sexta-feira, 7 de junho de 2013

Hospitalidades...

"Mais uma vez, a ordeira e hospitaleira gente do Porto assombrou o País (e até o estrangeiro) com a sua arte de bem receber. Não importa a modalidade, não importam os intervenientes: calorosos, dedicam ameaças a quem os visita; esforçados, procuram agredir quem, por infelicidade dos calendários das provas desportivas, é obrigado a visitá-los. Não escolhem idades: tanto se insulta um provecto senhor de 90 anos que deseje comprar um bilhete para o Hóquei em Patins como se pontapeia um jovem de 16 que tenha tomado a hedionda decisão de se dedicar ao Futebol em defesa de um emblema que não aquele que há mais de 30 anos se dedica impunemente a estas porcarias. A autoridade, do alto da sua intocável autoridade, autoriza.
Há um lugar em Portugal onde vale tudo! Mas tudo! As leis da República não se aplicam. Os ditames da civilização são desconhecidos. Regras básicas da educação e da urbanidade não fazem qualquer sentido. 
Medrosos, aqueles que no seu íntimo vituperam estes comportamentos, calam-se, ignoram, viram a cara para o lado. Tudo em nome da boa vizinhança, com certeza. Se o resto do País aponta, acusa, exige medidas, erguem-se na sua pastosa imbecilidade os anti-magrebinos, copiadores de livros, enxundiosos infectos, baladeiros cretinos, exigindo o direito à liberdade de insultar e agredir e à qual chamam princípios básicos do regionalismo.
Até quando continuaremos a aceitar passivamente esta nação sem lei que põe em causa todo um Estado de Direito? Até quando aguentaremos o nojo sem resistir ao vómito? Respondam vocês que eu já não sei."

Afonso de Melo, in O Benfica

O renascimento do Benfica

"No último domingo, sentimos a vantagem de sermos adeptos de um grande clube desportivo e não apenas de uma equipa de futebol. Ainda mal refeitos de uma ressaca difícil, que teve no Jamor um dos últimos episódios onde parecia que o mundo acabava, e sentimos até que podia não haver amanhã, o Benfica conseguiu no último domingo uma conquista única na substância e na forma. O Benfica tem este encanto. Consegue mais depressa que a fénix renascer, e trazer a luz da alegria aos seus adeptos. Poucos, talvez Barcelona, Flamengo e pouco mais, são os que conseguem ser tão competitivamente eclécticos. Ganhar sempre é impossível. Tentar ganhar sempre é obrigatório.
O FC Porto, que muito já fez pelo hóquei em patins português, conseguiu no último domingo uma das suas páginas mais notáveis, ao organizar uma prova que permitiu duas décadas depois o regresso a Portugal do título de campeão europeu de hóquei em patins para o Benfica. Vencer o poderoso Barcelona e o rival em sua própria casa fazem desta conquista um feito ímpar. Ser campeão europeu era muito difícil, desta forma era quase impensável. Parabéns a Luís Sénica e aos seus jogadores, mas também a Luís Filipe Vieira e a Domingos Almeida Lima, meus colegas que tudo fizeram para que no domingo o Benfica entrasse no rinque e vencesse. Queria deixar o sublinhado de uma postura no Desporto em que Domingos Almeida Lima acredita, a correcção e o fair play são o único caminho que o Benfica pode seguir. Será assim que temos de vencer. Os heróis que estiveram no Dragão Caixa são parte da história viva do clube.
Nessa mesma manhã, os juvenis de futebol haviam ganho o título de campeão nacional no Olival, o jogo acabou de forma lamentável e ainda assim houve a serenidade de manter o trilho para conquistar o mais importante título do hóquei para as nossas vitrinas, sem provocações ou incidentes. Pior que perder em casa do rival um título nacional dois minutos depois da hora, deve ser perder para o rival na sua própria casa um título europeu três minutos depois da hora."

Sílvio Cervan, in A Bola

Triunfo exemplar

"1. O nosso título europeu de Hóquei em Patins (finalmente!) não apaga as mágoas da azarenta época do Futebol - continuo a pensar que, Taça de Portugal à parte, foi (muito) mais azar que falhanço. Mas soube muito bem aquela vitória no Dragão, para mais depois de tudo quanto se passou no sábado (e ainda no domingo os adeptos do Benfica apenas puderam entrar depois do intervalo!...). Foi uma vitória que fica na história (gloriosa) do nosso Hóquei em Patins.
Vitória que se juntou ao título nacional de Juvenis em Futebol (depois do título de Juniores), também alcançado no campo do FC Porto e que teve um final muito triste, já que a equipa da casa não soube perder.
Curiosamente, Pinto da Costa, que no sábado já dizia que o seu clube iria ser novamente campeão europeu, 'desapareceu' de cena no domingo, após a derrota.

2. A semana passada ficou marcada pela dúvida relativamente ao treinador: Jorge Jesus fica ou não? Ouvi vários benfiquistas e opiniões bem divididas. E até houve quem estivesse contra Jesus no dia a seguir à Final da Taça e já o admitisse como melhor solução um ou dois dias depois. Da mesma forma que muitos daqueles que o assobiaram naquele domingo fatídico o haviam incentivado a ficar uns dias antes. É sempre assim. Com a cabeça quente não se decide bem. E, como disse há uma semana, quem lá está dentro e acompanha o dia-a-dia do Clube está em muito melhores condições para decidir, pois tem dados que o simples adepto não possui. No dia em que escrevo, é certa a continuação de Jorge Jesus. Não sei em que condições mas espero que valorizando mais os prémios e menos o montante mensal a pagar, que parecia manifestamente exagerado.

3. Ao longo de toda a semana, a decisão quanto ao futuro treinador do Benfica foi assunto de 1.ª página: Jesus fica, Jesus não fica, quem lhe poderá suceder, as 'divisões' no interior da SAD quanto à continuidade do treinador. Curiosamente, ao mesmo tempo, o FC Porto (ou Pinto da Costa?) também ainda não tinha treinador (parece que estava à espera de resposta de Vítor Pereira!...) e os jornais nada especulavam sobre o assunto. Dias houve em que nem uma linha foi escrita. Porquê?"

Arons de Carvalho, in O Benfica

Sticada no infortúnio

"O gigantesco mar vermelho já revela águas mais serenas. Depois de duas semanas quase traumáticas, ine´ditas num historial centenário, o universo benfiquista, ainda que sem se demitir de apreciações críticas, como que parece serenar, digerida a desventura e projectado o futuro imediato. Neste período, a serenidade pública revelada pelo presidente Luís Filipe Vieira concorreu, em larga medida, para transmitir sinais de confiança aos adeptos, reconhecidamente agastados com um final de temporada futebolística que redundou num imprevisto suplício.
No pretérito final de semana, a conquista do Nacional de Juvenis, depois de garantido também o Campeonato de Juniores, para mais consolidado do reduto do FCP, ironicamente no derradeiro minuto da contenda, transmitiu motivos de ampla satisfação aos nossos aficionados. A esse propósito, valerá a pena perceber o crescimento do Futebol Juvenil 'encarnado' nos últimos tempos, ao ponto de já não apenas rivalizar, antes superar, a tão propalada academia leonina e esmagar o congénere sector portista, impotente para atingir títulos e para catapultar jovens futebolistas a patamares de consagração.
Mas foi no Hóquei patinado que veio a nota de maior saliência. O título europeu, garantido no cadoz do FCP, esse que estava pintado com as cores da sobranceria e da arrogância, exibiu um magnífico Benfica, justo vencedor, pela primeira vez na posse do principal título europeu de ma modalidade tão estimada pelos portugueses. Foi mesmo uma sticada cirúrgica na descrença, só pode ser ainda uma amostra de novas e grandíloquas sensações vitoriosas."

João Malheiro, in O Benfica

Aquela stickada

"Umas semanas antes, naquele mesmo pavilhão, os nossos haviam sido insultados por uma turba ululante que distingue o momento da vitória do momento da derrota pela dose de insultos utilizados. Um dia antes, naquele mesmo pavilhão, os nossos viram o rinque invadido por um punhado de criminosos que, impunemente, perseguiram e agrediram benfiquistas que apenas queriam ver uma meia-final europeia entre o Benfica e o Barcelona. Poucas horas antes, os responsáveis do nosso Benfica viram-se obrigados a anunciar medidas drásticas para que nos garantissem coisas tão simples como segurança para os adeptos e atletas benfiquistas.
Ou seja, teve de se chegar a medidas extremas para que se conseguisse aquela coisa extraordinária de se cumprir a lei naquele pavilhão. Depois, num ambiente infernalmente hostil, mas com árbitros estrangeiros, jogou-se hóquei em patins de forma honesta, e foi quanto bastou para que, naturalmente, tenha acontecido Benfica. Naquela stickada do Diogo Rafael estava uma vitória na Taça dos Clubes Campeões Europeus de hóquei, frente a um adversário que jogava na sua própria casa. Naquela stickada épica, do meio do rinque, estava uma vitória do Benfica, à Benfica, de forma limpa e inequívoca. Simbolicamente conquistada no mesmo pavilhão em que, no ano passado, a nossa equipa de basquetebol conquistou o campeonato nacional. Naquela stickada estava a percepção de que aquela vitória começara a nascer na vontade indómita de provar que não há que temer tigres de papel.
Naquela stickada estava a certeza de que o caminho do Benfica só pode ser este: nunca dobrar nem vergar perante os que fazem do desporto um espaço de violência, ameaças e corrupção. Ou seja, naquela stickada está bem mais do que um merecido e justo título de Campeões Europeus."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica