sexta-feira, 14 de junho de 2013

Salazaritos

"Cerrando-se o pano sobre mais uma época do Futebol português, reina a ordem em todo o País. Estamos habituados a esta ordem desde que os Senhores do Sistema ganhem. Quando não ganham, reina a desordem, voam pedras, afiam-se facas, lançam-se boatos, levantam-se falsos testemunhos, espalham-se suspeições. Assim funciona a lei dos Salazaritos. Obscuros e infames. Antigamente, havia uma voz que gritava: «Quem manda?» E, obedientes, as outras respondiam: «Salazar! Salazar! Salazar!»
Agora não faz falta nem a voz nem a obediência. Todos sabemos quem manda. Todos sabemos a quem eles obedecem.
Ainda há alguns que falam, que lutam, que recusam o silêncio. Ah! O silêncio... Lembram-se: «A uns convinha que falasse. A outros haveria de convir mais o silêncio que só a morte poderia com segurança guardar». A voz, tremida e metálica, ainda fere os ouvidos da gente de bem. E a ameaça velada, sobretudo a ameaça. Reina a ordem em todo o País e o silêncio também. prepara-se a festa canalha na Assembleia Prostituinte e tudo parece estar bem quando acaba bem. Isto é, ganhando aqueles que é suposto ganharem, perdendo aqueles que é suposto perderem. Já ninguém pergunta: «Quem manda?» Todos sabemos quem manda e todos sabemos os nomes dos seus lacaios. Reina a ordem em todo o País...

P.S. - José apresenta-se e diz: «Sou como os descobridores portugueses...» Não sei se Vasco da Gama ganhava 16 milhões por ano, mas tenho a certeza do que o ridículo não mata."

Afonso de Melo, in O Benfica

1.º dia do Europeu de Canoagem

Podia ter corrido melhor o 1.º dia do Europeu de Canoagem, que está a decorrer na Pista de Montemor-o-Velho.
O João Ribeiro, fazendo parte da tripulação do K4 nacional, conseguiu a qualificação directa para a Final do K4 100m, numa prova onde os portugueses saíram muito rápidos, lideraram quase toda a prova, e no final controlando o esforço (aparentemente), conseguiram o 3.º lugar, que nos deu o direito a disputar a Final.
As nossa meninas, Teresa Portela e Joana Vasconcelos, não conseguiram a qualificação para a Final no K2 500m, tanto nas Meias. como na repescagem, ficámos longe... é certo que as provas dos 200m é onde a dupla é mais forte, mas...

O FC Porto perdeu

"Jorge Jesus renovou com o Benfica, a despeito de uma temporada que fica marcada pela negativa na sua fase terminal, de resto a mais dolorosa de que há memória no historial centenário do Benfica. Às vezes, no Futebol, ganha-se milagrosamente; outras vezes, perde-se... milagrosamente. Foi o que aconteceu no Campeonato, dado por sumido, de forma irremediável, pelo nosso principal antagonista.
Vítor Pereira, técnico bicampeão do FC Porto, sem surpresa, recebeu guia de marcha, já substituído pelo treinador que guindou, de forma competente e não menos imprevista, o Paços de Ferreira à Champions, justamente o mesmo adversário que o FC Porto defrontou na derradeira e decisiva jornada da competição. Mera coincidência...
Só que Paulo Fonseca entra no Dragão como segunda escolha. A primeira era Jorge Jesus. Ainda a temporada decorria, ainda as contas não estavam saldadas, já cantos de sereia foram dirigidos ao responsável técnico do Benfica, oriundos da capital nortenha. O FC Porto queria Jesus, fez tudo para recrutá-lo, acenou-lhe com um contrato fabuloso. O fito, mais uma vez, era embaraçar o Benfica e desferir um golpe na auto-estima vermelha. Jesus não foi, Jesus ficou.
Mesmo com a contestação de alguns adeptos, sobretudo após a perda da Taça de Portugal, o treinador manteve-se fiel ao que supostamente terá apalavrado com o presidente do Clube.
Conclusão? O FC Porto perdeu. Só falta mesmo que o Benfica, na próxima temporada, saboreie a vitória. Mas no campo, não nos sombrios, nos infaustos corredores da peguilha, da confusão, da promiscuidade."

João Malheiro, in O Benfica

Paulo Fonseca é escolha acertada

"Definida que foi a renovação com Jorge Jesus sabemos aquilo que podemos esperar. Temos como certo que vamos jogar bem (jogámos quase sempre bem no consulado Jorge Jesus), temos por adquirido que o nosso futebol será bonito, mas ficamos com esperança de ganhar ainda mais vezes. O Benfica precisa de títulos. O Benfica quer mais títulos. Quais? Todos, de preferência. Jorge Jesus é dos primeiros a ter esta consciência e vontade.
Esta semana foi pontuada com várias contratações, a Sérvia parece ser a proveniência de eleição, nada contra, os sérvios são genericamente desportistas com garra, habilidade e muito competitivos (em todos os desportos). Há até um simpatizante do Benfica a liderar o ranking ATP do ténis mundial, e é sérvio. O melhor jogador encarnado na presente época foi um sérvio, mas quanto aos que chegaram só quando os vir jogar, não é o dia da apresentação o que mais me motiva.
As contratações são sempre incertas. Nas saídas há uma despedida obrigatória. Ver Pablo Aimar jogar foi um gosto, ver Pablo Aimar jogar com a camisola do Benfica foi um orgulho. Dos míticos jogadores que vestiram a nossa, Aimar estará para sempre nos escassos números dos mágicos, dos que inebriam, dos que já mais nos esqueceremos. Um dia gostaria de poder dizer aos meus netos: «Mas eu vi Pablo Aimar jogar no Benfica». Aimar foi um exemplo como jogador, exemplo desde o dia em que chegou até ao dia em que partiu. Deixa saudades, deixa um legado e deixa um exemplo.
Não sei se o FC Porto queria Jorge Jesus, não sei se é verdade que o Sporting se antecipou na contratação de Leonardo Jardim, não sei quais os detalhes que faltaram para Mano Menezes ser o treinador azul e branco, mas sei que a escolha de Paulo Fonseca é muito acertada. O futebol que defende, a forma como jogam as suas equipas dá gosto ver. Apostaria que para os seus adeptos será melhor que Vítor Pereira. Uma boa escolha."

Sílvio Cervan, in A Bola

História e historietas

"1. Por motivos de força maior, na semana passada não me foi possível partilhar este espaço com os estimados leitores. Nunca é tarde, porém, para relembrar, e enaltecer, a extraordinária conquista da Liga Europeia de Hóquei em Patins, ocorrida há quase quinze dias, mas ainda bem presente na nossa memória, e no nosso orgulho.
Tratou-se, porventura, do momento mais alto e significativo em mais de um século de ecletismo benfiquista. É verdade que também comemorámos um título europeu de Futsal, mas em Lisboa. É verdade que Nélson Évora foi Campeão Olímpico, mas vestindo as cores do País. No caso do Hóquei, fomos Campeões contra todas as circunstâncias, contra todas as adversidades, contra todas as previsões, e em pleno reconto do nosso grande rival, numa histórica Final entre clubes portugueses.
Tudo estava devidamente preparado para outros festejarem. Mas fomos nós, com crença, e, direi mesmo, com heroísmo, que trouxemos um troféu que ainda não constava na vasta colecção 'encarnada'. Por variadíssimas razões, nunca esquecerei esta vitória, que leva o Benfica ao topo da Europa, numa modalidade que me é tão querida.

2. As últimas semanas foram também marcadas por definições no comando técnico das principais equipas portuguesas de Futebol. No Benfica, saúde-se a coragem de Luís Filipe Vieira ao reconduzir um treinador que nada venceu, mas que tão bem trabalhou a equipa, e tão perto nos deixou da glória. É este o caminho certo, e não aquele para o qual certa comunicação social, sem pingo de inocência, nos queria empurrar. No FC Porto, anote-se a contratação do treinador que orientou o respectivo adversário, na partida que decidiu o título nacional. A tal, some-se a disponibilização do estádio a esse mesmo clube para os jogos internacionais, e a contratação de (pelo menos) um dos seus principais jogadores. Não são insinuações. São factos, que cada um poderá interpretar como muito bem entender. Espero, contudo, que, depois disto, não venham mais falar-nos de Jardéis ou Djaninys."

Luís Fialho, in O Benfica

A nossa Catedral

"1. Muito agradável o Portugal-Rússia de apuramento para o Mundial. Não só pela vitória portuguesa mas também pela forma como a equipa jogou - com grande determinação - e o público apoiou. Foi uma festa... só possível no nosso Estádio, onde couberam mais de 54 mil espectadores. Felizmente, agora, os tempos são outros e a Federação distribui os jogos da selecção nacional pelos vários estádios, consoante a importância dos jogos. Ao ver aquela festa, não deixei, mais uma vez de recordar que apenas 17 anos depois da sua inauguração, o nosso antigo Estádio da Luz, de longe o maior do País, foi pela primeira vez utilizando em jogos da Selecção, enquanto os estádios do Sporting, FC Porto e Belenenses a receberam várias vezes. E isso nas décadas de 50 e 60, quando a maioria dos jogadores da Selecção era do Benfica! E ainda dizem que o Benfica era o Clube do antigo regime...

2. João Moutinho: 'Já fui do Benfica, depois cresci.' Ainda bem que mudou, digo eu. Não queremos como benfiquistas quem tão tristes exemplos tem dado. Acarinhado no Sporting, onde fez grande parte da Formação, fez tudo para sair, com a 'ajuda' do FC Porto, que o foi seduzindo quando ele ainda tinha contrato com o clube de Alvalade. Saiu como 'maça podre'. Agora, diz-se portista desde pequeno, ou quase...

3. Finalmente, surgem no Sporting dirigentes que não se subjugam aos do FC Porto e defendem os interesses do seu clube, não tendo medo de, face à 'habilidade' feita com o transferência de João Moutinho e aos insultos de um vice-presidente portista ao presidente do Sporting, cessarem as relações com a Direcção de Pinto da Costa. Este, para já, está em silêncio mas não tardará muito que tente um gesto de simpatia para com o Sporting. Não lhe interessa mesmo nada ter contra si os dois grandes de Lisboa e o seu verdadeiro problema é mesmo o Benfica...

4. Depois do título europeu de Hóquei em Patins e dos títulos nacionais de Voleibol e Basquetebol, agora foi a vez do Atletismo se sagrar Campeão Nacional pelo terceiro ano consecutivo. O Sporting deu boa réplica, mas o Benfica demonstrou a sua superioridade, ganhando com sete pontos de vantagem. No sector feminino, o Sporting é ainda superior, mas a diferença vai diminuindo ano a ano: 44 pontos em 2011, 37 em 2012, 19 agora. Vamos aguardar..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Pablito

"Sabemos que, nos dias que correm, é cada vez mais difícil traçar os limites da obra de arte. Aceitamos que um objecto não é uma obra de arte que se esgote em si e que a obra de arte transcende o objecto.
O nosso Pablito entrava em campo e todos éramos colocados diante da promessa do desconhecido, do nunca visto, do imprevisível, do incompreensível para quem espartilha o futebol na mediania do diminutivo, do “certinho”. Nas bancadas competia-nos decifrar e compreender a arte assinada pelo nosso Pablito. Ver Aimar a jogar foi ver a possibilidade de observar como a criação artística ultrapassa o objecto artístico. Para nós, na bancada, a assinatura da “obra de arte” dizia apenas Pablito.
Aimar é o nome que fica na história, nos registos escritos. Pablito é o nome dado nas bancadas, nas conversas entre os que, durante cinco anos, tiveram o privilégio de o ver com o “manto sagrado” do Benfica. Aimar é o nome que aparece no placard dos estádios e nas fichas de jogo. Pablito é o nome com que a bancada respondia ao sorriso franco com que concluía a sua participação no jogo. Só quem viu jogar o Pablito pode perceber que, apesar de a bola ser redonda, só alguns a conseguem repetidamente fazer sair redonda dos seus pés. Pablito foi durante cinco anos o maestro com a função de harmonizar o caos. Sucedeu ao nosso Rui Costa, irmanando-se os dois nessa arte suprema que é a de serem individualmente os melhores, exactamente porque eram os que melhor serviam as individualidades que tinham o privilégio de jogar com eles.
Para nós, na bancada, aquele número 10 chamado Pablito foi um dos nossos, um dos benfiquistas. E os nossos ficam sempre connosco."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Chuva de milhões no futebol europeu

"Para onde quer que nos viremos, só se fala em milhões. Ainda ontem, folheando os jornais, ficávamos a saber que o FMI libertou nova tranche de 657 milhões de euros, o Tribunal de Contas recusou visto a 1900 milhões em contratos, o Estado português tem 11 mil milhões no banco e o crédito malparado de famílias e empresas portuguesas vai em 16,57 mil milhões.
Se calhar por estarmos, de certa forma, anestesiados pelos valores que nos são diariamente apresentados, não estamos a levar em devida conta o fenómeno que está a mudar a face do futebol no Velho Continente e que tem como protagonistas os seguidores de Roman Abramovich (Chelsea). São eles, chamando para aqui apenas os de maior relevo, Dmitry Rybolovlev (AS Mónaco), Mansour bin Zayed Al Nahyan (Manchester City), e Tamin bin Haman al-Thani (PSG). Com meios quase ilimitados, alguns dos homens mais ricos do planeta estão a criar uma realidade virtual que, para já, inflacionou preços e fez disparar o mercado de transferências. O Mónaco, depois de Falcao, Moutinho e James Rodriguez está de mira assestada em Cristiano Ronaldo, por uma bagatela (para começo de conversa, 100 milhões...); o PSG, ciumento, aponta a Gareth Bale e a verba referida também é de 100 milhões; o Chelsea vai dar a Mourinho o que o happy one pedir; e o Manchester City também vai abrir os cordões à bolsa para reconquistar o ceptro inglês. Perante isto, os clubes que mais riqueza geram no Mundo - Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Bayern de Munique - vêem a sua (sustentada) hegemonia ameaçada por sugar daddies que não há fair play financeiro que detenha.
E os clubes portugueses? Comprar barato, valorizar e vender caro. É a única via..."

José Manuel Delgado, in A Bola