quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A hipótese

"Houve há dois anos uma transferência futebolística que deixou meio mundo pasmado. Refiro-me a Tiago Manuel Dias Correia, ex-jogador do Vitória de Guimarães, mais conhecido pela afectuosa alcunha de Bebé. Trata-se de um jovem avançado que, embora nunca tivesse jogado um minuto que fosse na Liga Portuguesa, foi transferido para o Manchester United, ao que se escreveu, por nove milhões de euros. Acresce que Sir Alex Ferguson tornou a operação ainda mais extravagante ao ter revelado tê-lo contratado sem nunca o ter visto jogar.
No seguimento do actual pseudo-defeso invernal, parece que finalmente Bebé vai poder jogar na Liga ao serviço do Rio Ave, depois de ter experimentado, sem êxito, o Besiktas, no meio de uma prolongada lesão e da alguma indisciplina (parece ser o fado de jogadores portugueses em terras otomanas).
Enquanto Bebé vai, muda e volta, vim lendo, recorrentemente, notícias sobre as severas dificuldades financeiras por que vem passando o clube de onde foi transferido para Inglaterra. Assim como, amiúde, leio referências à notável proficiência do seu empresário Jorge Mendes.
Tudo visto e revisto, pergunto-me? Onde está a lógica de todo este negócio? O que se passou afinal?
Nestas alturas lembro-me de uma frase que uma vez li a propósito do significado do vocábulo hipótese. Diz assim: «hipótese é uma coisa que não é, mas que a gente faz de conta que é, para ver o que seria se fosse.»
Talvez esteja aqui a explicação: na hipótese. E, como no teorema de que é parte, bom seria que tudo terminasse com a expressão latina. Quod erat demonstrandum, mais conhecida pela aportuguesada sigla CQD."

Bagão Félix, in A Bola

Patifaria feita a José Cardinal tem de ser punida

"Tal como nunca poderá cair no esquecimento aquilo (tanto!) que o famigerado processo Apito Dourado pôs a nu perante todo o país - indesmentível a visita de árbitro a casa de presidente de clube na semana em que estava nomeado para jogo desse clube!; indesmentível, e inesquecível, o que milhares ou milhões ouvimos nas célebres escutas que vieram a não ter validade judicial... -, também no impropriamente chamado caso Cardinal não poderá ser feita tábua rasa. Basta de regabofe! Os autores de tão graves actos têm de ser punidos. No tribunal. Para o julgamento da opinião pública, bem se tem visto como se estão nas tintas.
Depositar dinheiro (no caso, dois mil euros) na conta bancária de árbitro em vésperas do jogo em que ele irá actuar é... abjecto! Gravíssima manobra: por visar vir a denunciá-lo - ou pressioná-lo... - como corrupto.
O mentor de tamanho patifaria teve azar; porque José Cardinal teve a sorte de ir ao multibanco; verificando a conta acrescida por inexplicada/suspeita verba, logo informou o Conselho de Arbitragem que o substituiu no jogo em causa (Marítimo-Sporting). Se apenas depois do jogo tivesse dado pelo depósito (em dinheiro, num balcão), estaria metido no enorme sarilho pretendido por tão brutal artimanha.
Imperioso não se repetir a incompetência processual que levou ao absurdo arquivamento do Apito Dourado!
Estranhíssimo: tendo os primeiros dados apontado a manobra contra José Cardinal proveniente de alguém ligado ao Sporting (clube impoluto no Apito Dourado), por que carga de água o Sporting não se fez assistente no processo, nem de imediato nem até hoje?"

Santos Neves, in A Bola