terça-feira, 31 de julho de 2012

O homem da brilhantina (III)

"É preciso dizer, antes de prosseguir a saga do homem que um dia afirmou ser benfiquista, que a sua acção não se circunscreveu ao Campeonato, nem a jogos do próprio Benfica. Recordemos-nos, por exemplo, da meia-final da Taça da Liga em 2010, e de um penálti evidente perdoado ao PC Porto, frente à Académica, no Estádio do Dragão. Nessa ocasião, acabou por fazer o favor de nos colocar o nosso maior rival por diante,na Final do Algarve, de onde saiu vergado a uma expressiva derrota (3-0).
Na mesma prova, apanhámos com o cavalheiro na Final seguinte. Foi em Coimbra, na Primavera de 2011, num jogo que - entalado entre derrotas com o FC Porto para a Taça de Portugal, e com o SC Braga para a Liga Europa - tinha enorme importância para a estabilidade da equipa e do Clube. Jogávamos com o Paços de Ferreira, e o homem fez uma vez mais questão de exibir os seus predicados. Assobiou para o ar a um penálti do tamanho do estádio a favor do Benfica, ao passo que, na outra área, foi lesto a assinalar uma grande penalidade, que todavia Moreira defendeu. Os 'encarnados' venceram mas, uma vez mais, este árbitro cumpriu aquela que parece ser a sua grande missão: prejudicar o Benfica.

Dois jogos, dois escândalos
Chegamos então a 2011/12. Não será preciso puxar muito pela memória dos leitores, pois todos estarão lembrados daquele que foi o detalhe decisivo da temporada futebolística portuguesa: um golo marcado em duplo fora-de-jogo atribuiu o título nacional a uns (os mesmos de sempre), e retirou-o a outros (igualmente, os mesmo de sempre). Não é de estranhar que o árbitro dessa partida fosse, também ele, o mesmo que esteve em todos os momentos mencionados, desde há três semanas, nestas páginas, e que o seu ajudante tenha tido, também ele, direito a prémio, viajando de pendura até à final da Liga dos Campeões, depois ao Europeu, e depois, à final do Europeu. Quem tanto prejudica o Benfica o Benfica, arrisca-se a tudo isto, e a sabe-se lá que mais.
Esse inesquecível lance (numa bola parada, sem ninguém a tapar a visão) não foi, porém, caso único na época. Aliás, o fulano apitou apenas dois jogos do Benfica no Campeonato, e em ambos fez questão de deixar o seu inconfundível dedo. O primeiro havia sido à 10.ª jornada, em Braga (cidade de Arcebispos e de apagões), onde ele muito fez pela vida. Ainda com zero a zero, deixou passar um penálti claro, quando Luisão foi agarrado e derrubado dentro da área bracarense. Depois, um lance perfeitamente acidental originou um daqueles penáltis que só os predestinados, aqueles que chegam às finais dos Europeus, conseguem descortinar. Emerson estava de costas, não movimentou os braços nem viu a bola partir, mas o Benfica não podia ganhar. A um minuto do intervalo, ora aí estava mais um erro grosseiro de sua alteza árbitro da Final do Euro. Mais um erro grosseiro a prejudicar o Benfica. Mais um resultado subvertido. Como sempre. A apitar desde 2002.
Em apenas dois jogos, três pontos retirados ao Benfica (dois em Braga, mais um no clássico), e três pontos acrescentados ao FC Porto (dois na Luz, e um em Alvalade, onde um fora-de-jogo incrivelmente tirado a Wolfswinkel ajudou os portistas a evitar a derrota). A diferença entre 1.º e 2.º classificados ficou pois, inteiramente, por sua conta. Outros ajudaram (lembro-me particularmente do novo internacional Hugo Miguel, em Coimbra, e também de João Capela, Soares Dias, para além do eterno Benquerença), mas ninguém como o juiz da Final do Europeu conseguiu ser tão decisivo.

Aplausos? Não!
Não me peçam pois para aplaudir. Ser português não é um valor em si mesmo, e até me choca ouvir ou ler benfiquistas a passar por cima de tudo o que aqui me lembrei, concedendo-lhe os elogios que não merece, e ajudando a branquear uma realidade obscura. Não tenho qualquer orgulho na carreira internacional deste indivíduo. Pelo contrário, enquanto português, adepto do Desporto e da seriedade, sinto-me envergonhado, e mesmo revoltado. Não consigo, por exemplo, explicar ao meu filho como pode alguém errar tanto, e ser tão bem sucedido na vida. É o Mundo virado de pernas para o ar.
A escolha deste árbitro para tão importantes eventos deixa-me inquieto quanto ao futuro do Futebol. Quando o vejo decidir Campeonatos com erros grosseiros (sempre a penalizar os mesmos), e ser premiado desta forma, ninguém me impedirá de desconfiar que exista algo por detrás a ligar os factos. E, por isso mesmo, temo que daqui por um ano haja matéria para um quarto capítulo."

Luís Fialho, in O Benfica

Algumas constatações de factos

"Por todo o mundo os adeptos dividem-se, confrontam-se, esgrimem argumentos em defesa das suas opiniões, tão bem fundamentadas, sobre a questão de quem é o melhor jogador da actualidade. Ronaldo ou Messi? Messi ou Ronaldo? Nem nós, portugueses, escapamos a esta discussão apesar de Ronaldo ser um dos nossos.
Para a maioria dos adeptos nacionais, os dois tristes jogos de preparação da selecção antes do Europeu resultaram numa fortíssima corrente de opinião a favor de Messi. A derrota com a Alemanha veio reforçar a ideia de que Ronaldo não era, de todo, o melhor do mundo. Depois vieram as vitórias sobre a Dinamarca, a Holanda e a República Checa e Ronaldo voltou logo a ser o melhor do mundo.
Maradona veio acrescentar uns pozinhos teóricos à discussão. Quando a selecção portuguesa se qualificou para a meia-final com a Espanha, Maradona afirmou numa coluna de opinião que assinava no jornal "Times of India" que Ronaldo "é o melhor jogador do mundo a par de Messi". E disse mais: "Ele mostrou aos seus contemporâneos que merece uma estátua em Lisboa."
Duas semanas mais tarde, entrevistado por uma estação de televisão argentina, o mesmo Maradona afirmou que Ronaldo "jamais igualará Messi" e que o português quando faz um golo e o festeja "como se estivesse a vender champôs". No nosso país, Maradona foi acusado de ser um troca-tintas que hoje diz uma coisa e amanhã diz outra. Parecem-me injustas estas opiniões anti-Maradona porque não vejo contradições nos seus dois discursos sobre o assunto. Que Ronaldo está "a par de Messi" é uma verdade incontestável, no mundo inteiro não se fala noutra coisa. Que Ronaldo carregou com a selecção portuguesa às costas no Europeu é outra evidência. A questão da "estátua" é metafórica pelo que se aceita. Que Ronaldo "jamais igualará Messi" não deixa de ser verdade e o contrário também se aplica: Messi jamais igualará Ronaldo porque ambos são artistas com reportórios diferentes. Que Ronaldo celebra os seus golos com poses de cariz publicitário nem se discute. Conclui-se, portanto, que as contradições de Maradona não são contradições, são constatações de factos. Deem graças aos céus os adeptos do futebol por terem artistas destes com que se entreter.

ERRAR É HUMANO
Uma questão muito impertinente
A época oficial ainda não começou e já a arbitragem anda metida ao barulho. Oito meses depois do espectacular sinistro, o Conselho de Disciplina da FPF ainda não conseguiu deliberar sobre a responsabilidade a atribuir ao Sporting pelo incêndio de uma bancada do Estádio da Luz. A ocorrência foi transmitida em directo por umas quantas estações de televisão, sensíveis à espectacularidade das imagens. Toda a gente viu. Mas para o Conselho de Disciplina da FPF ver é uma coisa, não ouvir é outra.
No final do 'dérbi, não teve transmissão em directo, nem nas televisões nem nas rádios, o encontro azedo entre Luís Filipe Vieira e Luís Duque na área de acesso aos balneários. Vieira estaria aborrecido por lhe estarem a incendiar a casa e por ter visto o Benfica a jogar meia hora com 10 elementos graças à expulsão, sem dúvida polémica, de Cardozo, facto que o terá levado a perguntar a Duque se era "para isto" que o Sporting queria "controlar a arbitragem". Grave suposição do presidente do Benfica que foi agora castigado e multado pelo Conselho de Disciplina da FPF por se atrever a colocar questões impertinentes no rescaldo, não do incêndio, mas da futebolada que antecedeu as inocentes labaredas. As coisas importantes em primeiro lugar, sempre.

POSITIVO
Cancelo afirma-se
O Benfica desistiu de procurar uma alternativa a Maxi Pereira para o lado direito da defesa porque descobriu lá por casa um miúdo português chamado João Cancelo que parece poder dar conta do recado.

Atsu valoriza-se
Até se diz que André Villas Boas já o quer no Tottenham. A verdade é que Christian Atsu tem vindo a ser a grande surpresa desta pré-temporada dos campeões nacionais. Corre e marca golos, promete.

Agra andaluz
Salvador Agra fez uma boa temporada no Olhanense e foi recompensado com uma transferência para o Bétis de Sevilha. Nestes aprontos de pré-época, Agrajá fez dois golos e tem agradado aos andaluzes.

PÉROLA
"A MINHA VINDA PARA O BENFICA DEPENDEU DE UMA PESSOA. GOSTAVA QUE TIVESSE SIDO MAIS VERDADEIRA", Eduardo
O guarda-redes Eduardo vai agora jogar para a Turquia depois de uma época no Benfica sentado no banco a ver o brasileiro Artur na baliza que julgava ser sua. Eduardo está magoado com Jorge Jesus. Mas a culpa não foi do treinador. Foi Artur quem não deu hipóteses à concorrência."

Leonor Pinhão, in Correio da Manhã

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Grande desilusão




O trauma Olímpico voltou a atacar, a nossa Campeã Telma Monteiro. As expectativas estavam altas, demasiado altas, os títulos dos jornais da véspera foram na minha opinião ridículos... o facto dos Jogos estarem a correr mal à missão Portuguesa, ainda atirou para cima da Telma mais pressão... Ao assistir aos 2 primeiros dias do torneio Olímpico de Judo, com quase todos os favoritos a serem eliminados precocemente, temi que o mesmo fosse acontecer à Telma, infelizmente os meus receios foram confirmados.
Não vi o combate, mas no Judo um erro, uma distracção, é fatal, não existe margem...
A Telma é provavelmente a melhor Judoca Portuguesa de todos os tempos (femininos e masculinos), os resultados consistentes em Campeonatos da Europa e do Mundo, as vitórias nas etapas da Taça do Mundo, a sua longevidade, tudo isto confirma que a Telma é uma enorme atleta, não tem sido feliz nos Jogos... agora é tempo de reflexão, o Rio de Janeiro é só em 2016, será que a Telma tem motivação para lá chegar? Espero que sim...

No geral a participação Portuguesa nestes Jogos, até agora, tem sido medíocre, alguns (poucos) a fazerem o esperado (Tiro, Remo, Badminton...), mas vários com participações absurdas: a Natação 'lidera' esta 'classificação'!!! (aliás, apesar do discurso sempre ambicioso dos dirigentes, a Natação Portuguesa normalmente tem sempre participações muito más!!!). Na minha opinião o problema é acima de tudo mental. Os Portugueses, por norma, não são competitivos. Aliás ter mau perder, é socialmente negativo. Enquanto a mentalidade dos Portugueses não for alterada vamos continuar a ter participações ridículas nos Jogos. O facto de até hoje, Portugal ter somente 4 medalhas de Ouro é significativo (Lopes, Mota, Ribeiro, Évora)... Curiosamente acho que a Telma, é uma das excepções, reconheço nela um enorme espírito competitivo, por tudo isso, a desilusão de hoje, foi ainda maior...

Não quero enguiçar ninguém, mas agora, creio que medalhas, só na Canoagem, vamos a eles!!!

Paixão Olímpica

"Falei aqui, na passada semana, do Tour de France. Falarei hoje dos não menos empolgantes Jogos Olímpicos (JO) - que esta noite têm início em Londres.
De quatro em quatro anos, o Mundo é chamado a fazer do Desporto um momento de união entre os povos. Sem deixar de se adaptar aos novos tempos, os JO têm sabido manter a essência do espírito com que foram criados por Pierre de Coubertin. Um ou outro caso de doping, os famosos boicotes (de que, enfim, parecemos livres), e até um atentado terrorista, não foram agressões suficientes para derrubar o Olimpismo. Passado mais de um século, aí temos duas semanas de emoção, de recordes, de conquistas, de duelos, de espectáculo, e de desportivismo.
Desde sempre os JO me fascinaram. A primeira prova que recordo é a dos 5000 metros de Montreal, em 1976, quando Carlos Lopes alcançou a Medalha de Prata. O vencedor doi Lasse Viren (o finlandês voador versão seventies), que mais tarde se viu acusado de ser um dos percursores das transfusões sanguíneas como meio para melhorar o rendimento desportivo. Carlos Lopes foi naturalmente um dos heróis da minha infância, sobretudo quando deixava em casa uma feia camisola às riscas, e vestia as cores de Portugal. Mais tarde, já com 14 anos, fiquei acordado noite dentro para ver a sua consagração na Maratona de Los Angeles, depois de mais de duas horas de sofrimento, como se de um jogo do Benfica se tratasse.
Nesses mesmo Jogos, o inesquecível António Leitão trouxe, também ele, uma medalha, se não estou em erro a primeira alguma vez alcançada por um atleta do Benfica. Mais recentemente, Nélson Évora (este ano lamentavelmente impossibilitado de defender o título) tornou-se o segundo homem a trazer 'Ouro' para Portugal, e os seus saltos irão de igual modo ficar gravados na memória dos que com eles vibraram.
Este ano, as maiores expectativas estarão porventura depositadas na nossa Telma Monteiro (2.ª do ranking mundial). Veremos se ela, e/ou outros, conseguem trazer-nos alegrias como as aqui evocadas."

Luís Fialho, in O Benfica

13 'boladas' certeiras !!!


Foram 13 os títulos nacionais que a secção de Bilhar conquistou esta época... A aposta no Pool está a dar resultados... Parabéns a toda a secção.

Pessoalmente, e devido ao 'espectáculo' televisivo, acho que o Snooker, na Europa, é o futuro da modalidade, inclusive com possibilidade de se tornar modalidade Olímpica, podendo o Benfica 'antecipar' o futuro...

Juniores Hóquei Campeões

Depois da desilusão nos Iniciados e nos Juvenis, depois de uma longa espera devido à polémica entre os Corruptos e o Valongo, finalmente os Juniores do Benfica puderam jogar e vencer o título nacional...
Parabéns para os jogadores, para os treinadores e para os seccionistas...

domingo, 29 de julho de 2012

Caiu o Abade

"Abades, bispos, priores e outros senhores costumam ser mais dados aos silêncios do que às palavras. Muitas vezes, acrescente-se, silêncios que escondem graves porcarias humanas capazes de deixar Papas de cabelo arrepiado. Portugal tem um Abade engraçado: fala muito. Traça maldições sobre diabos negros. Perguntem ao nosso Abade o que é um corrupto e ele, de imediato, aponta dois, três, uma grosa. Palavra de Abade!
Mas o Abade de Portugal, como muitos outros seus colegas de sotaina, é selectivo. Para ele, existem corruptos e corruptos-que-não-são-corruptos. Por isso, às terças e quartas abre a boca para acusar os responsáveis pela desgraça do País, por via da sua corrupção intrínseca e avassaladora, e às quintas e sextas cala-se na companhia do Gaseificado e da sua flausina.
Aos sábados e domingos dá missa e comunhão, presume-se. O Abade de Portugal é amigo do peito do Gaseificado de Portugal. São vistos juntos nas mais diversas situações, nos mais díspares lugares: são fotografados de sorriso nos lábios e flausina no meio. Tudo como convém a um membro distinto da Santa Madre Igreja. Parte-se do princípio que, atendendo à amizade, o Abade não admite a corrupção evidente do Gaseificado. Ou benze-se logo pela manhã, tirando-lhe da casca rija a penugem do pecado. E, assim sendo, todos esses encontros sorridentes se passam na paz dos anjos. Há quem estranhe, claro. A começar pelos corruptos apontadas a dedo pelo Abade, que talvez não soubessem que há corruptos que sendo evidentemente corruptos não o são perante o mestre da abadia. E a acabar naqueles para os quais a hipocrisia teima em ser um pecado. Neste País-de-faz-de-conta pouco importa. O Gaseificado passeia-se impune nas barbas de Deus com a sua flausina. Se ouvirem um barulho, não se assustem: caiu o Abade."

Afonso de Melo, in O Benfica

Na razão da certeza

"A pré-temporada está em curso e adensam-se as expectativas dos benfiquistas. O saldo, por ora, é positivo, a despeito da derrota frente ao PSV, numa partida de características muito singulares, já que o colectivo esteve em vantagem e muito próximo, em plena metade complementar, de resolver a contenda a seu favor.
Destaque para o regresso de Carlos Martins, entusiasmante e prenunciador de uma época em pleno. Boas indicações de Ola John e também de Melgarejo e Luisinho, ainda que seja manifesta a necessidade de um lateral-esquerdo de créditos firmados para dar maior e melhor consistência ao compartimento recuado.
Ao invés de outros anos, o treinador Jorge Jesus conseguiu partir para a nova temporada com o elenco quase na sua totalidade, excepção feita ao atraso de Nélson Oliveira e à ausência de Rodrigo, para além, eventualmente, de algum jogador que ainda possa integrar o plantel. Só por si, essa circunstância dá maiores garantias quando a competição tiver cariz oficial.
Este é um novo Benfica? Não é, longe disso. É quase o mesmo Benfica. Mas é, também, um Benfica que inicia as lides no ritmo certo. Os jogadores não começaram o trabalho a conta-gotas, a formação não foi crescendo de forma descoordenada. O que pode resultar daí? Só mesmo um conjunto mais sólido, mais organizado, mais empreendedor.
Ainda faltam alguns embates de carácter particular. Em todo o caso, este Benfica parece bem melhor apetrechado. Tecnicamente? Tecnicamente e não só. Mais um ano de vida competitiva a uma turma quase inalterada vai conferir-lhe maior competência, melhor argumentação, outra certeza."

João Malheiro, in O Benfica

Por exemplo...

"Escrevo ao cair do domingo passado, dia da primeira derrota do Benfica na época que está a começar, e este facto provocou-me uma intensa acidez de estômago, geralmente conhecida por azia. Efeitos psicossomáticos. Os pacientes, por influência da parte psíquica, sofrem todos os sintomas de um mal físico. A mim, os efeitos psicossomáticos da tristeza e depressão por um infortúnio do Benfica sobem-me do estômago pelo esófago com acentuada dose de azedume. Mas note-se que não é sempre assim. Há maus resultados e resultados maus. Por exemplo: perder um jogo com uma equipa acessível ao Benfica com golos sofridos na segunda parte pelo mesmo lado da defesa é dos tais resultados maus que me dá azia.
A demanda de um defesa esquerdo - e também de uma alternativa para o lado direito da defesa - é uma velha questão do Benfica. Já vem de longe. E nos últimos tempos, que me lembre, desde Leo que o Benfica não tem um jogador de raiz e de elevado nível para a posição, excluindo o caso de Joan Capdevila, um campeão do Mundo e da Europa provavelmente contratado fora do prazo. O que a equipa fez durante algum tempo, aliás com brilhante resultado, foi adaptar Fábio Coentrão à posição. Resultou em cheio. Aliás, o Benfica fez outro tanto do lado direito com Maximiliano Pereira, como antes fizera com Miguel. Mas não sei se insistir na receita não será abusar da sorte e do cálculo de probabilidades e também do futuro do atleta assim posto à prova.
Com o plantel aberto o Benfica segue a preparação para a nova época de Futebol. E eu daqui deixo um apelo aos dirigentes e técnicos do meu querido e glorioso Benfica: por favor tenham em conta os estômagos delicados dos sócios e adeptos."

João Paulo Guerra, in O Benfica 

A sério e a treinar

"1. Tirando a segunda parte do jogo com o PSV, tenho gostado das exibições e da atitude da equipa nestes primeiros jogos da época. Claro que são jogos-treino, claro que, muito provavelmente, não serão todos aqueles os jogadores com que o Benfica contará no início da época (já estou mentalizado para perdermos dois ou três deles), claro que, nas competições a sério, a réplica será bem maior. Mas, à parte a tal segunda parte de domingo (creio que a equipa se ressentiu de tantos jogos e treinos), fiquei esperançado numa boa época e muito agradado com o regresso de Carlos Martins em grande plano. Confesso que não me entusiasmou o seu ingresso no Clube, há uns anos, mas cedo mudei de opinião e não esqueço a forma como vibrou, no banco de suplentes, aquando do nosso último jogo do título, frente ao Rio Ave. Lamentei a sua saída na época passada (gosto de portugueses no 'onze') e creio que iremos ter um grande Carlos Martins esta época. Mas, como disse, daqui a algumas semanas, quando o Campeonato começar, é que será a sério. Teremos mais um ou outro jogador para lugares em falta (não gostei de ver os mesmos defesas a terem que jogar o tempo todo...) mas, tal como nós (ou até mais que nós...), os outros precisam de vender e fá-lo-ão certamente bem abaixo daquilo que apregoam. Tanto os do Norte, como os nossos vizinhos de Alvalade, cujas aquisições (a custo zero ou nem por isso...) são sempre muito elogiadas. A ver vamos...

2. Como era inevitável, aquela ideia do Nacional, que o Sporting logo apadrinhou, tentando 'colar-se' aos pequenos, não deu em nada. A proibição de empréstimos de jogadores a clubes da mesma Divisão pode ser, teoricamente, muito válida mas, na prática, nem é boa para os jogadores portugueses - que teriam que emigrar o 'descer' à Liga de Honra - nem para os pequenos clubes, que não têm meios para contratar equipas inteiras. Claro que há desconfianças quanto ao empenho dos jogadores emprestados perante os seus clubes (alguns até se lesionam naquela semana). Por isso, admitiria a possibilidade de os jogadores emprestados não jogarem contra os clubes que lhes pagam. E tamb´m seria de estudar uma limitação no número de emprestados ao mesmo clube. Mas tudo planeado com tempo e não de um momento para o outro. A Liga de Clubes descredibiliza-se cada vez mais..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

sábado, 28 de julho de 2012

'Bisar' na Goleada !!!



Gil Vicente 2 - 5 Benfica

Só vi a 2ª parte... Excelente resultado, contra a equipa 'surpresa' da época passada, que muito trabalho nos deu, nos 3 jogos que efectuamos contra eles...!!!
Fazer dois jogos em dois dias, com equipas bastante diferentes, com algumas ausências por lesão, e vencer os dois jogos confortavelmente, é bom sinal... apesar dos problemas em algumas posições, este é um dos plantéis com mais soluções do Benfica, e pelo menos até agora, todos parecem motivados...
De referir a utilização de alguns jogadores da equipa B, que pela matina derrotaram o Carregado por 3-0 !!!

Nós, os da bancada

"Nós, os da bancada, servimos para viver o Clube, para sofrer e rir, para nos irmanarmos apenas no momento do festejo do golo. Servimos para comprar o bilhete, aplaudir, gritar pela equipa, acompanhar o Clube e sermos o próprio Benfica.
Nós, os da bancada, raramente estamos de acordo. Discutimos entre nós, ofendemo-nos e defendemo-nos, tentando defender o que consideramos ser o melhor para o Benfica. Nós, os da bancada, por vezes até acenamos lenços brancos, os mesmos que, enquanto são acenados, enxugam lágrimas feitas de mágoa. Nós, os da bancada, não percebemos nada de futebol. Perdão, nós, os bancada, não percebemos nada de futebol sem paixão. Não sabemos como potenciar um jogador (agora chamam-lhe activo) e não sabemos como tornar dinâmico um conceito táctico que se traduz em números estáticos. Para nós, os da bancada, um 4x3x3 e um 4x2x3x1 ou um 4x4x2 são processos que sabemos ler, mas não sabemos implementar. Nós, os da bancada, ouvimos “basculação” e “transição ofensiva”, “pressão alta” ou “jogar entre linhas” como chavões que os entendidos dominam para nos mostrar que nós, os da bancada, nada dominamos da arte de bem interpretar o texto de um jogo. Nós, os da bancada, não sabemos como transformar o sofrível em bom, não sabemos como fazer melhor do que os profissionais do futebol, nem sabemos como os profissionais do futebol conseguem fazer tão bem aquilo que nos parece tão bem feito.
No entanto, nós, os da bancada, sabemos quando algo não está bem. E nós, os da bancada, que nada sabemos de futebol, sabemos que nem tudo está bem no equilíbrio do nosso plantel ao nível das alas defensivas. Nem sempre, mas ouvir a voz preocupada dos leigos das bancadas, por vezes, não faz mal."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Golos para o Eusébio...


Benfica 5 - 2 Real Madrid

Bom jogo, ainda com falhas, mas com momentos muito bons... A vitória vai ser desvalorizada devido às ausências do Real (mas uma segunda derrota consecutiva teria sido um 'petisco' para alguns!!!): é verdade dos 'europeus' só jogou um bocadinho o Coentrão e o Benzema, mas o Kaka, o Higuain, o Di Maria, o Granero, o Calejon, o Lass e mesmo o Varene não jogadores de equipa B, são suplentes, que muitas vezes são titulares... Mais do que a ausências, na 2ª parte, depois do quarto golo do Benfica notou-se, uma quebra física dos Espanhóis, devido ao menor tempo de preparação. Mas até agora, todos os nossos adversários tinham tido mais tempo de preparação do que o Benfica, e esse facto nunca foi relevado: nas vitórias e na derrota...!!! A azia no final  da partida, do Mourinho, também soube bem!!! É óbvio que este jogo foi um treino, é óbvio que os títulos importantes não são jogados na pré-época, mas a maneira como o Mourinho festejou o 2º golo da sua equipa, parecia que o jogo era a sério!!!

O Melga falhou no 1º golo do Real, mas esteve muito bem a atacar... o Carlos continua a marcar, e dar golos, principalmente na sequência de livres, algo que a época passada, falhou!!! Espero que o Enzo, finalmente, meta na cabeça, que quer triunfar no Benfica, creio que é só uma questão de vontade!!!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rei é Rei

"Estará aberta uma nova discussão no futebol português? Se Ronaldo é ou não o novo rei? Não se perca tempo...

Há muito que venho esperando ver os portugueses sentirem orgulho na carreira, prestígio, valor e talento de Cristiano Ronaldo. Um futebolista verdadeiramente ímpar num universo competitivo como nunca, um atleta excepcional num meio tão feroz e exigente como se tornou o meio do futebol de alta competição e um dos poucos portugueses vivos com prestígio realmente à escala mundial deveriam ser razões mais do que suficientes para todos reconheceram o mérito, o peso e o impacto de Cristiano Ronaldo e, sobretudo, sentirem orgulho num jovem nascido numa modesta família madeirense, que as circunstâncias obrigaram a vir para Lisboa muito só e a lutar determinadamente por um lugar ao mais alto nível no futebol.
Talvez Cristiano Ronaldo não imaginasse na altura em que chegou à academia do Sporting poder vir a ser um dia o melhor jogador do mundo, mas acredito que lá no fundo, como milhares de outros jovens, já sonhasse com isso. A diferença é que Cristiano chegou lá. Mesmo.
E imagino o muito que Cristiano deve ter andado para lá chegar...
A verdade é que apesar de já ter sido oficialmente considerado o melhor do mundo (com direito a distinção da FIFA) Cristiano Ronaldo pareceu sempre não ser consensual entre os adeptos portugueses.
Uma espécie de embirração que os portugueses costumam ter com alguns outros portugueses, e normalmente com portugueses de sucesso.
Acontece que o último Europeu parece ter levado muitos adeptos a fazer, finalmente, as pazes com o que significa realmente Cristiano Ronaldo.
Depois das exibições do nosso 7 pela Selecção na Polónia e na Ucrânia, os hesitantes, os mais cépticos e os menos fiéis podem ter-se rendido e resignado por fim à dimensão daquele que é, sem sombra de dúvida, um dos dois melhores futebolistas de actualidade.
Para mim o melhor. Mas isso é para mim.
O que Ronaldo fez pela Selecção no Europeu despertou, porém, muitos de nós para uma nova discussão, já não a de saber se Ronaldo é ou não melhor do que Messi, mas de Ronaldo já fez o suficiente para destronar Eusébio do lugar de rei do futebol português.
Pois bem, vamos com calma.
O que Ronaldo já fez e o que Ronaldo já vale no mundo chega para vir a entrar na história como melhor futebolista português de todos os tempos? Provavelmente sim, porque a dimensão de Ronaldo será dentro de alguns anos seguramente acompanhada por uma carreira inigualável.
Cristiano Ronaldo vai ser, na verdade, o mais internacional jogador de sempre em Portugal (já tem, aos 27 anos, 95 jogos, contra 127 de Luís Figo e 110 de Fernando Couta), não é muito difícil apostar mesmo que vai ser o melhor marcador de sempre pela Selecção Nacional (leva já 35 golos contra 47 de Pauleta e 41 de Eusébio) e será também o mais vencedor de sempre, quer em números de troféus conquistados pelas equipas que representa, quer nas distinções individuais.
Além disso, talvez seja já o português mais famoso do momento - com José Mourinho ali a par... sem esquecer Eusébio, sempre, e também Luís Figo, o outro futebolista português merecidamente considerado, por uma vez, o melhor do planeta.
Mas dará tudo isso a Cristiano Ronaldo direito a ultrapassar Eusébio no trono português? Não!
Por uma razão simples: Eusébio conseguiu o que conseguiu (e conseguiu tanto, deus do céu!!!) jogando sempre em Portugal, sempre na mesma equipa, numa década, a de 60, em que se contavam ainda pelos dedos o número de televisões e num tempo em que as comunicações para o estrangeiro quase se faziam por pombo correio...
Eusébio não é rei apenas pelo muito talento que tinha. Eusébio é o rei porque levou o mundo a reconhecê-lo quando o mundo era ainda demasiado grande e Portugal demasiado pequeno.
É o rei porque se tornou naquele tempo bem maior do que a língua portuguesa quando a língua portuguesa parecia naquele tempo o único património inultrapassável e é o nosso rei porque os portugueses o adoram.
É o rei e, por tudo aquilo, será sempre o rei!
O tempo de Cristiano Ronaldo é outro e nem vale a pena explicá-lo. E acredito que nem Cristiano Ronaldo discutirá o trono de Eusébio, hoje mais uma vez homenageado em plena Luz, justamente, com um Benfica-Real Madrid que reedita no espírito e nas recordações o Benfica-Real Madrid de há 50 anos, em Amesterdão, que mostrou definitivamente ao mundo o supertalento do Pantera Negra.
Eusébio é o rei e Ronaldo o seu magnífico príncipe.
E assim é perfeito!"

João Bonzinho, in A Bola

Benfica e Jogos Olímpicos

"As derrotas nunca são boas, mas nesta fase ajudam a detectar fragilidades. Só sabendo quais as deficiências, se podem colmatá-las. O Benfica não tem suplente para Maxi Pereira, que não seja um júnior com talento, e tem na lateral-esquerda um problema que remonta à saída de Coentrão. A isto acresce a excelência da dupla de centrais, que prejudica muito a comparação com quem os substitui. Em tudo o resto há qualidade e nalguns casos abundância. Este Benfica poderá e deverá ser forte. Logo, contra o Real Madrid, há mais um teste de dificuldade para aquilatar o aprumo de forma encarnado.
Hoje começam os Jogos Olímpicos, desde miúdo que são para mim sinónimo de clausura. De que gosto? De tudo, ou quase tudo. Um Paquistão-Holanda em hóquei em campo, um chinês em luta com um coreano no tiro com arco, um jogo de voleibol feminino entre Cuba e Itália são tudo petiscos a não perder. Uma camisola nacional em luta pelo 34 lugar de uma qualquer prova é uma iguaria, e a prova de ciclismo em pista perseguição por equipas, ou double scull de remo põe-me a vibrar pela Inglaterra como se tivesse nascido em Oxford. Jogos Olímpicos é sinal de intensidade desportiva, é tudo para degustar até ao limite. Frigorífico preparado para maratonas, jornal A BOLA com as grelhas de eventos do dia e o ranking das medalhas, uma opção clara daqueles que queremos que ganhem contra aqueles que não queremos e estamos no paraíso. Estes Jogos Olímpicos até facilitam, não têm fuso de Sidney, da Coreia, de Atlanta ou de Los Angeles, que nos obrigavam a mudar o sono para viver convenientemente o acontecimento. Em Londres será uma miragem ouvir tocar A Portuguesa, e muito dificilmente veremos subir a nossa bandeira. Nelson Évora, Vanessa Fernandes e Naide Gomes traíram essa ambição e agora só uma Telma superlativa ou uma grande surpresa nos podem ajudar a fazer história."

Sílvio Cervan, in A Bola

Sofrer por antecipação, telegramas olímpicos e um café à beira da estrada

"Antecipo-me, assim à má notícia que não tardará a chegar e não quero ver mais Axel Witsel a jogar à bola com a camisola do Benfica porque me parte o coração

NESTE arranque de época ver jogar Axel Witsel tem sido uma dor de alma. Não porque jogue mal mas, precisamente, pela razão contrária.
Joga bem, joga muitíssima bem e a ideia, tão verosímil, de o poder-mos perder, e antes ainda da coisa a sério começar, deixa-nos num desalento sem concerto.
No jogo do Benfica com o Slask Wroclow passou-se comigo o caso ridículo, desesperado, de ter desligado a televisão à segunda repetição (em câmara lenta) do triplete de nós cegos aplicados por Axel Witsel a uma quantidade idêntica de polacos, antes de servir Óscar Cardozo para que o paraguaio assinasse o primeiro golo do encontro.
Jogo à defesa, como estão a ver.
A quase certeza de poder perder a qualquer momento o melhor DJ belga que alguma vez conheci, aquele que põe a equipa a dançar, leva-me a não o querer ver mais. Prefiro não saber.
É um daqueles momentos em que temos de nos resguardar e traçar, sem demora, o parâmetro acima do qual só por masoquismo se sofre.
Uma pessoa tem de estar preparado para os quinhentos estados de nervos que cada nova temporada carrega. A vida é assim e o futebol também. Mas há limites, caramba. E nenhuma pessoa deve deixar-se resvalar, languidamente, para essa coisa indigna que é sofrer por antecipação.
Antecipo-me, assim, à má notícia que não tardará a chegar e não quero ver mais Axel Witsel a jogar à bola com a camisola do Benfica porque me parte o coração. Pela minha parte o assunto está resolvido e à maneira estóica, pois claro.
Pela parte do Benfica parece que não está.
Lendo o jornal ficamos todos a saber que o AC Milan e o Real Madrid continuam na perseguição ao jogador, que os italianos oferecem 20 milhões de euros pelos seus serviços e que o presidente do Benfica, ainda no princípio desta semana, afirmou publicamente que não aceita negociar Axel Witsel abaixo da cláusula de rescisão, no montante de 40 milhões de euros.
Sendo o belga um quase desconhecido quando chegou à Luz, aceita-se como realista o valor da cláusula de rescisão imposta no contrato assinado no Verão do ano passado entre o Benfica e o jogador.
Para o Benfica era bom que ninguém lá chegasse até porque, por estas bandas, continua-se a acreditar na palavra do presidente.

ESTÃO a chegar os Jogos Olímpicos. A Telma Monteiro vai ser a nossa porta-bandeira. Não há grandes esperanças em medalhas. E no entanto nunca se sabe. Que bom. O Benfica tem lá o Rodrigo e o FC Porto tem lá o Hulk. O Romário foi mauzinho com o Hulk. Disse que no Brasil há dez jogadores melhores do que o Hulk ocupa no escrete-olímpico. Mal-educado e arrogante, o Romário. Apesar de um jogar e o outro não, são colegas de profissão. Devia haver mais respeito. Também o presidente quando falou do Mantorras. Estava em Viseu a discursar nos paços do conselho. Ouviu um estrondo e disse: «Foi o Mantorras que caiu». Só para provar que ainda não está surdo. Uma falta de nível. Agora faz-se pouco do infortúnio alheio e ainda se ouvem palmas. E elogios. Voltemos aos Jogos Olímpicos, por favor. Gosto do atletismo. Gosto de ouvir os comentários do Luís Lopes. Enriquece-nos como espectadores emprestando-nos o seu saber. Assim é que devia ser sempre. Também gostava muito de ouvir o Jorge Lopes. Já morreu, uma tristeza. Nos Jogos também há ciclismo. Espero que seja o Marco Chagas a comentar. Foi um antigo ciclista e era bom. Também tem a capacidade rara de nos transmitir informação qualificada. Sem ser maçador. Antes pelo contrário, é um encanto. Reconheço que gosto de ouvir os comentadores de atletismo e de ciclismo. Já os comentadores de futebol frequentemente me irritam. Porque será? Tenho pensado nisto muitas vezes. Será aquela estupidez do clubismo? Que a todos assola quando mete bola? Provavelmente. Então quando não mete bola todas as opiniões são válidas? Não pode ser. É básico demais. Vou pensar melhor. Pronto, já descobri. É por causa dos árbitros. Os comentadores do ciclismo e do atletismo não têm árbitros com que se ocupar. Os do futebol têm, daí o busílis. Instala-se o desencontro de opiniões. Estala a polémica, tudo apita. Desportos sem árbitros são um descanso para as emoções mais primárias. E para as mais parvas. A propósito: o Pedro Proença também vai aos Jogos Olímpicos? Se for, boa sorte. Não se esqueçam de o ir esperar ao aeroporto. Estão a ver? Lá está a parvoíce.

-ENTÃO, este ano estamos entregues ao Carlos Martins não é verdade?
Foi assim que fui recebida, de chofre, num café à beira da estrada numa tarde muito quente deste Verão. O proprietário, pelo menos parecia ser o proprietário pelo à-vontade com que se movia entra a cozinha, o balcão e a salinha acanhada que mal dava para duas mesas e para meia-dúzia de clientes atónitos de calor... o proprietário, dizia eu, saiu de trás do balcão, de braços cruzados, em passo ligeiro para se encostar ao frigorífico das sobremesas e fazer uso da sua veemência, insistindo na mesma questão:
-Estamos entregues ao Carlos Martins, não é?
Pelo tom que empregou percebi que não estava a pedir explicações, o que muito sinceramente lhe agradeci em silêncio porque estas coisas cansam. Também me pareceu óbvio que ao proprietário não desagradava a ideia de este ano estarmos entregues ao Carlos Martins, tal como já me tinha dito duas vezes sem esboçar o menor aborrecimento pelo facto.
Era um homem novo, impossível não reparar, assemelhava-se até um pouco ao dito Carlos Martins, o que tornava a situação muito curiosa e vagamente cómica. Talvez fosse mais alto, supor meu que nunca conheci o original a não ser pela televisão que engana muito. Vestia uns calções curtos, trazia umas sandálias enfiadas nos pés e exibia uma tatuagem na barriga da perna direita. O tosco estava semi-coberto por uma dessas camisas de alças a que vulgarmente se chamam de «fiambre» em alguns círculos mais cosmopolitas da Capital.
Respondi-lhe o que me veio à cabeça:
-E estamos muito bem entregues...
-Concordo a cem por cento - disse o proprietário com grande precisão percentual continuando de braços cruzados encostado ao frigorífico.
-A cem por cento, não direi, mas aí a uns setenta, setenta e cinco por cento...
A conversa teve de ficar por aqui porque uma pequena cabeça de mulher com cabelos louros apanhados em carrapito fez a sua inopinada aparição pela janelinha que dava acesso à cozinha. E dirigindo-se directamente ao meu interlocutor, abriu-lhe os olhos num grito que se ouviu do meio da estrada:
-Ó Celso, olha que há aqui muita louça para lavar e tu só sabes falar com os clientes!
Não era o proprietário!
Esta revelação, contudo, em nada o desmereceu perante mim. Nem a ele nem à sua opinião, que me pareceu justa e bem ponderada, sobre as virtudes de Carlos Martins com quem era, como já o disse, extraordinariamente parecido.
Confundi-o com um patrão porque, num primeiro relance, vendo-o tão bem encostado ao balcão e, num segundo relance, vendo-o tão bem encostado ao frigorífico das sobremesas, precipitei-me a julgá-lo como um indivíduo que não recebe ordens de ninguém. Mas mesmo não sendo o patrão continuava a ser muito parecido com o Carlos Martins embora eu nunca tenha visto o Carlos Martins de braços cruzados ou encostado a nada. Nem eu, nem ninguém.
O futebol é como a vida, engana muito. E também dá lições. Podemos encontrar num qualquer café à beira de uma estrada um tipo, patrão ou não, semelhante ao Carlos Martins. Mas no Benfica, que é muito maior do que o cafezinho à beira da estrada onde parei numa tarde deste Verão, não há ninguém que se assemelhe ao nosso peregrino de Granada. Foi isso que também nos fez falta na última temporada.
E o Celso lá foi lavar a louça. Sem protestar. E nós muito bem entregues ao Carlos Martins."

Leonor Pinhão, in A Bola

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Futebol está fora de jogo

"É curioso. Nem a FIFA nem o Comité Olímpico internacional têm a coragem de enfrentar uma questão tão importante. O futebol continua a pairar em redor dos Jogos como se deles não fizesse parte. A coisa é tão óbvia que, ontem, começaram os jogos de futebol feminino, sem que tivessem começado os Jogos Olímpicos. Os hipócritas dizem que não há razão para alarme, afinal o futebol até abriu os Jogos. Que o futebol abriu, é uma verdade indesmentível, mas não se sabe bem o quê, porque os Jogos só abrem oficialmente amanhã à noite.
Terá sido uma abertura oficiosa que até teve a presença oficializada do inefável Blatter. A verdade é que o caso não dignifica o futebol, que vai andar por todas as terras britânicas, da Escócia ao País de Gales; nem o espírito olímpico que, em matéria de futebol, é mais justamente o espirro olímpico.
O problema é antigo. Vem dos tempos de Samaranch e de Havelange. Passou, depois, para o cinzento belga de Jacques Rogge e para o olímpico azedume de Blatter. Enquanto estas figuras perdurarem nos seus postos, já se sabe que nada acontecerá.
Mesmo depois, não me parece que possa haver grande esperança. Rogge abandonará o comité olímpico internacional depois dos Jogos de Londres, mas sabe-se pouco do seu provável sucessor germânico: Thomas Bach.
Quanto a Joseph Blatter estará de pedra e cal e se o sucessor for Michel Platini, também não deverá trazer grandes novidades.
E, assim, o futebol continuará fora de jogo, jogado por selecções nacionais criadas a bel-prazer de cada país e à luz de um filosofia de escolha verdadeiramente caótica."

Vítor Serpa, in A Bola

Os Jogos Olímpicos

"Aí estão os Jogos Olímpicos (JO) de Londres. Sempre me fascinou este planetário evento desportivo. Não tanto pela exuberância do betão e pelo incitamento de todas as formas de marketing, mas pela festa humana e pelo ecletismo desportivo. Lembro-me da sofreguidão com que lia no jornal os resultados dos primeiros jogos do que tenho memória (Roma, 1960) e de como vibrei com a prata dos irmãos Quina em vela. Ou da primeira integral cobertura televisiva na Cidade do México (1968) onde Dick Fosbury imortalizou o 'flop' como nova técnica para o salto em altura que foi substituindo a do rolamento ventral.
Na sua origem e conforme os documentos oficiais «o Olimpismo (...) combina de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e do espírito. Aliando o desporto à cultura e educação, o Olimpismo é criador de um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais».
Os JO são um lugar de encontro universal, agora regressado a uma cidade também ela universal. E um tempo para o desporto como espaço de ética intensiva. Do espírito de fair play, decência, integridade, lealdade, exemplaridade, disciplina, solidariedade, autenticidade e orgulho de pertença.
Para mim, JO são, em primeiro lugar, atletismo, ginástica e outros desportos pouco vistos (e que bom seria se comentados com a preocupação de ensinar as regras que a maioria desconhece). Outros, como o futebol e o ténis (e não só) estão a mais, abastardando o espírito olímpico com critérios abstrusos de selecção e de hiperprofissionalismo dos atletas."

Bagão Félix, in A Bola

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A maldita canhota

"Já não tenho paciência para a novela sobre o sebastiânico lateral esquerdo para o Benfica. Encontrar o dito é quase tão difícil como descobrir o bosão de Higgs também conhecido como a partícula de Deus. No caso do SLB, será mais apropriado falar em partícula de Jesus.
Neste defeso já não tem conta os putativos candidatos. Um deles, Rojo, apesar do seu nome ser da cor benfiquista, acabou nos verdes. Assim se estendeu ao SCP o serviço de scouting que desde há anos o SLB municia pro bono o FCP.
Esta coluna não chegaria para enunciar as experiências falhadas nesta década para a tal posição. Aparte Coentrão, uma notável adaptação de Jesus mas que, tal cometa, tão depressa se revelou como saiu, e de Léo que foi injustiçado, já se exprimentou de tudo. Portugueses e estrangeiros, cristãos e mulçumanos, jovens e velhos, brancos e negros, louros e morenos, altos e baixos, falsos lentos e falsos rápidos, promessas e consagrados, campeões de bairro e do mundo, ex-juniores e pré-reformados, dos PIGS e das pampas. Todos foram devolvidos à procedência com factura paga (no total já quanto?) ou emprestados a custo (não) zero.
Os jogos do Benfica na Polónia mostraram à sacidade que Melgarejo - um bom jogador - não serve para lateral e Luisinho não passa de um esforçado suplente. E mesmo do lado direito não há concorrente imediato para Maxi. A não ser que se adapte Djaló, que, todavia, deveria estar mais perto da saída de um plantel onde não cabe.
O síndroma Roberto virou maldição canhota. Não lembra ao diabo que tanta gente bem paga no clube não trate dos 'buracos' do plantel a tempo e horas.
Ora bolas!"

Bagão Félix, in A Bola

terça-feira, 24 de julho de 2012

Eusébio...





A apresentação oficial do Benfica aos sócios, vai decorrer na próxima Sexta-feira, na edição deste ano da Eusébio Cup... Vive-se actualmente no Benfica momentos muitos especiais, aparentemente o Benfica é a única equipa Europeia que ainda não tem o plantel definido, todos os outros já venderam todos os jogadores, e já compraram todos os jogadores que queriam!!! Mais: o presidente Vieira, e o treinador Jesus são os principais culpados, pelas férias prolongadas dos principais jogadores do Real Madrid, que assim deve vir à Luz sem as suas grandes estrelas!!! Que incompetentes!!!
Haja paciência...!!!

Incongruências

"As incongruências no futebol são cada vez mais chocantes. Por um lado Platini, do alto do seu púlpito presidencial da UEFA, prega o fair play financeiro, sob pena de exclusão das competições europeias. Por outro, o xeque Al Thani, novo patrão do PSG, marimba-se para o fair-play e compra a eito os maiores bigs da Europa por quem paga fortunas: 100 milhões de euros por Lavezzi, Thiago Silva e Ibrahimovic. Só este recebe 14 milhões de euros/ano mais bónus, um salário que escandalizou o próprio inquilino do Eliseu. E assim a Itália vai ficando cada vez mais depauperada de estrangeiros de referência. O grande mal, porém, não é o faraónico ordenado do sueco mas a loucura que globalmente se paga pelo custo da mão-de-obra. Oito clubes em dez têm despesas com o pessoal que absorvem todo o orçamento de receitas! Agora que as vendas estão em queda livre, quem suporta as despesas de funcionamento?
O fogo de artifício também se apagou em Espanha, onde o mercado está parado e o Málaga, que tem atrás de si outro xeque, corre o risco de ver fechada a porta da Europa. Por sua vez, o Barcelona viu-se obrigado a desistir de renovar o contrato a Keita (foi para a China) para não ter de pagar 52 por cento de IRS em vez dos 24 da prescrita lei Beckham e, espantem-se!, ter perdido o apoio da banca. Do mesmo mal padece o Real Madrid, que em 2009 precisou de um empréstimo de 80 milhões de euros da Caja Madrid, ainda em dívida, para adquirir os passes de CR7 e Kaká. Entretanto, a Caja e outros institutos financeiros foram fundidos no Bankia, que faliu, e houve quem sugerisse que os certificados dos dois jogadores fossem entregues ao Banco Central Europeu como garantia. Vejam bem onde isto chegou."

Manuel Martins de Sá, in A Bola

Desporto de Verão

"Sem Futebol a sério, o período que vai do fim de Maio (fim de Junho, quando há Europeus ou Mundiais), até meados de Agosto, é altura para prestar atenção a outras modalidades, e a outros palcos do Mundo do Desporto. É altura, por exemplo, de acompanhar a Volta à França em Bicicleta, uma das mais belas competições desportivas do planeta, recheada de história e de lendas, que me encanta desde tenra infância.
Devo confessar que despertei para o Ciclismo e, em particular para o Tour, por via de um... sportinguista. Eram tempos em que o clube de Alvalade ainda impunha algum respeito, discutindo títulos em várias modalidades, e ostentando figuras de renome. Falo naturalmente do grande Joaquim Agostinho, cuja trágica morte - de camisola amarela vestida, numa rua de Quarteira - me deixou destroçado.
Agostinho, como também, por exemplo, Carlos Lopes, eram atletas de excepção à época totalmente incomum em desportistas portugueses (só a de Eusébio se lhes sobrepunha).
Tinham o senão de vestirem as cores erradas (embora os melhores tempos de 'Tino' tivessem sido passados ao serviço de equipas estrangeiras), mas nem por isso deixavam de ser objecto de admiração e estima de todos os seus compatriotas. Os dois terceiros lugares de Agostinho, sempre atrás de Bernerd Hinault e Joop Zoetemelk, são as mais remotas memórias que tenho de uma modalidade que desde então me apaixona profundamente.
Mesmo sem que o Benfica faça parte do seu universo presente - coisa que lamento, mas não deixo de compreender face às especifidades financeiras do Desporto velocipédico.
Particularmente as subidas aos Alpes, aos Pirenéus, e a chegada aos Campos Elísios (que em 2011 tive a felicidade de presenciar ao vivo), são momentos que o meu Verão não dispensa. E nem os casos de doping, passados e presentes, me afastam da 'Grand Boucle', ou das suas histórias de sofrimento, coragem e resistência, sempre emolduradas pelas deliciosas paisagens que a França tem para mostrar ao Mundo."

Luís Fialho, in O Benfica

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O homem da brilhantina (II)

"Estávamos já em plena segunda volta do Campeonato de 2008/09, jogava-se um FC Porto-Benfica no Estádio do Dragão e, em caso de vitória, os 'encarnados' isolavam-se na liderança da prova. À época, o Benfica era orientado pelo espanhol Quique Flores. O seu futebol não impressionava, mas o do FC Porto de Jesualdo Ferreira, com 14 pontos perdidos nas primeiras 14 jornadas, também não convencia muita gente. As equipas equivaliam-se na mediania, e a diferença foi, uma vez mais, estabelecida por conta de outrém.
O clássico até começou bem. Um golo de Yebda, na sequência de um canto, colocou o Benfica em vantagem pouco antes do intervalo. O tempo foi passando, e o resultado de 0-1 prevalecia no marcador. As campanhias de alarme terão então soado e alguns ouvidos mais sensíveis. Era preciso fazer alguma coisa, e havia que encontrar rapidamente um pretexto. Já perto do final, Lisandro Lopez mergulha para o relvado numa encenação mal esgalhada, que nem o próprio deverá ter achado conviciente. Era a ocasião perfeita para o homem da brilhantina mostrar os seus dotes. Penálti! Apitou ele de pronto. O FC Porto empatou e acabaria por ser campeão.

A marca do artista
Por esta altura, já o nome do personagem constava da lista de obséquios da UEFA. Essa mesma UEFA, na qual se movem e cruzam interesses obscuros, e onde a proximidade a algumas figuras influentes do Futebol português é maior do que parece.
No ano seguinte, o Benfica conseguiu por fim chegar ao ansiado título. Fê-lo com todo o mérito, sobrepondo-se às adversidades que lhe foram sendo colocadas no caminho - às quais respondeu com um Futebol deslumbrante. Há Campeões assim: grandes! Outros nem tanto. Nós, para sermos felizes, temos de ser muito melhores que todos os outros, e superiorizarmo-nos às forças que nos querem destruir. Temos de jogar sistematicamente contra catorze, e só as grandes equipas conseguem fazê-lo com sucesso. Esse Benfica (com Di Maria, David Luíz, Ramires e Fábio Coentrão, entre outros) era uma extraordinária equipa, e ninguém a conseguiu parar. Era muito melhor que as outras. Quando somos iguais, ou, apenas, ligeiramente melhores, normalmente perdemos, pois há sempre uma mão diligente que faz pender os pratos da balança para o outro lado. Em 2010, essas mãos não foram suficientes para nos fazer cair, e no meio dos festejos, pouco benfiquistas terão recordado com rigor as arbitragens terão recordado com rigor as arbitragens de toda a temporada. Alguns, inebriados pela conquista, terão até acreditando que a obscuridade pertencia a tempos passados, e que o Futebol português caminhava para a purificação. Nada mais errado. Basta lembrar aqui dois dos jogos que o artista da brilhantina nos apitou nessa época. Em Alvalade, permitiu que agressões de Adrien Silva e Anderson Polga ficassem impunes, e subtraiu-nos dois pontos, retirando-nos provisoriamente do primeiro lugar da tabela classificativa. Mais tarde, no chamado 'jogo do título', frente ao SC Braga na Luz, poupou a expulsão a Renteria (por agressão a Di Maria), e deixou passar um claríssimo corte com a mão do Peruano Rodriguez, que poderia ter tido influência decisiva no jogo, e no título. Não me recordo se Domingos Paciência lhe terá dado o habitual e caloroso abraço no fim do jogo. Mas lá que o homem merecia, disso não restam dúvidas.

Novamente em acção
À partida para a temporada de 2010/11, o Campeão Benfica era tido como o principal favorito ao título. Mantivera a base da equipa, e reforçara-se com nomes prometedores. Era o alvo a abater. Não entrou bem na época, em parte por culpas próprias, mas, sobretudo, por culpas de terceiros.
Falou-se de Olegário Benquerença (outro árbitro de elite da UEFA), que nos matou as esperanças com uma arbitragem assassina em Guimarães. Falou-se de Cosme Machado, que abriu as hostilidades no jogo da Luz com a Académica, logo na ronda inaugural. Mais uma vez, o homem da brilhantina passou por entre os pingos da chuva.
A verdade, porém, é que também ele ficou ligado a esse triste começo de época, com um arbitragem tão má quanto as piores, na Choupana, onde dois penáltis ficaram por assinalar a nosso favor - corte com a mão de um defensor madeirense; e rasteira a Fábio Coentrão -, e onde deixámos os três pontos. Nessas semanas desenhou-se o destino de mais um Campeonato. Em 2011/12, as coisas não seriam muito diferentes.
(parte III na próxima semana)"

Luís Fialho, in O Benfica

O 13º Olímpico !!!


O Pedro Isidro tornou-se hoje o 13ª atleta do Benfica (o 11º na comitiva Portuguesa) a marcar presença nos Jogos Olimpicos de Londres.
O Pedro vai participar nos 50Km Marcha, provavelmente a prova mais dura dos Jogos!!!
Recentemente, o Pedro retirou 13 minutos ao seu recorde pessoal!!! Mas essa marca 'só' dava para o Mínimo B fixado pela FPA. Como já havia um atleta Português com o Mínimo A (João Vieira), o Pedro ficou como suplente, mas como os Mínimos impostos pela FPA eram mais exigentes do que Mínimos exigidos pela Federação Internacional, o Comité Olímpico Português, juntamente com a FPA, decidiram mudar os critérios e resolveram 'convocar' o Pedro Isidro, premiando assim o esforço do atleta... que assim se vai estrear nos Jogos...
Parabéns Pedro...

Os tempos

"Uma boa gestão dos tempos é, por norma, um acto de sensatez. Conseguir ter a sensatez de perceber isso é um bom acto de gestão.
Nos tempos que correm, a opinião faz-se na vertigem do momento e não na ponderação dos diferentes momentos. Só assim se explica que, com base na observação de um ou dois jogos, de cinquenta minutos de exibição numa pré-época, se possam tirar conclusões absolutas sobre a mais-valia ou não de um jogador. Temo-lo visto a propósito do lado esquerdo da defesa do Benfica. A adaptação de Melgarejo tem servido para todas as teses, opiniões e conclusões por parte dos opinadores. Agora, é tempo de observar, é tempo de experimentar e, brevemente, será tempo de avaliar a decisão tomada. Antes de todos estes tempos, veio o tempo de reflectir. Depois, e só então, será o tempo de tirar conclusões. Em seguida, agir-se-á de acordo com as conclusões retiradas. Tudo isto terá de ser feito em tempo útil, mas sem termos no nosso treinador a precipitação de julgar de acordo com os ecos extemporâneos da imprensa. Se assim não for, arrisca-se tanto o sucesso do jogador como o do grupo de trabalho e o do próprio treinador.
Num plano diferente, observámos como a Liga de Clubes se precipitou na regulação dos empréstimos de jogadores. Muitas vezes apelei para a necessidade de regulamentar essa matéria, mas a Liga trocou os tempos. Começou pelo tempo da implementação da medida antes de ter feito o tempo da reflexão acerca da mesma. Isso inviabiliza qualquer possibilidade de sucesso numa medida que até poderia ser benéfica para o futuro do futebol português.
Seja treinador ou seja dirigente, quem lidera tem de saber gerir os tempos, sob pena de perder a razão pelo facto de a ter antes do tempo."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

No traçado da emoção

"Chama-se BENFICA NO DESENHO DA HISTÓRIA. É o meu novo livro, produto oficial SLB com textos da minha lavra e desenhos da Sofia Zambujo, uma talentosa benfiquista, cujas ilustrações me motivaram a endereçar-lhe o convite para a consecução da obra.
BENFICA DESENHO DA HISTÓRIA retrata, em imagens e em textos, os 120 melhores jogadores e os dez mais destacados treinadores da história centenária do nosso Clube.
Trata-se de um longo cortejo que permite mergulhar (melhor ainda, saborear) os feitos de uma maúça de gente que emprestou majestade, que conferiu primazia, que protagonizou mística, que concitou aplausos infindos.
BENFICA NO DESENHO DA HISTÓRIA, cujo lançamento, na Luz, está aprazado para a próxima semana, afigura-se mais um documento susceptível de conferir elevada auto-estima a todo o universo vermelho
Retrata coisas boas, proezas irrepetíveis, odisseias sem igual. A preferência das 130 figuras pode não ser consensual? Mas será que haveria duas escolhas iguais? Seguramente, passe a imodéstia, não vai suscitar nenhum sobressalto, ainda que talvez este ou aquele reparo.
BENFICA NO DESENHO DA HISTÓRIA, com um texto institucional do presidente, Luís Filipe Vieira, e prefácio do grande escritor e benfiquista, José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, é mais um contributo para valorizar o património bibliográfico do Glorioso. Como é que me sinto, mentor do projecto e co-autor do livro? Gloriosamente feliz, gloriosamente emocionado. Com uma dedicatória veneranda ao meu Benfica."

João Malheiro, in O Benfica

50 anos

"1. Permitam-me que esta crónica comece na primeira pessoa. É que na quarta-feira passada, à hora a que assistia ao nosso jogo de solidariedade 'Um gesto contra a fome', completavam-se precisamente 50 anos sobre a minha presença num torneio (nocturno, a meio da semana) de captação do Atletismo do Benfica, na antiga pista do Campo Grande, então denominado Torneio para Sócios e simpatizantes. Tinha 15 anos, corri 600 metros, fui terceiro, no final dei o nome e a morada e dias depois fui convocado para a antiga secretaria da Rua Jardim do Regedor.
Tinha cumprido um sonho: era atleta do Benfica! Já era sócio, já ia a todos os jogos, mas iniciei então um percurso mais por dentro do Clube. Fui um atleta dedicado, mas apenas mediano, mas foram anos que não mais esqueci e que marcariam o percurso da minha vida. Ao Benfica o devo.
Curiosamente, 50 anos passados,participei, com a camisola do Benfica, no Campeonato Nacional de Veteranos. Igualmente sem grande brilho, mas ajudando, dentro das possibilidades, a que a nossa equipa conseguisse um 2.º lugar colectivo, não longe do título. E nela estavam desde o mais velho atleta dos campeonatos, o dedicadíssimo Adriano Gomes (89 anos!), ao nosso antigo atleta olímpico, Pedro Curvelo, e aos antigos internacionais José Pedroso e Ricardo Lemos, entre outros. Não conseguimos igualar os feitos de todas as equipas masculinas do Benfica, que esta época fizeram o pleno, sagrando-se campeãs (absolutos, sub-23, Juniores, Juvenis). Mas o Benfica esteve bem representado na pista do Luso, só perdendo para a mais numerosa equipa do Cucujães.

2. O FC Porto não tem Voleibol há vários anos e nunca teve Futsal. Há dois anos, acabou com o atletismo pois quis continuar a ganhar campeonatos 'alugando' no estrangeiro mais de metade da equipa no fim-de-semana dos Campeonatos e a Federação, logicamente, aprovou um regulamento que o impedia. Agora, sem o assumir, parece ter acabado com o Basquetebol, após os tristes acontecimentos no seu pavilhão, aquando do título benfiquista, e depois de ter renovado alguns contratos e contratado novos jogadores. De repente, parece terem chegado à conclusão de que não havia dinheiro. É lá com eles. O problema é se começam também a perder ´no Hóquei com regularidade. Lá se vai mais uma modalidade..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

domingo, 22 de julho de 2012

Objectivamente (Proença)

"O facto de Pedro Proença ter apitado as finais da Liga dos Campeões e do Europeu de 2012 não muda nem um bocadinho a ideia que tenho sobre este pretencioso árbitro, que se acha o máximo, e que até teve o desplante de criticar as autoridades portuguesas pelo facto de ninguém o ter ido esperar ao aeroporto quando chegou de Kiev. Reclamou aos jornalistas porque secretários de Estado e ministros foram esperar medalhados e - imagine-se! - a selecção portuguesa. Mas não foram esperar o árbitro. Que injustiça!
O que ele fez na final do Europeu também não foi tão fantástico assim! Um penalti claríssimo - daqueles que em Portugal ele bem vê - a favor da Espanha ficou por marcar e na altura em que foi, até poderia ter encaminhado as coisas a favor dos italianos quando tão evidente a supremacia dos campeões do Mundo e da Europa!
A Espanha ganhou de forma inequívoca e nem o apoio por vingança - vá lá perceber-se porquê - de alguns populistas portugueses aos italianos, deram a força suficiente para empurrar os italianos na hora do massacre dos «nustros hermanos»!
Nós não devemos evidenciar no futebol aquela reconhecida fraqueza da inveja, da mesquinhez e dos complexos de inferioridade que por vezes assolam as cabeças lusas quando se trata de avaliar aqueles que são melhores que nós! A selecção de Espanha, que joga à «Barcelona de Pep Guardiola» não deveria irritar, nem dar sonolência (como tiverem a ousadia de dizer alguns ignorantes comentadores), só porque é o oposto do «pontapé prá frente e fé em Ronaldo» do Mourinho de Madrid! A mesma receita para Pedro Proença: Não se julgue um Deus só porque teve bons padrinhos para chegar onde chegou esta época! A única coisa que lhe peço é que apite cá em Portugal como o faz no estrangeiro! Se ele fizesse isso de certeza que não participava naqueles escândalos como foi o célebre golo do Maicon 2,5Km fora de jogo!
O resto é conversa para entreter distraídos! A mim não me engana!"

João Diogo, in O Benfica 

Detector de insuficiências !!!


PSV 3 - 1 Benfica

Primeiro desaire da época, num jogo onde o Benfica voltou a entrar muito bem, marcou um golo, mas até podia ter marcado mais... jogo quezilento, e com o Artur a ter pouco trabalho - a melhor oportunidade do PSV é num contra-ataque, com duas bolas em campo, em simultâneo!!! -, com as alterações na equipa o Benfica perdeu objectividade e consistência ofensiva, mesmo assim o Witsel podia ter feito o 2-0, e num lance de bola parada - quando nada tinha feito para o merecer - o PSV empatou, aqui notou-se alguma falta de pernas do Benfica, que com menos de 20 horas entre os dois jogos, e com alguns jogadores a fazerem os 180 minutos, o Benfica não teve capacidade de resposta... Com a expulsão do Maxi o Benfica acabou por ter 'sorte', em não sofrer mais golos...!!!
No segundo golo, o Melga foi à 'queima' e foi ultrapassado... felizmente o nosso treinador no final do jogo com os Polacos, afirmou claramente que o Benfica precisa de um defesa-esquerdo.
O excesso de minutos que o Luisão, o Garay, o Maxi e Javi tiveram neste fim-de-semana merecem uma analise: se no caso do Javi isso aconteceu devido à lesão do Matic; no caso do Maxi deveu-se à falta de opções para defesa-direito; mas no caso dos Centrais nota-se uma clara desconfiança em relação ao Jardel e ao Miguel Vítor...!!!
O árbitro que na 1ª parte já tinha perdoado uma penalidade aos Holandeses - quando o Cardozo é agarrado... - permitiu um bloqueio em movimento, e em falta sobre o Melga - sim, este tipo de bloqueio é falta... - no canto que deu o primeiro golo. Com os jogadores cansados, a chegarem atrasados à bola, as faltas foram constantes, algumas bastante duras, para os dois lados, mas com os nossos adversários a exagerarem... e sempre com a complacência do árbitro... inclusive numa agressão ao Gaitán - que sofre falta por trás, levanta-se e é agredido... -, que acabou com um amarelo para cada lado!!! Logo depois o Maxi é expulso com duplo amarelo, com o árbitro a usar um critério completamente oposto ao usado anteriormente, até nos foras-de-jogo houve mudança de critério: no início foram mal marcados vários foras-de-jogo às duas equipas, na 2ª parte o PSV na mesma jogada, conseguiu ter jogadores em fora-de-jogo em duas ocasiões distintas, e nada foi marcado!!!
Resumindo, nesta pré-época o Benfica pensou em tudo!!! Exigindo inclusive arbitragens 'à Proença'!!!
As leituras apocalíticas que li na Glorisesfera logo após este jogo, só demonstra, que grande parte dos 'clientes' dos hospícios deste País, andam à 'solta' e têm acesso à Net!!!
As pré-épocas perfeitas - só com vitórias -, normalmente dão mal resultado, é preciso muitas vezes uma chamada 'à real'... este jogo mostrou algumas fragilidades da equipa - apesar de todas as condicionantes, com as lesões e com o tempo de recuperação entre os jogos -, não foi um péssimo jogo, foi um jogo menos conseguido na 2ª parte, contra uma boa equipa, bem orientada, com jogadores talentosos, que vai entrar em competição 2 semanas antes que o Benfica. Jogar com equipas de escalões inferiores, ou recém-promovidos, seria mais fácil, jogar com equipas que vão jogar a Champions - ou pelo menos as pré-eliminatórias -, é mais difícil, os resultados podem não ser os mais espectaculares, mas provavelmente é o melhor para avaliar as necessidades da equipa... E esta pré-época do Benfica, até tem sido positiva analisando os resultados, mesmo com a derrota de hoje.

Limpeza geral !!!


O João Ribeiro tornou-se hoje Campeão Nacional de Canoagem, no K1 1000, no K1 500 e no K1 200 !!!
Não foi surpresa - devido a algumas ausências -, mas nem sempre o favorito, confirma os créditos...

Agradável, com dois 'soluços' !!!


Slask Wroclaw 2 - 4 Benfica

Bons momentos, muito desperdício, jogo controlado com dois golos de vantagem... uma mistura de azar (é o que faz, jogar-se futebol, com bolas de 'praia'!!!) e descompressão, complica as contas, jogo empatado, Benfica volta a acertar o ritmo, e os golos apareceram naturalmente...!!! Tudo poderia ter sido mais fácil, o Jesus poderia até ter tido uma gestão diferente da equipa, já que amanhã temos outro jogo, mas com o 'susto' a meio da 2º parte não foi possível, assim com o PSV alguns jogadores vão ter que repetir os 90 minutos...!!!
O Melgarejo tem melhorado a defesa-esquerdo, mas mesmo assim continuo a pensar que é imperioso contratar um verdadeiro defesa-esquerdo; infelizmente o Bruno César continua a desperdiçar as oportunidades no 'meio'; o Ola John continua numa 'onda' colectiva diferente...
Espero que o Witsel não se lembre de fazer algo 'parecido', na próxima Sexta, no jogo com o Real, se o fizer, a saída será inevitável!!!

PS: Hoje a equipa B, voltou a perder, com um adversário da I Liga. Com os empréstimos a clubes da I Liga novamente autorizados, vários jogadores da equipa B já mudaram de ares, outros parece que vão seguir o mesmo caminho, eu não concordo. A equipa B foi criada para 'rodar' os nossos jogadores, assim, por este caminho, ainda vamos jogar a II Liga com a nossa equipa de Juniores!!! Concedo 2 excepções: Oblak, a posição de guarda-redes é diferente; e o Miguel Rosa, que já não é um 'jovem' e depois de várias épocas na II Liga já merecia a I Liga. Os outros para mim ficavam todos na equipa B, todos, sendo que em caso de emergência podiam 'saltar' para a equipa principal...

sábado, 21 de julho de 2012

Mantorras

"Já aqui escrevi que Pedro Manuel Torres, Mantorras, merecia mais da vida e do Futebol. Mas de facto, alguns adversários e algumas arbitragens não deixaram jogar o Mantorras. O fenomenal angolano, de 'águia ao peito', pegava na bola e antes que fizesse gato-sapato dos adversários, como fez do Sporting num jogo ainda com a camisola do Alverca, era vítima das mais brutais, traiçoeiras e impunes agressões. E foi assim que Mantorras sofreu uma dramática lesão num joelho, quatro intervenções cirúrgicas e três anos de afastamento dos relvados. Apesar de tudo, Mantorras ainda foi um jogador talismã numa época do Benfica campeão, em 2004/2005, quando saltava do banco e resolvia. De maneira que, para além de embaixador do Benfica, Mantorras talvez também pudesse dar alguns conselhos particulares a novos atletas do Clube sobre a colocação na área, a oportunidade de meter o pé à bola e o instinto pela baliza adversária.
Mantorras despediu-se do relvado da Luz, com a camisola que tem a cor e o emblema do seu coração, num início de época em que o Benfica procura identidade de um novo plantel. O Benfica está a preparar a época com um plantel que, porventura, não será rigorosamente aquele que vai disputar as competições em que O Glorioso vai estar envolvido. É estranho ver evoluir em campo jogadores que eventualmente não ficam e não conhecer ainda outros que estarão possivelmente para chegar. Seja como for, o Benfica já confirmou nos primeiros jogos a sua vocação de equipa de ataque, capaz de criar numerosas ocasiões de golo.
Mantorras não era apenas um matador. Ele próprio fintava e por vezes sentava os adversários, conduzia a bola e finalizava. Mas é por ventura pelo instinto do finalizador que ele deixa mais saudades. E também pela alegria com que jogava."

João Paulo Guerra, in O Benfica

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Mantorras - adeus ídolo

"Os grandes nomes do futebol, muitos do passado mas também alguns do presente, provaram na Luz, juntamente com mais de 30 mil adeptos e com a total disponibilidade benfiquista, que não perdem de vista as causas sociais - infelizmente, no século XXI, onde a manda a tecnologia, mas como grassa a hipocrisia de muitos governantes, ditadores assumidos ou disfarçados de colarinho branco, que já não é só em África ou na Ásia que se morre de fome. Fome; ter fome; morrer de fome; sobreviver com fome -, Luís Figo, os seus amigos e o SL Benfica deram o muito que ainda têm e mostraram ao mundo que há gestos que ficam para toda a vida.
Dessa noite de solidariedade fica também o adeus ao futebol de um daqueles que merecia ter sido feliz: Mantorras. Eusébio, que gostei imenso de ver, pela televisão, recuperado, foi jogador genial; para mim Mantorras foi o que mais dele se aproximou. Tinha tudo mas não teve sorte; outros tiveram-na e jogaram-na à rua. Onde Mantorras podia ter chegado se tem sido bafejado pela deusa fortuna. Só precisava de ter tido um bocadinho disso. Um dos maiores ídolos do futebol português disse adeus mas na minha memória perdurarão para sempre a portentosa exibição protagonizada frente ao Sporting pelo Alverca (lembras-te amigo Alexandre Albuquerque?) e o golo de livre ao V. Setúbal. O que desejo a Mantorras é que tenha no futuro a pontinha de sorte que não encontrou no futebol.
Rui Costa - é evidente que não podia marcar o penalty ao seu clube; bem basta o que se passou na Fiorentina - encontrou no ciclismo um homónimo à sua altura. Tem feito de tudo neste Tour para que Portugal se faça notado. Agostinho foi o maior de todos mas este Rui Costa fica muito bem no pódio ao seu lado."

José Manuel Freitas, in A Bola

A falência do histórico Rangers

"O Glasgow Rangers, histórico clube europeu, faliu, e desapareceu como tal. Parece haver um sucedâneo que começa da quarta divisão. Acabou o Old Firm, o mais antigo derby do mundo mas também devia também acabar a irresponsabilidade financeira. O risco existe, e não é só em pequenos clubes. Há grandes, alguns dos maiores, cuja situação é dramática.
Há bem pouco tempo, Rodrigo Nunes (Feirense), cheio de razão alertava para a «batotice financeira» existente. Os clubes, como os países, empresas e famílias têm que se adaptar à sua realidade económica. Em Portugal são 30 anos de cosméticos. Primeiros foram as bombas de gasolina a disfarçar os défices, depois alguns bingos pareciam ser o El Dourado, mais tarde com o advento das SAD, poucos ouviram sem se rir as sábias palavras de Alfredo Farinha.
E agora? Falir as SAD e começar da quarta divisão? No futuro muito próximo, ganhará desportivamente quem estiver mais sadio financeiramente. Na Europa do futebol o Bayern será cliente assíduo das finais e os irresponsáveis financeiramente vão arrastar-se por caminhos penosos. O dinheiro não é tudo e no futebol é bom que assim seja. O encanto está em ver pequenos e ganhar aos maiores, no fazer grandes equipas com menos recursos, não está no não pagar, no não cumprir e no aldrabar contabilidades.
Gostei até agora da pré-época encarnada. Este Benfica parece sólido e seguro, recheado de soluções mesmo sem contar com Rodrigo e Nélson Oliveira que ainda não se juntaram ao grupo.
Na passada quarta-feira vi poucos minutos de Ricardo Araújo Pereira e Pedro Ribeiro. Julgo que ainda é cedo para saber se têm lugar no plantel. Muito seguros no aquecimento, rápidos a bater palmas, mas preciso de ver o entendimento com Pablo Aimar para emitir um juízo definitivo. De qualquer forma, melhores que Thomas, Rojas e Escalona parece garantido."

Sílvio Cervan, in A Bola

Não há rebanhos, felizmente

"Não se corre o risco de ver Pinto da Costa fechar o hóquei em patins do FC Porto por também terem perdido o título nacional para o Benfica. Já no que diz respeito ao futebol, o caso fia mais fino...

AS generalizações são sempre perigosas porque, inevitavelmente, carregam uma falsidade do tipo abrangente, universal, que é de evitar a todo o custo se quisermos olhar para situações, pessoas, instituições e outras minudências com olhos de bem as ver.
Vem isto a propósito do recente episódio ocorrido no aeroporto Sá Carneiro, da cidade do Porto, aquando do regresso da equipa de futebol do principal clube da Invicta depois de um estágio de preparação para a nova temporada realizado no estrangeiro.
Aconteceu que os jogadores de futebol do FC Porto tinham à sua espera no aeroporto um grupo impecavelmente ordeiro de adeptos do clube que quiseram aproveitar o arraial jornalístico que sempre se monta em acontecimentos do género futebolístico para vincarem um protesto contra a anunciada extinção da secção de basquetebol do clube.
Certamente que esta manifestação no aeroporto não foi organizada por um bando de delinquentes e é de duvidar que os adeptos do basquetebol portista presente em Pedras Rubras fossem, um a um, os mesmos que no fim do jogo decisivo do último campeonato impediram à bruta que a equipa campeã recebesse o troféu em campo.
Na verdade, são situações que não se compadecem uma com a outra.
E porque, à chegada da equipa de futebol do estágio no estrangeiro, não houve no aeroporto cânticos «SLB, SLB, filhos da puta, SLB» é quase permitido concluir, em abono dos presentes, que não era aquela a mesma gente que se manifestou de forma tão pouco ordeira quando o Benfica foi ganhar o campeonato ao Dragão.
À boleia do futebol e da incontornável visibilidade do futebol, os portistas amantes do basquetebol compareceram no aeroporto equipados com os artefactos próprios da modalidade, envergando camisolas com nomes dos seus heróis da bola ao cesto. Não deixando de apoiar os futebolistas que regressavam a casa, os pacíficos manifestantes não enjeitaram a oportunidade de, com bons modos, fazer valer a sua tristeza pelo fim do basquetebol no FC Porto.
Nos jornais do dia seguinte o protesto não foi ignorado. E seria, com certeza, esta ideia dos protestantes. Tornar pública a sua legítima insatisfação.
Não caiam, portanto, os benfiquistas na disparatada e abusiva tentação de concluir com pressa e regozijo que a decisão superior de acabar com o basquetebol no Dragão foi mansamente acatada pela generalidade dos adeptos portistas, arrebanhados em prol da urgência de se acabar com o basquetebol da casa pelas simples razão de que se perdeu, na dita casa, o último título em disputa para o rival Benfica.
Lá como cá, há pessoas que pensam de modo diferente e que reagem de modo diverso perante as mais diversas situações.
A questão é que, quer na Luz quer no Dragão, há quem goste mesmo de basquetebol, do jogo propriamente dito, e não o veja como uma mera actividade-modalidade compensatória em função única e exclusiva dos dislates do futebol.
No fundo, é uma questão de tacanhez de espírito. Tacanhos há em todo o lado, como sabemos e por muito que nos custe reconhecer. E tacanhos-exacerbados é o que é mais, ainda que não maioria em nenhum dos círculos.
Na franja benfiquista mais tacanha-exacerbada não há quem não conclua que o fecho do basquetebol portista se deve única exclusivamente ao facto de Pinto da Costa não ter aguentado psicologicamente a festa do título benfiquista no pavilhão do Dragão.
E que, para castigar a incompreensível falha dos seus incensados super poderes e para punir, como exemplo para memória futura, a incompetência dos técnicos e dos jogadores do basquetebol que se atreveram a entregar o ouro ao bandido, outro remédio não teve o presidente do FC Porto do que sentenciar a morte de toda uma história de uma modalidade do clube de modo a que, venha quem vier incomodá-lo com o título de campeão de basquetebol conquistado pelo Benfica, possa ele responder com a ironia do costume:
-Basquetebol? Isso nem existe.
Já na franja portista mais exacerbada-tacanha, a justificação para o encerramento do basquetebol profissional é completamente diferente da que vinga na sua congénere benfiquista. E entra pelos olhos adentro como uma evidência papal: trata-se apenas de os mandar ir jogar sozinhos, carago!
Aqui está um grande, um enorme consolo para a dita franja auto convencida, por razões insondáveis, de que sem o FC Porto na competição todos os títulos que o Benfica venha a conquistar não vão ter o mesmo sabor, não vão conseguir fazer sequer saltar uma rolha de uma garrafa de espumante nacional.
O que não é verdade porque se tomarmos o exemplo do futsal, onde o FC Porto também não vai a jogo, a alegria causada aos benfiquistas pelos títulos conquistados pela sua equipa nunca se ressentiu, nem nunca se vai ressentir, da ausência na competição de uma equipa de futebol de 5 vinda do Dragão.
Julgo que no domínio dos raciocínios tacanhos-exacerbados, a franja portista comete um abuso de interpretação dos factos e dos respectivos sabores bem maior do que o cometido pela franja benfiquista.
Haverá uma franja de adeptos portistas tacanhamente convencidos de que, tal como acontece com eles em relação ao Benfica, também os benfiquistas precisam do FC Porto para justificar a sua essência, valor, importância e genuinidade enquanto clube? Quer parecer que sim.
Enganam-se porque, cometendo o pecado das generalizações em seu favor, sofrem de uma visão distorcida de realidade, visão essa que muito os satisfaz e nela se comprazem.
No entanto, também a franja tacanha-exacerbada de benfiquistas comete um pecado parecido quando se compraz julgando que o presidente do FC Porto fechou o basquetebol num ataque fulminante de dor de corno, encantadora expressão popular, ao ver o Benfica ser campeão diante do seu nariz.
Honrados pela importância dada por Pinto da Costa ao Benfica, haverá certamente alguns benfiquistas, poucos, que nem se esforçam por reconhecer a maior de todas as evidências do caso do fim do basquetebol portista: o dinheiro.
É a economia, amigos!
Num e no outro clube, felizmente, há gente bem-humorada e que opta por ultrapassar todas estas tensões com um sorriso. Façamos por isso e respeitemos todas as opiniões. Não há rebanhos, felizmente.
Na minha opinião, por exemplo, julgo que não se corre o risco de vermos o presidente Pinto da Costa a fechar o hóquei em patins do FC Porto por também terem perdido o título nacional para o Benfica depois de 10 anos de enfiada no primeiro lugar. Já que no que diz respeito ao futebol, o caso fia mais fino.
Julgo que se o Benfica for, alguma vez, campeão nacional por dois anos consecutivos, pensando melhor, por três anos consecutivos, alguma coisa vai ter de fechar no FC Porto. E não me refiro às torneiras, obviamente.

ONTEM, a um quarto de hora do fim do jogo de beneficência entre Benfica & amigos e Luís Figo & amigos, o fiscal de linha inventou um fora-de-jogo numa jogada de ataque dos amigos de Luís Figo e o Estádio da Luz veio abaixo com vaias porque o autor do passe fatalmente interrompido fora Rui Costa, já a jogar pela equipa visitante.
São estas as graças dos jogos a brincar e com cariz de bondade.
Quem não teve bondade nenhuma com Melgarejo foi Luís Figo que, bem no princípio do jogo, aplicou meio-nó cego ao jovem paraguaio, deixando-o entontecido. Há males que vêm por bem. Pode ser que, assim, o Benfica ainda vá a tempo de, ao fim de dois anos de buscas infrutíferas, conseguir descobrir e comprar um lateral-esquerdo.
No jogo que antecedeu o prato principal, a equipa B do Benfica venceu por 3-1 o Beira-Mar. Como o golo dos aveirenses foi marcado por Balboa, quase se pode dizer que, na verdade,  resultado foi de 4-0."

Leonor Pinhão, in A Bola