sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Tristezas mil

"Mil, festejaram eles. Mil enganos. Mil cenas macabras. Mil histórias tristes. A memória já não abarca todas, tantas que são. Jornalistas espancados, quantos foram? Uns à porta de casa  outro à saída do Estádio Mário Duarte, em Aveiro (e era o mestre dos mestres!); outro no Estádio do Restelo; ainda mais um em directo na TV, em pleno relvado das Antas... E mais?
Um fotógrafo atropelado! Até as fotografias incomodam quem gosta de viver na escuridão, não é? Viagens oferecidas a árbitros com destino de Brasil. Um árbitro perseguido por uma equipa quase inteira para vergonha de quem ainda hoje assiste àquelas imagens sinistras. Árbitros intimidados, agredidos à força de peitadas por jogadores inimputáveis.
Árbitros escolhidos a dedo com o compadrio dos patrões da arbitragem para forjarem vitórias bufas, resultados martelados, conquistas sem valor...
Um árbitro convidado para um café e um envelopezinho recheado numa casa obscura da Madalena na véspera do jogo no qual deveria ser absolutamente imparcial. E quantos mais por lá passaram, com café e envelope? Tantos certamente... Jogadores insubmissos ameaçados com tiros nos joelhos. Treinadores insultados e com os seus carros destruídos. Prostitutas entregues a domicílio, em quartos de hotéis nos quais pernoitam juízes de linha. Quem as paga? A conta apresenta-se lá no alto da torre e arquiva-se como despesa de refeição. Árbitros estrangeiros refastelam-se nas marisqueiras de Matosinhos garantido finais europeias. Mais envelopes. Mais trabalho para a contabilidade da torre das Antas...
Do alto dos viadutos chovem sacos com pedras de calçada sobre viaturas inocentes. Tentativas de homicídio também valem. Das bancadas chovem pedras e bolas de golfe. Ninguém liga. É assim a vida e a lei a oeste de Pecos: não há vida nem lei. Ufa! Tanta porcaria também cansa!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Sem piedade

"Estávamos em 2005. O Benfica sagrava-se Campeão após longo jejum. O Sporting chegava a uma final europeia, e discutia o título nacional até à penúltima jornada. O FC Porto, com três treinadores numa temporada, afundava-se em equívocos, via o seu presidente detido para interrogatórios - após uma fuga muito mal explicada -, e via tornarem-se públicas muitas das práticas de que tinha feito uso para dominar o Futebol português dentro e fora dos campos.
À oportunidade histórica que se deparava aos clubes lisboetas para acabar de vez com o polvo de Pinto da Costa, o Benfica respondeu afirmativamente, com a denúncia insistente daquelas práticas, com a luta pela verdade desportiva, e com a zelosa tentativa de trazer o Sporting para esse combate. Porém, o clube de Alvalade, tolhido pela cegueira de um eterno ódio ao vizinho, assobiou para o lado, e preferiu participar nas festividades do Tetra-Campeonato que, assente na impunidade, o FC Porto alcançou nos anos seguintes.
O tempo foi passando. O Benfica investiu fortemente na sua equipa, e recolocou-se, a par do rival nortenho, na luta pelos títulos. O Sporting foi caindo para níveis capazes de fazer corar de vergonha o seu respeitável historial.
Há agora quem, tocado pela comiseração, fale em solidariedade para com o 'Velho Rival'. Há quem diga que o Sporting, enquanto candidato a títulos, faz falta ao Futebol. Pois por mim, honestamente, não faz falta nenhuma. Na verdade, quando podia, e devia, ser útil - não ao Benfica, mas à verdade desportiva, e à purificação do Futebol português -, o Sporting demitiu-se das suas responsabilidades, preferindo obsequiar Pinto da Costa, e regozijar-se com os seus triunfos. Com mesquinhez e vistas curtas, falhou o encontro com a história. Perdeu, e perdeu-se nos seus próprios labirintos.
Se o Campeonato Nacional tender agora para uma bipolarização, não esperem pois as minhas lágrimas. Cada um tem o que merece. Afinal de contas, a liga Espanhola é disputada a dois, e nem por isso perdeu o seu encanto."

Luís Fialho, in O Benfica

Vitória amarga com o Spartak

"Vitória amarga na quarta-feira passada na Luz, muito por culpa de outras derrotas doces que havíamos tido. Ganhámos o jogo ao Spartak Moscovo com justiça, mas o Barcelona mostrou não ser um clube sério em Glasgow.
Resta ganhar ao Celtic em casa, dia 20, e garantir o apuramento para a Liga Europa. A Champions ficou em Celtic Park e será muito díficil não ser assim. Teremos, contudo, que fazer a nossa parte e esperar alguma conjugação astral diferente daquilo que vislumbro.
Na quarta-feira Artur steve intransponível, Garay esteve imperial, Ola John esteve endiabrado, Cardozo esteve letal e Enzo Pérez esteve em todo o lado. Jorge Jesus transformou Enzo Pérez num jogador de equipa, cria equilíbrios e é omnipresente, organiza e estabiliza o Benfica nos processos defensivos e ofensivos. O Benfica é mais colectivo e mais equipa com este Enzo que Jesus reinventou.
O jogo mais importante desta semana será jogado domingo em Vila do Conde. Nesse não se pode falhar. Ganhar onde a concorrência já empatou será muito difícil. O Rio Ave será melhor que o Spartak. Não poderemos dar aos de Vila do Conde metade das oportunidades de golo que tiveram os russos, porque João Tomas, Tarantini e companhia não perdoam tanto como os moscovitas. Ganhar em Vila do Conde e ver devolvido Luisão era uma excelente agenda para os tempos que se avizinham. Só um Benfica muito concentrado no jogo seguinte poderá chegar no fim aos objectivos.
Os espectadores fogem dos estádios. As assistências, mesmo dos clubes melhor classificados, estão a cair a pique. A crise económica, as dificuldades das famílias urgem respostas prontas e ágeis dos responsáveis. Os adeptos continuam a gostar de futebol mas não conseguem pagar estes preços, em resumo, querem mas não podem."

Sílvio Cervan, in A Bola

O complexo dos viscondes

"Já não é de aqui e de agora. É universal e já vem de antanho. Falo do complexo que o clube dos viscondes (termo carinhoso com que por vezes denominamos os rivais da Segunda Circular) tem relativamente ao nosso popular Benfica.
Aquilo começou com a birra de quem tinha o dinheiro, mas não tinha o talento para jogar no Benfica e foi pedir ao avô visconde que lhe desse um brinquedo. Aquilo prolonga-se até aos nossos dias. Por vezes, vai sendo negado ou atenuado, mas no fundo resume-se sempre ao mesmo: para nós, o Sporting é um rival; para os sportinguistas, o Benfica é um complexo. Recentemente, Paulo Bento referira-se-lhe (ao dito complexo) com a constatação de que o Sporting entrara em depressão profunda com a pré-época exclamativa do Glorioso, aquando da primeira época de JJ no Benfica. Anteriormente, já João Rocha mencionava que, durante o período Roquette, havia um grupo de notáveis sportinguistas dispostos a subscrever um estranho plano de cooperação e subalternidade com o FC Porto, para afastar o Benfica do sucesso… Este mesmo complexo é visível na forma submissa como encaram a derrota perante os “amigos” portistas e a sanha incendiária (literalmente) com que encaram as sucessivas derrotas frente ao Benfica. Este mesmo complexo está bem patente no facto de terem transformado em efeméride a data dos famosos 7-1, esquecendo que nessa época o Benfica festejou mais uma dobradinha (Campeonato e Taça).
Actualmente, os nossos ainda(?) rivais vão cumprindo mais uma via-sacra no actual campeonato. Após mais uma derrota (agora treinados por um belga que se apressou a dizer que nunca veste roupa… vermelha) que os condenou a estarem um ponto acima da descida de divisão com praticamente um terço do campeonato concluído, qual é a conclusão a que chega o seu representante televisivo Rui Oliveira e Costa? «Vamos em que lugar? No 13º? Se o Benfica estivesse em 14º, a crise era metade. Dói menos, dói menos.» (dito na RTPI). E eis o ‘complexo dos viscondes’ no seu esplendor."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica