quinta-feira, 19 de abril de 2012

O editorial

"Muitos jornais têm por hábito trazer na última página o editorial. Este editorial de um determinado jornal vinha na última página e era assinado pelo seu director. Até aqui tudo dentro da normalidade. No entanto, quem fosse lendo, linha a linha, reparava que este editorial era veículo de uma confissão. Ou de uma ameaça, depende do ponto de vista. Com ligeireza, por sms, um alto dirigente de um grande clube do norte avisava o assinante director que o Benfica bem podia preocupar-se com treinadores que eles com a sua organização ganhariam 20 dos próximos 25 Campeonatos. Vamos agora supor: suponhamos que o grande clube do norte é aquele que todos nós suposemos logo de início. É uma boa suposição embora esbarre com contrariedades: esse clube que estamos a supor não tem dirigentes, tem apenas um dirigente que, por sinal, também não é alto, é até baixote, de estômago dilatado e físico grotesco.
Mas, mesmo assim, teimemos na suposição, até porque o norte não abunda de auto-intitulados grandes clubes. Ficamos a saber, nesta confissão (ou ameaça), que o alto dirigente (mesmo que seja baixote, pouco importa) não se preocupa com treinadores. Nada que não se suspeitasse há muito: já sabíamos todos, empiricamente, que não são os treinadores que resolvem Campeonatos. É a tal organização de que tanto se orgulham esses curiosos espécimes que têm no Futebol e da vida uma visão tão distorcida que não consegue ser absorvida por mais de meia-dúzia de pascácios. E contra essa organização não há, de facto, nada a fazer. A menos que estejamos, aqueles que não fazem confissões (ou ameaças) atoleimadas por sms, dispostos a guardar prostitutas no figrorífico, a pagar viagens de Verão para o Brasil, a gastar umas notas nas marisqueiras de Matosinhos ou a enfiar um árbitro num carro numa rua escura e levá-lo prazenteiro a tomar um cafézinho a casa do Senhor da Fruta. Por falar nisso: parece que se cumprem oito anos sobre a célebre viagem pelas ruas mais esconsas de Mafamude e do Canidelo. Parabéns ao Madaleno!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Momento do Benfica

"Como qualquer benfiquista, o meu estado de espírito não é muito recomendável. Em oito jornadas, passar de 5 pontos de vantagem sobre o rival para 4 de desvantagem (que, na prática, são 5), é difícil de digerir. Sobretudo se considerarmos que a equipa fez uma carreira brilhante na Champions (de onde o FCP saiu cedo e sem glória) e conquistou a Taça da Liga (uma prova mais difícil do que a Taça de Portugal).
É por ter criado tão altas expectativas, que os benfiquistas não se conformam com a possibilidade de voltar a perder o campeonato e disparam as suas setas sobre o alvo mais fácil: o treinador. “Jesus, dizem, não roda a equipa, preferiu Emerson a um ex-campeão do Mundo, é arrogante, inventa, não sabe defender os resultados, as suas equipas rebentam sempre nos finais da época”, repetindo os lugares-comuns lançados por quem beneficia com a instabilidade do clube.
Ora, Jesus é um dos quatro melhores treinadores portugueses e o melhor que o Benfica teve desde a primeira época de Erickson. (...) E é bom lembrar que a equipa que perdeu em Alvalade (com a arbitragem de Artur Soares Dias), foi a mesma que, em 27 dias, ganhou ao Beira-Mar, fez duas exibições brilhantes com o Chelsea (a única equipa inglesa na Champions e que, portanto, não podia ser eliminada), afastou o FCP da Taça da Liga, empatou em Olhão, venceu o Braga, e teve 65% de posse de bola em Alvalade. Quanto (...) às deficiências táticas e na comunicação, que eu saiba, não foram as limitações de Vítor Pereira como treinador nem a boçalidade das suas afirmações que impediram o FCP de estar à frente do campeonato.
As razões porque o Benfica se arrisca a perder o campeonato são outras: uma estrutura amadora ao nível da direcção desportiva e da informação/comunicação, que não soube acautelar e muito menos contrariar os efeitos da pressão sobre as arbitragens e a disciplina da FPF (à qual Vieira deu o seu apoio “incondicional”), que coincidiu com a recusa da proposta da Olivedesportos, e que voltaram a condicionar os resultados neste final da época: em Coimbra, na Luz com o FCP, em Olhão e em Alvalade. Sem falar do castigo inédito de 2 jogos a Aimar, que o afastou cirurgicamente do último dérbi.
Os “abutres”, que aparecem sempre nestas alturas, preferem atirar a toalha ao chão e pedir a cabeça do treinador. Mas, o símbolo do Benfica é a águia, e não o abutre, e, se não houver arbitragens viciadas, tudo estará em aberto até à última jornada.
Com eleições à porta, há dois compromissos, por isso, que Vieira deve assumir: respeitar o contrato que fez com o seu treinador e não renovar o contrato com a Olivedesportos. O próximo Presidente, que poderá ser ele, não pode ficar amarrado a decisões que, de outro modo, comprometeriam a sua margem de manobra e o futuro do clube."

António Pedro Vasconcelos, in Sol (via Master Groove)

Viva o 17 de Abril de 2042! (texto futurista por ocasião do 30.º aniversário de Pereira Cristovão na presidência do Sporting)

"...foi há 30 anos que Cristóvão assumiu a presidência do Sporting e tudo mudou. O Benfica extinguiu-se. E o FC Porto nunca recuperou da guerra com a Olivedesportos...

Valeu a pena?
Sim valeu a pena.

FAZ por estes dias 30 anos que Paulo Pereira Cristóvão assumiu a presidência do Sporting Clube de Portugal para conduzir o histórico clube com 136 anos de existência a um patamar único e sem rival em Portugal.
30 anos, 307 títulos! - eis o cartão de visita do presidente Cristóvão no ano em que festeja 73 Primaveras e três décadas no comando da grande nau.
Feito notável. Pena que o consulado de ouro de Pereira Cristóvão tenha ficado a 1 título do registo do mítico Jorge Pinto Costa na presidência do FC Porto durante o mesmo espaço de tempo.
Entre 1982 e 2012 aquele antigo presidente do Norte do país conquistou 308 títulos.
Jorge Pinto Costa 74 anos quando celebrou o feito. Paulo Pereira Cristóvão tem 73 anos na ocasião histórica que hoje celebra. Se Jorge Pinto Costa somou mais um título é porque tinha mais experiência. A experiência, que advém de mais um ano de vida.
Estas contas só ao alcance dos predestinados têm vindo, no entanto, a provocar rumores de insatisfação entre a nação leonina.
Reclamam os sportinguistas mais exigentes, aqueles que por mais que ganham nunca estão satisfeitos, que lhes faltam aqueles 2 títulos que estiveram à mão de semear para Paulo Pereira Cristóvão poder ultrapassar galhardamente o palmarés de Jorge Pinto Costa, ficando, concomitantemente, o Sporting com 1 título a mais.
Há até entre os notáveis do Conselho Leonino quem acuse o presidente, por se ter deixado adormecer na forma, pelas duas surpreendentes derrotas nas finais da Taça da Liga das temporadas de 2019/2020 e de 2034/2035, contra adversários perfeitamente no alcance como o Eléctrico de Ponte de Sôr e o FC Porto.
O Eléctrico de Ponte de Sôr ainda vá que não vá... mas a derrota com o FC Porto teve aspectos intoleráveis pela grande rivalidade que passou a existir entre os dois clubes, mormente desde a extinção do SL Benfica, emblema lisboeta obrigado a fechar as portas em 2018 depois de uma sucessão misteriosa e fatal de treze incêndios que reduziram a escombros e seu Estádio da Luz e demais património mobiliário e também imobiliário.
A Taça da Liga já vai na sua 34.ª edição e, curiosamente, o Sporting, um verdadeiro papa-títulos em Portugal e no estrangeiro, apenas por uma vez conseguiu levar de vencida o cobiçado troféu. Foi na longínqua temporada de 2012/2013, logo no princípio do consulado de Pereira Cristóvão como presidente do clube, o adversário foi o Marítimo e o Sporting ganhou por falta de comparência dos madeirenses.
«Só conseguiram ganhar uma Taça da Liga na secretária!» - regozijaram-se os benfiquistas, que ainda estavam activos à época. Mas regozijaram-se por pouco tempo. Logo sobrevieram de rajada os incêndios números 4, 5 e 6 no Estádio da Luz e passou-lhe imediatamente a vontade de rir. E o pior ainda estava para vir.
A verdade é que o Sporting ganhou a sua única Taça da Liga na secretaria. Mas o Sporting não tem culpa da falta de comparência da equipa do Funchal. O Marítimo não foi a jogo porque foi desqualificado da competição pelo Conselho de Disciplina da defunta Liga de Clubes.
E porquê?
Um vice-presidente do Marítimo que, incrivelmente, tinha acesso ao número da conta bancária de um fiscal-de-linha, sugeriu a um funcionário seu, antigo líder da claque Esquadrão Maritimista, que se metesse no teleférico para o continente e fizesse um depósito de 444.382.763 escudos (sim, tudo isto se passou no ano em que o euro passou a ser moeda antiga) na conta do dito fiscal-de-linha.
O propósito era coagir e incriminar o árbitro assistente afastando-o do próximo jogo do Marítimo que era a contar para a Taça da Liga contra adversário temível. Numa artimanha que soou genial ao seu mentor, a viagem de teleférico ao continente e o depósito dos 44.382.763 escudos numa agência bancária da Capital em nome do fiscal-de-linha destinavam-se a manchar a honra de um clube inocente.
A infantil tramóia foi rapidamente posta a nu por três jovens inspectores-estagiários da polícia nacional que nem precisaram de pedir auxílio aos inspectores mais velhos. Naturalmente, o Marítimo foi desqualificado da Taça da Liga e como já estava apurado para a final quando tudo veio a lume, a final desse ano não se realizou tendo a vitória sido atribuída ao Sporting, na secretaria, facto que não gerou a menor controvérsia.
Regressemos ao tempo presente, que é de festa.
O Sporting de Paulo Pereira Cristóvão lidera como de costume o campeonato, está nas meias-finais da Liga dos Campeões e se é verdade que foi mais uma vez prematuramente afastado da Taça da Liga, (cuja final se disputa no domingo entre os Pescadores da Costa da Caparica e o Eléctrico de Ponte de Sôr), também não é menos verdade que jogará já no próximo mês de Maio a sua 6.ª final consecutiva da Taça Cardinal no Arena-Jamor.
No calendário de provas oficiais do futebol português, a Taça Cardinal sucedeu à velhinha Taça de Portugal, prova pela última vez disputada em 2011 e nesse ano de despedida ganha pelo FC Porto. Foi naquele tempo em que o FC Porto ganhava tudo e de que só os mais velhos se lembram.
Neste ano em que se comemora o 30.º aniversário do consulado da presidência de Paulo Pereira Cristóvão no Sporting, significará esta 6.ª final consecutiva no Arena-Jamor a 6.ª vitória consecutiva dos leões?
No relvado do Arena-Jamor, herdeiro do velhinho Estádio Nacional, esplendorosamente reconstruído em 2016 com capitais angolanos, caíram aos pés do Sporting nas últimas 5 finais adversários como o Eléctrico de Ponte de Sôr (2037, 2038 e 2040), o Beira Mar de Monte Gordo (2039) e os Pescadores da Costa da Caparica (2041).
Neste ano de 2042, no entanto, a final da Taça Cardinal vai ter o sabor de um velho e já esquecido clássico porque o adversário chama-se FC Porto. Longe, é certo, vão os tempos daquele FC Porto imperial de Jorge Pinto Costa a quem, por graça, se chegou a chamar de Papa tal era o seu apetite. Hoje o FC Porto não é o que era.
Depois de Jorge Pinto Costa seguiu-se a presidência de António Salvador mas Salvador nem conseguiu completar o seu primeiro mandato. 'Vai pró Braga!', gritavam-lhe a toda a hora. Depois de Salvador, foi Rui Moreira ocupar a presidência mas as coisas também não correram bem e a culpa, dizia-se, era dos tecnocratas. Satisfazendo a velha guarda, foi então eleito Reinaldo Teles presidente e cumpriu dois mandatos com a dignidade que cabe a um simpático ancião. Mas sem vitórias o que gera contestação popular. Sucederam-se 4 comissões administrativas integrando uma plêiade de notáveis. Também sem sucessos.
Foi assim que, em 2027, congregando em si todas as esperanças, o antigo jogador do clube António Oliveira se fez eleger presidente do FC Porto.
Tinha 75 anos e poderia ter sido em excelente presidente do FC Porto se o seu irmão Joaquim, de 84 anos, dono da empresa Olivedesportos, não lhe tivesse sabotado o mandato e as contas da tesouraria renegociando com o FC Porto o contrato de transmissões televisivas por em terço do valor do mesmo contrato com o Eléctrico de Ponte Sôr. Foi o fim da macacada.
Hoje, por culpa destes 30 anos de Paulo Pereira Cristóvão no Sporting, levando tudo à frente de vencida, já ninguém sabe quem é o presidente do FC Porto. Ninguém sabe o nome de quem se vai sentar com Paulo Pereira Cristóvão na tribuna do Arena-Jamor. O actual presidente do FC Porto é um cidadão anónimo, ninguém lhe liga pevide.
Não admira. Pois se os mais jovens adeptos do FC Porto nem sequer sabem quem foi o presidente Jorge Pinto Costa. Nem lhe sabem dizer bem o nome. É trabalho dos portistas mais velhos explicar aos mais novos que, em primeiro lugar, não é Jorge Pinto da Costa mas Jorge Nuno Pinto da Costa, tal como está escrito na frontada do antigo Aeroporto Francisco Sá Carneiro rebaptizado com o nome do antigo presidente portista em 2022, depois de sofrer obras de remodelação com capitais angolanos.
De volta à efeméride. Foi há 30 anos que Paulo Pereira Cristóvão assumiu a presidência do Sporting e tudo mudou no panorama do futebol nacional. O Benfica ardeu e extinguiu-se. E o FC Porto nunca mais conseguiu recuperar da guerra fratricida com a Olivedesportos.
O último título oficial do FC Porto aconteceu na já distante época de 2028/2029 e soube a pouco: uma vitória morna na final da Taça da Liga frente ao Paço de Arcos, por 1-0, um golo do veteraníssimo Gonçalo Paciência, filho de um tal Domingos Paciência que foi muitos anos jogador do FC Porto e poucos meses treinador do Sporting. Dizia-se na altura que o pai Domingos tinha sido vítima de espionagem ao mais alto nível e que cedeu a posição quando confrontado com os factos, sendo que a natureza dos factos é ainda hoje desconhecida.
O importante é que o processo que, há 30 anos, levou Paulo Pereira Cristóvão, à presidência do Sporting foi pão-pão-queijo-queijo. Não foi preciso raptar a equipa e levá-la para o pinhal de Leiria, como outros fizeram noutros pinhais em séculos passados. Não foi preciso sequer desautorizar e humilhar o presidente que estava em exercício. Também não foram precisas eleições.
É caso para se dizer que Paulo Pereira Cristóvão fez-se presidente do Sporting só com a sua presença. Impondo-a com naturalidade e sem discussão perante os colegas dirigentes.
Faz agora 30 anos que, para testar os outros e para se testar a si próprio, o vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão, qual Houdini, se fez desaparecer a si próprio durante 96 horas para, num golpe de magia, regressar triunfalmente, caindo com estrondo na sala de reuniões e fazendo desaparecer, envoltos em grande poeirada, todos os dirigentes do Sporting que lá estavam sentados. E ainda todos os dirigentes do Sporting do passado. E os do futuro também.
Foi o início de uma era.
Não se pode dizer que foi o início de uma nova era porque, com toda a franqueza, de novo não teve nada."

Leonor Pinhão, in A Bola

Os inferiores interesses do Sporting

"«Entendi que, estando a minha honestidade pessoal, e enquanto dirigente, em causa, deveria apresentar (...) o meu pedido de suspensão do mandato. (...) Tal decisão (...) deve-se única e exclusivamente aos superiores interesses do Sporting.»
Paulo Pereira Cristovão, 12 de abril de 2012

Desconfio que é por causa da quantidade de gente que confunde o nome do árbitro auxiliar do primeiro escalão que estava nomeado para o Sportin-Marítimo (José Cardinal), com o da família Cardinali - está montado o circo no Sporting!
Três dias depois de anunciar que pedia a suspensão do mandato depois de ser constituído arguido num processo de denúncia caluniosa, surgiram notícias de que Paulo Pereira Cristovão queria retomar funções, o que viria a confirmar-se no dia seguinte, depois de agitada reunião do Conselho Directivo.
Está no seu direito, mas o que mudou em três dias para que já não fizesse sentido continuar afastado da Direcção? Pelo que se percebe, a jogada de Cristovão aconteceu depois de perceber que, fora de funções directivas, ficaria desprotegido. Mas isso era de esperar.
Depois de ter invocado os superiores interesses do Sporting, a única coisa que se pode concluir é que decidiu que afinal os interesses do Sporting, são inferiores, pelo menos aos seus.
Não bastando tudo isto, vem o presidente do Sporting contribuir ainda mais para o circo Cardinali em que se transformou Alvalade, recordando a sua história pessoal - quando no passado se afastou da Direcção de Dias da Cunha depois de ter sido constituído arguido num processo, numa crítica implícita ao facto de Pereira Cristovão não ter feito o mesmo - e introduzindo um tema que ainda não tinha sido mencionado, o de eleições antecipadas, apenas para dizer que era contra...
Enfim, pinte-se os quatro mastros e pode ser que tudo se resolva."

Hugo Vasconcelos, in A Bola

Modernos e eternos

"Os melhores adeptos do Sporting, entre os quais “coleciono” grandes amigos, não mereciam aquilo que lhes caiu em cima. Só há duas hipóteses: ou é uma traição de um dos seus, inusitada, indesculpável, indecorosa e ainda por cima mal montada, ou é uma cabala de terceiros, o que seria prova final do estado de demência a que chegou o futebol português. A época leonina parecia já ter suportado toda a agitação possível. Pode o Sporting queixar-se de que esta bomba, com ondas de choque ainda incalculáveis, rebenta em vésperas de um momento decisivo da temporada para um clube que foi arquivado cedo de mais, acabando por se tornar no mais resistente dos portugueses à erosão europeia. O primeiro encontro com os espanhóis do Bilbao ajudará a traçar o rumo da eliminatória e, certamente, este não era o clima que os dirigentes e os técnicos gostariam de poder proporcionar à equipa.
O problema, mais uma vez, vem da gestão do caso, mal concretizada. Nas suas aparições e declarações públicas, Godinho Lopes nunca passou a imagem que se esperava dele – a de alguém profundamente ofendido, legitimamente indignado pela calúnia que envolve um homem em quem confia (Cristóvão). Ou será que não confia? No final da sessão eleitoral que o consagrou, Godinho Lopes titubeou. Na Luz, com pirómanos à solta, ameaçou com umas famigeradas gravações – “altamente” comprometedoras para Luís Filipe Vieira – que nunca se ouviram. No caso Domingos, mudou de discurso e de posição em menos de um dia. Agora, a ter sido ele o responsável final pelo regresso do vice-presidente, voltou a dar uma imagem de fraqueza. Para sossego geral, sobretudo para descanso do próprio Sporting, Paulo Pereira Cristóvão devia ficar longe dos círculos de decisão, ao menos por uns tempos.
Há, ainda assim, alguns elementos que me fazem pôr tudo isto em causa. Um antigo inspetor da Polícia Judiciária, a ter feito aquilo de que o acusam, não conseguiu prever que o depósito era um tiro no pé quando o que se usa, ao que julgo saber, é o numerário em envelope, entregue em local discreto? Um vice-presidente pode tomar a iniciativa de vigiar jogadores do clube quando se sabe, por tradição, que essa tarefa policial é entregue a um qualquer adjunto ou assessor da equipa técnica? Mais do que tudo, custa-me a hipocrisia (com que tenho sido forçado a conviver de perto…), elevada ao extremo, de ver arautos de um certo clube, satisfeitos e impiedosos com o alegado percalço de um sportinguista, a gritarem por sangue, a exigirem cabeças e a esquecerem-se que têm lá em casa um senhor que só não foi condenado por pormenores técnicos. Mas nem uma sentença judicial muda a essência da verdade – e essa anda aí, para quem quiser ouvi-la."