sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Segunda volta vai ser mais quente

"O Benfica termina a primeira volta do campeonato em primeiro lugar com um golo de vantagem. O ano passado quando o Benfica ganhou na Vila da Feira e o FC Porto perdeu em Barcelos, também em Janeiro, Vítor Pereira que nunca fala de árbitros, a não ser todos os dias, veio dizer que podiam encomendar as faixas. O Benfica tinha cinco pontos de avanço, e começou a ser 'traçado' sem dó nem piedade.
O Benfica está ainda mais forte este ano, e por isso vai ser ainda mais quente esta segunda volta. Em Moreira de Cónegos o Benfica não vacilou e venceu com justiça. Em Braga todos sentem que é decisivo vencer para poder lutar pelo título em situação de paridade desportiva.
O FC Porto no plano teórico tem a vantagem de já ter ido à Luz e a Braga, o Benfica tem a vantagem de estar a jogar melhor e num campeonato desequilibrado, não serem muitas as equipas capazes de o fazerem tropeçar.
Mas o SC Braga é uma delas, talvez até a maior. Em Braga estão muito mais de três pontos.
Braga e Paços de Ferreira nos próximos cinco dias acendem as luzes de conseguir o sonho dos títulos. Campeonato e Taça estão ali... e se não apagarem a luz.
Lance Armstrong foi para mim a queda de um ídolo. Afinal não há o super-herói. Aquele que ajudei a subir o Alpe D'Huez, ou o Tourmalet em tantas tardes inesquecíveis afinal era uma mentira laboratorial.
Detesto vigarice. Detesto os campeões aldrabados. Fico ainda mais revoltado quando são os da minha preferência do que quando são os adversários. Pode até ser uma luta perdida mas desporto é o contrário de aldrabice. E desporto é muito mais que um negócio e quem o quer reduzir a um negócio também o está a matar, porque sem paixão acaba todo negócio. Seja no futebol, no ciclismo ou em corridas de caricas em pista coberta."

Sílvio Cervan, in A Bola

André Gomes & Roderick até 2019


O Benfica anunciou hoje mais duas renovações, com dois dos nossos jovens jogadores... O André chegou o ano passado para os Juniores, começou esta época na equipa B, e subiu rapidamente à equipa principal... creio que ninguém foi surpreendido pela renovação, o potencial do jogador é enorme, alia a capacidade técnica com os dois pés, com a visão táctica, é elegante, e até fisicamente é um jogador impressionante, nesta fase de adaptação à equipa Sénior parece-me que só lhe falta ganhar mais alguma velocidade, principalmente quando tem a bola nos pés... Tenho total confiança no André, parece-me um jovem inteligente, que não irá desperdiçar o talento que tem... Creio que irá triunfar jogando a '6' ou a '8', também tem características para poder jogar a '10', mas a tal falta de velocidade, vai 'empurrar-lo' para as posições mais recuadas.



O Roderick já tem um trajecto diferente, fez praticamente toda a formação no Benfica, já tem várias épocas no plantel Sénior, mas não tem conseguido impor-se, demonstrando alguma falta de agressividade para um defesa central... Este ano foi emprestado ao Corunha, começou por não ser opção, até que algumas lesões dos centrais titulares, lhe abriu algum espaço, que não aproveitou... Acabou por regressar ao Benfica, deverá fazer o resto desta época, entre a equipa B, e o banco da equipa A... Muito sinceramente não sei se esta renovação, é a pensar numa aposta clara na evolução do jogador para ser opção nos A's, ou se será um daqueles jogadores para dar alguma experiência aos B's!!! Pessoalmente, já tive mais certezas sobre o Roderick, creio que ele está numa encruzilhada: ou rapidamente se mentaliza que tem que ser mais agressivo, ou arrisca-se a ser uma 3.ª opção... Existe ainda a possibilidade de ser adaptado à posição '6'!!! Tem leitura táctica, capacidade técnica de passe, e de controle de bola, para ter sucesso nessa posição...

Já 'começou' o jogo de Braga

"1. Já começou há uma semana o SC Braga - Benfica de amanhã. O presidente do SC Braga, que tem como segundo (ou primeiro?) clube o FC Porto, criticou muito a expulsão do seu jogador, Paulo Vinicius, impedido, assim, de jogar com o Benfica (mas esqueceu-se da agressão de Salino...). Está no seu direito, embora tenha dúvidas de que protestasse nos termos em que o fez se o próximo adversário fosse o FC Porto. Até porque, 'à Porto', falou em 'tempo de Calabote' (uma lenda - falsa - que Pedroto lançou e Pinto da Costa aproveitou) e esqueceu-se de algo bem recente, do seu tempo, de que se deve lembrar bem e, esse sim, foi real: o Apito Dourado. Não se estranha...

2. Finalmente, mais de um ano depois, está decidido, e o Sporting vai ter mesmo que pagar ao Benfica os prejuízos causados no nosso Estádio aquando do jogo da época passada. Mas é bom que fique claro: não foram apenas as claques do Sporting as culpadas; mais que elas, as declarações incendiárias do seu presidente e do entretanto 'desmascarado' (por outros motivos igualmente graves) 'vice', Pereira Cristóvão.

3. Ao Benfica interessa um clube forte no Porto, que possa fazer frente ao FC Porto, que ali 'reina' sozinho. O Boavista poderia ter sido esse clube, mas os seus dirigentes 'embarcaram' no Apito Dourado e o clube sofreu as devidas sanções. Além de que, reconheça-se, o Boavista foi muito prejudicado aquando das ajudas autárquicas para o Euro'2004, já que Nuno Cardoso, com um triste mandato à frente da autarquia, tudo deu ao FC Porto e esqueceu o outro clube da cidade. O Boavista ainda protesta contras as decisões do Apito Dourado. Só tem razão numa coisa: enquanto o FC Porto e o seu presidente escaparam aos castigos a sério, o Boavista foi despromovido. Mas não pode agora armar-se em vítima, já que largas vantagens tirou também do 'Apito'.

4. Com meia dúzia (se tanto) de treinado, Izmailov já joga pelo FC Porto e até marca golos. Duas conclusões claras: as coisas no Sporting não funcionam mesmo e o jogador é um péssimo profissional (e como homem não é melhor)."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Objectivamente (Salvador)

"Se há dirigente que irrita pelo cinismo das suas declarações é António Salvador, o presidente do SC Braga. Quando lhe convém, cala-se bem caladinho - como para explicar os desaires da sua equipa na Taça de Portugal e nas competições europeias - mas quando se apanha de «peito cheio» fala bem alto a sua costela anti-benfiquista, ora para defender o amigo do Porto, ora para atacar o Benfica, via indirecta, como o fez agora contra o árbitro que lhe expulsou um jogador por excesso de faltas cometidas.
Curiosa é a forma como Salvador se refere à arbitragem do Braga-Setúbal, dando a entender que o árbitro quis beneficiar o Benfica ao expulsar Paulo Vinicius ficando este de fora do jogo SCB-SLB. Diz Salvador que arbitragens destas «só no tempo do Calabote»!
Ele que ainda nem era vivo ou era muito menino - e que, de certeza, não sabe que esse célebre Campeonato foi ganho pelo «seu» FC Porto - deveria ter dito, quando muito, que era uma arbitragem «à Guímaro, à Silvano, à Calheiros, à Fortunato Azevedo, à Rosa Santos, à, à, à...» - tinha tantos para mencionar, incluindo os da maior vergonha do Futebol português do Apito Dourado, mas não. Preferiu o do sr. Calabote!... Também não é de admirar. Foi por essa cartilha que aprendeu e pensa que são todos iguais. A memória dele não dá para mais! Quer agora armar-se em grande lutador contra o Sistema que o tem colocado nos lugares da Champions nos últimos anos!
Mas o que me preocupou mais não foram as declarações dessa caricata figura. Foi a certeza que ele deu: «Mesmo assim vamos ganhar, de certeza, ao Benfica.» Mas quem é que lhe deu tamanha certeza? Será que foi quem todos nós pensamos que foi? Será? Os amigos são para as ocasiões...
O que ele sabe, já a nós nos esqueceu!"

João Diogo, in O Benfica

Primeira volta

"Terminada a primeira volta, importa perceber o que nela se inscreveu de mérito do Benfica em resposta aos profetas que em cada adversidade encontram o som das trombetas apocalípticas.
Perante as saídas de Witsel e Javi Garcia, arregaçaram-se as mangas e criaram-se alternativas que rapidamente se demonstraram tão ou mais competentes do que os seus antecessores. Perante as arreliadoras lesões de Aimar e Carlos Martins, criaram-se dinâmicas novas e soluções com outros nomes. Perante o longo castigo e lesão de Luisão, o grupo de trabalho soube ouvir outras vozes de comando. Assim, nomes como Matic, Lima, Enzo, Jardel ou Ola John acabaram por se impor na equipa, aproveitando oportunidades e criando soluções onde as carpideiras patéticas anunciavam desgraças. A estes juntam-se futebolistas como Melgarejo, André Almeida e André Gomes, novos nomes a que nos fomos habituando e em quem aprendemos a confiar sem reservas. Tudo isto faz parte de um Benfica novo, ainda que mantendo as grandes referências das últimas épocas. Tudo isto se deve, especialmente, ao mérito de uma equipa técnica (desde Jorge Jesus a Pietra) que, pelo trabalho e competência, insiste em dar lições de profissionalismo e competência aos comentadores de bolso que se limitam a esperar o deslize para enfiar a facada. Todas estas soluções levaram a que o Benfica tivesse feito uma metade de época invicto no Campeonato, na Taça de Portugal e na Taça da Liga. Será, salvo erro, a segunda melhor primeira metade de Campeonato da História do Benfica e a melhor desde 1972//73 (a do campeonato invicto de Jimmy Hagan).
Ao ver este panorama, recordo as palavras de tantos que, cheios da soberba dos ignorantes, se apressaram, no início da época, em anunciar a desgraça. A esses relógios parados à espera dos dois momentos do dia em que ufanos podem dizer “eu bem disse, eu tenho razão”, resta-lhes esperar que na segunda volta do campeonato surja um qualquer Soares Dias (Benfica-Braga) ou Xistra (Académica-Benfica) que lhes alivie a azia."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

71 Gloriosos anos... Parabéns King

"D. Elisa Anissabana queria uma menina: o dia 25 de Janeiro de 1942 não lhe fez a vontade. Nasceu-lhe outro rapaz. Chamou-se Eusébio da Silva Ferreira!
Em Lourenço Marques, os Janeiros eram quentes, asfixiantes, quase incómodos. Havia manhãs em que parecia que um cobertor de papa, daqueles velhos cobertores que se amontoavam nos baús dos avós, tapava a cidade, da Ponta Vermelha e do Quartel de Artilharia, entalado entre a Rua Chaimite e a Rua Coolella, até ao fim da Avenida Manuel de Arriaga, para lá da Fábrica de Sabão e do Forno Crematório, da Baixa a Malhangalene e Munhuana, e para lá ainda, nos caminhos de Xipamanine.
No bairro da Mafalala, onde vivia D.ª Elisa Anissabana, era hábito as pessoas dormirem a sesta em redes estendidas entre dois coqueiros. Ou trazerem para fora das suas casas pequenas e abafadas, colchões de palha que estendiam no terreiro, à sombra de uma acácia de copa achatada e flores rubras. Colchões de palha forrada a serapilheira riscada a vermelho e branco: foi assim que, bem longe de Lourenço Marques, em Madrid, os jogadores do Atletico Aviación, mais tarde conhecido por Atlético de Madrid, ganharam a alcunha de “colchoneros”.
D.ª Elisa Anissabana: mãe de Eusébio. Antes dele já tivera três rapazes. Queria uma menina, agora. O dia 25 de Janeiro de 1942 não lhe fez a vontade. Nasceu-lhe outro rapaz. Chamou-se Eusébio. Da Silva Ferreira. O Mundo saberia, a devido tempo, decorar-lhe o nome. E pronunciá-lo de todas as formas. Euzibiú, Ózébio, Iuzibiô, Ouzébiou...O Mundo não tardou a confundi-lo com Portugal.
“Chego a convencer-me de que, enquanto os outros bebés aprenderam a andar, eu aprendi a chutar”, diria Eusébio, dezanove anos depois, numa entrevista concedida a Carlos Miranda. Um ano depois de chegar a Lisboa e à Metrópole, como então se dizia, Eusébio já era O Eusébio, e tinha uma história completa para contar.
Disse e repito: Eusébio conta-se a si próprio. “Não me lembro de brinquedos, não me lembro de jogos ou de partidas. Lembro-me da bola. Sempre da bola. A trapeira, se coisa melhor não se conseguia arranjar, lá nos coqueiros, em desafios sem fim, sem prazos de tempo nem balizas medidas. Jogar à bola, fosse como fosse, era tudo quanto desejávamos”. (...)
Eusébio fala, o Carlos Miranda escreve, a gente lê: “Eu já andava numa escola, claro, e algumas vezes, bom... houve umas gazetas, a minha mãe não gostava nada que eu andasse enfronhado no Futebol, apertava comigo, que me importasse com a escola e me deixasse dos pontapés na bola, mas eu não sei explicar, havia qualquer coisa que me puxava, sentia um frenesim no corpo que só se satisfazia com bola e mais bola. O resultado de tudo isto era uns puxões de orelhas bem grandes e, uma vez por outra, umas sovas que não eram brincadeira nenhuma.”
De nada serviu. Os irmãos estudam, Eusébio não. Alguns chegam a completar o liceu, ele desiste no fim da 4.ª classe. Estava escrito: seria Doutor em Futebol. Honoris causa!
O pai morre-lhe cedo. Angolano de nascimento, trabalhava nos Caminhos-de-ferro de Lourenço Marques e jogara Futebol no Ferroviário. Tinha 37 anos: o tétano não escolhia idades. Chamava-se Laurindo António da Silva Ferreira, natural de Malange. Não chegou a ver jogar o filho. Lá, na Mafalala, Lourenço Marques, Moçambique, em 1958, D.ª Elisa Anissabana gritava por Eusébio, mas Eusébio não vinha. Ficara de ir buscar o jantar da família, agora maior: D.ª Elisa Anissabana tivera a menina que tanto queria, tivera até mais duas, e já somava seis rapazes. No regresso, faltava um. Faltava um no campo da bola de terra vermelha, estavam dez para onze, Eusébio era preciso. Esqueceu o jantar, esqueceu a família. O chamado da bola era mais forte do que a voz da mãe. E, ainda por cima, a Mafalala ganhara um clube de Futebol: Futebol Clube Os Brasileiros. Futebol Clube Os Brasileiros: nome de pompa e circunstância.

E o Brasil, em 1966…
Eusébio. Há nomes assim: esse ponto final parágrafo aí em cima poderia ser um ponto absolutamente final. Ou seja: o livro estaria pronto, concluído, perfeito. Porque a Eusébio nada se acrescenta. Exagero subjectivo!, exclamarão alguns. Estão no seu direito. (...) Convenhamos: Eusébio escreveu-se a si próprio. Agora vou falar de outro nome fundamental: Nelson Rodrigues. A ele se devem as mais belas páginas escritas em português sobre Futebol. E, ao contrário do que possam pensar, Futebol e Literatura têm muito em comum. Têm muitíssimo em comum.
Nelson Rodrigues: “Em Futebol, o pior cego é o que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. Às vezes, num córner mal ou bem batido, há um toque evidentíssimo do sobrenatural”. Era aqui que queria chegar: Eusébio é demasiado complexo para ser objectivo.
Revejam o filme do primeiro golo de Eusébio contra o Brasil, em 1966, no Campeonato do Mundo de Inglaterra. Ou melhor, revejam-no depois do golo. Ele corre, de braço no ar. A cabeça está erguida, imperial, reparem bem: há no seu olhar, que abarca todo o estádio de Goodison Park, em Liverpool, a consciência de que a história está a passar por ele, pela sua passada elástica, veloz, o redor move-se em câmara lenta, só ele tem vida para além da vida corriqueira, insignificante, só ele ganha luz para além dessa vidinha de que falava Alexandre O’Neill e que acabrunhava o País triste. Corre, corre, corre, Eusébio corre.  
Está apenas a comemorar um golo, mas até disso dir-se-ia depender a sua própria existência. Aquela corrida parece durar horas e horas. Aquela corrida merecia durar horas e horas.
Prestem bem atenção, agora: ele eleva-se no ar como se tivesse as asas nos pés de um Mercúrio negro. O seu braço erguido estende-se para lá do estádio, quase tocando o céu num soco vigoroso, vibrante. Não tirem os olhos dele: deixem-no ficar assim para sempre na parede lisa da vossa memória. Dificilmente Eusébio poderá ser tão Eusébio.
Lá está o que disse há pouco: demasiado complexo para ser objectivo. Lá está o que disse Nelson Rodrigues: “O pior cego é o que só vê a bola”.
A bola aqui pouco importa: estava colada no fundo da baliza de Manga, guarda-redes do Brasil. De forma irreversível. Como Eusébio na aldeia branca da nossa memória."

Afonso de Melo, in Planeta Eusébio, retirado do Site do SL Benfica

Do que Vítor Pereira gostava era de ter o Matic

"Singular sinal de fraqueza dado por Vítor Pereira, clamando incessantemente o nome do Matic do Benfica, gritando como um patrãozinho zangado contra os árbitros

PEP GUARDIOLA será o treinador do Bayern do Munique a partir da próxima temporada e até 2016. A notícia surgiu a meio da última semana, veiculada pelo site oficial do clube bávaro, o que não deixou margem para especulações. Era mesmo verdade.
A posição do actual treinador, Jupp Heynckes, foi salvaguardada com o maior respeito pelos seus empregadores. De acordo com a informação oficial, Heynckes tem 67 anos, pretende reformar-se no final desta época, presumivelmente com mais um título de campeão da Alemanha visto que o Bayern lidera a tabela da Bundesliga e, este ano, uma vez mais, parece estar a jogar mais e melhor à bola do que a concorrência interna.
É uma notícia assombrosa para quem acompanha com atenção as altas peripécias do futebol europeu. A partir da próxima época o campeonato alemão vai, certamente, passar a ser seguido fora da Alemanha como nunca foi, apesar de ser uma das provas mais interessantes, limpas e rijamente disputadas do futebol de top a nível mundial.
Aparentemente não faltava nada à Bundesliga. Qualidade há a rodos e público também. Os jogos são regra geral disputados à tarde, têm transmissão televissiva e é ver os estádios sempre lotados. Do ponto de vista do rigor do negócio, da excelência da organização, da qualidade do espectáculo e da devoção do público, o futebol alemão, tal como hoje se apresenta, não pede meças a ninguém.
O que faltava então ao futebol na Alemanha para se impor como um produto altamente apetecível para os fãs, para as marcas, para os patrocinadores, para as estações de televisão por este mundo fora?
Faltava-lhe apenas apostar decididamente no star system. Ou no show business, como preferirem.
O super-Barcelona montado por Pep Guardiola, vencedor de quase tudo o que havia para vencer, pode ter inspirado os dirigentes do Bayern de Munique à contratação do treinador. Mas houve muito mais do que isso. Guardiola é uma grande personalidade, uma estrela a um nível mediático que ultrapassa em parga escala o pequeno-grande mundo do futebol. Jovem, bem-parecido, bem-falante, bem-sucedido, passará a ser o emigrante mais bem pago a trabalhar na Alemanha e vai atrair sobre o seu novo clube as atenções da imprensa dos cinco continentes.
Para o Bayern, a contratação de Guardiola é uma jogada de marketing notável. Para Guardiola é um desafio imenso que o definirá como treinador. Isto porque há muita gente, teóricos profissionais e outros amadores, a quem Pep Guardola só conseguirá convencer provando as suas qualidades como técnico num clube que não seja o FC Barcelona.
E escolher um clube da Alemanha para provar é, no mínimo, corajoso da parte do catalão. Na Europa, não há futebol com menos apetência filosófica para o tiken und taken do que o alemão, sempre pragmático na sua relação em linha recta, o mais recta possível com as balizas.
Os cabedais que o Bayern do Munique coloca à disposição de Guardiola para contratar jogadores permitem-lhe alargar o recrutamento até níveis dificilmente alcançaveis por outro emblema. Cabe, assim, ao treinador definir a seu belo prazer, sem constrangimentos financeiros, a equipa que vai querer, a filosofia de jogo que vai impor, resumindo, o espectáculo que vai montar.
Naturalmente, há também um ponto de vista nosso, portuguesinho, sobre o anúncio da viagem de Pep Guardiola para o futebol alemão quando já ninguém duvida de que José Mourinho sairá de Madrid no fim desta época. Ou mesmo mais cedo se o chatearem muito.
- O Guardiola vai para a Alemanha para não ter de levar com o Mourinho em Inglaterra ou em Itália ou em França - dizem os nossos compatriotas mais patriotas.
São bem capazes de ter razão.
Não sei do que o Borussia de Dortmund está à espera para ir buscar Mourinho a Madrid. Isso é que era mesmo speziale.

O Matic vai jogar em Braga! O Matic vai jogar em Braga! Os gritos de Vítor Pereira ouviram-se em toda a parte. O treinador do FC Porto, que dispõe em sua casa de um meio campo farto e de grande qualidade, parece que tem medo do Matic e de que, jogando em Braga, o Matic jogue bem e ajude o Benfica a ganhar.
No fundo, Vítor Pereira é um admirador do Matic e queria-o no Porto. Se o Matic fosse jogador do Sporting era canja.
Grande sinal de fraqueza, no entanto, este dado por Vítor Pereira, clamando incessantemente o nome do sérvio, gritando como um patrãozinho zangado contra os árbitros que não expulsam o sérvio em todos os jogos, atemorizado só com a ideia de o Benfica, recorrendo a um meio-campo uni-pessoal - na verdade, é Matic o único centrocampista - conseguir aquilo que vem conseguindo desde o princípio da temporada e em que poucos acreditavam: lutar taco-a-taco com o FC Porto pela conquista do título.
Presume-se que Vítor Pereira, utilizando uma expressão que lhe é querida, tenha encomendado as faixas logo em Agosto quando, no último dia do mercado de Verão, viu Witsel e Javi Garcia de malas feitas sem que fossem anunciados os substitutos para as suas respectivas posições.
No miolo do campo, o Benfica ficava entregue à intermitente dupla Pablo Aimar-Carlos Martins e a um sérvio chamado Matic que pouco jogara na época anterior. Estava, portanto, adjudicado o campeonato ainda em tempo de praia.
Clubismos à parte, é absolutamente compreensível o prognóstico optimista de Vítor Pereira. Há muitos benfiquistas que, por serem pessimistas, viram o caso exactamente da mesma maneira. Entre eles me encontro. Sem meio-campo, o Benfica começava a luta mais frágil e com menos recursos - muitos menos - do que o seu adversário e rival. Estava ditada a sorte.
Tudo isto para, neste pormenor, dar razão a Vítor Pereira e para dizer que, em muitos sectores, a boa carreira do Benfica na primeira metade da temporada causa tanto espanto na Luz como causa no Dragão.
Falta agora a segunda metade da temporada. E no futebol português, à semelhança de muitas e conceituadas companhias líricas, há reportórios que se repetem e repetem e repetem... Este Janeiro, por exemplo, depois do empate com o FC Porto na Luz, tem o Benfica pela frente uma série de quatro jogos fora que se apresentou e se vai continuar a apresentar complicada.
Os dois primeiros passaram-se bem. Vitória expressiva em Coimbra para a Taça e vitória indiscutível em Moreira de Cónegos. Segue-se uma viagem a Braga para a Liga e uma viagem a Paços de Ferreira para a Taça. Sortilégios do calendário mas, na verdade, é muito jogo fora de uma assentada.
Normalmente, e se não fosse o Matic - na opinião de Vítor Pereira -, o Benfica, abalado com o empate caseiro frente ao campeão, já teria escorregado nesta campanha fora da Luz. Ou se tinha espalhado em Coimbra, onde na temporada passada o FC Porto caiu na Taça, ou caído em Moreira de Cónegos, terreno difícil. O normal do nosso reportório era ter o Benfica perdido sonhos ou pontos de modo a chegar a Braga em plano inclinado.
Assim não aconteceu. A culpa é do Matic e dos árbitros que não o expulsaram.
Irradiado é que era, esse Matic.

O reportório de António Salvador também não muda. É a questão da fidelidade aos princípios dramáticos.
Está época, por exemplo, terá sido o Sporting de Braga altamente prejudicado pelo árbitro nos dois jogos com o FC Porto, aventou a crítica. Salvador nem piou.
Já no jogo com o Sporting, tendo sido anulado um golo aparentemente limpo, Salvador não se coibiu de protestar em voz muito alta e aborrecida em defesa dos interesses do seu emblema e assim que o jogo acabou.
Chega agora o Benfica e o presidente do Braga, afoito em crescendo, iniciou as suas manifestações de protesto, em voz ainda mais alta e mais aborrecida, cinco dias antes do jogo e de o árbitro, seja ele qual foi, apitar para o pontapé de saída. É obra.
Afinal temos campeonato. Até quando é que não se sabe.

PROVAM as escutas radio-telefónicas do Apito Cromado, velha investigação policial aos melindrosos factos ainda a preto e branco (no tempo do fascismo não havia cores) do futebol português na década de 50 (ainda os telefones funcionavam à manivela) que o árbitro Calabote se referia ao Sporting de Braga utilizando continuadamente a misteriosa expressão o meu Braguinha. Mas era só para disfarçar."

Leonor Pinhão, in A Bola