quinta-feira, 11 de abril de 2013

Já começa a parecer mal

"Benfica não soube retirar-se a tempo da Liga Europa. Agora é tarde. Quartos-de-final e meias-finais europeias já estão nos hábitos da casa. Finais é que não. E começa a parecer mal.

HOJE é noite de Liga Europa, competição de que o Benfica não soube retirar-se a tempo. No princípio do ano o Bayer Leverkusen saído do sorteio até parecia o adversários ideal para uma despedida digna perante temível opositor, mas não aconteceu assim e o Benfica, para cúmulo, até ganhou os dois jogos com os alemães.
Seguiram-se franceses e aconteceu a mesma coisa. Pelo que o Benfica se vê agora, duas eliminatórias mais tarde, numa espécie de obrigação de seguir em frente na dita competição internacional e de seguir em frente, de preferência, até Amesterdão, onde se realizará este ano a final.
O Benfica não está numa final europeia desde 1990: derrota por 1-0 com o Milan, em Viena. E não ganha uma final europeia desde 1962: vitória sobre o Real Madrid por 5-3, em Amesterdão. Tratando-se em ambas as ocasiões da Liga dos Campeões o troféu em disputa.
Não é verdade, portanto, que as finais europeias do Benfica sejam todas do tempo da televisão a preto e branco já no tempo da televisão a cores o Benfica disputou e perdeu 3 finais europeias.
Perdeu tristemente a cores duas finais da Liga dos Campeões, uma a penalties com o PSV em 1988 e a já referida final com o Milan em 1990, pela diferença mínima. E perdera também uma final da Taça UEFA para o Anderlecht, em 1983, ou seja três anos depois do advento da televisão a cores em Portugal em 1980.
Será legítimo considerar que se muitos portugueses ainda viram essa final de 1983 nos seus velhos aparelhos a preto e branco, muitos outros, provavelmente a maioria, já seguiu os desafios com os belgas do Anderlecht a cores por que o país em retoma económica e até já começava a haver dinheiro para a renovação dos electrodomésticos.
No que diz respeito à última vitória europeia do Benfica é que não há dúvidas nenhumas.
Em Maio de 1962 a televisão era a preto e branco no território nacional coberto pela antena de Monsanto e ninguém no seu perfeito juízo pode dizer que viu o Benfica dar 5 ao Real Madrid a cores, com excepção feita aos que estiveram garbosamente em Amesterdão e assistiram ao vivo à grande proeza.
A questão é que este ano o Benfica está a fazer uma boa temporada europeia, tal como fez no ano passado, em que só caiu nos quartos-de-final frente ao Chelsea para a Liga dos Campeões. E tal como fez em 2011, em que caiu na meia-final da Liga Europa face ao Braga e tal como fez em 2010, em que caiu nos quartos-de-final da Liga Europa frente ao Liverpool.
Quartos-de-final e meias-finais, já estão nos hábitos da casa. Finais é que não. E começa a parecer mal.
No século XXI, já em tempo de plasmas, quer o Sporting quer o Sporting de Braga jogaram finais europeias ainda que as tivessem perdido, o que não retira mérito às respectivas caminhadas. O facto é que chegaram lá.
Se a Liga Europa, sucessora da Taça UEFA, tem somado vencedores como Sevilhas, Shaktar Donetsks, Valências, CSKAs, Zénites e se até na Liga dos Campeões já houve um finalista chamado Mónaco, por que razão não deve o Benfica, que tem melhor nome do que os anteriormente referidos, pensar seriamente este ano no troféu de que não se soube retirar a tempo?
Logo à noite, em Nercastle, conheceremos a resposta dada por Jorge Jesus e pela equipa do Benfica a esta questão internacional da mais premente actualidade.
Há quem defenda que o Benfica no ano passado perdeu o campeonato para o FC Porto porque sonhou demasiado alto com a Liga dos Campeões e não teve andamento para as duas frentes. O próprio Jorge Jesus mencionou essa circunstância como atenuante, à laia de explicação sobre o fiasco de uma época no que diz respeito às coisas importantes.
E até porque por ora ainda não se vislumbrou a apregoada quebra primaveril das equipas treinadas por Jorge Jesus, os benfiquistas na bancada vão sentindo e acreditando este ano que há andamento para as duas coisas.
E alguma vez terá de correr bem, não é?

COM relva até à canelas, o Benfica venceu em Olhão onde nunca tinha vencido desde que o Olhanense regressara à I Divisão. O jogo foi antecedido pelo episódio do estado do terreno, tendo-se equacionado fugazmente fazê-lo disputar no Estádio do Algarve, pelo episódio da nomeação do árbitro Hugo Miguel de quem os benfiquistas tinham péssimas recordações e pelo episódio da mala com dinheiro do amigo do presidente Isidoro Sousa que pagou os ordenados aos jogadores algarvios de pois destes terem assumido um pré-aviso de greve.
Congratulo-me por nenhum dirigente, treinador ou jogador do Benfica terem emitido o menor comentário que fosse a estas três situações destinadas a fazer correr tinta e a gerar emoções nervosas.
Da Luz, silêncio total. Em campo, que é o que interessa, o Benfica foi sempre muito superior ao adversário, ganhou por 2-0 num jogo em casos que foi resolvido da meia distância por Salvio e Matic, na segunda parte. Também vale só marcar golos na segunda parte.
Quando ao inferno de Olhão, não houve ou não se deu por ele. Na verdade, deu-se mais pelo estado da relva do que pelo árbitro ou de que pela mala com dinheiro do amigo do presidente. Assim é que é bonito.
Estão todos de parabéns.

SOUBE-SE esta semana pelos jornais que Liedson reclama a uma companhia seguradora uma indemnização por incapacidade de 23% (o preço do IVA, imagine-se...) do seu joelho. Não mencionou Liedson se é do joelho direito que se trata ou, pelo contrário, se é do joelho esquerdo em lhe brota uma capacidade reduzida a apenas 77%.
Na segunda-feira à noite continuou-se a não saber qual o sub-joelho reclamante porque Liedson não saiu do banco onde esteve sentado durante o jogo em que o FC Porto venceu o Sporting de Braga. Pelo que, obviamente, estando sempre sentado, não deu para ver para que lado tombava o Levezinho no seu andar.
Vítor Pereira não permitiu que se desfizesse o mistério e lançou Kelvin para o jogo quando já se desprezava nas bancadas do Dragão. Kelvin entrou, Kelvin resolveu. Foi uma substituição tão bem feita, tão bem pensada e melhor ainda arquitectada que não foram precisas mais de vinte e quatro horas para surgir do estrangeiro um clube interessado nos serviços de Vítor Pereira.
O Everton de Inglaterra fará tudo para levar Vítor Pereira no final desta época, aconteça o que acontecer, garante a imprensa.
Eh, pessoal, já temos cenoura!

O Boavista serve para tudo. Num passado recente terá servido como bode expiatório do Apito Dourado e hoje serve para legitimar à sua pala uma alargamento da I Divisão, triste facto celebrado como se aumentar a pobreza fizesse bem a alguém.

CAIU com honra o Galatasaray frente ao Real Madrid na Liga dos Campeões. O momento maior do espectáculo foi o golo de Didier Drogba, um calcanhar tão precioso quanto exacto que levou a bola a entrar na baliza sem possibilidade de apelo para Diego López.
Sentado no banco, inevitavelmente perto de José Mourinho, o que terá pensado Iker Casillas nesse instante superlativo de Drogba? «Comigo esta bola não entrava»...?
José Mourinho, em podendo, não dispensa uma boa historiazinha de suporte, paralela ao desenrolar da acção principal mas não menos credora de atenção por parte do público.
Permito-me fantasiar com os dados disponíveis e prever que Casillas só volte a ser titular do Real Madrid no jogo da desinteressante Liga espanhola que o Real terá de cumprir antes da final da Liga dos Campeões. Para, antes da grande final da Décima, precaver qualquer lesão de Diego López, naturalmente..."

Leonor Pinhão, in A Bola

Afinal havia outra

"No sábado vai haver uma curiosa final de futebol. A da Taça da Liga. Coisa de somenos, diziam alguns até há pouco. Mas este ano é que é. Como diz a canção, tudo porque 'afinal havia outra'... Adaptando livremente a letra da canção de Mónica Sintra teremos um quase hino para esta taça:
Não vi as marcas da taça que o seu dedo me mostrava;
Só vi o seu olhar de metal, sem segredos, como água;
O que me diziam não ouvi, pois pensava ser maldade;
Acreditei só quando vi, com os meus olhos;
A verdade;
Afinal havia outra;
E sem nada saber, sorria;
E por ela andava louca;
P'ra ser sua vencedora, um dia;
Afinal havia outra;
Uma taça, um cabaz, uma asa;
Que era no fim de contas;
A taça das horas vagas;
Não quis saber da sua idade, p'ra quem joga pouca importa;
Ainda é a sua pouca vontade que eu passasse à sua porta;
Nem os encontros mais furtivos me puseram mais atento;
Só quando a via a olhos vistos, percebi;
Não estava certo.
Esta outra que já foi andrajosa e pejorativamente secundarizada através de vários epítetos é... a Taça da Liga. Ressuscitou, depois de quatro vitórias consecutivas do Benfica e de uma decisão de alto gabarito do Conselho de Justiça (CJ) da FPF. De desprezível passou agora a respeitável. Já não se vai dizer, como antes, «desta já estamos livres».
Como escreveu Camões: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança. Tomando sempre novas qualidades.
As qualidades da tacinha, neste caso. Da nova versão «Taça CJ», dirão alguns malevolamente. Com Mónica Sintra como sua musa inspiradora."

Bagão Félix, in A Bola