sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A velhice do papa eterno

"Está decrépito o papa eterno. Tão decrépito como o seu colega padre da Guerra Junqueiro. Balbucia em vez de falar. Solta incompreensíveis desatinos que deveriam fazer rir mas que fazem apenas sentir pena. Ou nem isso. Poucos lamentam a velhice do papa eterno. Poucos sentem misericórdia da sua decadência. Não uma decadência moral, porque o papa eterno é amoral. Sempre foi. Nada nele obedeceu às regras da civilização e da sociedade. Pelo contrário. O papa eterno foi, ao longo da sua mais do que longa vida, um espúrio irremediável e irreversível. Dobram ao longe os sinos. A sua decadência é física, visível, palpável. Careca, desdentado, rugas fundas rasgam-lhe a fronte néscia, pelancas espalham-se-lhe pela cara hedionda que provoca desconfiança e nojo. Fede.
Não fede de podridão do corpo, embora essa podridão seja tão autêntica como a outra, a podridão dos princípios que lhe vem do berço. Ainda assim reclama um espaço largo na atenção dos vivos, mesmo que nas suas costas aqueles que se dizem seus amigos, seus seguidores, seus apóstolos, afiem as adagas curvas que rasgarão o que lhe sobra de carne e quebrarão os seus ossos frágeis.
Olhamos para a sua figura deprimente, ordinária, baixa, e não há quem sufoque uma casquinada irónica. Do homem que nunca foi resta um amontado grotesco de inconveniências. O que diz não são palavras: é baba. Há nessa baba raiva, uma raiva enlouquecida. A baba enlouquecida de um boi no curro que sabe que o seu destino se levanta na ponta de uma bandarilha cruel, ali em frente, na arena inevitável da vida. E o toureiro não terá piedade...

P.S. - O Azeiteiro-da-Cabeça-d'Unto continua a falar, a falar, a falar, a falar. Vanitas vantitatum et omnia vanitas, é a primeira frase de Eclesiastes. Vaidade das vaidades e tudo é vaidade. Uma vaidade ridícula!"

Afonso de Melo, in O Benfica

2013 com títulos (no plural)

" «Há na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho, não se governa nem se deixa governar.» Terá sido assim que no século III a.c. um general romano de seu nome Galba se referia aos Lusitanos, nossos antepassados. Podem ter vindo mais Suevos e Visigodos, mais Muçulmanos e outros povos, mas a nossa gente permanece basicamente assim em tudo o que tem de bom e de mau.
Enquanto em Inglaterra os adeptos se deliciam com bom futebol do boxing day, por cá houve-se dislates e impropérios. Nuns casos ralham uns com os outros, noutros, como o Sporting, talham dentro da mesma casa. Nem a quadra de Natal suaviza a nossa natureza.
Esta semana devolve-nos o futebol. Domingo, o Benfica vai a Moreia de Cónegos jogar para a Taça da Liga. O Moreirense (tem cinco ataques piores, sete defesas mais batidas, e já apeou o Sporting da Taça de Portugal) é melhor que o lugar que ocupa no Campeonato.
Quarta-feira, o Desportivo das Aves, que se mantiver a posição que ocupa será de primeira divisão em cinco meses, é um obstáculo de respeito.
Este mês de Janeiro tem um calendário louco para o Benfica. Na Taça da Liga, qualificação para a meia-final. Na Taça de Portugal, Aves na Luz e Académica em Coimbra são o caminho para as meias-finais rumo a um Jamor esquecido no tempo. No campeonato, são quatro jogos, com três saídas (Estoril, Moreirense e Braga) e uma recepção ao FC Porto.
É óptimo ter tantas dificuldades e tantos objectivos, aumentam a nossa ilusão, reforçam a nossa vontade e capacidade de ganhar títulos. Mas essa ilusão, vontade e capacidade terão que ser habilmente geridas para não ficarmos à mercê de um qualquer general romano de ocasião...
2013 vai entrar com a certeza de que a época poderá terminar de forma excelente para todos os benfiquistas, com títulos... no plural."

Sílvio Cervan, in A Bola

2012, um balanço

"Chegados aos últimos dias de mais um ano, é altura de recordar aquilo que ele nos trouxe - quer de bom, quer de menos bom, quer, sobretudo, de ensinamentos úteis para o futuro.
Para o Benfica, pode dizer-se que 2012 foi genericamente positivo. É verdade que não fomos campeões nacionais de futebol - não nos deixaram sê-lo…-, mas essa foi a única lacuna num ano recheado de êxitos. Não podemos esquecer que estivemos entre os oito melhores da passada Champions League (só uma infeliz carambola de resultados nos afastou da presente edição), nem que conquistámos, uma vez mais, a Taça da Liga, nem que chegámos a esta altura da nova época invictos, na liderança do Campeonato principal, e com francas possibilidades de regressar ao Jamor.
No Verão, conseguimos realizar negócios do outro mundo, com as vendas dos passes de Javi Garcia e Witsel por valores irrecusáveis, e sem que tais ausências se reflectissem sobremaneira no rendimento colectivo da equipa (méritos ao treinador). E aí estamos nós, carregados de legítima esperança para os meses que se avizinham.
Nas modalidades conseguimos fazer história, alcançando títulos nacionais de Futsal, Basquetebol (este em circunstâncias particularmente saborosas), Hóquei em Patins (colocando ponto final num longo jejum) e Atletismo, entre muitas outras vitórias e troféus – dos quais se destaca, já na corrente temporada, uma inédita colecção de cinco (!) Supertaças.
Também no Futebol Formação alcançamos sucessos, quer por via do título de Iniciados, quer pelo elevadíssimo número de jovens benfiquistas chamados às respectivas selecções nacionais, quer, ainda, pelo surgimento de nomes como André Gomes na órbita da equipa principal.
Em termos institucionais, as eleições ocorridas em Outubro, para além de responderem afirmativamente à nossa antiga tradição democrática, trouxeram a clarificação necessária para prosseguirmos na rota do reencontro com a nossa história.
Temos hoje mais e melhor Benfica. Estamos no caminho certo. 2013 espera por nós."

Luís Fialho, in O Benfica