sexta-feira, 22 de março de 2013

Juiz Feijão

"O juiz Phantly Roy Bean (Feijão, à portuguesa) foi uma das figuras mais extraordinárias do velho Oeste americano. Acho que já falei aqui dele, mas não se perde nada em trazer de volta a estas páginas as peripécias de tamanho personagem. Juiz de Paz em Val Verde County, no Texas, Feijão tornou-se um administrador autoritário da justiça, entitulando-se vaidosamente como «A Lei a Oeste de Pecos».
Também temos um Feijão neste País de favas. E juiz. Dizem que Feijão da Trofa. Surgindo na televisão, grandiloquente, a avaliar uma trampolinice barata, tratou de esfregar na lama toda a magistratura. Que faz correr Feijão?
Geralmente, estes juízes de vão de escada, com uma carreira atrás de si capaz de envergonhar o menos competente dos oficiais de diligências, movem-se pela visibilidade. Dois minutos de espaço num telejornal qualquer provocam-lhes espasmos de prazer. Uns convites para assistirem a uns joguinhos de bola no camarote das Antas transforma-nos em julgadores baratos de saloon mancumunados com os pistoleiros sem escrúpulos.
É esta a sua vida-vidinha. Não têm pactos com a Justiça nem com a sua consciência. Limitam-se a ser trapos, usados, sujos, atirados para o balde dos desperdícios quando deixam de ser úteis ao Madaleno. Volta e meia entram-nos pela casa adentro, através da televisão: enquanto vomitam umas porcarias, fixamos-lhe os nomes. E convém fixá-los: nada pior do que um juiz que está do lado do criminoso.
O nosso Feijão não cabia em si de orgulho. Cumpriu a ordem. Talvez receba como prémio uma palmada no pescoço. Depois, como todos antes dele, será corrido a pontapés na boca."

Afonso de Melo, in O Benfica

Boa aspirina...


Benfica 6 - 3 Braga

Depois da semana atribulada, a vitória era ainda mais importante.. como é óbvio, não houve tempo para se observar mudanças, mas a atitude da equipa foi um excelente sinal. As perdas de bola, em zonas proibidas, continuam ser um dos principais problemas da equipa, hoje, o Bruno Coelho teve em especial evidência nesse 'campo'...
Depois dum início tremido, com os golos, o jogo pareceu sempre controlado, mas para isso muito valeu a espectacular exibição do Marcão. Em Braga para a Taça temos que jogar melhor, principalmente a defender.
A arbitragem foi o costume: uma desgraça!!! Penalty descarado sobre o César não assinalado... O primeiro cartão ao César é um absurdo... o critério dos 4 segundos nas reposições de bola uma autêntica vergonha... a 6.ª falta do Braga na 1.ª parte, só não foi marcada, porque eles não quiseram... Num jogo, onde os jogadores do Benfica sofreram várias entradas violentas, acabou por ser o César expulso!!! O que prova a 'embirração' das equipas de arbitragem com o César, creio que é a 4.ª expulsão esta época!!! 

A fronteira entre o êxito e o fracasso

"A vitória em Guimarães foi importante para quem aspira a ser campeão nacional no fim da época. Mas a euforia mediática gerada por uns míseros quatro pontos de vantagem é deslocada da realidade.
Bem o treinador e presidente que de forma sensata colocaram água na fervura. Festejos planfletários levarão a que não se ganhe nada no fim da época, uma atitude competitiva e profissional poderá fazer desta uma época ímpar. A fronteira entre o êxito e o fracasso é muito ténue e a visão mediática é sempre feita apenas em função dos resultados.
O Benfica está a fazer uma época óptima, mas o FC Porto também tem feito um dos melhores campeonatos dos últimos anos. Só a incapacidade de reconhecer os méritos do Benfica faz com que se menorize a prova dos portistas.
Em Guimarães vimos um Benfica menos exuberante e mais seguro e controlador dos destinos do jogo. Foi um Benfica com menor nota artística mas com menor exposição ao erro. Para chegar ao êxito também é importante saber fazer esta parte do percurso. 21 pontos dos quais teremos que conquistar 18. De nada interessa o campeonato dos ses... Nesse campeonato o Benfica poderá dizer que sem erros de Xistra em Coimbra e em Braga e já era campeão ou que sem a asneira de Artur na Luz contra o FC Porto e já estava resolvido.
Mas do lado portista não haverá adepto que não clame por um avançado que não falhe penaltis decisivos. Jackson já deve quatro pontos aos azuis e brancos, e quatro pontos já é um lanho grande a precisar de curativo.
No fundo Xistra prejudicou tanto o Benfica como Jackson o FC Porto. Este FC Porto lutará com o Benfica até ao fim, e qualquer clube poderá vencer. Pela tradição recente o FC Porto era favorito, pelo futebol jogado o Benfica leva vantagem.
Desejo sorte ao Sporting com as eleições de amanhã mas, pelo andar da carruagem, não antevejo nada de muito bom."

Sílvio Cervan, in A Bola

PS: O Cervan enganou-se, o Xistra só nos apitou em Coimbra, na Luz com o Braga foi o Soares Dias... a Xistralhada em Braga foi em Março de 2011 !!!

A opinião e a realidade

"Minutos antes de começar o jogo entre o Bordéus e o Benfica, na SICN, uma dupla de comentadores (Rui Santos e Ribeiro Cristóvão) entretinha-se a imaginar debilidades no plantel do Benfica. Jogar com a dupla de centrais Roderick e Jardel foi o ponto de partida para garantir profecias de desgraça que, mais do que opiniões, pareciam desejos de catástrofe. Um deles, o menos afoito na crítica, ouviu o parceiro de comentários dizer que o jogo que se seguiria confirmaria a sua agoirenta tese. Tudo isto alicerçado num chorrilho de superficialidades e lugares comuns debitados com a presunção e a ousadia da ignorância.
No final do jogo, e perante aquele aborrecimento de ver a realidade desmentir a fábula produzida na lucubração do pré-jogo, um deles, o que tem menos tempo de carreira e mais tempo de antena, apressou-se a dizer que, apesar da vitória do Benfica em Bordéus, a sua tese vingaria, sem dúvidas, no próximo jogo contra o Guimarães. E assim, entre a birrinha por ter sido desmentido pela realidade e a certeza de que a sua razão apenas fora adiada uns dias, lá se despediu o mais encarapinhado dos dois comentadores de serviço.
Para azar do dito cidadão, coube-lhe ter de comentar em directo a vitória do Benfica, por quatro golos, em Guimarães. Mais uma vez, a realidade ultrapassara o douto vaticínio da criatura. Onde menos de setenta e duas horas antes vaticinara pecados quase via agora virtudes e acabou por desdizer o que dissera como se nunca o tivesse dito. Fê-lo com a mesma convicção, o mesmo sorriso, a mesma ausência de contraditório e com o mesmo respeito pelo código deontológico que, óbvia e semanalmente, exibe.
Alheio a estas piruetas, o plantel do nosso Benfica segue em primeiro lugar no campeonato, preparando-se para enfrentar um outro plantel equilibradíssimo e recheado de Olegários, Xistras e Proenças. Atentos, à espera e à espreita, estão os do costume, os que aproveitam o tempo extra do jogo para poderem espetar a faca que vão, semanalmente, afiando, entre sorrisos e desejos mascarados de opiniões."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

À beira do zero

"Ainda há pouco tempo o treinador portista empolava as qualidades do seu 'Barça das Antas', mas anteontem aterrou em Pedras Rubras ao som de petardos e de impropérios de adeptos.

O futebol é ingrato. Ainda há pouco tempo Vítor Pereira gabava a beleza do futebol praticado pela sua equipa e cantava o prazer que dava aos seus jogadores a posse de bola e a circulação mágica que com ela faziam.
Ainda há pouco tempo o treinador portista empolava as qualidades do seu Barça das Antas, mas em cerca de três semanas viu desmoronar-se o castelo de fantasia e aterrou em Pedras Rubras ao som de petardos e de impropérios adequados à fase desconfortável vivida pela franja menos tolerante de adeptos do dragão.
Ainda há pouco tempo Vítor Pereira valorizava as suas proezas na UEFA. Recordou que na Champions residia o FC Porto e não enxergava nenhum outro inquilino português. Mas o futebol é ingrato, insisto, e num instante foi-se diluindo a excessiva euforia portista, principalmente a partir do empate em Alvalade, não pelo resultado em si, porque empatar na casa do leão, independentemente do seu estado se saúde, nunca poderá ser olhado como um desfecho negativo para qualquer visitante, mas pela impotência relevada pelo dragão para se libertar dos grilhões com que Jesualdo Ferreira o manietou. Foi desde aí que nuvens de preocupações começaram a roubar espaço à esperança que iluminava o caminho de Vítor Pereira
Em cerca de três meses viu-se afastado da Taça de Portugal, excluído da Liga dos Campeões e, sequência de dois empates na Liga, colocado quatro pontos abaixo do Benfica e, por isso, na dependência de terceiros. Ou seja, se confirmar-se a ameaça de desistência da Taça da Liga disparada pelo presidente portista, como em termos de Campeonato, a sete jornadas do fim, o quadro não é entusiasmante, o FC Porto corre o risco de ficar à beira do zero quanto a mais conquistas (além da Supertaça, claro). Não se trata de uma afirmação, como é óbvio, antes de uma dedução sugerida pela lógica da coisa, ou não?...

PARECE cada vez mais próxima a necessária mudança de ciclo no futebol português. A infalível organização portista vai apresentando sintomas de cansaço e as virtudes que muitos apregoavam, e alguns apregoam, vão fazendo menos sentido. Aliás, sem entrar na discussão dos meios para atingir os fins, creio que o domínio azul e branco sobrevive por absurda distracção do treinador/cientista, que na época transacta perdeu desajeitadamente o título para o FC Porto. Como diz o povo, à primeira todos caem (e já estou a abrir uma excecção para ele: duas quedas), à segunda só cai quem quer, e se é vontade de Jesus prolongar a sua ligação ao Benfica deve saber muito bem que a condição essencial para poder alimentar o processo negocial é ser campeão nacional. Isto sou eu a falar, note-se. Apesar de não possuir o dom de pensar pela cabeça de Luís Filipe Vieira, julgo ser esta premissa uma evidência. No entanto, como aqui escrevi há uma semana, mesmo que ela se concretize, falta conhecer qual o entendimento do presidente benfiquista acerca de matéria tão sensível.

IZMAILOV  e Liedson: que papel desempenham, afinal, no plantel do dragão? Foi imenso o alarido provocado por estas contratações no mercado de inverno, mas até hoje de efeitos discretíssimos. O primeiro estreou-se na Luz, com o Benfica, para impressionar, a 13 de Janeiro, e desde lá tem alinhado a espaços sem que se vislumbre benefícios inquestionáveis com a sua aquisição. Pelo contrário, tudo leva a crer que o FC Porto foi amigo do Sporting ao livrá-lo de um peso financeiro e de um incómodo social. Sobre Liedson, o caso é ainda mais intrigante: soma 38 minutos de utilização. Fantástico! Dois exemplos claros da (des)afinação da máquina portista, antes eficaz, agora soluçante. As presenças do presidente no treino para dar sinal de autoridade e no balneário para arrefecer o ambiente só servem para empurrar Vítor Pereira para a porta de saída. Sendo um treinador do regime, e aceitando esse rótulo desde sempre, deixou-se esvaziar."

Fernando Guerra, in A Bola

PS1: Fernando Guerra é dos poucos jornaleiros Benfiquistas com espaço para dar a sua opinião nos jornais... mas o seu trauma anti-Jesus é difícil de explicar!!!

PS2: Engraçado como o Mito da organização infalível, é sempre posto em causa quando, desportivamente, as coisas correm mal aos Corruptos... basta algumas Proençadas, e a Organização perfeita, volta a ser infalível  independentemente de tudo o resto...!!!

Das religiões...

"É a velha sina: no futebol não há nada mais fácil do que arranjar-se um bode expiatório que deixe ficar à sua sombra dezenas de falsos inocentes a assobiar para o ar. Por isso, sem espanto, nos últimos dias, me apercebi de linha (cruel) a enrodilhar-se, fugaz, na tese de que quando o FC Porto ganha, ganham todos, quando o FC Porto falha, falha o Vítor Pereira. (Se contra o Marítimo as substituições foram feitas ao deus-dará - a equipa de arranque não, era a que eu faria. E não foi ele que falhou o penalty, como já falhara com o Olhanense, nem foi ele que escorregou para o empate do Suk...)
Não, para mim, a questão da sua culpa, não é a sua culpa, é a sua circunstância, tem a ver com o futebol ser o que é: um jogo onde o treinador pode construir uma equipa ou uma ideia na cabeça - mas só alguns jogadores conseguirem levá-la, à equipa e à ideia, mais adiante. É o que sucede com Moutinho. (Ou antes, diferente, com Hulk) Com ele, toda a equipa joga a entender melhor o jogo, as suas peripécias, os seus alçapões, a equivocar-se menos com a bola, os seus ritmos, os seus caprichos. (Por isso é que sem ele em Alvalade o FC Porto perdeu o tino, sem ele em Málaga o FC Porto perdeu o carácter, sem ele no Funchal o FC Porto talvez tenha perdido o destino.)
Não querendo fazer de Vítor Pereira responsável principal pelo que suspeito que acontecerá: o Benfica ser campeão (o que seria injusto, sobretudo para o Benfica) - há, contudo, crença a que não fujo: que sem Moutinho, Vìtor Pereira teria de ser menos ortodoxo para compensar o não o ter tido quando o não teve (e não foi). E que sem Moutinho o que se viu foi que Vítor Pereira não é o que Jorge Jesus é: treinador sagaz que não se prende a um sistema como a uma obsessão e faz evangelho da ilusão (ou não) de que só se vence com a alma além da fé. E sim, eu acho: não é por ter caído na tentação do disparate que Vítor Pereira pode acabar a penar no purgatório, chegando lá, ironicamente, apenas com uma Taça da Liga em sua salvação (ou não) - é por não ter sido dessa religião de Jesus (e não ser tão subversivo como ele, o Jesus é...)"

António Simões, in A Bola

Benfica tentado a ganhar tudo

"O Benfica tem o campeonato na mão e o maior desafio de Jorge Jesus será o de evitar a euforia do «está quase». Daí que o discurso do treinador do Benfica, após o jogo de Guimarães, tenha sido inteligente, fazendo questão de lembrar que nada nem ninguém poderá garantir que esta diferença de quatro pontos para o FC Porto se mantenha até ao Dragão.
Será, no entanto, difícil controlar a ansiedade dos benfiquistas que, de repente, vêem a sua equipa como natural favorita a conquistar o título, à beira de ser finalista da Taça de Portugal e ainda com a legítima ambição de vencer uma final europeia.
Dirão os prosaicos que um grande clube se arrisca a ganhar todas as provas em que entra. Não é bem assim. Mesmo numa fase adiantada das três competições julgo que o Benfica só por milagre as poderia ganhar, a todas. A pressão psicológica aliada ao natural desgaste físico (apesar de Jesus ter vindo a gerir muito bem a época) não deixará de se fazer sentir.
Pode acontecer que ed tanto querer ganhar, ou de tanto ser obrigado a querer ganhar, o Benfica ainda possa poder o essencial das oportunidades que aparentemente se lhe oferecem? Pode! O futebol não é, porém, uma ciência exacta e admito que seja impossível, perante a espantosa perspectiva histórica, que o Benfica possa, agora, abdicar de lutar em qualquer uma das três frentes. Os pessimistas lembrarão que quem tudo quer tudo perde, mas os optimistas haverão de contrapor que quem não arrisca não petisca.

NOTA FINAL - Estranha (falta de) reacção do FC Porto no Funchal. Do meu ponto de vista, muito pior do que em Málaga. A equipa pareceu triste e insegura, demasiado longe de Jackson Martínez e com muita gente cansada. Que João Moutinho volte depressa!"

Vítor Serpa, in A Bola

As 'remontadas' espanholas

"1. Remontada é a palavra da moda em Espanha. Primeiro, foi o Real Madrid em Manchester, onde teve a ajuda do turco Çakir que decidiu (com a bênção de Collina) virar a eliminatória do avesso; depois, foi o Barcelona que, humilhado e dado por morto em Milão, resolveu equipar-se de gala e transformar o Camp Nou no Teatro della Scalla para recitar uma ópera épica, mais uma, sob a batuta de Messi, o maior maestro de todos os tempos; finalmente, o Málaga a quem o Porto estendeu a passadeira vermelha para fazer das fraquezas (bem visíveis no Dragão) forças. E assim, graças à fortuna e ao valor próprio conjugados com a inépcia alheia, os espanhóis continuam com três equipas em prova e podem cantar olé. Deve dizer-se que a eliminação do FC Porto não era esperada mas Vítor Pereira, mais uma vez condicionado pelo medo, quis improvisar. Apesar da enorme superioridade manifestada no jogo da 1.º mão que o 1-0 não traduz de todo, optou por jogar com um só atacante (Jackson) embora houvesse outro em campo a fazer número (Varela). Ao renunciar a James em benefício de Defour, transmitiu à equipa a sua apreensão e pouca convicção. Tanto mais que, moralmente, o adversário estava de rastos: vinha de quatro jogos sem vitórias e apenas um golo marcado! O próprio Helton não se coibiu do inevitável sketch de que Rizzoli gostou tanto que até lhe perdoou a fífia.

2. Rolando está à prova no Nápoles, estreou-se na Série A no passado dia 10 e só tem mais oito jogos para convencer a exigente crítica italiana. Nessa partida em Verona contra o Chievo, que o Nápoles perdeu (0-2), foi um dos dois melhores juntamente com Behrami (um Kosovar naturalizado suíço), classificados com a nota de 5,5 em 10. Antes disso, Rolando tinha sido utilizado apenas na Liga Europa, no duplo confronto com o Viktoria Plzen e, ao que rezam as crónicas, desiludiu quer como líbero quer como stopper. Por este andar, dificilmente virá a ser resgatado pelos, sete milhões acordados."

Manuel Martins de Sá, in A Bola