pouco dotado mas batalhador que durou duas épocas na Luz e que nunca caiu no goto dos adeptos, excepção feita a uma noite de Dezembro de 2005.
Num momento raro de inspiração, o nosso Beto acertou em cheio no pontapé e marcou o golo sensacional com que afastou o fabuloso Manchester United da Liga dos Campeões. Foi uma festa.
Quero eu com isto tudo dizer que há muitos Betos. E que há poucos Robertos Severos.
O Beto do Sporting teve a sua noiva negra num jogo com o Benfica do campeonato de 1998/1999. Fez dois autogolos, é obra.
Como o Benfica ganhou a partida precisamente por 2-1, imagine-se o impacto que o duplo infortúnio do defesa do Sporting causou em todos os segmentos da vida nacional nos dias que se seguiram ao derby. Já lá vão alguns anos.
Nem o presidente do Benfica à época se conteve como lhe competia. Pouco tempo depois do dito clássico, visitando os jogadores do Benfica num estágio da Selecção Nacional, Vale Azevedo cruzou-se com Beto, também ele convocado, e atirou-lhe com esta impiedade:
- Então como é que está o nosso goleador?
Foi um escândalo muito comentado no momento e o presidente do Benfica não se livrou de mil justas censuras pelo seu acto reflectido. Sim, reflectido.
Beto voltou a ser notícia no início desta semana quando tornou público o ponto final na sua relação com o Sporting. O ex-jogador desempenhou até à última segunda-feita as funções de director de relações públicas e internacionais. Foi suficientemente claro na sua breve alocução de despedida: «Esta decisão é da minha inteira responsabilidade», disse. Como quem diz que saiu porque quis.
Não resisto a partilhar o comentário de um amigo meu, João Gonçalves, benfiquista até mais não, quando se soube que Beto ia sair do Sporting.

- Pronto! Agora já pode ir finalmente para o Real Madrid!
Os mais novos provavelmente não se lembram mas durante defesos a fio, ano após ano, os jornais foram noticiando em maiores ou menores parangonas que Beto estava à beira de assinar pelo Real Madrid, o que nunca acabou por se verificar.

Vem tudo isto a propósito disso mesmo. Das notícias do defeso e do desfilar de nomes de jogadores a contratar pelos clubes, sendo que a resolução dos hipotéticos negócios está quase sempre presa por detalhes, pelo menos até ver.
Lisandro López, por exemplo, um defesa central argentino que o Benfica procura contratar que já contratou tem sido protagonista de mais uma novela de Verão. Durante três semanas a transferência esteve presa por detalhes causando natural apreensão nos adeptos, por experiência própria acostumados a reviravoltas de última hora.
Por isso o melhor sempre é esperar para ver Lisandro López chegar à Luz e começar a jogar o seu futebol. Dizem os adeptos do Arsenal de Sarandí nos desabafos de o ver partir que Lisandro López é um grande jogador.
Por norma, quando se trata de definir a competência ou mesmo a categoria de um jogador, acredito mais no coração dos adeptos a falar ao pé a boca do que nas radiografias técnico-tácticas dos especialistas todos juntos, incluindo os empresários da bola. Sendo parte interessada, não se lhes pode exigir imparcialidade sobre os produtos que colocam no mercado, não é verdade?

2. os adeptos falam por amor e não por interessar. E raramente falham nas suas apreciações porque sabem bem quem dos seus lhes deu alegrias. E o número de vezes também. Os adeptos contabilizam tudo e, por isso, são o único poço válido de informação.
A questão é que através das redes sociais e de sites do clube argentino, muitos foram os adeptos do Arsenal de Sarandí que lamentaram a saída do jogador tecendo-lhe os maiores elogios. Nem os vou transcrever para não dar galo. É que estas coisas, por muito que me custe admiti-lo, nem sempre são certas.
Querem um exemplo? Quando Xandão saiu do São Paulo para o Sporting, os adeptos paulistas festejaram o acontecimento sem dó nem piedade fazendo prever o pior para a carreira europeia do longilíneo defesa central em quem, decididamente, não acreditavam.
Muito espantados devem ter ficado os más-línguas paulistas, poucos meses depois, quando viram o mesmo Xandão marcar um golo de calcanhar ao Manchester City, uma habilidade que correu o mundo e ajudou o Sporting a afastar da Liga Europa o iminente campeão inglês de 2011/2012. E, nesse preciso instante de calcanhar, naquele raro segundo, lá se foi também por água-abaixo a minha teoria de que os adeptos é que percebem de futebol e de futebolistas. E nunca falham.
Conclui-se, com o devido respeito, que os adeptos às vezes falham e que há jogadores que às vezes acertam.
Julgo ter explicado este meu desinteresse metódico por notícias de contratações de jogadores no período do Verão. São muitos nomes, muitas caras, e uma pessoa, inevitavelmente, baralha-se. Até porque não podem vir todos. Ou podem?
Pelos vistos podem. Na sua manchete de terça-feira, A BOLA anunciava que Lisandro López, o tal que deixou os adeptos do Sarandí em lágrimas, é o 104.º jogador com contrato com o Benfica para além de 30 de Junho.
Que excelente notícia para a temporada que se aproxima. Em 104 jogadores haverá, certamente, um defesa-esquerdo.

3. JOSÉ ANTÓNIO CAMACHO foi despedido da selecção da China. É caso para se dizer que nem chegou a aquecer verdadeiramente o lugar, tal como aconteceu na sua funesta segunda passagem pelo Benfica.
As agências internacionais que veicularam a notícia acrescentaram o facto de o treinador espanhol não ter somado nenhum triunfo nacional ou internacional ao seu currículum desde a já distante temporada de 2003/2004 em que, no comando do Benfica, conquistou uma Taça de Portugal e logo numa final com o FC Porto que dali a poucos dias viria a sagrar-se campeão europeu em Gelsenkirchen.
Esta parte do e logo numa final com o FC Porto que dali a poucos dias viria a sagrar-se campeão europeu em Gelsenkirchen foi um acrescento meu, não constava do texto dos telegramas da agências noticiosas estrangeiras. Trata-se de uma questão de pormenores que só para nós, portugueses, se reveste de algum interesse.
Camacho é um tipo bastante simpático que passou pelo Benfica e pelo futebol português sem deixar rasto de animosidade de espécie alguma. Mas confesso que o que me impressiona não é o caso de Camacho não ganhar nada desde a final do Jamor de 2004. É um problema dele.
O que me impressiona é o caso de o Benfica não ganhar uma Taça de Portugal desde 2004 tendo apenas conseguido duas presenças em finais que perdeu, e muito justamente, para o Vitória Futebol Clube, em 2005, e para o Vitória Sport Clube, no mês passado.
No ano de Trapattoni, o Benfica perdeu a final da Taça para o Vitória de Setúbal depois de uma semana intensa de festejos pela conquista do título nacional.
Este ano, de novo no Jamor, o Benfica de Jorge jesus perdeu a Taça para o Vitória de Guimarães exactamente pela razão contrária, isto é, depois de uma semana depressiva assistindo aos festejos do campeão nacional FC Porto.
Falta meio-termo ao Benfica, é o que me parece."

Leonor Pinhão, in A Bola

162 lamentos

 " “Golo do Benfica! Marcou, com o número sete, Óscar….,Óscar…”
Este é o som que nos habituámos a ouvir, com frequência, na instalação sonora do Estádio da Luz. Este é o som que tem acompanhado os nossos principais momentos de euforia. Segundo a imprensa, é possível que não o voltemos a ouvir. Se muitos benfiquistas há que, com inteira justiça, lamentam a despedida de Aimar, permitir-me-ão que – caso venha a confirmar-se - lamente também eu a perda daquele que é, de longe, o maior goleador encarnado do Século XXI, e, seguramente, o jogador que mais vezes me fez levantar da cadeira ao longo dos últimos seis anos.
Cardozo marcou 162 golos vestindo o Manto Sagrado (quase 200, se contarmos jogos particulares). É, na minha modesta opinião, o melhor ponta-de-lança do Benfica desde os tempos de Magnusson. Aos 30 anos, será doloroso vê-lo partir por uma simples e fria cotação de mercado – valor substancialmente abaixo daquilo que já representa na história desportiva do nosso Clube, e da importância que ainda tem para a equipa.
Dir-me-ão que foi ele próprio a abrir a porta da saída. É verdade. Não é aceitável que um profissional desrespeite a figura do seu líder. Mas devo também dizer que, enquanto adepto sofredor, engulo com maior dificuldade imagens de atletas sorridentes e passivos na hora da derrota, do que reacções a quente de quem não gosta de perder – afinal de contas semelhantes às de muitos benfiquistas que, naquela tarde, se deslocaram ao Jamor.
Nunca tive contacto directo com um balneário de uma equipa profissional de futebol. Não sei até que ponto tal tipo de atitude é tolerada na escuridão dos bastidores. Ainda menos se ela foi meramente extemporânea, ou antes corolário de algo já latente. Em suma, não consigo avaliar, com rigor, a gravidade do caso.
Mesmo sabendo que nem Eusébio foi insubstituível, espero e desejo, porém, que sejam esgotadas todas as hipóteses de manter um jogador que, juntamente com Luisão e Maxi, é uma das grandes referências do Benfica dos novos tempos."

Luís Fialho, in O Benfica

Macacos chineses

"Há muita gente que não sabe onde fica Valongo. É perfeitamente natural, não é terra muito importante. Eu, por exemplo, sei bem melhor onde fica Valongo do Vouga, ali para as minhas berças, terra de gente de bem.
De há uns anos a esta parte, qualquer aglomerado de casas com dois prédios no meio e uma farmácia na esquina passou a ser cidade. Não fazia a mínima ideia que Valongo era cidade, como não fazia a mínima ideia de que Alfena era cidade (Alfena??? Logo Alfena???), embora desconfiasse que Ermesinde era cidade porque também de há uns anos a esta parte virou moda transformar todos os abortos suburbanos nascidos da ganância dos empreiteiros em cidades de Portugal. Enfim... Calculo que, tendo em conta a tal sabedoria popular tão endeusada por aqueles que são mais ou menos populares conforme as conveniências, Valongo (e Alfena, e Ermesinde e o Sobrado e todas as outras freguesias locais) seja uma terra de gente ordeira e hospitaleira que sabe receber quem a visita com a distinção devida.
Em redor de um rinque de Hóquei em Patins é que parece que a tal hospitalidade mais própria de hospital deixa de ser ordeira e passa a ser de hordas... Valongo não é caso virgem.
Os maus hábitos multiplicam-se, e este ano já vamos num nunca mais acabar de poucas vergonhas que não olham às modalidades que se disputam. Curiosamente, o talvez não, as tais poucas vergonhas têm tendência a arrumar-se geograficamente a norte do Douro, ou se não a norte, pelo menos nas imediações. Talvez porque lá, a polícia faça como os macacos chineses: não vêem, não ouvem, não falam. E os jornais também."

Afonso de Melo, in O Benfica

O defeso

"1. Tenho saudades dos tempos tem que os jogadores permaneciam praticamente toda a sua carreia no mesmo clube - e seu clube -, em que as equipas eram formadas quase exclusivamente por jogadores nacionais, me que não havia magnates russos, fundos mais ou menos obscuros, empresários gananciosos. Tempos em que o Futebol era mais puro.
Claro que não penso que seja possível regressar a essas épocas. Mas seria importante que a FIFA e a UEFA, bem como as federações nacionais, tentassem, pelo menos, 'moralizar' a situação actual. O 'fair-play' financeiro é importante mas muito insuficiente. Permitir que as equipas sejam maioritariamente compostas por jogadores estrangeiros é triste e ajuda a criar grandes diferenças entre clubes ricos e pobres. Em suma: muito haveria a ganhar se fosse possível 'moralizar' toda a situação. Mas, para isso, era preciso que todos os países quisessem e que a FIFA e a UEFA actuassem...

2. Estou na época em que leio as páginas de Futebol dos jornais desportivos em meia dúzia de minutos e nem ligo aos noticiários sobre a modalidade. Sei que têm chegado ao Benfica vários jogadores sérvios, uns para a equipa A, outros para a B, li com satisfação as declarações de Matic, dizendo que quer  ficar, também li que o Chelsea de Mourinho parece estar interessado nele, tenho lido (com pena) que Cardozo está mais lá do que cá. Mas não ligo. Neste caso (ainda mais que noutros), o que hoje é verdade amanhã é mentira e vice-versa. Custa-me ver sair os melhores jogadores (mas reconheço que é impossível mantê-los no Futebol actual) e não me entusiasmam as dezenas de nomes anunciados como grandes reforços. E já perdi a esperança de ver os nossos Juvenis e Juniores de hoje como os nossos Seniores de amanhã. Prometem muito mas, depois, acabam por perder-se em clubes secundários, por cá ou no estrangeiro. É o Futebol que temos hoje.

3. O que vale é que, quando a bola começa a rolar e os campeonatos se iniciam, esquecemos tudo, voltamos a sofrer pelo nosso Benfica e a entusiasmarmo-nos com as nossas vitórias."

Arons de Carvalho, in O Benfica