terça-feira, 30 de abril de 2013
Nesse Brasil que canta e é feliz...
"Primeira deslocação do Benfica às Américas teve festa a duplicar: cá e lá. E até o Belenenses, Atlético, Estoril e Sporting enviaram dirigentes ao aeroporto para desejarem sucesso à comitiva 'encarnada'.
Antes da partida, a comemoração. Seis títulos nas oito provas principais de Futebol em Portugal: Campeões Nacionais e Vencedores da Taça (categorias de Honra); Campeões Nacionais e Regionais de Juniores; Vencedores da Taça Eng. José Frederico Ulrich (reservas); Vencedores da Taça Dr. Sá e Oliveira (principiantes).
Um Benfica em festa, portanto. Tão em festa que a comitiva que embarcou para o Brasil para disputar alguns jogos particulares numa sensacional estreia no Rio de Janeiro e em São Paulo, viu-se rodeada de gente à chegada ao aeroporto da Portela de Sacavém, agitando bandeirinhas vermelhas e aclamando os jogadores um a um.
Estávamos em Junho de 1955. A viagem do Benfica ao Brasil foi um acontecimento. Os oponentes eram de peso: Flamengo, Peñarol, Palmeiras, América e Corinthians. Todos eles adversários «novos em folha», que o Benfica nunca havia defrontado. Viria, com o decorrer dos anos, a multiplicar esses contactos, e a fazer de alguns deles «gente muito lá de casa». Foi de tal forma um acontecimento, que muitos clubes portugueses fizeram questão de se deslocar ao aeroporto para desejar aos benfiquistas uma boa viagem e uma digressão de sucesso. Sporting, Belenenses, Atlético e Estoril mandaram representantes. E a Federação Portuguesa de Futebol, e a Associação de Futebol de Lisboa.
Festa à partida e festa à chegada. O avião da Panair acabara de aterrar no aeroporto do Rio de Janeiro, depois de uma escala no Recife,e já as rádios brasileiras, com o seu estilo inconfundível, lançavam no éter o relato do que parecia um jogo de Futebol.
Não era. Era só o Benfica que chegava ao Brasil. E punha pela primeira vez o pé nesse Brasil que canta e é feliz, feliz...
Joaquim Bogalho liderou a comitiva formada pelo treinador, Otto Glória, e 17 jogadores Campeões
Samba de um golo só
Os microfones pareciam cogumelos, brotando por todo o lado, questionando jogadores, técnicos e dirigentes. Até no treino, o primeiro, nessa noite no Maracanã, havia magotes de gente como se de um prélio se tratasse. Batem-se chapas, gasta-se magnésio. Mas o jogo que é bom, o jogo que todos esperam, o jogo que qual os atletas anseiam é só no dia seguinte, pelo final da tarde.
O adversário, primeiro adversário desta viagem histórica, era o Flamengo, clube mais popular do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. O Benfica perdeu. Não há, como se sabe, derrotas boas, mas o Benfica impressionou os brasileiros. «O Benfica apresentou um bom futebol, trouxe bons valores, e no final deixou grande parte do público com uma dúvida - o empate não teria sido mais justo?». escreveu-se na Tribuna de Imprensa. «O Benfica conquistou o público e caiu como um campeão», titulava A Última Hora.
Aos três minutos, o Benfica já perdia. Golo de Evaristo, golo único do jogo. O mesmo Evaristo que voltaria a defrontar o Benfica, uns anos depois, pelo Barcelona.
As equipas alinham:
Flamengo - Ary; Tornires e Jordan; Serbilho, Pavão e Dequinha; Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Esquerdinha.
Benfica - Costa Pereira; Jacinto e Ângelo; Caiado, Artur e Alfredo; Zezinho, Arsénio, Águas, Coluna e Palmeiro.
O Benfica cumpre o seu primeiro jogo nas Américas desferindo ataques sobre o adversário, forçando-o a recuar. Coluna erguia-se em pleno Maracanã como um príncipe etíope, como o poderia ter descrito Nelson Rodrigues. Os tiros de Águas e Palmeiro levam, no entanto, pólvora seca e o resultado não se desfaz. Samba de um golo só.
As equipas saem sob aplausos. O Benfica deixara cair a participação na Taça Latina, que conquistara brilhantemente em 1950, para se lançar na aventura desta viagem longa e demorada. Era tempo de fazer com que o nome do Clube crescesse através do Mundo. E esse é sempre o fantástico destino das grandes viagens..."
Afonso de Melo, in O Benfica
Um passo de gigante para o título
"Vitória na Madeira torna Benfica "mais" favorito.
Era o grande teste que faltava cumprir aos encarnados antes da visita ao Dragão. Uma eventual escorregadela na ilha tornaria decisivo o "clássico", mas com os quatro pontos a manterem-se de permeio entre os candidatos, o jogo grande arrisca-se, afinal, a ser pequeno, a menos que o "pequeno" Estoril que se segue se árvore em grande e ainda venha a causar problemas. Dos grandes. Mas o melhor é mesmo aguardar pelos próximos episódios.
Para a operação-Funchal, o Benfica não contou com Gaitán nem Melgarejo e Cardozo só jogou a última meia hora. O momento é de contenção, como se sabe, e o Fenerbahce está já aí para a "réprise". Jesus continua a fazer a gestão de recursos, mas não se pode falar em "revolução do plantel", como o técnico havia anunciado. As alterações foram mínimas e, pelos vistos, chegaram para as necessidades.
Começou o Benfica num 4.1.3.2 ambicioso, com Rodrigo e Lima na frente, tendo o apoio de Enzo, e Salvio e Ola John nas alas. Logo aos 5', a fortuna bateu-lhe à porta, com Márcio Rozário a fazer uma tão clara quanto desnecessária grande penalidade sobre Lima. O brasileiro abriu a porta, que é como quem diz, não falhou a transformação e, desta forma, ainda sem ter feito grande coisa para a merecer, a equipa da Luz viu-se em vantagem.
Ficou "encadeado" o Benfica com a proeza? A verdade é que foi o Marítimo a mostrar-se mais empreendedor, como ficou à vista, logo a seguir, num remate do mesmo Márcio ao poste da baliza de Artur. O que parecia ter sido apenas um indício do atrevimento insular constituiu, afinal, o prelúdio de uma fase de franco assédio dos homens da casa.
O meio-campo do Marítimo denunciava solidez e frescura, perante um Benfica que, concedida a iniciativa do jogo, se mostrava mais dado a controlá-lo, agora que o resultado lhe era favorável. No entanto, as surtidas dos funchalenses, com um trio de ataque de respeito, iam deixando a sua marca, pelo que não surpreendeu o golo do empate, tantas foram as vezes que o Marítimo rondou com perigo a baliza de Artur.
Uma entrada fulgurante de Igor (42'), a explorar alguma apatia dos encarnados na sua defensiva, ditou, por fim, o 1-1 e ficou tudo adiado para uma 2ª parte que prometia. O intervalo e Jesus foram bons conselheiros, pois o Benfica soube arrepiar caminho e, como a Fénix, surgiu renascido das cinzas e pronto para o retomar da luta. Afinal, a equipa ainda tinha bons argumentos para esgrimir.
Lima foi a figura principal, ao assinar assistência de luxo a Rodrigo, e, depois, ao visar por duas vezes os ferros da baliza de Salin. Inconformado, Jesus lançou Cardozo na liça, saindo Ola John, e a consolidação atacante deu os seus frutos, se bem que por linhas tortas, pois um centro de Salvio foi interceptado por Igor para dentro das próprias redes.
Conseguida de novo a vantagem, Jesus voltou a mexer na equipa, fazendo segunda alteração, agora de reposição, digamos assim, uma vez que deixava de ser necessária a presença de três avançados. A hora era de aguentar, por isso saiu Rodrigo e entrou Carlos Martins. E a verdade é que o assunto ficou no 1-2, apesar de Pedro Martins, o técnico da casa, que já tinha apostado em David Simão, ter avançado, nos últimos minutos, com Danilo e Fidélis para o reforço ofensivo. Mas aí falou mais alto a retaguarda visitante, onde Luisão reapareceu e Matic voltou a ser o suporte imprescindível.
Foi um triunfo merecido do Benfica, que, após uma fase de maior "adormecimento", soube reagir a contento (e a tempo), ficando à vista a boa leitura de Jesus, que esteve na base do tal ressurgimento encarnado."
Um jogo para o título
"A forma como os jogadores e equipa técnica do Benfica festejaram o triunfo nos Barreiros é, só por si, significativa e elucidativa. Eles tinham consciência de que a partida frente ao Marítimo era um (ou o?) jogo-chave da fase final do campeonato. Os três pontos conquistados deixam o título exclusivamente dependente dos encontros com Estoril e Moreirense, na Luz, desafios que apenas uma catástrofe difícil de imaginar pode impedir que sejam de consagração.
Mas os festejos dos encarnados derivaram também de outro factor. É que a vitória foi bastante complicada, perante um conjunto madeirense que não perdia em casa desde Outubro do ano passado. Ainda que, curiosamente, o Benfica tivesse entrado em vantagem logo aos cinco minutos. Simplesmente, o resto do primeiro tempo foi um contraste com o arranque.
Jorge Jesus falou de "ansiedade" prematura que terá levado os jogadores a pensarem em gerir o avanço logo ali. Talvez, mas também porque o Marítimo não se sentiu afetado pela infantilidade de Márcio Rozário, que cometeu a grande penalidade. Aliás, ele próprio "respondeu" pouco depois com um remate ao poste da baliza de Artur. Acontece ainda que houve muita coisa que não funcionou como devia na equipa encarnada.
Os laterais, Maxi e André Almeida (Melgarejo, certamente por prudência, ficou de fora) tiveram grandes dificuldades com os alas madeirenses, vendo-se várias vezes Sami e Heldon a ganhar espaços e a passarem até com alguma facilidade, Ola John distante do jogo e Rodrigo a vaguear sem soluções aproveitáveis. Daqui até ao golo do empate foi um passo, num lance em que toda a defesa do Benfica não está isenta de responsabilidades.
Depois do intervalo, fosse por terem compreendido o enorme risco que estavam a correr no jogo (e, por consequência, no campeonato), fosse por perceberem que sem pressão séria sobre o adversário nunca passariam "daquilo" - ou pelas duas coisas - a verdade é que se registou uma transformação pela positiva dos jogadores encarnados. Lima atirou por duas vezes aos ferros, Salvio assumiu-se como a gazua que faltava, Matic e Enzo passaram a explorar com mais lucidez a zona central do campo e Jesus também ajudou ao retirar Ola John e colocar Cardozo. O Marítimo continuou a ir "lá acima", mas os lances de perigo real diminuíram.
A persistência deu resultado. Foi um autogolo, mas estes também contam. E aqui, sim, foi o momento do técnico encarnado definir a cadência, ao abdicar de um Rodrigo sem chama (Lima e Cardozo davam conta do recado), optando por Carlos Martins e, assim, transmitir equilíbrio à equipa. Roderick, já nos derradeiros minutos, foi mais um para "trancar a porta" em definitivo.
Pode não ser ainda a "autoestrada" para o título, mas o Benfica abriu, pelo menos, uma "via rápida". Basta-lhe vencer o Estoril para "neutralizar" o jogo no Dragão, como sempre pretenderam os responsáveis benfiquistas. Agora, e porque a presença numa final europeia também estava na lista de promessas eleitorais de Luis Filipe Vieira, cabe a Jorge Jesus virar o "chip" dos seus homens para tentarem, já esta época, cumprir o objetivo traçado pelo presidente. Mesmo sabendo que vai ser tarefa árdua.
PS : Como nas últimas jornadas a galáxia portuguesa só sabe falar de arbitragens e, em particular, de grandes penalidades, desta vez a "vítima" foi Cardozo."
Da Colômbia com amor
"A Colômbia é um país bonito. Já lá estive, sei como é.
As gentes são simpáticas, muitas das cidades agradáveis, apesar do desmesurado crescimento. E depois, como qualquer país, tem os seus vícios desagradáveis, mesmo bastante desagradáveis. Como o narcotráfico, por exemplo, uma população empobrecida, o incomodativo hábito dos sequestros e dos assassinatos de figuras políticas. Mas, enfim, seja como for, de repente Portugal descobriu a Colômbia e vice-versa.
Portugal? Que digo eu?
O Porto! Afirmou o Madaleno com toda a propriedade que se lhe reconhece que os governantes da Colômbia respeitam mais o Porto, Clube Arregimentado Pelo Regime Vigente, do que os governantes portugueses, algo que me parece manifestamente injusto para um tal de Menezes de Gaia que lhes anda há anos a arrendar por míseros quinhentos euros por mês um centro de estágios da mais alta qualidade.
Percebe-se: que se lixe o Menezes de Gaia que está à beira de passar a ser Menezes de Parte Nenhuma por via das decisões dos tribunais que vão impedindo esta rapaziada de se candidatarem a tudo quanto é autarquia, de Santiago de Riba a Freixo de Espada à Cinta!
Neste momento, vale a Colômbia. Longa vida à Colômbia e aos seus governantes.
Mas deixo aqui um aviso a todos vocês: não vi elefantes na Colômbia!
Estou certo de que, se exceptuarmos os jardins zoológicos, não há elefantes na Colômbia. Por isso, se quiserem comprar marfim, não vão à Colômbia. Nem vale a pena encomendá-lo pelo correio..."
Afonso de Melo, in O Benfica