quarta-feira, 9 de maio de 2012

A Liga alargada

"A fantasia aí está de novo com o provável alargamento das Ligas de futebol. Agora com a rectificação mínima exigida traduzida numa Liguilha com efeitos retroactivos. E com o insólito de, na próxima semana, as equipas que, eventualmente, a venham a jogar terem de esperar pela decisão da FPF numa espécie de limbo desportivo.
Num momento em que a União de Leiria é apenas a ponta visível do icebergue da penúria em que está a maioria dos clubes e em que se fabricam todos os artificialismos burocráticos e contabilísticos para provar um virtual estado de equilíbrio e viabilidade financeira e económica, eis que a solução é aumentar o quadro da indigência.
Em vez de um sensato e aprofundado PEC - Programa de Estabilidade e Crescimento -  dos clubes em dificuldades e de uma adequada terapêutica face à bolha de anos a fio de ilusões, dá-se um salto em frente rumo ao... precipício.
A única lógica deste alargamento é a de ser o recibo de quitação de uma campanha eleitoral para a Liga. Mais nada.
Uma decisão que levará, por certo, a uma reengenharia de calendários para que tudo se acomode: campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga (vai continuar?), selecções nacionais, competições europeias. Em vez de 240 jogos iremos ter 304 (mais 27,5%)! E na 2.ª Divisão com 22 clubes haverá - imagine-se - 42 jornadas! Com estádios às moscas, salários em atraso, falências camufladas, e o país em crise... Enfim, pormenores perante tão abstrusa decisão da corporação.
Uma Liga cada vez mais alargada e alagada em contradições e dificuldades, que não em liquidez. Neste aspecto, será uma Liga cada vez mais exangue."

Bagão Félix, in A Bola

É muito azar

A lógica do presidente da Liga é a da quadratura do círculo: alargando-se o campeonato a mais equipas aumentam-se as fontes de receita, desde logo a dos direitos televisivos, como se estes fossem a panaceia para todas as malfeitorias.
Nas muitas entrevistas que ultimamente tem dado, espanta-me a inconsistência e, sobretudo, a insensatez com que ele defende as suas teses, que por isso não convencem ninguém. Afirmar que, a partir de 2012/2013, os direitos televisivos serão negociados colectivamente pela Liga é de uma leviandade alarmante, sabendo-se que há clubes contratualmente comprometidos com a Olivedesportos até 2017. A demagogia do discurso é tão imprudente que, por vezes, faz lembrar a de Vale e Azevedo, de má memória. É verdade que esta Liga com estes presidentes de clube tem o que merece mas, nestes tempos de crise e de penúria, é muito azar. Em vez de rever as regras dos pressupostos financeiros para o licenciamento, impondo controlos mais frequentes e mais apertados na execução orçamental e aplicando penas de despromoção aos prevaricadores, prefere varrer o lixo para debaixo do tapete e ensaiar uma fuga em frente.
O crime compensa. A verdade desportiva desta Liga está ferida de morte, mas isso pouco importa. O que importa é o mercado cada vez mais estrangeiro e menos português, os milhões das vendas e a descoberta de prodígios imberbes a caminho da Luz, do Dragão ou de Alvalade. É certo que o delito financeiro, desportivo ou mesmo penal goza no futebol de uma espécie de salvo-conduto para a impunidade, aqui e em todo o lado. Em Itália acontece o mesmo, mas preparem-se para o tsunami que aí vem."

Manuel Martins de Sá, in A Bola