sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Palhaço soltou o General

"O General voltou. Já ninguém se lembrava dele e, de repente, ei-lo que regressa às páginas dos jornais. Saiu à rua num dia triste no qual o cheiro a podre tomou conta da atmosfera deste País sem futuro. É dia de festa!, ladram alguns. O General está menos estático e mais decrépito. Os anos passaram sobre a sua figura macabra de cadoz - barba desleixada e mal semeada - arredia de princípios e dignidade. Não sei se mete pena se mete nojo. O General não tem comando, é apenas um peão. De há muito tempo a esta parte que passou a ser um boneco articulado nas mãos do Palhaço. De tempos a tempos, quase de anos a anos, o Palhaço solta o General. E, tilintando de medalhas feitas de caricas de garrafa, o General avança em passo de ganso num ridículo quase prussiano. E fala. E General fala!
É bem possível que nem todos acreditem que ele fala já que o seu rosnar é imperceptível. As palavras sem-lhe a custo e com um sotaque rústico, quase demente. Mas são palavras de elogio. O General gosta de corruptos, de trafulhas, de mentirosos e de ladrões. Gosta, portanto do Palhaço. O Palhaço é o seu mentor. Consta que, em tempos que lá vão, o apresentou a um comendador rico disposto a patrocinar as ambições do General. E o General tornou-se o ditador grotesco de um país ridículo. Com o Palhaço por cima, sempre por cima. O General anda por aí outra vez, comemorando, de chapéu de papel de jornal na cabeça, o aniversário corrupto da corte do Palhaço. Então felizes, um e outro. Revolvem-se na lama porca das canalhices do Palhaço. Retouçam como leitões de mama na imundície de um terreiro infecto. É esse o seu mundo. E, quando a noite cai, o Palhaço estende-se num colchão de palha no qual se multiplicam as pulgas e o General, obediente, chocalha as medalhas enquanto dá uma volta sobre si mesmo e se enrola submisso aos pés do dono."

Afonso de Melo, O Benfica

Desconfiado me confesso

"Desconfio da isenção da justiça portuguesa e não confio nos órgãos que tutelam a justiça desportiva. Sempre que a justiça julga, a justiça é julgada. O julgamento que a opinião pública faz da justiça desportiva é mau, é péssimo.
Quando há agentes desportivos (dirigentes, árbitros, futebolistas…) que fazem do atropelo à verdade uma prática corrente e louvada, a responsabilidade é de uma justiça permissiva, conivente e que se esconde em emaranhados legais para, envergonhadamente, continuar a permitir a prática do crime. Deste modo, a permissividade acaba por ser um incentivo.
Desconfio e não confio nos próprios órgãos de tutela política. Chega a ser indecoroso ver o beija-mão a que o poder político se sujeita perante agentes desportivos de conduta aparentemente duvidosa e realmente criminosa. Pior do que os actos públicos de lavagem da imagem é a tentativa de, com o passar do tempo, conduzir gente espúria aos altares das capelinhas. Lavando a imagem na barra do tribunal, fazem um estranho percurso entre o lupanar e o altar. E lá vão ficando, ora um ora outro, os “santos de ocasião” com pés de barro e mãos sujas, colocados no altar por diligentes e temerosos fiéis que escarram na coisa pública que juraram defender.
E assim, na perpétua beatificação da atitude criminosa, vamos observando atónitos à multiplicação de actos criminosos no futebol português. Para que o descrédito seja completo, só falta o dia em que se crie um Tribunal Arbitral do Desporto em Portugal com juízes escolhidos e indicados pelos mesmos que serão julgados."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

40 mil

"Éramos 40 mil, sábado da semana passada, na Catedral, a apoiar a equipa do Benfica que goleou o Marítimo, na primeira das quatro finais até ao termo do Campeonato. A equipa fez o que se lhe exigia, ganhou e bem. O Benfica não depende apenas de si para vencer o Campeonato: depende que outros escorreguem e que o Sistema os deixe escorregar. Mas o Benfica só tem que pensar em si e ganhar. Foi o que fez.
Entretanto, surgiu no caminho do Benfica, coincidindo com as últimas vitórias da equipa de Futebol, uma encenação de contestação. Poderia passar tudo ao lado da marcha das competições, das modalidades, da imensa actividade desportiva e social de uma associação que é muito mais que um Clube de Futebol.
Acontece que a provocação excedeu as marcas e, aproveitando um jogo do Campeonato, quebrou o silêncio que manteve nos momentos dos golos do Benfica para insultar dirigentes eleitos. Penso que terão ficado esclarecidos sobre o que é e quem é o Benfica, quando os insultos foram abafados pelos 40 mil adeptos que apoiavam a equipa.
O Benfica é uma imensa sociedade de simpatizantes, adeptos e sócios que comungam os ideais do Clube: vencer, defender a Verdade Desportiva, elevar o nível do Desporto, fazer história, apoiar a colectividade como ramo solidário para um País e um Mundo melhores.
Mas claro que o Benfica é também o maior activo do negócio do Futebol em Portugal. Futebol, com ou sem o Benfica, é a diferença entre o sucesso ou o fracasso do negócio. E, em ano de eleições e de grandes decisões o Benfica é um alvo de inconfessáveis apetites.
Quanto aos 40 mil que estavam na Luz, como certamente a grande Família Benfiquista, só querem ajudar o Benfica e viver com o Clube a alegria das vitórias."

João Paulo Guerra, in O Benfica

Vitória da equipa. Derrota das Claques

"1. Exibição agradável e vitória folgada frente ao Marítimo. O título continua longe, mas o 2.º lugar ficou mais perto. Há que continuar a ganhar. E a apoiar a equipa quando ela mais precisa. Infelizmente, as nossas claques resolveram estar caladas durante toda a 1.ª parte. Por muitas razões que tivessem 'jogaram' contra o Clube a que dizem pertencer até morrer. Desta vez, a equipa esteve muito melhor que as claques. Quando começaram a apoiar, no início da 2.ª parte, mereceram os assobios que ouviram.
2. O Benfica sempre foi um Clube democrático e em Outubro teremos eleições. Mas parece que a campanha eleitoral já começou... e da pior forma. Que eu saiba, um presidente não mete golos, quanto muito dá condições para que eles sejam possíveis e ajudem a ganhar Campeonatos.
E, para além de um grande Estádio e de um óptimo Centro de Treinos, o actual presidente contratou excelentes jogadores e um treinador que há dois anos todos idolatravam. Apoiemos as nossas equipas e deixemos as campanhas para quando houver candidatos.
3. É raro mas por vezes acontece: jogos à tarde. Foi o caso do Benfica-Marítimo. Porquê? Porque às 19.00 horas a Sport TV transmitia o Barcelona-Real Madrid e ainda havia para jogar (e transmitir) o jogo do FC Porto. Infelizmente quem manda é a TV...
4. Pinto da Costa completou 30 anos como presidente do FC Porto. Jornais houve (Jornal de Notícias, Record) que lhe dedicaram páginas de elogios e nem uma referência fizeram ao Apito Dourado. Lamentável. Até dá a ideia de que tudo foi limpo. E, afinal, foram 30 anos de corrupção (as escutas podem não valer como prova mas não deixam dúvidas), de pressões, de 'guerras' norte-sul, de um ambiente que tanto lesou o Futebol português. Pelos vistos, para aqueles dois jornais, nada disso existiu. Foi tudo exemplar...
5. Era, certamente, o jogo mais importante do Sporting em casa, nos últimos anos, aquele que disputou com o Atlético de Bilbau. Teve pouco mais de 37 mil espectadores, 4 mil dos quais espanhóis. A dimensão dos clubes também se vê assim..."

Arons de Carvalho, in O Benfica