terça-feira, 4 de junho de 2013

Renovação e recado...


É oficial, Jesus renovou por 2 anos. Acho que a renovação deveria ter ficado no papel a meio da época, tinha-se poupado muitas perguntas... Em momento algum, deixei de defender esta decisão, inclusive à saída do Jamor, quando era audível a raiva nas palavras dos Benfiquistas pelo cruel desfecho da época.
Dito isto, quero fazer uma declaração de interesses:
O Jesus é neste momento o melhor treinador para o Benfica, mas não está numa posição de fazer muitas exigências. A ser verdade, as notícias sobre a vontade do Jesus em não ter o Cardozo no plantel, é bom que alguém da Direcção do Benfica, lhe diga, que a decisão sobre a formação do plantel é da Direcção e não do treinador. E muito menos do empresário do jogador: talvez o mais irritante que tenho memória!!!
Como eu já escrevi, e tal como o próprio Jesus afirmou no final da partida do Jamor, estas situações desagradáveis, com os jogadores de cabeça quente, podem acontecer, e têm que ser relativizadas. Principalmente quando envolvem jogadores, que já deram provas de pouca inteligência nas reacções em público, algo que o Cardozo já nos habituou. Mas ele é jogador do Benfica, porque marca golos, ninguém lhe exige um curso de boas maneiras...
O pedido de desculpas em público já foi feito, falta um pedido de desculpas em privado ao Jesus e ao André, e um pedido de desculpas perante o resto do plantel... Uma multa pesada. E o problema está resolvido.
Com a publicação desta suposta noticia, mesmo sendo verdadeira, enfraquece a posição negocial do Benfica. Portanto, um desmentido oficial, não ficava nada mal...
O Tacuara pode ter muitos defeitos, mas marca golos. O Benfica, nesta altura do 'campeonato' não pode estar aberto a experiências... O mercado é caro, o dinheiro não abunda, e os jogadores que fazem aquilo que o Cardozo faz, estão quase todos fora do nosso alcance...
Se alguém pensa (treinador incluído) que o Lima ou o Rodrigo podem substituir o Cardozo, estão redondamente enganados. O própria Lima marcou grande parte dos seus golos, com o Cardozo ao seu lado. Quando o Lima jogou sozinho na frente (ou com o Rodrigo), teve um rendimento muito inferior. E nem o Nelson Oliveira, nem o Rodrigo Mora, nem o Jara são opções válidas...
O ideal mesmo, seria contratar um avançado 'parecido' com o Cardozo (terá que ser um jovem, porque os consagrados estão fora do alcance da nossa bolsa), alto, possante, mais rápido, e principalmente com faro de golo (Zapata, Alex Mitrovic por exemplo!!!), manter o Tacuara, e ir dando minutos ao mais jovem...

Glória ao Futebol moderno

"No dia 15 de Junho de 1952, Benfica e Sporting foram intérpretes da que terá sido a mais emocionante Final da história da Taça de Portugal. 5-4 foi o resultado. Rogério «Pipi» resolveu o encontro no último minuto...

Regressemos ao Jamor. Não para resolver os confetis da festa recente do Vitória de Guimarães, que tanto doeu na alma benfiquista, mas para retomar a recordação daquele quádrupla vitória na Taça de Portugal, com o intervalo de uma época pelo meio, precisamente a de 1949/50, ano em que por se ter disputado em Lisboa a Taça Latina não houve lugar à habitual festa da Taça.
Vimos, na passada semana, como o Benfica destroçara a Académica do Dr. Bentes, o «Rato Atómico», por expressivos 5-1, com quatro golos de Rogério «Pipi». Foi a primeira vitória das três consecutivas após o tal interregno de 1950. Seguir-se-iam duas finais contra rivais de estadão, aqueles que mais marcam a história do Clube da Luz: Sporting e FC Porto. E assim mesmo, por esta ordem.
No dia 15 de Junho de 1952, o Estádio Nacional engalanou-se para uma Final a cheirar bem, a cheirar a Lisboa, entre Benfica e Sporting. Jogo de estalo! E não adivinhavam os adeptos de ambos os clubes que demandaram o Vale do Jamor naquela tarde o espectáculo emocionante a que iriam assistir. Chamaram-lhe «A Apoteose do Jamor». E ia assim, linha a linha: «Quando, ao faltar um minuto para acabar o maravilhoso conto do Jamor, uma história fantástica e emocionante do Futebol português, Rogério marcou a 5.ª bola em remate feliz, roçando o poste, e depois desmaiava na alegria do feito e da vitória, o Benfica conquistara a Taça de Portugal na Final mais rica de que há memória, mas o grande triunfador era verdadeiramente o Futebol, tanto na expressão benfica como sportingue, que nos dera a melhor Final de todos os tempos!»
Ah! Palavras ufanas, cheias de entusiasmo. E não era para menos. Esse mesmo Rogério, o Rogério Lantres de Carvalho, o Rogério «Pipi» como ficou popularmente conhecido, que ao minuto 43, desperdiçara um penálti, fechava um 5-4 as contas de um dérbi excepcional que manteve os olhos dos milhares e milhares de espectadores que enchiam as bancadas do Estádio Nacional presos a todo aquele teatro trágico que se desenrolava sobre o relvado.

Arte e harmonia
O marcador, foi, ao longo dos 90 minutos, saltando de um lado para o outro, provocando os nervos e os histerismos ora destes ora daqueles, sempre sem que ninguém fosse capaz de antever para que lado o resultado iria cair. Reparem: 0-1 por Albano, de penálti, aos 9 minutos; 1-1 por Rogério, de penálti, aos 23 minutos; 2-1 por Corona, aos 49 minutos; 2-2 por Rola, aos 51 minutos; 2-3 por Martins, aos 56 minutos; 3-3 por Rogério, aos 69 minutos; 3-4 por Rola, aos 71 minutos; 4-4 por José Águas, aos 73 minutos; 5-4 por Rogério, aos 89 minutos. UFA! Só escrever já cansa, quanto mais jogar...
Tavares da Silva, grande jornalista do seu tempo, que chegou a ser Seleccionador Nacional, desenrolou no «Diário de Lisboa» uma prosa brilhante sobre este encontro e que começava, precisamente, com as linhas que mais acima reproduzimos. E vale a pena dar-vos a conhecer mais alguns dos adjectivos com que o célebre colunista pintalgou a final do Jamor de 1952. Aproveitem.
«A todos os títulos, a Final da Taça de 1951/52 representou uma lata expressão de Futebol moderno, de uma velocidade outrora desconhecida e de movimentação sintonizada, com espaço suficiente para as manobras individuais, empenhando-se os jogadores exclusivamente nas boas normas do fair-play. O desafio teve interesse, graça, animação e ansiedade! Viram-se, na base da referida movimentação e velocidade, golpes estupendos de arte e harmonia, atitudes escultóricas, figuras acrobáticas, todo um mundo de riqueza no campo desportivo! (...) Os dois mais famosos grupos portugueses contaram-nos, no Jamor, uma bela história que, daqui a tempos, quando se falar ou relembrar as grandes manifestações do Futebol português, será sempre recordada: - Ali, no Vale do Jamor, uma vez, em fim de época de 1952, assistimos a uma Final da Taça como nunca tínhamos visto e não mais pelos tempos fora havíamos de ver...»
Para nós, os outro, os que não vimos, resta a memória indelével das palavras escritas."

Afonso de Melo, in O Benfica 

Para quando, a palhaçada?

"Já haverá data marcada? E ementa? Que irão os nossos tão bem pagos quanto mal empregues deputados oferecer no almoço de subserviência àquele senhor que acha, por exemplo, que o Ministério Público é a PIDE dos novos tempos?
Não seria de bom tom convidar para o almocinho da ordem um dois representantes do dito Ministério Público?
Excitado, o hemiciclo já se vai rindo, antecipadamente, das piadolas brejeiras, dos insultos baratos, das casquinadas e dos flatos...
Afinal, ele e os amigos mais próximos tratam-se distintamente por «filhos da puta» (sic), expressão que o povo, na sua tal infinita sabedoria (a meu ver ainda por comprovar), utiliza com frequência para brindar os políticos, sejam eles ou não deputados pela nação.
Para quando, portanto, a palhaçada do costume?
O dia 7 de Junho seria, certamente, um belo dia para que a Assembleia Constituinte abrisse as suas portas de par em par para receber afectuosamente aquele senhor que gostava de ver Lisboa e arder, e com ela, presume-se, a dita Assembleia.
Encheriam todos a pança alarvemente, diriam porcarias e piadas obscenas, soltariam gases enquanto distribuíam palmadas nas omoplatas (chamando-se, presume-se, nomes uns aos outros e às suas respectivas mães), e depois poderiam ver o jogo da Selecção Nacional contra a Rússia.
Em caso de derrota portuguesa, o tal senhor abriria uma garrafa de champanhe. Parece que a isso está habituado..."

Afonso de Melo, in O Benfica