quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O fascínio contra o Benfica
"Vencer ou mesmo empata com o Benfica é para a grande maioria das equipas portuguesas ganhar a época. Sempre foi assim, independentemente da classificação do SLB. Revela o fascínio inigualável que essas contendas têm para os técnicos, jogadores e sócios do oponente.
Nas últimas jornadas, isso foi por demais evidente. O Feirense 8embora derrotado), o Guimarães (que diferença em Braga) e a Académica jogaram como raramente se vê. Nada a criticar, evidentemente.
O certo é que, num momento crucial, o Benfica não foi capaz de suplantar esta emulação de medianos adversários e destroçou, num ápice, um avanço de cinco pontos. Tenho que reconhecer que, muito mais dificilmente, o Porto os deixaria fugir nas mesmas circunstâncias.
Assim sendo, a Liga atinge o seu zénite antes do jogo contra o russo Zenit. Um clássico entre dois candidatos que, consoante os sonhos ou pesadelos, permite qualquer dos três desfechos possíveis. Não sendo decisivo, vai ser determinante. Um jogo que, como os ingleses dizem, é six pointer. Diria até..., seven pointer porque vai determinar provavelmente o primeiro em caso de terminarem a Liga com os mesmos pontos. E não esquecendo o Braga que - sorrateiramente - está por mérito na luta.
P.S. Influentíssima arbitragem em Coimbra, com penalty claro sobre Aimar transformado numa falta deste! Para já não falar num braço de um academista. Estes nossos árbitros são uns medricas. Fora da grande-área marcam tudo, mesmo o que não deviam marcar. Na zona de rigor encolhem-se como se fosse uma diferente parte do campo. Para Hugo Miguel talvez de... verdes diferentes."
Bagão Félix, in A Bola
Meia bola e força
"Sexta-feira temos o jogo que dá o campeonato, e a recuperação emocional da equipa tem de ser célere, rápida, tão rápida quanto as pernas de gazela de Rodrigo – que tanta falta nos fizeram em Coimbra…
Eu podia chorar os cinco pontos perdidos nas últimas jornadas. Podia queixar-me com veemência da arbitragem e dos dois penáltis roubados à fartazana. Podia repudiar a quantidade de golos falhados, até pelo meu amado Nélson Oliveira. Podia até perguntar ao Míster por que é que o Aimar e o Matic saíram deixando-nos sem miolo, mas sei que resposta me daria Jesus. E sobretudo poderia frisar que há dois homens sem os quais o Benfica é Glorioso mas não é campeão, e um deles ficou no banco em Coimbra e lesionado nas derrotas de São Petersburgo e Guimarães: Javi García.
Mas não. Decidi fazer a minha própria recuperação emocional e estou convicta que no jogo do campeonato os campeões seremos nós. Mesmo com o Emerson a fazer frente ao Hulk – ai que medo só de pensar nas chuteiras cor-de-laranja do defesa a fazer borrada da grossa –, o eixo Artur, Javi, Witsel, Aimar e Rodrigo vai ser imparável. Pouco me importa que Lucho e Janko tenham vindo fazer alguma coisa por uma equipa perdida nas mãos da incompetência de Vítor Pereira. Ao FCP só Pinto da Costa salva. A nós, 60 mil de cachecóis no ar e onze em campo. Subo ao Marquês lá para maio."
Futuro
"From: Domingos Amaral
To: Nélson Oliveira
Caro Nélson Oliveira
Caro Nélson Oliveira
Em primeiro lugar, parabéns pela convocatória para a Seleção Nacional. É justo que um jovem e talentoso avançado como tu esteja no grupo dos escolhidos de Paulo Bento. Postiga e Hugo Almeida merecem também lá estar, pelo seu passado na Seleção, mas o futuro é teu. Espero que conquistes o teu espaço, pois vamos precisar de ti em Junho. Portugal não tem uma grande equipa, e está num grupo muito difícil, portanto é essencial o selecionador ter ao seu dispor os melhores.
Ontem, entraste muito bem no jogo e foi pena não teres marcado um golito. Num jogo complicado e pouco espetacular, onde nenhuma das três equipas esteve bem, tu foste um raio de esperança para os benfiquistas e quase iluminavas a nossa noite. Não foi possível ontem, mas será certamente muitas vezes no futuro.
E é no futuro que o Benfica tem de pensar, não no passado. Não vale a pena carpir mágoas sobre o que aconteceu em São Petersburgo, em Guimarães ou em Coimbra. O que aconteceu foi futebol, e neste jogo ganha-se, perde-se e empata-se. Nos dois primeiros jogos, o Benfica não foi melhor que o Zenit ou o Vitória, mas ontem foi melhor do que a Académica, só que os deuses não quiseram dar-nos uma alegria.
De qualquer forma, não vale a pena dramatizar. O campeonato está aberto, faltam dez jornadas, e há três candidatos ao título. Isso não é mau, isso é bom, pois dá mais luta. Preparemo-nos pois, porque aconteça o que acontecer na sexta, vai haver emoção até ao fim.
Mais importante que vencer o FC Porto, é vencer o Zenit, pois essa competição é que pode acabar para a semana. O campeonato continua. Os nossos adversários que não comecem já a festejar."
Racistas, nós?
"André Villas-Boas lançou uma operação de promessa de aquisição de Hulk, no seguimento do “rendez-vous” de Manchester, confiante no desvelo do oligarca russo que há cerca de dez anos vem generosamente ajudando a pagar as contas do FC Porto. A imagem de felicidade que irradiava do reencontro destes belos espíritos tanto podia decorrer das mais-valias que o negócio lhes proporcionará, como da promessa de golos e espetáculo que a categoria do brasileiro oferece.
Mas, para o FC Porto, a saída de Hulk possibilitaria também recuperar o sossego de cânticos mais adequados aos ouvidos sensíveis da UEFA, transferindo para a untuosa Velha Albion a macacada dos urros “Hulk, Hulk, Hulk” que os responsáveis pela comunicação portista tanto apreciam.
A eventual ida de Hulk para Inglaterra poderia levar com ele a graça deste apoio exclusivo, que até podia ser copiado pelos adeptos do City com o já sugerido “Kun, Kun, Kun”, se não estivesse latente esse preconceito de uma nação que nunca soube conviver saudavelmente com a comunhão de raças, a tolerância de credos e a transversalidade social – comparativamente à lusitana, claro. Sem olvidar uma Liga e uma Federação sem fantoches no comando.
Os responsáveis do futebol português, a começar pelos do Sindicato, asseguram que não existe racismo por cá e que a campanha esta semana em curso não passa de uma formalidade, no âmbito das preocupações europeias. Estão errados, evidentemente, pois a xenofobia e a intolerância grassam há décadas no seio dos clubes, não apenas no bàs-fond das claques, mas notoriamente também nas castas mais influentes.
Foi através do futebol que conheci pela primeira vez uma pessoa de cor. Jogava no meu clube, chamavam-lhe José Mulato e marcava muitos golos, no distrital ribatejano. Por aquele tempo, meados dos anos 60, Portugal apresentou a primeira seleção “africana” a disputar um Campeonato do Mundo, assombrando os seus parceiros europeus pela integridade, fraternidade e identidade daquela equipa fantástica, unida por uma bandeira. A Inglaterra, por contraste, só em 1980 e depois de muita discussão integrou o primeiro negro, Vivian Anderson, na sua equipa nacional.
Nas últimas décadas, o desenvolvimento da chamada indústria do futebol gerou elevados custos colaterais, justamente por causa do exacerbamento dos espíritos no sentido da reunião das hostes e no antagonismo preconceituoso dos outrora adversários, hoje inimigos. Nos anos 60, éramos todos portugueses, ainda não tínhamos sido divididos entre genuínos e mouros, por exemplo – expoente da boçalidade regionalista assente na confrangedora ignorância das novas gerações sobre a influência muçulmana na nossa cultura milenar.
A ideia de que o racismo se distingue entre brancos e negros atenua a gravidade da xenofobia latente e justifica que as autoridades fechem olhos e ouvidos à destilação de ódio que ecoa semanalmente na maior parte dos nossos estádios. A banda sonora dos jogos televisionados é, por exemplo, muito mais obscena do que qualquer confusão visual entre Hulk e Balotelli."