"Salvio regressou por uma pequena fortuna e veio preencher uma lacuna. É verdade que sim. Se o Benfica quiser chegar à dúzia de extremos, ainda faltam alguns. Não serão muitos, no entanto
NÃO houve medalha. Não houve telegrama do presidente da República. Não houve nenhum ministro à sua espera. Para as fotografias. Nem secretário de Estado. Com ramo de flores e garantia de posteridade. Não houve emissões televisivas em directo do aeroporto. Ninguém se colou à derrota de Telma Monteiro em Londres.
A judoca portuguesa foi afastada pela norte-americana Marti Malloy e reagiu à derrota com sensibilidade e bom senso: «Já ganhei muitas coisas por Portugal. É o fim de um ciclo que foi espetacular.»
Que não fique triste a Telma. Não foi a primeira vez nem será a última que campeões da Europa e do Mundo soçobram nos Jogos. Mal comparado, repare no que aconteceu à super-vaidosa selecção espanhola no torneio olímpico de futebol, vinha toda engalanada e espalhou-se ao comprido.
Telma Monteiro, pelo contrário, nunca foi vaidosa e não se espalhou ao comprido. Limitou-se a perder um combate que tinha de ganhar. Acontece. Continuam intocáveis os créditos com que chegou a Londres. Mas nem tudo podem ser coisas boas.
E, por outro lado, nem tudo podem ser coisas más. A judoca do Benfica até se safou de boa. Sem telegramas, sem ministros, sem fotografias, ninguém dirá mais tarde que a Telma Monteiro foi uma atleta do regime.
O empresário de Gaitán chama-se José Iribarrem e esta semana disse o seguinte: «O Gaitán vai continuar no Benfica.»
Posta a coisa assim, a seco, mais parece uma ameaça.
Na temporada passada, o jovem argentino começou muito bem. Jogando a fazendo jogar. Marcou um golo no estádio do Dragão que até poderia ter sido muito importante para o desfecho do campeonato isto se, no jogo da segunda volta, não acabasse por valer mais para o tal desfecho o golo marcado por Maicon à beirinha do fim em posição irregular.
O futebol tem destas coisas e não há que chorá-las. Garantem os estudiosos na matéria que, feitas as contas, fica tudo muito equilibrado lá para o fim. Porque sofrer beneficiar com os lapsos involuntários dos árbitros toca a todos e democraticamente.
E assim, cientes, vamos vivendo na convicção de que não há maior injustiça no mundo do que o vento a soprar forte numa tarde de praia. Para reforçar o paradigma dizem também que há uma lei geral da compensação pelo que, mais cedo ou mais tarde, quem sofeu contem, ri-se amanhã e vice-versa.
É precisamente por este conjunto fortíssimo de razões que, para a temporada, que se avizinha devo confessar que estou 100% confiante na parte específica do vice-versa. Se toca a todos, então toca mesmo a todos...
Voltemos a Gaitán que, em 2011, do Verão até ao Natal é bem capaz de ter sido o melhor e mais profícuo jogador do Benfica. Nos dois jogos com o Manchester United ainda na fase de grupos da Liga dos Campeões, Nicolas Gaitán jogou que se fartou, literalmente.
Depois desapareceu e, com muita pena, constatei que nunca mais o vi até Maio. Não é que não tivesse jogado, não, nada disso. Jorge Jesus bem apostou nos seus serviços na esperança vã de que o primeiro-Gaitán da época regressasse e mandasse recolher o segundo-Gaitán da época. Aquele que, com toda a franqueza, bem merecia o epíteto de «o alheado» de tal forma parecia suspenso numa realidade que não era a mesma onde se encontrava.
Coincidentemente ou não, diga-se que foi a nossa baixa do mercado de Inverno. Uma baixa, enfim, espírito ausente e de corpo presente mas uma baixa séria.
Como no futebol, tal como em outros espectáculos, as derradeiras impressões são as que ficam, é por isso que esta coisa de empresário do Gaitán vir agora dizer que o jogador vai continuar no Benfica quase soa a ameaça o que não faz sentido porque o argentino é um artista de altíssimo valor.
Gostava muito que o primeiro-Gaitán da época passada ficasse mais um ano no Benfica. Quanto ao segundo-Gaitán da época passada, francamente, não sei, não conheço.
O presidente da Câmara de Lisboa deu uma entrevista ao Correio da Manhã. Foi-lhe colocada a questão de uma sua eventual candidatura ao cargo de secretário-geral do Partido Socialista e António Costa respondeu desta maneira: «Se me perguntarem se eu posso ser guarda-redes do Benfica, digo-lhe claramente que não posso ser guarda-redes do Benfica. Ser secretário-geral do PS é diferente...»
Não cometendo nenhuma inconfidência, acrescentando à frase do autarca o seu cartão de adepto do SLB - o próprio António Costa nunca teve problema em assim se afirmar, tal como é -, constata-se com acuidade que, à partida para a nova época, o Benfica tem o problema do guarda-redes muito bem resolvido.
Jamais António Costa se atreveria a enveredar pela analogia com o guarda-redes do Benfica se o dito fosse ainda o infeliz Roberto espanhol.
Ou, então, optando pelo humor negro, o presidente da Câmara de Lisboa exporia a imagem numa perspectiva diferente. Assim: «Se me perguntarem se eu posso ser guarda-redes do Benfica, digo-lhe claramente que sim, até eu posso ser guarda-redes do Benfica. Ser secretário-geral do PS é diferente...»
Vem isto a propósito de como é bom para o Benfica, e para qualquer outro clube, conseguir resolver situações difíceis.
Pelo andar da carruagem, temo, no entanto, que se no próximo ano algum jornalista se lembrar de perguntar a António Costa se encara a possibilidade de se candidatar a secretário-geral do seu partido, o autarca resolva, com toda a legitimidade, responder assim: «Se me perguntarem se eu posso ser lateral-esquerdo do Benfica, digo-lhe claramente que sim, que se foi adaptado até eu posso ser lateral-esquerdo do Benfica. Ser secretário-geral do PS é que já é uma coisa diferente, implica outras responsabilidades, como se compreende...»
Sobre o assunto, tenho dito.
NA última sexta-feira, na Luz, o Benfica ganhou por 5-2 a um Real Madrid desfalcado. Tratava-se da Eusébio Cup, tradicional evento de Verão. De uma maneira geral ficou tudo muito admirado com a expressividade do score, ainda que os campeões espanhóis não se tenham apresentado com a galáxia completa.
Não se compreende tanto pasmo. Sempre que se encontra com o Real Madrid, fora de Espanha, o Benfica exibe uma regularidade assinalável. É sempre aos 5. Em Amesterdão, na final da Taça dos Campeões de 1963 foram 5-3. Dois anos depois, na Luz, numa eliminatória da mesma competição foram 5-1. E na sexta-feira foram 5-2.
José Mourinho, naturalmente, não achou graça nenhuma à manita da semana passada. E a imprensa de Madrid também não. O Real Madrid levar 5 é sempre inaceitável. Precisamente por essa razão, já a imprensa de Barcelona achou um piadão à Eusébio Cup.
Compreendem-se bem a aceitam-se estas emoções tão díspares mesmo num jogo de carácter amigável. No fundo, cada um puxa a brasa à sua sardinha.
Em 2008, quando Mourinho veio a Lisboa com o seu Inter de Milão vencer a mesma Cup no desempate por grandes penalidades já o jogo e o troféu lhe pareceram, certamente, muito menos a brincar.
SALVIO regressou à Luz por uma pequena fortuna e veio preencher uma lacuna. É verdade que sim. Se o Benfica quiser chegar à dúzia de extremos, ainda faltam alguns. Não serão muitos, no entanto.
Do meio campo para trás já, aparentemente, não falta mais ninguém. Tudo e todos são adaptáveis, ao que parece.
Depois chora-se, claro está.
ONTEM, em Genéve, aos 90 minutos do jogo, o Benfica vencia a Juventus por 1-0 com um golo do inevitável Óscar Cardozo. Era caso para se dizer que na pré-temporada o Benfica tinha arrumado com o campeão espanhol e com o campeão italiano. Mas o caso mudou de figura já no tempo de descontos com o golo do empate da Juventus. Nem vou perder tempo a constatar que o lance nascer de um lapso no lado esquerdo da defesa do Benfica. Presumo, no entanto, que vá ser essa ladainha do ano."
Leonor Pinhão, in A Bola