sexta-feira, 30 de março de 2012

Nova vitória...


Castêlo da Maia 1 - 3 Benfica
23-25, 10-25, 26-24, 18-25

...e agora, no Domingo, temos a final da Taça de Portugal, com a Académica de Espinho... o jogo é em Coimbra, e o 'caneco' é para juntar ao do ano passado!!!

A história da Ratazana contada para meninos

"Batem leve, levemente, pauladas de circunstância, nas costadas do lente, na circunstância. A Velha Ratazana, já careca e repelente, está contente. Não gosta de meninos de cançonetas, nem hinos. O pau atira-se ao gato: tudo mais é literatura de cordel. Nem mais pulga nem mais pato, nem mais prato nem sapato, que é tudo muito chato. Para o Madaleno só bordel! Tem os olhos deslavados, de quem soma cataratas, por isso recusa as batatas, e vai destilando fel, contra crianças de batas. Grita, resmunga, esperneia: a Velha Ratazana além de nojenta, é feia.
Exige exemplos: ninguém mais dará a mão a meninos. Coisa que já não davam. Comportamentos cretinos de lobos que uivavam ao mero toque dos sinos.
Ri-se o palhaço, feliz de tão imbecil, que proibir as canções é fácil, e matar as lengalengas não tão difícil, desde que haja um ministrozeco macio a precisar de um bilhetilho para um jogo com vício. Em coro, os petizes cantam - «Em cima do piano / estava um copo com licor / de que cor?» - e olham uns para os outros de olhos muito abertos, tanto os mais burros como os mais espertos, porque sabem de seguida a resposta proibida. Se algum responde vermelha, a Velha Ratazana ergue a celha, cospe-se pelo lugar onde lhe falta um dos dentes da frente, dá um guincho para que alguém se apresente, e avança legalmente contra o desgraçado do docente que se lembrou de pergunta tão indecente, tão impudente. Indisciplinado, um indez cantarola. - «Em cima do pianinho / está um anãozinho / De que cor está vestidinho?» - e olha por cima do ombro para a Velha Ratazana que cheira a cebola e esfrega o pescoço sujo na gola da camisola. E com um sorriso atrevido responde - «azulinho» - enquanto o Madaleno, de esgar estúpido, larga um grunhido, um latido, arrependido por não o ter agredido tal qual sentia ele houvera merecido. Para este rato cobardola, não se brinca com a escola..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Obrigação ou milagre

"A derrota com o Chelsea custou menos que o empate em Olhão. O jogo da Liga dos Campeões teve um resultado ingrato e injusto, o Benfica mostrou maturidade, embora este resultado deixe o Benfica a um milagre das meias-finais. Resta pois ir a Londres procurar... um milagre.
Ganhar em Londres seria épico, ser eliminado deixando tudo em campo é uma obrigação. Vamos cumprir a obrigação à procura do milagre.
Um golo do Barcelona teria feito do Benfica a melhor equipa a jogar em casa nesta Champions. Não parece nada provável mas teremos que procurar desafiar a estatística em Inglaterra.
Já fomos heróis em Londres contra o Arsenal, já fomos em Anfield contra o campeão europeu Liverpool e já fomos em Old Trafford. Falta Chelsea.
Já as contas do campeonato estão muito simples: ou ganhamos os jogos todos ou não aspiramos a nada de interessante. Para o Benfica o único lugar interessante é o primeiro.
Garay é muito importante. Aimar é decisivo, e Jardel faz falta. Este campeonato tem alçapões de difícil resolução. Ganhar sem os melhores, é muito mais difícil mas essa é a nossa tarefa.
O campeonato será decidido nas próximas duas jornadas, depois creio que não haverá espaço para arrepiar caminho. Esgotámos a nossa folga. Se ganhamos os próximos dois jogos estamos na luta pelo título. Depois deles, teremos um título para vencer em Coimbra. Importante: títulos são sempre importantes.
Melagrejo, tão apreciado pela nossa concorrência, já fez mais pelo Benfica que alguns que no passado vestiram a camisola uma época inteira. Para a próxima época, se for chamado, entra com créditos nos adeptos, e estará por provar se não marcou o golo que fez o Benfica campeão. Se formos campeões devia ganhar o prémio prometido ao plantel.
O treinador do FC Porto queixa-se de tudo e do universo, mas o universo azul e branco já só se queixa dele."

Sílvio Cervan, in A Bola

Aldrabice

"Para acabar de vez com os equívocos: subscrevo, porque quero e porque posso, a ideia de uma “classificação aldrabada pelos árbitros” na Liga portuguesa. As virgens escandalizadas ripostam de várias formas. Primeiro, que tal sugere premeditação e má-fé dos árbitros. Mentira: continuo a assentar argumentos na incompetência e nas deficiências – porventura mais sensíveis no campo psicológico – e não faço juízos de intenção. Nem seria útil rubricá-los, como facilmente se percebe pelo desfecho de um Apito Dourado tão transparente que tudo acabou na mesma. Segundo, é a linguagem que as eriça, às almas impolutas. Brincadeira: os que hoje gemem diante da “aldrabice” são os mesmos que já ouvi falar em “roubos”, em “Bin Ladens” e por aí fora. Também aparece a ideia, de um automatismo redutor, de que quem defende que há aldrabice está necessariamente a defender uma equipa, um clube, uma cor. Entendamo-nos: não há apenas uma vítima na cegueira e na aselhice dos juízes de campo. Basta recordar o discurso do presidente da Académica, no final do jogo de Braga.
Tudo isto dificilmente ultrapassa as “revisões da matéria dada”. A novidade, cúmulo da cobardia, é querer fazer passar as críticas às arbitragens – que sempre fiz às claras, em textos que não se escondem em pseudónimos, dando a cara ao manifesto – como parte de uma campanha que, por exemplo, se expressou na divulgação na Internet de dados pessoais de alguns árbitros, o que – pelo menos num caso – já se traduziu em ameaças ao próprio juiz e à respetiva família. Condeno, claro. Da mesma forma que deploro aqueles que me oferecem insultos periódicos. Põem-me a dizer frases que nunca disse, atribuem-me intenções que nunca tive, multiplicam ameaças rasteiras, fazem queixinhas, incluem-me em grupos que não frequento, sentam-me a mesas em que nunca passei, inventam de uma forma que me faria rir – se não fosse assustadora, por não ter rosto.
Cometo, com todo o orgulho, um pecado voluntário – penso por mim mesmo, não sou moço de recados nem correia de transmissão. Mais: ao contrário de outros, que conheço bem, posso fazer a qualquer momento, a declaração de interesses. Não preciso do futebol para (sobre)viver, não trafico informação, não faço favores, não me curvo, não presto vassalagem a ninguém. Vou defendendo, à inglesa, que insultos e ameaças são um desvio ainda tolerável – “it comes with the Job”. E gostava de continuar a falar sobre o que entendo, dos árbitros, que não são vacas sagradas e estão sujeitos a escrutínio como qualquer outro grupo social, às aldrabices. Se não puder, paciência; também não é morte de homem. Será, isso sim, um mau sinal: o de que chegámos à fase de condenar sumariamente o delito de opinião."

De cabeça perdida...

"Os árbitros quiseram deixar de ser “anónimos” e contribuíram muito para aquilo que (de grave) está a acontecer. Quiseram adquirir importância e notoriedade. Quiseram alcançar o estatuto de “estrelas”, a par de jogadores e treinadores. Os árbitros fazem-me lembrar aquelas “figuras públicas” que, num determinado momento das suas vidas, se colocam a jeito das revistas cor de rosa, e, depois, já cansadas de tanta exposição, queixam-se de não ter privacidade. Contudo, nada justifica – nem essa irresistível queda no “caldeirão da fama” – a entrada em cena do monstruoso Big Brother, capaz de tornar acessível a todos aquilo que deve ser do domínio privado, em nome da protecção do valor da cidadania.
Por mais resistência que se peça aos portugueses, não se trata de um caso de pieguice. É um caso muito sério de “direito à segurança” que não se pode nem deve alienar.
Outra coisa, bem diferente, é a chamada de atenção para as deformações do sistema, que potenciam o erro. O erro de facto e o erro por influência.
Em relação ao erro de facto já todos percebemos que, numa superfície de 120x60 metros, mesmo com a ajuda de 2 ou 4 auxiliares e de um 4.º árbitro, não é fácil decidir bem em todas as situações. É para isso que servem as reformas. O Mundo avança e o futebol está parado. Há algum paradoxo maior do que este? A competição tornou-se mais rápida, mais atlética, mais “científica”, alcançou uma dimensão “industrial” e “comercial” compatível com a sua capacidade de gerar receitas (não confundir com a capacidade também enorme de destruir essas receitas...), mas as “leis do jogo” não acompanharam a evolução nem das sociedades modernas nem do futebol em si mesma. É também por isso que se estagnou nesta visão do erro por influência. É sobre ela que recaem há muito as atenções (e as movimentações), com maior prevalência nos países latinos.
Em vez de reformas, a persistência na manutenção ou na mudança das plataformas que geram essas influências.
Pinto da Costa percebeu isso de forma cabal. Em duas décadas, foi mudando as peças do tabuleiro de maneira a conseguir o “jogo” que mais lhe convinha. Os principais adversários não perceberam isso e, quando entenderam, já a relação de forças estava totalmente alterada: o FC Porto tornou-se mais forte, não apenas por razões que se acham no espaço das competências técnicas e táticas, mas também porque soube posicionar-se nos corredores do poder futebolístico. E não deixa de ser curioso que, antes de ter um treinador com o mesmo nome, as críticas ao nomeador Vítor Pereira sempre se fizeram com conta, peso e medida...
Quem não percebeu nada foi o Benfica. E achou que ia conseguir mudar as dinâmicas dos últimos tempos com o apoio a Fernando Gomes e a Vítor Pereira, na corrida à FPF.
As últimas movimentações são caricatas e dignas de “parque infantil”: os árbitros vão à FPF com um cenário de greve na cabeça; saem da FPF satisfeitos com a hipótese de não haver contestação nesta jornada. Se os dirigentes se portarem bem e não atirarem “o pau ao árbitro” estarão disponíveis na jornada do Braga-Porto e do Sporting-Benfica. Portem-se bem, ouviram? Caso contrário, não saímos de casa, está bem? Ridículo e patético.
Patético e ridículo, também, Alexandre Mestre receber o Sporting “por causa das arbitragens” e não haver divulgação das nomeações. Andam mesmo de cabeça perdida."