quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

As remontadas encarnadas

"As estatísticas valem o que valem. Às vezes nada, outras muitas vezes muito, quase sempre algo.
Nesta temporada, verifica-se uma série muito significativa de remontadas nos jogos do Benfica. A saber: Beira-Mar (de 0-1 para 2-1), Paços de Ferreira (de o-1 para 2-1), Marítimo (de 0-1 para 4-1), Sporting (de 0-1 para 3-1), Olhanense na Taça da Liga (de 0-1 para 2-1) e ainda duas parciais, Braga (de 1-2 para 2-2) e Académica (de 1-2 para 2-2).
Ora aqui está uma constatação do que há muito não se via pelas bandas encarnadas. Com a circunstância de que o resultado é quase sempre virado na 2.ª parte.
Creio não estar errado se disser que tal tendência evidencia:
a) boa preparação física que se torna mais evidente à medida que o tempo de jogo se esgota;
b) capacidade demolidora de um ataque que vai minando as últimas forças do adversário;
c) saúde mental e psíquica de jogadores bem orientados numa base de confiança e de responsabilidade;
d) boa gestão das múltiplas componentes do treino;
e) inteligente rotação de jogadores, incluindo os da equipa B.
Aproxima-se agora a fase crucial da gestão do desgaste e das várias expressões da fadiga: jogos relevantes no campeonato à mistura com a Taça de portugal, Taça da Liga e... Bayer Leverkusen. Espero que seja a comprovação da boa saúde da equipa, ainda que nem todos os factores sejam controláveis. A propósito da Taça de Portugal, a Federação volta a insistir no infeliz modo algo de a salamizar e desvirtuar. Basta olhar para o absurdo calendário das meias-finais a duas mãos: 30 de Janeiro e (imagine-se!) 17 de Abril. E com a final ainda sem data..."

Bagão Félix, in A Bola

Caixa de conforto

"A justiça federativa sofreu esta semana novo revés muito sério, ao ser conhecida a acusação do Ministério Público ao dirigente que terá simulado, de forma bem canhestra, o suborno de um árbitro assistente.
As conclusões são devastadoras para a FPF, que tão rápida e estranhamente tinha indultado o suspeito, em contraste com outras sentenças bem pesadas, como as recentemente aplicadas a dirigentes por declarações avulsas.
Ao jeito da insólita ingerência do presidente da FPF no castigo aplicado por outra Federação a um jogador da selecção, são cada vez mais irreprimíveis as derivas discricionárias dos titulares de cargos directivos, que se precipitam em conclusões em função da importância ou afinidade com os emblemas envolvidos.
As confusões entre administração e justiça são doenças crónicas do futebol nacional, a partir de uma intrigante falta de consideração pela jurisprudência, plasmada em critérios desiguais para situações idênticas. Por exemplo, os castigos ao Boavista e ao FC Porto no processo Apito Dourado, em que o peso específico de cada um dos prevaricadores se reflectiu nos castigos, com intransigência para os pequenos e indulgência para os poderosos, de acordo com o espírito que atravessa hoje toda a sociedade portuguesa.
Também neste caso, envolto num pesado manto de silêncio, o futebol se prepara para pagar o amadorismo dos agentes disciplinares, perante a inevitabilidade de recolocar o clube do Bessa na 1.ª Liga, com graves consequências nos planos desportivo e financeiro, que talvez só um alargamento poderá resolver. Mas não é a dificuldade de obtenção de prova contra a corrupção desportiva que pode justificar a caixa de conforto em que, com toda a ligeireza, a Federação colocou o responsável pela tentativa de assassinato de carácter de um dos seus principais árbitros."

Foi só Amor !!!

O corporativismo mafioso é um dos grandes males deste País à beira-mar plantado, mesmo antes de se saber o que se passou, põe-se as mãos no fogo, pelas criaturas mais bizarras (para não dizer outra coisa...), unicamente porque são nossos conhecidos!!! Eu já assisti a este tipo de histórias tantas vezes: onde se jura a pés juntos uma coisa, para que dias depois as imagens provarem exactamente o contrário... curiosamente no futebol em Portugal, os agressores - pseudo-vitimas de cabalas monstruosas!!! -, estão sempre ligados à mesma organização criminosa... Mas também tenho a certeza que alguém irá encontrar uma qualquer explicação para os gestos e atitudes do coitadinho do Máreles, e digo mesmo, se fosse o Jorge Sousa - final da Taça da Liga no Algarve -, ou o Proença, ou mesmo o Benquerença nada se tinha passado!!! Depois de tudo o que foi dito, em defesa do Máreles, por tanta gente ilustre, o silêncio que se ouve neste momento, é assustador!!!
Créditos: Henrique Monteiro



A saída de Jesus

"Se há treinador que tem justificado reconhecimento público pelo trabalho que tem desenvolvido esta época, é Jorge Jesus. O treinador do Benfica tem sabido estar à altura das exigências do clube, e depois de ter perdido Javi García e Witsel – dois jogadores fundamentais, na última época, nas manobras do meio-campo – soube encontrar boas soluções que para já têm conduzido o vice-campeão nacional para as vitórias que lhe garante o primeiro lugar na Liga. Vitórias com goleadas, o que tem outro impacto, e com um futebol que nunca perde de vista o espectáculo  Tivesse Jorge Jesus outra forma de estar no futebol – menos fanfarrão ou mais sóbrio, se preferirem, para lá de um melhor jogo de palavras – e o seu talento seria muito mais evidente. Mas não se pode ter tudo. A vitória, esta época, na Liga portuguesa é a sua única saída para não desbaratar o seu capital.
O que mais aprecio no seu trabalho é a forma como consegue retirar o melhor rendimento da qualidade técnica de cada um dos seus jogadores. Num plantel como o do Benfica, construído por muitos e bons jogadores – afinal o segredo do futebol está aí –, uns destacam-se pela técnica (quase todos), outros vão bem de cabeça (Cardozo, essencialmente, mas também Luisão), há aqueles que rematam bem fora da área (Lima e Bruno César, é estranho a sua pouca utilização, atendendo ao seu potencial), e ainda há outros que são rápidos nos flancos (Ola John e Salvio). E é precisamente neste capítulo que Jorge Jesus é fortíssimo, ensinando a desfrutar e a tocar, a tocar a pensar no golo, a criar e a marcar. O que tem sido muito bem assimilado pela equipa, se atendermos aos 32 golos marcados na Liga em 12 jogos, o que é muito bom. 
Jorge Jesus tem tido pois muito mérito no percurso do Benfica, não só no crescimento e na venda de jogadores como essencialmente na afirmação da equipa, mas se tudo isto é muito bonito não chega se não for acompanhado pelos títulos que lhe têm faltado. Basta lembrar que Jorge Jesus só ganhou um campeonato no Benfica e esta já é a sua quarta época, e, como todos sabemos, não é possível estar na Luz três anos seguidos sem ganhar a Liga.
Assim sendo, este é o seu ano com uma margem de erro igual a zero, o mesmo é dizer, de toda a pressão, e ele sabe bem disso. Se é para continuar ou não no Benfica só no fim é que se saberá, pois o poder de qualquer treinador depende quase em exclusivo dos resultados. Se Jorge Jesus perder a Liga é preocupante, e se a perder para o FC Porto de Vítor Pereira ainda mais preocupante será se atendermos ao seu orgulho profissional. Portanto, só lhe resta ganhar ou ganhar…"

Demagogia em português

"Se os clubes nacionais têm de apostar em jogadores portugueses, os jogadores portugueses também têm de apostar nos clubes nacionais?
Joaquim Evangelista disse ontem que Jorge Jesus "fala muito e deve praticar mais", quando afirma ter mais confiança nos jovens do clube do que em jogadores como o mexicano Reyes, contratado pelo FC Porto. O presidente do Sindicato dos Jogadores foi mais longe, acrescentando que "no que diz respeito aos jogadores portugueses não bastam as palavras" e que a aposta neles "é uma obrigação de Jorge Jesus e de todos os treinadores portugueses". Ora, Joaquim Evangelista exagera. Por excesso de zelo em relação aos jogadores que representa, certamente, mas exagera desde logo porque, como é evidente, as obrigações de Jorge Jesus e dos restantes treinadores portugueses são, em primeira instância, para com as respetivas entidades patronais.
A obrigação de Jorge Jesus é ganhar jogos e títulos para o Benfica, de preferência apostando no desenvolvimento dos jovens do clube. Se eles forem portugueses, tanto melhor. Depois, se cedermos à demagogia e admitirmos que os treinadores e os clubes nacionais têm a obrigação de apostar nos jogadores portugueses, teremos de perguntar se os jogadores portugueses também têm a obrigação de apostar nos clubes portugueses. Se, por exemplo, em vez de forçarem a saída para mercados mais rentáveis, mas muitas vezes desportivamente menos ambiciosos - como Chipre, por exemplo -, têm a obrigação de aceitar ganhar menos para ficarem por cá e contribuírem para o desenvolvimento do futebol português."

Sem adesão do público futuro será sombrio

"A crise económica e financeira que tem assolado Portugal será, com toda a certeza, responsável por retirar dos estádios muitas pessoas que, em condições normais, gostariam de assistir aos embates da principal competição futebolística nacional. No entanto, essa não será a única explicação para justificar os números registados após as 12 primeiras rondas da Liga.
Como sempre, os dados são consideravelmente afetados pelo facto histórico de só termos entre nós três clubes denominados grandes e – pior que isso – por não existir uma verdadeira identificação entre as populações fora de Lisboa e Porto e os clubes das respetivas regiões. Guimarães e Braga são exceções que confirmam a regra.
Com 95 partidas já realizadas – o V. Setúbal-FCPorto da derradeira ronda foi adiado, devido às más condições atmosféricas que também contribuiriam para uma assistência residual –, a média de espectadores está abaixo dos 10 mil (9.256), um registo que quase todos os clubes das melhores ligas da Europa superam.
Aliás, olhar para as médias de Alemanha (42.109), Inglaterra (35.614), Espanha (29.869), Itália (22.007), França (19.279) ou até Holanda (18.980), chega para ter a certeza de que, em Portugal, a maioria dos emblemas se encontra numa situação que, no futuro, acabará por ter consequências. Como resistirá, por exemplo, um clube como o Nacional que, sem ter muitos associados, apresenta um total de 7.184 espectadores após 6 jogos realizados em casa, à média de 1.197? E não se pense que o caso dos insulares é único. Beira-Mar, Estoril, Moreirense e P. Ferreira também ainda não acumularam 12 mil espectadores, enquanto Rio Ave (13.957) e Olhanense (16.821) estão só ligeiramente acima.
Como tem sido normal, a visita dos grandes funciona como um autêntico balão de oxigénio para a maioria dos participantes na Liga. No entanto, esta época, a má prestação do Sporting está a constituir um problema adicional. É que vendo a equipa render pouco, muitos adeptos leoninos têm desistido de marcar presença nos jogos fora. Os números dizem-nos que em quatro das seis deslocações, os verdes e brancos jogaram em estádios com menos de 4.500 espectadores.
Feitas as contas, o Benfica é o clube com mais assistência no seu recinto e no total dos jogos realizados, enquanto o Sp. Braga é a equipa que reuniu mais pessoas na condição de visitante, muito por culpa de já ter jogado na Luz e em Alvalade. De resto, saliente-se que na última jornada cinco jogos tiveram menos de 1.500 pessoas. Assim, o futuro é sombrio..."

Recorde europeu

"Segundo relata O Jogo, alegadamente o diário mais próximo do FC Porto, o dragão «contabilizou na época 2011/12 encargos monstruosos de quase 18 milhões (17,94) com serviços de intermediação na compra, venda e renegociação de passes de jogadores - um montante superior ao de qualquer clube da Premier League»! Em vez de « monstruosos» eu diria escandalosos. Os números são extraídos do relatório dos agentes de futebol que operam nas cinco maiores Ligas europeias. De facto, se olharmos para o Chelsea de Abramovich, vemos que gastou 107 milhões em compras e pagou seis milhões de comissões; ou  para o Man. City do xeque Mansour que despendeu 62 em aquisições e desembolsou 13; ou para o PSG de emir El-Khelafi que consumiu 146 em reforços e não foi além de 14 em prémios de agenciamento. Como é que se explica, então, este recorde europeu de 18 milhões de um clube português? Será que os agentes com quem o FC Porto trabalha usam tabelas mais caras?
É finito o tempo em que os clubes formavam as suas equipas a partir dos escalões jovens. É finito o Milan de Baresi, Maldini, Costacurta, Albertini, Amobrosini... do mesmo modo é finito o Man. United de Giggs, Xcholes, Beckham, Butt e os irmãos Neville. Não tiveram sucessores porque, depois da sentença Bosman, os clubes seguiram outros caminhos. O Barcelona, pelo contrário, optou pelo rumo que havia conferido sucesso não só ao Milan e Man. United mas também ao Honved, ao Ajax, ao Real Madrid... Recentemente contra o Levante, os 11 jogadores que terminaram a partida provinham todos dos juniores. Sinal evidente de que a formação compensa e o futuro está nela."

Manuel Martins de Sá, in A Bola

Cobaia em Belém

"A facilidade com que a direcção do Belenenses alienou quase metade das acções representativas da “sua” SAD (estrangulada financeiramente) à “Codecity Sports Management”, seguida pelo lançamento de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) sobre as restantes acções susceptíveis de serem alienadas, traz a lume uma das matérias em que a nova lei das SAD que se anuncia deveria ter investido com mais vigor.
É verdade que algo se avança no que respeita à impossibilidade de uma “entidade dominante” de uma sociedade desportiva ter mais do que 10% do capital de outra sociedade desportiva concorrente – isto é, algo a restringir a dimensão da “pluralidade de controlo” de várias SAD pelo mesmo sujeito na mesma competição. E não se deixa de confirmar a regra actual: os accionistas em mais do que uma SAD só podem exercer os seus direitos numa dessas SAD.
Porém, faltou investir na identificação dos sócios (directos e indirectos) das sociedades que adquirem “capital” das sociedades desportivas, de maneira que se possa fiscalizar quem verdadeiramente manda nas sociedades que avançam para o domínio dos clubes-SAD. Aqui reside o instrumento para defraudar as limitações da lei, escondendo-se o “sócio controlador de facto” de várias sociedades sob a fachada de múltiplas outras sociedades em cascata.
O pior cenário é a possível concentração material do “domínio de facto” de várias sociedades desportivas, participantes nas mesmas competições, nas mesmas ou em poucas mãos. O cenário piorará quando essas mesmas sociedades ou sócios “encobertos” (fundos, nomeadamente) são titulares de “direitos económicos” sobre uma panóplia de atletas, dispersos pelos vários clubes dominados ou controlados pelo mesmo “sujeito”… Um perigo à solta!
Por outro lado, ainda, ficou por aprofundar a matéria das “incompatibilidades” e da “suspensão temporária legal” dos administradores e gerentes das SAD, nomeadamente para estabelecer a comunicação entre os comportamentos perpetrados na prova e a função de gestor. É incompreensível, por exemplo, que algumas sanções disciplinares graves infligidas a dirigentes não se repercutam no exercício do seu cargo na SAD: não deveria um administrador suspenso por período igual ou superior a 6 meses ficar inibido de exercer funções no seio da SAD; não deveria a suspensão de administrador, ainda que em diversos processos, por período igual ou superior a 12 meses, ser causa de incompatibilidade para a assunção (ou manutenção) do cargo de administrador?
Talvez na próxima se perceba que é destes assuntos que viverá a credibilidade futura das competições. Talvez…"