sexta-feira, 20 de julho de 2012

Mantorras - adeus ídolo

"Os grandes nomes do futebol, muitos do passado mas também alguns do presente, provaram na Luz, juntamente com mais de 30 mil adeptos e com a total disponibilidade benfiquista, que não perdem de vista as causas sociais - infelizmente, no século XXI, onde a manda a tecnologia, mas como grassa a hipocrisia de muitos governantes, ditadores assumidos ou disfarçados de colarinho branco, que já não é só em África ou na Ásia que se morre de fome. Fome; ter fome; morrer de fome; sobreviver com fome -, Luís Figo, os seus amigos e o SL Benfica deram o muito que ainda têm e mostraram ao mundo que há gestos que ficam para toda a vida.
Dessa noite de solidariedade fica também o adeus ao futebol de um daqueles que merecia ter sido feliz: Mantorras. Eusébio, que gostei imenso de ver, pela televisão, recuperado, foi jogador genial; para mim Mantorras foi o que mais dele se aproximou. Tinha tudo mas não teve sorte; outros tiveram-na e jogaram-na à rua. Onde Mantorras podia ter chegado se tem sido bafejado pela deusa fortuna. Só precisava de ter tido um bocadinho disso. Um dos maiores ídolos do futebol português disse adeus mas na minha memória perdurarão para sempre a portentosa exibição protagonizada frente ao Sporting pelo Alverca (lembras-te amigo Alexandre Albuquerque?) e o golo de livre ao V. Setúbal. O que desejo a Mantorras é que tenha no futuro a pontinha de sorte que não encontrou no futebol.
Rui Costa - é evidente que não podia marcar o penalty ao seu clube; bem basta o que se passou na Fiorentina - encontrou no ciclismo um homónimo à sua altura. Tem feito de tudo neste Tour para que Portugal se faça notado. Agostinho foi o maior de todos mas este Rui Costa fica muito bem no pódio ao seu lado."

José Manuel Freitas, in A Bola

A falência do histórico Rangers

"O Glasgow Rangers, histórico clube europeu, faliu, e desapareceu como tal. Parece haver um sucedâneo que começa da quarta divisão. Acabou o Old Firm, o mais antigo derby do mundo mas também devia também acabar a irresponsabilidade financeira. O risco existe, e não é só em pequenos clubes. Há grandes, alguns dos maiores, cuja situação é dramática.
Há bem pouco tempo, Rodrigo Nunes (Feirense), cheio de razão alertava para a «batotice financeira» existente. Os clubes, como os países, empresas e famílias têm que se adaptar à sua realidade económica. Em Portugal são 30 anos de cosméticos. Primeiros foram as bombas de gasolina a disfarçar os défices, depois alguns bingos pareciam ser o El Dourado, mais tarde com o advento das SAD, poucos ouviram sem se rir as sábias palavras de Alfredo Farinha.
E agora? Falir as SAD e começar da quarta divisão? No futuro muito próximo, ganhará desportivamente quem estiver mais sadio financeiramente. Na Europa do futebol o Bayern será cliente assíduo das finais e os irresponsáveis financeiramente vão arrastar-se por caminhos penosos. O dinheiro não é tudo e no futebol é bom que assim seja. O encanto está em ver pequenos e ganhar aos maiores, no fazer grandes equipas com menos recursos, não está no não pagar, no não cumprir e no aldrabar contabilidades.
Gostei até agora da pré-época encarnada. Este Benfica parece sólido e seguro, recheado de soluções mesmo sem contar com Rodrigo e Nélson Oliveira que ainda não se juntaram ao grupo.
Na passada quarta-feira vi poucos minutos de Ricardo Araújo Pereira e Pedro Ribeiro. Julgo que ainda é cedo para saber se têm lugar no plantel. Muito seguros no aquecimento, rápidos a bater palmas, mas preciso de ver o entendimento com Pablo Aimar para emitir um juízo definitivo. De qualquer forma, melhores que Thomas, Rojas e Escalona parece garantido."

Sílvio Cervan, in A Bola

Não há rebanhos, felizmente

"Não se corre o risco de ver Pinto da Costa fechar o hóquei em patins do FC Porto por também terem perdido o título nacional para o Benfica. Já no que diz respeito ao futebol, o caso fia mais fino...

AS generalizações são sempre perigosas porque, inevitavelmente, carregam uma falsidade do tipo abrangente, universal, que é de evitar a todo o custo se quisermos olhar para situações, pessoas, instituições e outras minudências com olhos de bem as ver.
Vem isto a propósito do recente episódio ocorrido no aeroporto Sá Carneiro, da cidade do Porto, aquando do regresso da equipa de futebol do principal clube da Invicta depois de um estágio de preparação para a nova temporada realizado no estrangeiro.
Aconteceu que os jogadores de futebol do FC Porto tinham à sua espera no aeroporto um grupo impecavelmente ordeiro de adeptos do clube que quiseram aproveitar o arraial jornalístico que sempre se monta em acontecimentos do género futebolístico para vincarem um protesto contra a anunciada extinção da secção de basquetebol do clube.
Certamente que esta manifestação no aeroporto não foi organizada por um bando de delinquentes e é de duvidar que os adeptos do basquetebol portista presente em Pedras Rubras fossem, um a um, os mesmos que no fim do jogo decisivo do último campeonato impediram à bruta que a equipa campeã recebesse o troféu em campo.
Na verdade, são situações que não se compadecem uma com a outra.
E porque, à chegada da equipa de futebol do estágio no estrangeiro, não houve no aeroporto cânticos «SLB, SLB, filhos da puta, SLB» é quase permitido concluir, em abono dos presentes, que não era aquela a mesma gente que se manifestou de forma tão pouco ordeira quando o Benfica foi ganhar o campeonato ao Dragão.
À boleia do futebol e da incontornável visibilidade do futebol, os portistas amantes do basquetebol compareceram no aeroporto equipados com os artefactos próprios da modalidade, envergando camisolas com nomes dos seus heróis da bola ao cesto. Não deixando de apoiar os futebolistas que regressavam a casa, os pacíficos manifestantes não enjeitaram a oportunidade de, com bons modos, fazer valer a sua tristeza pelo fim do basquetebol no FC Porto.
Nos jornais do dia seguinte o protesto não foi ignorado. E seria, com certeza, esta ideia dos protestantes. Tornar pública a sua legítima insatisfação.
Não caiam, portanto, os benfiquistas na disparatada e abusiva tentação de concluir com pressa e regozijo que a decisão superior de acabar com o basquetebol no Dragão foi mansamente acatada pela generalidade dos adeptos portistas, arrebanhados em prol da urgência de se acabar com o basquetebol da casa pelas simples razão de que se perdeu, na dita casa, o último título em disputa para o rival Benfica.
Lá como cá, há pessoas que pensam de modo diferente e que reagem de modo diverso perante as mais diversas situações.
A questão é que, quer na Luz quer no Dragão, há quem goste mesmo de basquetebol, do jogo propriamente dito, e não o veja como uma mera actividade-modalidade compensatória em função única e exclusiva dos dislates do futebol.
No fundo, é uma questão de tacanhez de espírito. Tacanhos há em todo o lado, como sabemos e por muito que nos custe reconhecer. E tacanhos-exacerbados é o que é mais, ainda que não maioria em nenhum dos círculos.
Na franja benfiquista mais tacanha-exacerbada não há quem não conclua que o fecho do basquetebol portista se deve única exclusivamente ao facto de Pinto da Costa não ter aguentado psicologicamente a festa do título benfiquista no pavilhão do Dragão.
E que, para castigar a incompreensível falha dos seus incensados super poderes e para punir, como exemplo para memória futura, a incompetência dos técnicos e dos jogadores do basquetebol que se atreveram a entregar o ouro ao bandido, outro remédio não teve o presidente do FC Porto do que sentenciar a morte de toda uma história de uma modalidade do clube de modo a que, venha quem vier incomodá-lo com o título de campeão de basquetebol conquistado pelo Benfica, possa ele responder com a ironia do costume:
-Basquetebol? Isso nem existe.
Já na franja portista mais exacerbada-tacanha, a justificação para o encerramento do basquetebol profissional é completamente diferente da que vinga na sua congénere benfiquista. E entra pelos olhos adentro como uma evidência papal: trata-se apenas de os mandar ir jogar sozinhos, carago!
Aqui está um grande, um enorme consolo para a dita franja auto convencida, por razões insondáveis, de que sem o FC Porto na competição todos os títulos que o Benfica venha a conquistar não vão ter o mesmo sabor, não vão conseguir fazer sequer saltar uma rolha de uma garrafa de espumante nacional.
O que não é verdade porque se tomarmos o exemplo do futsal, onde o FC Porto também não vai a jogo, a alegria causada aos benfiquistas pelos títulos conquistados pela sua equipa nunca se ressentiu, nem nunca se vai ressentir, da ausência na competição de uma equipa de futebol de 5 vinda do Dragão.
Julgo que no domínio dos raciocínios tacanhos-exacerbados, a franja portista comete um abuso de interpretação dos factos e dos respectivos sabores bem maior do que o cometido pela franja benfiquista.
Haverá uma franja de adeptos portistas tacanhamente convencidos de que, tal como acontece com eles em relação ao Benfica, também os benfiquistas precisam do FC Porto para justificar a sua essência, valor, importância e genuinidade enquanto clube? Quer parecer que sim.
Enganam-se porque, cometendo o pecado das generalizações em seu favor, sofrem de uma visão distorcida de realidade, visão essa que muito os satisfaz e nela se comprazem.
No entanto, também a franja tacanha-exacerbada de benfiquistas comete um pecado parecido quando se compraz julgando que o presidente do FC Porto fechou o basquetebol num ataque fulminante de dor de corno, encantadora expressão popular, ao ver o Benfica ser campeão diante do seu nariz.
Honrados pela importância dada por Pinto da Costa ao Benfica, haverá certamente alguns benfiquistas, poucos, que nem se esforçam por reconhecer a maior de todas as evidências do caso do fim do basquetebol portista: o dinheiro.
É a economia, amigos!
Num e no outro clube, felizmente, há gente bem-humorada e que opta por ultrapassar todas estas tensões com um sorriso. Façamos por isso e respeitemos todas as opiniões. Não há rebanhos, felizmente.
Na minha opinião, por exemplo, julgo que não se corre o risco de vermos o presidente Pinto da Costa a fechar o hóquei em patins do FC Porto por também terem perdido o título nacional para o Benfica depois de 10 anos de enfiada no primeiro lugar. Já que no que diz respeito ao futebol, o caso fia mais fino.
Julgo que se o Benfica for, alguma vez, campeão nacional por dois anos consecutivos, pensando melhor, por três anos consecutivos, alguma coisa vai ter de fechar no FC Porto. E não me refiro às torneiras, obviamente.

ONTEM, a um quarto de hora do fim do jogo de beneficência entre Benfica & amigos e Luís Figo & amigos, o fiscal de linha inventou um fora-de-jogo numa jogada de ataque dos amigos de Luís Figo e o Estádio da Luz veio abaixo com vaias porque o autor do passe fatalmente interrompido fora Rui Costa, já a jogar pela equipa visitante.
São estas as graças dos jogos a brincar e com cariz de bondade.
Quem não teve bondade nenhuma com Melgarejo foi Luís Figo que, bem no princípio do jogo, aplicou meio-nó cego ao jovem paraguaio, deixando-o entontecido. Há males que vêm por bem. Pode ser que, assim, o Benfica ainda vá a tempo de, ao fim de dois anos de buscas infrutíferas, conseguir descobrir e comprar um lateral-esquerdo.
No jogo que antecedeu o prato principal, a equipa B do Benfica venceu por 3-1 o Beira-Mar. Como o golo dos aveirenses foi marcado por Balboa, quase se pode dizer que, na verdade,  resultado foi de 4-0."

Leonor Pinhão, in A Bola