segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Poder do Jogo

"Os ingleses têm uma expressão interessante e reveladora do potencial do Futebol para a coesão social e para o combate à exclusão. Chamam a essa capacidade rara da instituição desportiva mais mobilizadora 'O Poder do jogo' (the Power os the Game).
O Futebol é, talvez, a única instituição verdadeiramente transversal e global. É jogado e adorado por todos em todas as latitudes, sendo verdadeiramente inclusivo relativamente aos principais tensores sociais como a cor da pele, a religião, a orientação sexual e mesmo o género. Tem obviamente desigualdades diversas que matizam esta afirmação, mas o seu potencial ainda está longe de ser aproveitado, seja na luta pelo desenvolvimento humano, seja na mobilização dos cidadãos para o combate à fome e à pobreza extrema, seja na aproximação dos povos e na construção da tolerância e da paz.
Poderá parecer estranho a quem pense nisto pela primeira vez, mas o Futebol tem, de facto, esta força estranha, esse poder de juntar e mobilizar para o bem comum, de abrir espaços para a construção de um futuro mais justo e solidário mesmo onde essa ideia não passa hoje de uma miragem distante. O movimento fundacional desportivo é uma realidade crescente na Europa e em Portugal, a Fundação Benfica orgulha-se de estar na vanguarda desse movimento no nosso país e de materializar, através da sua acção diária, a vontade do seu instituidor Sport Lisboa e Benfica que, desde a sua origem, soube ver e usar o poder do jogo e quer fazê-lo reverter para o País e para o Mundo. Não são acasos os resultados das centenas de alunos do projecto 'Para ti se não faltares', a atribuição de casas às vitimas da Madeira ou os jogos organizados com as Nações Unidas, primeiro em 2010 com o PNUD e este ano com o ACNUR a 18 de Julho próximo. É o Poder do Jogo a actuar e o Benfica a fazer a sua parte!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Provocações

"Mesmo passado algum tempo, os ecos da Final do Campeonato de Basquetebol continuam a fazer-se sentir. Foi preciso haver tumultos para podermos ver, no Porto Canal, os jogadores do Benfica a festejar o título. Na transmissão directa, nem um simples abraço havia sido visto. É caso para dizer que mais vale tarde do que nunca.
Serviram-se então das imagens para tentar atribuir a culpa da violência generalizada ao treinador, Carlos Lisboa, só porque este, depois de mais de uma hora a suportar insultos, provocações e ameaças, comemorou de forma mais efusiva, e terá dito qualquer coisa como 'toma!', fazendo gestos que uma larga maioria dos presentes nas bancadas seguramente não viu.
Cabe aqui dizer que não podemos criticar treinadores que adoptam uma certa agressividade competitiva - que estimula os atletas e os leva ao sucesso, ainda que traduzida pontualmente num ou noutro comportamento mais excessivo -, e depois queixarmo-nos de não alcançarmos as vitórias que pretendermos. Basta olhar para José Mourinho, e lembrar muitas das suas atitudes (raramente consensuais, mas quase sempre eficazes), para entender o que quero dizer. No desporto profissional existe necessariamente antagonismo e conflito. Um grito de revolta, ou um gesto mais assertivo, têm por vezes o condão de espicaçar almas e aglutinar vontades. O respeito pelos adversários é indispensável, a violência é sempre indesculpável, mas não se incute uma mentalidade forte nos atletas servindo-lhes chá.

Pretextos
Lembremos também que o Benfica já havia conseguido mais dois títulos de Basquetebol em pavilhões do FC Porto, e em nenhum deles pôde receber a Taça de forma normal, não se sabendo que gestos ou palavras terá então feito e dito o técnico da altura. E nem quero imaginar o que teria acontecido se, há dois anos, aquando do último título de Futebol, os festejos dos comandados de Jorge Jesus tivessem acontecido em pleno Estádio do Dragão, num jogo que o Benfica acabou por perder, por 3-1. Teria morrido gente? Ter-se-ia iniciado uma guerra civil? Certamente não se ficariam por apagões de luz, nem ligações de rega. Então, os culpados seriam provavelmente uns anónimos agentes de segurança que, no túnel da Luz uns meses antes, teriam dito a Hulk e a Sapunaru qualquer coisa como 'embrulha!'. E se não dissessem, era a Águia Vitória que tinha voado demasiado perto das cabeças dos Super-Dragões, em clara atitude provocatória e carecer de duras represálias. Se tal não chegasse, encontrava-se rapidamente qualquer outro pretexto de idêntico quilate. É como violar uma rapariga só porque a descarada teve a suprema ousadia de nos brindar com um sorriso. Provocou! Estava a pedi-las! Nem sequer sorriu? Então quem a mandava usar aquele decote? Quem quer arranjar argumentos deste tipo, arranja-os para todas as conveniências.

Descubra as diferenças
É habitual meter-se tudo no mesmo saco, e dizer-se que, nestas situações, não há inocentes. Eu continuo a defender que há uma distinção clara: enquanto em Lisboa ocorrem casos muito mais individualizados e de certa forma anárquicos (e, já agora, normalmente punidos), no Porto existe uma espécie de milícia que parece actuar de forma metódica, organizada, orquestrada e impune. Além de que o tipo de ódio de uns e outros é substancialmente diferente (só não vê quem não quer), tendo, a norte, uma forte componente de sectarismo regionalista - que o alimenta e o agrava.
Independentemente do que possamos teorizar sobre isso, há outra verdade que me parece factual: o ódio e a violência foram trazidos para o Desporto português por Pinto da Costa, com o seu permanente e provocatório cinismo (eufemísticamente apelidada de 'ironia'). Acredito que esse ódio e essa violência irão desaparecer quando o actual presidente do FC Porto desaparecer, também ele, do Desporto.
Portanto, se alguém quiser encontrar um culpado dos incidentes do Dragão, e de todos os que ocorreram nas últimas décadas (emboscadas na A1, produtos tóxicos nos balneários, agressões a jornalistas, técnicos e autarcas, cânticos insultuosos, bolas de golfe, corrupção, intimidação de atletas, etc), é bastante fácil. Ele tem um rosto, e tem um nome. É o denominador comum a todos esses episódios. É a causa primeira e última de todos eles. É, ele sim, o provocador cimeiro deste País.

(...)

Maus fígados (negativo)
Decidamente, o dr. Eduardo Barroso devia dedicar-se em exclusivo à Medicina, aquilo em que efectivamente é bom. No campo desportivo, perde-se num facciosismo que roça o ridículo.
Para ele, não é Pinto da Costa, nem Paulo Pereira Cristovão, nem os incendiários da Luz que estão a mais no Desporto. É Carlos Lisboa, o melhor basquetebolista português de todos os tempos, e treinador meritoriamente Campeão Nacional. Critérios de quem, ao ver uma bola vê um fígado, e ao ver um cesto vê um rim.

(...)"

Luís Fialho, in O Benfica