segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Como não fazer

"Atendendo à história recente do futebol português, e olhando para os nossos dois principais adversários, podemos encontrar exemplos, por um lado, daquilo que não se deve fazer para ganhar, e por outro, de quase tudo o que pode fazer para perder. Deixando por agora os meios subterrâneos utilizados pelo rival nortenho, que lhe sustentaram o crescimento até ao patamar competitivo onde agora se encontra, mas que não fazem parte da nossa cultura de desportivismo, centremo-nos no caminho seguido pelo vizinho da 2.ª Circular, que o levou a um buraco onde decerto nenhum benfiquista gostaria de estar.
É curioso desde logo verificar como, numa década, a correlação de forças entre Benfica e Sporting se inverteu. Em 2022 o Sporting vinha de dois títulos em três anos, e o Benfica não festejava desde 1994. O nosso rival lisboeta apresentava-se ao País como o pináculo da modernidade, com a sua gestão empresarializada, e com um novo estádio prestes a ser inaugurado. Do lado de cá tínhamos a maior crise da nossa história (não só de resultados, mas de identidade, e até de dignidade), e quase perdíamos a esperança.
O que foi feito na nossa casa merece o realce que a memória de muitos por vezes parece esquecer. Do outro lado foram cometidos erros que não nos interessa escalpelizar, tirar algumas ilações.
A primeira das quais é a de que um clube de grande dimensão social e mediática, jamais poderá ser gerido de fora para dentro (e no Sporting tal sucedeu com demasiada frequência). A segunda é a de que qualquer minoria organizada de sócios, por muito fervilhante que seja o seu amor clubista, não pode nunca representar mais do que a mera soma aritmética desses mesmos sócios.
No Benfica, felizmente, os dirigentes são para dirigir (sujeitando-se, no fim de cada mandato, ao escrutínio dos sócios), o treinador para treinar, os jogadores para jogar, e as claques para apoiar. Qualquer inversão destes termos traria aquilo que, com sentimentos de piedade, vemos de outro lado da rua."

Luís Fialho, in O Benfica

Saudade

"Foi no pretérito 5 de Outubro, por coincidência aniversário da República. O Sport Lisboa e Saudade comemorou 69 anos. A estrutura representativa dos antigos jogadores do Benfica caminha para as Bodas de Diamante num momento de grande vitalidade e insuspeito companheirismo, que nem o cruzamento de gerações distintas consegue atenuar.
Como diria o Chico Buarque, um apaixonado por Futebol, 'foi bonita a festa, pá'. Desde manhã, na Luz, começaram a afluir muitos jogadores que escreveram história, eles que vestiram a honraram o manto sagrado do Clube.
Estive com o Eusébio, o Artur Santos, o José Augusto, o Cruz, o Vítor Martins, o Humberto Coelho, o Carlos Manuel, o Pedro Mantorras. Tantos e tantos outros. Afinal, os filhos mais queridos de um família com milhões de membros.
O mítico Sport Lisboa e Benfica, a sua expressão universal, o seu carácter aglutinador deve-se, antes de mais, àqueles que o serviram. Esses que entusiasmaram, num longo percurso centenário, legiões de fãs, de adeptos, de simpatizantes.
Esses que deram mais substância às nossas vidas emocionais, que provocariam hemorragias colectivas de agrado.
Foi um privilégio participar na comemoração e ter feito uma alocução sobre o livro lançado pelo Tuna, um antigo júnior da casa, também jornalista e excelente contador de histórias com o singular picante da bola. Falou-se muito de saudade? Óbvio que sim. Mas qual é a melhor maneira, também (e sobretudo) no Benfica, de comemorar e dignificar o passado? Só pode ser construir o futuro. Com novas realizações, com novas proezas, com novas epopeias."

João Malheiro, in O Benfica