"Uma lástima, nos seus detalhes, o castigo a Jesus. Temo, para compensar, degredo disciplinar de 10 anos na Sibéria para Luisão
NA noite de terça-feira, 15 minutos antes do pontapé de saída do jogo da selecção portuguesa, um governante anunciou ao país um pacote brutal de medidas anti-populares.
Assim que acabou de falar tocou o Hino no estádio de Braga e começou a bola a rolar.
O futebol é o ópio do povo, já se sabia. A cartilha é a mais bafienta mas terá sempre os seus aprendizes.
No entanto, em nome da decência e da mais elementar justiça, espera-se que no futuro, não apareçam uns idiotas a dizer que a selecção nacional foi o clube do regime.
Há gente capaz de tudo.
AS recentes vendas de Hulk e de Witsel ao Zenit de São Petersburgo produziram na nossa sociedade um milagre bem mais difícil de antever do que o das fortunas pelas quais foram transaccionados os dois jogadores.
Sem cair no pecado das generalizações, é caso para se dizer que, por uma vez na vida, muitos adeptos do FC Porto e do Benfica, por vibrarem mais com o futebol-jogado do que com o tráfego dos milhões, puseram-se de acordo em considerar tão ridículas quanto lamentáveis a gabarolice e as trocas de acusações entre os seus dois emblemas no que diz respeito à esperteza e ao volume dos respectivos negócios.
Lendo os comunicados e contra-comunicados do Benfica e do FC Porto, ouvindo falar alguns responsáveis, é-nos sugerido em palavras vibrantes um facto novo e de que ninguém estaria à espera: ao fim de uns quantos anos, com a transfiguração dos clubes em SAD's o objecto dos seus responsáveis e accionistas maiorias deixou de ser desportivo e passou a ser comercial.
Em poucas palavras: os adeptos do FC Porto e do Benfica choraram sa saídas de Hulk e de Witsel tendo bons motivos para isso e os dirigentes do Benfica e do FC Porto festejaram-nas rijamente e sem pudor, tendo também bons motivos para isso.
Haverá também, naturalmente, adeptos que se dispõem a seguir de alma e coração estes duelos financeiros com o mesmo fervor com que seguem as competições desportivas e, incrivelmente, por singular osmose, quase sentem entrar nos seus mais ou menos esfarrapados bolsos a batelada de milhões encaixada por sociedades anónimas onde não têm assento.
Assim acontecendo, a alienação dos activos será sempre bem recebida por uma batelada de indefectíveis alienados desde que as notas lhes surjam, na imaginação, pintadas ou de vermelho ou de azul, conforme os gostos.
Saiu da forja, portanto, e veio para ficar um novo campeonato capaz de despertar paixões: o da caixa registadora. Parece que é o Benfica que vai à frente nesta prova. É, sem dúvida, uma liderança heróica à custa de danos colaterais no meio campo da equipa pretendente ao título de futebol.
Isto está mau para os românticos quando a saída de jogadores importantes passa a ser encarada como inevitáveis episódios de danos colaterais.
Os 40 milhões por Witsel e os 40 milhões por Hulk tiveram um impacto tal nas conversas de café, na imprensa, na sociedade, alcandorando o Benfica e o FC Porto a um patamar de luxo e de suprema distinção, que a SAD do Sporting, para não ficar atrás e poder dar uma alegria aos seus adeptos, renovou em 48 horas o contrato com Adrien e anunciou garbosamente a adenda da felicidade: uma cláusula de rescisão no valor de 40 milhões. Nem um cêntimo a mais num um cêntimo a menos.
É caso para se dizer, no final de contas, que o grande vencedor deste campeonato da caixa registadora nem foi o Benfica nem foi o FC Porto. Foi Adrien. Tem graça como numa guerra destas entre dois arquirrivais a vitória acabou por tombar para um observador alheio. E nem se pode falar em danos colaterais. Acabou tudo em bem para todos, ainda que o Sporting, ao contrário de Adrien, tenha de esperar.
Teve de vir um jornal inglês, 'The Guardian', explicar por que razão falhou à última hora a transferência de João Moutinho para o Tottenham. Acontece que a Liga inglesa não permite participação de terceiros nos passes dos jogadores e 15 por cento dos direitos económicos do jogador pertencem a um investidor.
Ah, a Inglaterra...
NOTÍCIAS mais recentes desmentem vibrantemente que tenha sido o Benfica ou, muito menos, o FC Porto a conquistar o título de campeão da caixa registadora no fecho do mercado de Verão. Afinal, estava toda a gente muito bem enganada.
O campeão foi o Sporting.
Não interessa que em Alvalade não tenham facturado tanto, ou metade, ou um terço, ou dois quintos do que facturaram Benfica e FC Porto. Isso são amendoins.
O que interessa é que se não facturaram foi porque não quiseram. Não lhes apeteceu. O presidente Godinho Lopes veio a público anunciar que tinha recusado seis propostas do estrangeiro para igual número de jogadores. A sorte ajuda os audazes. A vida sorri.
A caminhada para o Mundial do Brasil começou bem com duas vitórias nos dois primeiros jogos. O que querem mais? Tratasse-se de um campeonato do mundo de tiros aos postes com certeza já estaríamos apurados e com distinção. Só contra o Azerbaijão foram 5 vezes em cheio no poste e qual delas o melhor. Ou terão sido 6? Tanto faz, na verdade.
O primeiro jogo desta saga, no Luxemburgo, na semana passada, foi um grande aborrecimento. Com o devido respeito, o melhor momento nacional foi o golo do Luxemburgo da autoria do luso-luxemburgês Daniel da Mota, contabilista de profissão. Coube-lhe o melhor momento artístico da noite à custa de João pereira e de um remate de autor. O nosso meio-compatriota voltou na terça-feira a marcar na Irlanda do Norte e o Luxemburgo empatou o jogo.
Anteontem foi diferente, para melhor, a exibição da equipa portuguesa que esteve perto de golear não fossem os malditos postes. O Sporting de Braga ofereceu o estádio à selecção e, como se não bastasse, ofereceu o banco inteiro à selecção. Eram 6 jogadores do Braga à espera de entrar. Entraram dois, Ruben Amorim e Éder, mas a entrada que mexeu com o jogo foi a de Varela, o chaveiro da selecção.
Os Paulos Bento estão no bom caminho, essa é que é essa.
UMA lástima a demora de meio ano para aplicar uma suspensão de 15 dias num espaço sem competições. É tudo tão excessivamente ridículo que só pode ter um propósito. Depois disto e para compensar, temo que o Luisão se arrisque a um degredo disciplinar de dez anos na Sibéria.
É uma situação que, por absurdo, faz lembrar uma outra que ocorreu precisamente há um ano. Ou seja, por esta altura do campeonato. O Benfica ganhou na Luz ao Vitória de Guimarães com três grandes penalidades assinaladas pelo árbitro Duarte Gomes. Ainda a procissão não tinha saído do adro e os adversários do Benfica clamavam contra a superior influência dos da Luz no sector da arbitragem.
E depois foi o que se viu quando a procissão chegou ao adro.
Neste momento o Benfica não se livra da fama de mandar na Justiça da Federação Portuguesa de Futebol. Temo o pior para o Luisão.
ONTEM, em Portimão, o Benfica empatou com o Bétis de Sevilha num jogo-treino. Aos 35 minutos da primeira parte, Matic caiu no chão agarrado a um joelho e o comentador da Benfica TV, que transmitiu o jogo, assustou-se e assustou-nos com a eventualidade de uma lesão do sérvio.
Afinal não passou disso mesmo, de um susto.
Mas deu que pensar. O que será do meio-campo do Benfica quando o Matic se lesionar? Ou estiver impedido de jogar?
Voltaremos aos saudosos anos 60, quando o Benfica e os outros todos jogavam em 4x2x4? Será que Jorge Jesus vai conseguir o milagre do anacronismo em 2012? Uma coisa é certa: temos jogadores para fazer duas linhas avançadas. Importante era que começassem a acertar na baliza."
Leonor Pinhão, in A Bola