quinta-feira, 23 de maio de 2013

91 minutos à Benfica

"Tenho para mim que enquanto esta geração de árbitros do apito dourado se mantiver de pé até ao último homem, o Benfica só ganha um campeonato de cinco em cinco anos.

TENHO dado por mim a pensar com alguma frequência numa certa coisa. Precisamente nisto: no futuro, mais ou menos próximo e traga ele o que trouxer, como recordarão benfiquistas esta época de 2012/2013? 
Calma. Escusam de me vir lembrar, pressurosamente, que ainda falta a final da Taça de Portugal. Eu sei. É já no próximo domingo à tarde no Jamor, como manda a tradição.
O Benfica vai jogar a sua última final da época com o Vitória de Guimarães de Rui Vitória. Só dizer isto, o Vitória de Guimarães de Rui Vitória é, podem crer, expressão franca de elogio ao trabalho de um treinador que fez renascer a alma vimaranense para as emoções maiores do futebol.
Para cúmulo chama-se, ele próprio, Vitória de apelido.
Nos momentos de maior pessimismo que, inevitavelmente, se seguiram e se continuam a seguir aos injustos desaires no campeonato nacional e na Liga Europa tem havido ocasiões em que até o apelido do treinador do Vitória de Guimarães me causa, confesso, calafrios.
E nem é preciso dar grandes largas à imaginação. Basta só deitar-me a imaginar o dia seguinte, em caso de vitória do Vitória de Rui Vitória, e as grandes parangonas nas primeiras páginas dos jornais com VITÓRIA & VITÓRIA em letras garrafais sobre um fundo de festivos papelotes brancos e pretos, as cores de Guimarães no que ao futebol diz respeito.
Esqueçamo-nos por momentos da final da Taça de Portugal. Até porque já sabemos o que nos espera. Se o Benfica a ganhar, como espero que aconteça, com todo o respeito pelo Vitória de Guimarães, os nossos rivais vão imediatamente desvalorizar o troféu porque é do seu interesse acentuar e pôr toda a tónica na desdita que nos caiu em cima nos jogos com o Estoril, com o FC Porto e com o Chelsea (por esta ordem). 
Se o Benfica ganhar a Taça de Portugal, coitada da Taça de Portugal, lá se vão os pergaminhos da vetusta competição que, na retórica, passa a ter menos importância do que a Taça da Liga num abrir e fechar de olhos. A acontecer, não se enervem benfiquistas. Seria precisamente o que faríamos, sem dó nem piedade, aos nossos rivais passassem eles por semelhantes tormentos.
Se o Vitória de Guimarães sair vencedor do Jamor, também já sabem o que nos espera, não é verdade? A Taça de Portugal é promovida a Liga dos Campeões. E nós bem tramados com o que vamos ter de ouvir. 

SÃO estas razões mais do que suficientes para deixar de lado, e já não era sem tempo, a questão da Taça de Portugal – que seja uma festa, um grande jogo e que vença quem for melhor! – e voltarmos ao assunto do início.
No futuro, venha o que vier, como recordarão benfiquistas esta época de 2012/2013?
O 92 virá inapelavelmente à colação. O Benfica perdeu o campeonato nacional ao minuto 92 no Porto e perdeu um título europeu que persegue há mais de meio século ao minuto 92 na Arena de Amesterdão. Por não trazer qualquer espécie de novidade nem acrescento de monta a esta conversa, nem é preciso grande demora a elogiar todo o saber estar dos nossos adeptos nestas horas más. Foram maravilhosos. Já se sabia. 
Aliás quanto mais o Benfica é do Benfica e quanto mais está entregue ao Benfica, melhor é o Benfica. Isto também já se sabia mas convém sempre recordar.
E de árbitros? O que dirão, no futuro, os benfiquistas dos árbitros de 2012/2013? Julgo que, por exemplo e para variar, Pedro Proença vai passar incólume. Deve agradece-lo e muito a James Rodriguez que, já perto do fim do clássico no Porto, falhou escandalosamente no frente-a-frente com Artur depois de uma arrancada em posição, convenhamos, de flagrante irregularidade.
Poderão, porventura, referir-se, no futuro, a este título do FC Porto como o do ano das cinco mãos ou, de forma mais personalizada, como o campeonato do Hugo Miguel. Mas para quê? No futuro, benfiquistas, não percam tempo com essas coisas que só nos ficam mal porque esse continuado lamento até nos passa um atestado de incompetência (crónica).
Hugo Miguel é um árbitro como outro qualquer. Tem dias bons e tem dias maus. De acordo com um antigo balanço feito pelo Público ao processo de corrupção que abalou o nosso futebol, Hugo Miguel foi um dos árbitros sobre os quais caíram vagos indícios dourados mas a situação acabou por ser arquivada porque a má qualidade de som da escuta impediu que a matéria em causa pudesse ser analisada pela equipa de peritos.
Irrelevâncias. E dal forma irrelevantes que não impediram o árbitro em causa de vir a ser promovido à primeira categoria. Há coisa de um ano, Vítor Pereira, o presidente dos árbitros, não o treinador do FC Porto, afirmou numa entrevista que «esta geração de árbitros já não é a dos quinhentinhos». Tem toda a razão. Não é mesmo.
No entanto, ainda é de forma substancial a geração do apito dourado. Tenho para mim, por ser supersticiosa, que enquanto esta geração de árbitros contemporânea do apito dourado se mantiver de pé até ao último homem, o Benfica só ganha um campeonato de cinco em cinco anos. Oxalá me engane.

TENHO, no entanto, por certo que os benfiquistas recordarão, no futuro próximo e no distante, que a época de 2012/2013 coincidiu com a passagem pelo Benfica de um jogador sérvio absolutamente notável chamado Matic. Tivesse o Benfica sobrevivido ao minuto 92 no Porto, posso garantir que estaria agora a escrever que este tinha sido o campeonato do Matic.
Como não sobreviveu, vejo-me forçada a escrever, com muita pena, que este foi decididamente o campeonato do Kelvin, pela importância astronómica dos golos do jovem brasileiro nos jogos contra o Sporting de Braga e contra o Benfica. Antes isto do que passar os próximos meses a chorar o campeonato do Hugo Miguel.
Os benfiquistas mais inclinados para as questões prementes da equipa de futebol – e julgo que serão todos – recordarão esta época como aquela em que o Benfica não colmatou minimamente as inevitáveis vendas de Javi Garcia e de Axel Witsel e entregou durante o ano inteiro o trabalho no miolo a dois homens – ao tal Matic e ao adaptado Enzo Pérez.
Ambos deram tudo o que tinham e também o que não tinham. Obrigada. Mas sempre que foi preciso ir buscar ao banco gente para os substituir, a coisa correu mal porque nem Carlos Martins nem Pablo Aimar alguma vez se mostraram em condições de estar ao nível da primeira linha.
Muitos recordarão assim esta época em que o Benfica jogou com autoridade e brilho durante meses a fio mas em que viria a claudicar nos momentos decisivos porque a sua segunda linha, quando foi chamada, ficou muito longe da primeira linha por razões que saltaram à vista. E nem percam tempo a apontar o dedo a Roderick no golo de Kelvin nem a Jardel no golo de Inanovic. Não é com estas coisas que se deve perder tempo.
Quanto ao passado, estamos conversados.
Quanto ao futuro, ninguém o conhece, excepção feita ao bruxo de Fafe. Mas dá-me ideia de que o bruxo de Fafe está comprado porque apita sempre para o mesmo lado.
Sei, no entanto, como gostaria de recordar, daqui a alguns anos, esta época do Benfica. Assim:
Como a última época antes da grande viragem, a época em que se estreou André Almeida como titular, a época em que se aprendeu que são dispensáveis conferências de imprensa a dizer mal dos árbitros quando o Benfica até seguia na liderança com 4 pontos de avanço a poucas jornadas do fim e depois da Capelada do derby, a época em que os nossos adoráveis adeptos confortaram os nossos jogadores nas horas de infortúnio, a época em que, depois de tanta lágrima, o presidente renovou o contrato com o treinador porque sabia que estava no caminho certo. E o tempo deu-lhe razão.
E já faltou mais tempo. Este ano estivemos perto. Depois de uma longa caminhada já chegámos ao patamar dos 91 minutos à Benfica. Penso que com mais 2 ou 3 minutinhos dá-se a volta à coisa e não tarda."

Leonor Pinhão, in A Bola

No vale do J(amor)

"Não há como contornar o tema, existe todo um universo benfiquista em depressão. As expectativas eram altas, altas mas legítimas, condições havia para uma temporada que ficasse com marca substantiva no historial centenário do Clube. O final foi penoso, penoso e cruel, o Benfica não merecia um fecho de época tão doloroso.
Fomos a melhor equipa nacional ao longo do ano competitivo. Para não variar, as razões de queixa são múltiplas. Ainda no último embate do nosso antagonista directo, um penálti anedótico, mais uma expulsão intrujona, abriram caminho para o triunfo do FCP. Mais tarde, um penálti tão verdadeiro como verdadeiro é a terra girar à volta do sol, foi sonegado ao Paços de Ferreira. Assim, convenhamos, é fácil. O 'sujinho, sujinho, sujinho', da lavra de Vítor Pereira, técnico azul, deveria ter sido proferido depois de se ver ao espelho. Isso é que era 'limpinho, limpinho, limpinho'.
Agora, vamos ao Jamor, ainda há uma competição para vencer. De resto, um troféu que tem escapado ao Benfica nos últimos anos. Vamos para ganhar? Só podemos. Temos que ganhar? Só podemos.
Ainda no pretérito domingo, mesmo em desvantagem no marcador, frente ao Moreirense, na Luz, os nossos aficionados não exibiram manifestações, mais ou menos ruidosas, de aspereza. Esta temporada, para que conste, marca um exemplo de empenho e militância benfiquista que chegou a ser comovente.
Na final da Taça de Portugal só pode ser assim. Com humildade, que o mesmo é dizer: respeito pelo V. Guimarães, imposta encerrar o ciclo vitoriosamente. Teremos fervor na plateia, precisamos de superioridade no campo. E, em seguida, faremos a festa. Dá para salvar a época? Dá, pelo menos, para mitigar os danos recentes. Ademais, no vale do J(amor)..."

João Malheiro, in O Benfica

Campeonato Miguel

"Na antevisão à última jornada do Campeonato, tive oportunidade de dizer, na nossa Benfica TV, que para fundamentar a esperança na conquista do título, precisaria de ter a certeza de que nada de anormal se passaria no outro estádio onde se jogavam as grandes decisões. Não foi necessário esperar muito tempo para confirmar os meus piores receios.
Aos vinte minutos da partida da Mata Real, o mesmo indivíduo que na temporada passada, em Coimbra, transformara um claríssimo penálti sobre Aimar numa falta contra o Benfica, resolveu, desta vez, transformar um cartão amarelo por simulação de James Rodriguez fora da área, numa grande penalidade a favor do FC Porto, com expulsão do defesa pacense. Percebi, de imediato, que não valia a pena sonhar. A realidade mantinha-se, igual a si mesma, como há já muitos anos nos habituámos a ter de suportar.
Concluído o Campeonato, gostava, com sinceridade, de poder atribuir a perda do Título apenas ao mérito do adversário, ao cansaço dos jogadores do Benfica, ou simplesmente ao azar. Porém, ao lembrar-me de Carlos Xistra em Coimbra, de Pedro Proença na Choupana, e, sobretudo, deste Hugo Miguel em Paços de Ferreira, não sinto que o possa fazer. Este, para mim - que também tenho direito a usar alcunhas - ficará na memória como o Campeonato Miguel.
Depois de vermos fugir o Título deste modo, depois de perdermos a Liga Europa (essa sim, de forma limpa, honrada, mas meramente infeliz), resta-nos a Taça de Portugal. Não a encaro como um consolo, ou como um prémio menor. Pelo contrário, vejo-a como uma competição importante e bonita, que há muitos anos escapa ao Glorioso, e que quero fervorosamente vencer. Além de que, terminar a temporada com um troféu nas mãos, parece-me ser o mínimo que a justiça pode fazer ao brilhante futebol que a nossa grande equipa apresentou durante meses. Esperemos que desta vez não haja Miguéis a condicionar o jogo, e que a grande festa do Jamor seja limpinha. Pois o Campeonato, depois de tanta conversa, acabou bem sujinho.

Luís Fialho, in O Benfica

A festa da Taça

"Já aqui escrevi que a Taça de Portugal é a competição de cariz mais democrático. Por várias razões: permite encontros entre grandes e pequenos, entre primodivisionários e escalões secundários, entre clubes do litoral e do interior, entre grandes estádios e diminutos campos desportivos. Mas também porque sendo jogos a eliminar, aumentam as probabilidades de grandes surpresas, que numa Liga seriam impossíveis. Por exemplo, neste século, entre dois dos três grandes, só houve duas finais: Benfica 2 - Porto 0 (2004) e Porto 0 - Sporting 2 (2008). Lá fora, é frequente ver modestos clubes a ganhar a Taça. Ainda há dias, na mais célebre e clássica Taça com final em Wembley, o poderoso Manchester City perdeu com o despromovido Wigan.
É certo que magia da Taça de Portugal perdeu algum brilho, com a profusão de taças de taças e tacinhas e com a acrescida relevância dos jogos do itinerário europeu. Mas, mesmo assim, a final no Estádio Nacional é sempre o epílogo alegre e festivo de uma temporada.
No domingo, o Benfica regressa ao Jamor. A última foi em 2005 derrotado pelo Vitória de Setúbal, oito dias depois de ter vencido o campeonato, tendo ganho no ano anterior com um adversário bem mais difícil, o FCP de Mourinho.
De há muito tempo a esta parte, o Benfica teve finalmente uma semana entre dois jogos. É favorito, oque, por si só, nada garante. Esteve em 33 finais das quais ganhou 24. E o Vitória de Guimarães regressa dois anos depois e atinge a sua sexta final que nunca venceu. Taça é sempre Taça. Imprevisível. 90 minutos (mais os agora temidos descontos...) com ou sem prolongamento para decidir o vencedor do troféu."

Bagão Félix, in A Bola

Os roubos e os ladrões

"Com o aproximar do fim da época desportiva, começam a surgir notícias infundadas, mas com propósitos claros cuja autoria deve ser imputada a pessoas pouco sérias e com natural interesse na divulgação deste tipo de especulações.
Assim, em relação ao interesse do Sport Lisboa e Benfica no jogador Carlos Eduardo, a Benfica SAD vem esclarecer que não há nem nunca houve qualquer intenção em adquirir este atleta para o plantel.
Os responsáveis do Estoril podem esclarecer, se assim quiserem, os jornalistas e restantes opinadores sobre quem é que sempre mostrou interesse, bem como a identidade do “novo” empresário que negociou em nome do clube que ficou com os seus direitos económicos e desportivos.
Em nome da transparência, seria bom que esse esclarecimento surgisse. Seria igualmente positivo entender as motivações de alguns jornalistas que escrevem por inspiração do espírito santo de ouvido.
Mais se informa que nomes como os de Duvan Zapata, Gonçalo Santos, Jefferson, Juan Quintero, Ruidíaz e outros tantos, não fazem parte dos planos do Sport Lisboa e Benfica.
A planificação da próxima época desportiva está há muito tempo feita e não se compadece nem com acções repentistas nem com notícias ‘plantadas’ por alguns agentes desportivos em alguns meios de comunicação, razão pela qual os próprios jornalistas devem passar a filtrar melhor as muitas informações que certamente lhes vão continuar a fazer chegar ou então assumir a cumplicidade com alguns responsáveis de clube."