segunda-feira, 2 de abril de 2012

O regressado

"From: Domingos Amaral
To: Rodrigo

Caro Rodrigo
Ao ver-te no sábado regressar àquilo que eras antes, dei por mim a pensar que a súbita quebra de resultados do Benfica teve muito a ver com a tua ausência. Até ao célebre jogo de S. Petersburgo, a meio de fevereiro, o Benfica estava a fazer uma época notável. Liderava o campeonato com cinco pontos de avanço sobre o FC Porto, fizera uma fase de grupos da Champions excelente, a melhor de sempre da história do clube, vencendo o seu grupo e atirando borda fora o United; vencera o seu grupo na Taça da Liga com três vitórias; e só soçobrara na Madeira, contra um forte Marítimo e para a Taça de Portugal, a única derrota da época até aí!
Contudo, a tua lesão, provocada pelo Bruto Alves, não só te limitou, como sobretudo desequilibrou uma equipa que já se habituara ao teu registo e aos teus perigosíssimos piques que desestabilizavam as defesas adversárias. Sem ti em campo, ou diminuído nos jogos onde só lá estava a tua sombra, o Benfica colecionou dois desagradáveis empates para o campeonato – Académica e Olhanense – e quatro perturbadoras derrotas, contra Zenit, Guimarães, FC Porto e Chelsea. É verdade que a equipa ganhou contra Zenit, Beira-Mar, Paços de Ferreira e FC Porto para a Taça de Liga, mas era por demais evidente que não estava a jogar o que jogara antes. E é evidente também que outros fenómenos tiveram a sua importância, desde as arbitragens que nos prejudicaram às incompetências próprias, cujo caso mais gritante é Emerson.
Mas ontem, contigo a regressar aos velhos tempos, o Benfica já jogou de uma forma totalmente diferente, com mais velocidade e arte, e foi um justíssimo vencedor do confronto com um Braga perigoso mas, como eu já esperava, pouco ambicioso.
Contigo assim, o Benfica joga muito mais. Podemos, pois, voltar a sonhar."

Guerra e paz

"No sábado, uma entrevista diferente neste jornal e a reação dos árbitros às contestações. “O árbitro está muito exposto. Simboliza um poder que está totalmente fora do nosso controlo. (…) um poder completamente arbitrário sobre aquilo que é o nosso sonho”. O juízo de Machado Vaz é crucial: na semana em que os árbitros internacionais de futebol anunciam que também querem ter poder fora do campo, a questão hoje é saber como se sindica o poder exercido dentro do campo. E de fazer perguntas acerca desse estatuto e capacidade de influência sobre o destino do jogo.
Em várias organizações da sociedade, há o postulado assente de um certo poder corresponder a uma necessária e certa responsabilidade. Mais ou menos acrescida, mais ou menos exigente, em conformidade com a natureza e a dimensão do poder que se exerce. Ora – para além do que é visível nas classificações e na graduação (com promoções e despromoções) dos agentes de arbitragem ao fim de cada época –, terá atingido o futebol (e o desporto em geral) um sistema adequado de responsabilização dos árbitros (pelo menos interna) no domínio da fiscalização das suas decisões?
Viajemos agora para o lado inverso: os deveres. Os árbitros de futebol constituem a categoria de agente desportivo mais carregado de obrigações, vinculações, encargos e inibições. Olhamos para o Regulamento de Arbitragem da Liga e percebemos o largo espetro: acatar as nomeações, não exceder um número reduzido de pedidos de “dispensa”, informar os procedimentos de deslocação para os jogos, elaborar pormenorizadamente relatórios, colaborar com o organizador das competições, comparecer nas tarefas instrutórias de procedimentos disciplinares, não emitir quaisquer declarações públicas sobre os jogos (nomeadamente para exercer o contraditório sobre as apreciações feitas pelos outros agentes sobre o seu trabalho), submeter-se à posição “hierárquica” do Conselho de Arbitragem, entregar declarações de “registo de interesses” em que constam os seus bens, rendimentos e cargos. E etc. Uma malha assaz desequilibrada que, no fim das contas, acaba no injusto escalpelizar de decisão a decisão, lance a lance, pelos especialistas em “replays” e em inflamação das massas. Logo: terá atingido o futebol um sistema adequado de contrapartidas e de defesas para esse conjunto de deveres?
Temos hoje, em média, um lote de árbitros na 1.ª categoria incomparavelmente mais bem preparado tecnicamente e (até academicamente) melhor formado do que no quadro subsistente há 10/15 anos. Temos hoje no órgão federativo da arbitragem técnicos especializados, também incomparavelmente noutro estádio de conhecimento e experiência. Mesmo assim, terá o futebol evoluído até ao ponto de repensar as formas de recrutamento e progressão dos árbitros?
Acredito no conflito como meio de se mobilizar a reforma e, nesta, a resolução, de acordo com princípios de igualdade, transparência, exigência profissional e dissuasão de “coações” e lesões da reputação dos árbitros. Mas as formas que esta semana se escolheram para amenizar o conflito não auguram que se tivesse percebido quão decisivo é alterar o essencial."

É assim que elas se fazem

"Escrevo esta crónica depois do Benfica-Olhanense e antes do confronto com o Chelsea, o que significa que o faço em estado de expectativa e de preocupação. De expectativa, porque desejo que o Benfica ganhe em todas as competições em que se encontra presente. De preocupação, porque dando razão aos grandes estrategas militares de todos os tempos, sei que combater em várias frentes é sempre muito mais arriscado, redobrando os esforços e as possibilidades de derrota ou de recuo.
Todos sabemos, a começar pelos adversários nacionais e internacionais, que o Benfica tem uma das melhores equipas da Europa e tem soluções e respostas para todas as situações. Mas também sabemos que tem sido uma época muito dura e muito exigente.
Com o protagonismo e a presença irradiante que tem na vida comunitária, o Futebol de alta competição é cada vez mais implacável e esgotante no que toca ao que pede aos jogadores, sem dúvida bem pagos e bem preparados, mas humanos como todos os outros e por isso com momentos maturais de quebra, de vulnerabilidade ou de improdutividade. É assim a vida, são assim os homens.
E também é verdade que quando o Benfica se agiganta e está perto de cumprir os seus objectivos cimeiros, logo se mobilizam forças e energias, naturalmente ocultas, para lhe travar o passo. Sempre assim foi e sempre assim será. Ainda há dias vi, em Itália, um documentário biográfico sobre o treinador Herrera que destacava o peso do Benfica na cena europeia e o prestígio, também mítico, de que, de resto, ainda hoje goza. E contra a História nada há a fazer, porque é definitiva e inalterável.
Esta é a fase em que a arbitragem pode ser determinante, de forma acidental ou deliberada, para que um candidato natural ao título possa ficar arredado dele. É polémica que não gosto de alimentar, mas o assunto não pode ser escamoteado. Aimar não esteve bem, mas o árbitro esteve bem pior, prejudicando seriamente o Benfica com uma expulsão desnecessária. E é assim que elas se fazem..."

José Jorge Letria, in O Benfica

Objectivamente (Falta de vergonha!!!)

"Ainda está para chegar a primeira vez que os dirigentes, jogadores e técnicos do FcPorto tenham um pouco de «fair-play» e reconheçam superioridade a um adversário que lhes tenha ganho! É inacreditável. Há tantos anos que andam nisto e nem uma «vezzz...inha»!
Em Paços de Ferreira, onde beneficiaram do perdão de um pénalti de Sapunaru sobre Luisinho, aos 22' - com o resultado ainda em branco - queixam-se de que a simulação de Hulk na área do Paços é que era penalti e, claro, mais uma vez FORAM ROUBADOS PELO ÁRBITRO! Coitados, tantas vezes foram prejudicados pelos árbitros, que nos últimos 30 anos ISSO lhes tem provocado TÍTULOS e mais títulos! Imaginem se não fossem roubados pelos árbitros e quantidades inalcançavel de taças e títulos que esta gente não tinha já no seu palmarés!
Não têm mesmo vergonha! Depois do jogo na capital do móvel, como muita gente gosta de chamar ao «mui» digno Paços de Ferreira que se tem batido com muita galhardia nesta competição, os portistas não aceitam a sua má prestação com justiça. Querem desculpar-se com os árbitros e choramingam com os falhanços! Deviam agradecer aos deuses o autogolinho de Ricardo e já agora... jogarem um pouco mais. Querem o quê?

Este fim-de-semana, para além das peripécias da Liga, ficou registada uma homenagem a Vítor Damas, o genial guarda-redes português, que apesar de ter jogado no rival de Alvalade, deixou muitos amigos e admiradores no futebol português. Eusébio, Hilário e muitas outras velhas glórias fizeram questão de publicamente manifestarem a um amigo que já foi. O que me surpreendeu, pela negativa, foi a «ausência» do Sporting nesta homenagem a um dos seus, supostamente... Apenas o candidato derrotado das últimas eleições)!!?)"

João Diogo, in O Benfica

Não gostei nada...

"1. Estamos na final da Taça da Liga, depois de categórica vitória sobre o FC Porto, apesar de um golo sofrido com tabela e três remates aos postes. Será agradável ganhar a competição pela 4.ª vez (e não é por aquela absurda contabilidade dos títulos, que mistura longos - e importantes - Campeonato com provas disputadas num só jogo...). Mas nada mais que isso. Bem mais importante é o título nacional e a actuação no Algarve foi muito pobre, frente a um adversário que nada mostrou... a não ser que sabe interromper muito o jogo. O 'relvado' era uma miséria, o árbitro, o árbitro (que já expulsara 'exageradamente' Cardozo no jogo com o Sporting) não quis que Aimar jogasse mais que 17 minutos (lances daqueles valem amarelos em mais de 90 por cento dos casos) mas o mal maior esteve na nossa equipa, que jogou mal e, principalmente, devagarinho, só 'acordando' quando reduzida a 10 elementos. E, assim, não dá. O que vale é que o FC Porto não parece melhor. Mas há que ganhar este sábado, ao Sp. Braga, independentemente do que fizemos (escrevo antes) ou faremos com o Chelsea na Liga dos Campeões...

2. O Sporting pediu audiência ao ministro adjunto Miguel Relvas (que remeteu para o secretário de Estado...) para falar sobre... arbitragem. Ou, mais propriamente, sobre a 'perseguição' que dizem estar a ser vítimas. Os seus dirigentes devem andar um pouco distraídos. Será que pensavam que o ministro iria escolher outros árbitros? Ou vetar aqueles que o Sporting não quer? Ou pressionar Vítor Pereira a escolher este ou aquele árbitro? Esse tempo - o tempo em que o Sporting tinha grande influência nos ministérios (e na antiga Direcção-Geral dos Desportos, à qual até chamavam Direcção-Geral do Sporting) - já lá vai há muito: passaram-se entretanto 80, 70, 60, ..., quase 38 anos.

3. Muito festejaram os portistas o 'desvio' de Cristian Rodriguez do Benfica para o seu clube. Muito tenho eu (e os benfiquistas de uma forma geral) festejado os 'êxitos' do antigo jogador do FC Porto. Gastaram por ele uma fortuna, pagaram-lhe mensalmente outra pequena fortuna, viram-no jogar de azul e branco poucas vezes e mal e, agora, vêm-no sair (ou foram obrigados a correr como ele) sem nada receberem em troca. Muito bem feito..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Contratempo

"No final do Olhanense-Benfica, o tarefeiro de serviço na TV teve o desplante de perguntar a Jorge Jesus se os árbitros não andarão de má vontade contra o Benfica por o treinador criticar as arbitragens. E sugeriu, como remédio, que Jesus falasse menos. É extraordinário ver alguém a fazer de entrevistador e a sugerir ao entrevistado que se cale. Mas entende-se o recado, se o pensarmos como tendo origem no Sistema. Se quem denuncia a mentira desportiva falar menos, continua tudo na mesma, ou ainda pior, mas encoberto sob o manto do silêncio.
Já aqui tinha previsto que a recta final do Campeonato iria ser uma sucessão de atropelos da verdade desportiva. Mas não imaginei que fosse tão longe. Um erro de um árbitro e do respectivo ajudante deu uma vitória ao FC Porto sobre o Benfica, validando um golo em escandaloso fora de jogo.
O erro não decidiu apenas o resultado do jogo, mas também a classificação do Campeonato. O FC Porto já chegara à Luz com uma classificação aldrabada, garantindo-lhe condições de passar o Benfica no primeiro lugar, graças a erros de arbitragem que roubaram pontos ao Benfica em Guimarães e em Coimbra. Depois disso, para consolidar o efeito de sucessivos erros, o árbitro escolhido para Olhão só tinha olhos para um dos lados. Por este andar, o que se segue? Uma chuva de cartões no próximo jogo, procurando influenciar o resultado com o Braga e a composição da equipa face ao Sporting?
O Sistema, porém, tem um contratempo. Joga tão pouco, que nem levado ao colo consegue descolar. A propaganda fala-barato não ganha pontos. E é assim que, apesar de toda a manipulação, o Campeonato ainda não acabou."

João Paulo Guerra, in O Benfica