terça-feira, 30 de agosto de 2011

Apito desafinado

"1. Há cerca de um ano escrevi aqui, a propósito de estatuto legal dos árbitros: “O repto é alterar todo o processo de recrutamento e evolução dos árbitros nas sucessivas categorias, desde as camadas jovens até à 1.ª categoria. Submetidos desde a base a critérios esconsos e a fiscalização discutível, os árbitros que chegam hoje ao topo não são muitas vezes – ou não podem ser – os melhores. Ressente-se a independência e magoa-se a qualidade das suas atuações. Por isso se deve redigir quem e como se chega a árbitro – em carreiras distintas para “grupos de modalidades” – e instituir um corpo de arbitragem autónomo de quem organiza as competições (ainda que financiado e balizado pelas competições). Um corpo escolhido, formado e avaliado por “comités de técnicos de arbitragem” designados pelo Estado e atuantes, em secções diferenciadas, nas federações e nas associações. E com a possibilidade de tais organismos federativos e associativos recorrerem, no caso da gestão e organização dos árbitros profissionais, a entidades externas e, no caso da aprendizagem e reciclagem das competências de todos os árbitros, a formadores fora do ambiente fechado das federações e das associações (p. ex., universidades). Sem pôr em causa a autorregulação, mas assegurando o seu futuro.
2. Passou mais um ano. O futebol português é dramaticamente previsível, em personagens e em argumentos. Os árbitros estão novamente em cima do lume dos esquemas do maniqueísmo. Continuamos a ouvir o mesmo, com o inevitável “o Apito Dourado não deu em nada”! Claro que quem tal afirma não sabe o que diz ou apenas o diz a pensar em 3 ou 4 processos criminais que dominaram os media. Não é verdade!
3. O Apito Dourado (AD) lidou com corrupção, coação, falsificação de relatórios e tráfico de influências. O fundamental do AD foi julgado desportivamente pelo Conselho de Disciplina da Federação, uma vez que o AD averiguou esmagadoramente jogos e factos da (então) 2.ª Divisão B – pelo menos em junho e julho de 2008, foram suspensos 35 árbitros e observadores, com castigos entre 8 meses e 9 anos e 4 meses (e com árbitros a ultrapassarem, nas penas somadas, o castigo máximo de 10 anos!). O residual do AD foi julgado desportivamente pela Comissão Disciplinar da Liga em maio de 2008: suspensões de 6 árbitros com castigos entre 2 anos e meio a 6 anos.
4. O Apito Dourado foi a maior “limpeza” que se fez na arbitragem com base em adulteração grosseira das regras. Para além dos crimes (pois nem tudo era ou foi considerado crime), os órgãos jurisdicionais desportivos atuaram (ainda que com “défice” do Conselho de Justiça…) e os prevaricadores foram afastados. “Deu”. Acima de tudo, vemos que a arbitragem de 1.ª categoria se qualificou e os internacionais são considerados lá fora. Porém, cá dentro, o AD não deu o suficiente para se saltar em definitivo para um outro formato de árbitro – que exige mais que a profissionalização e solicita uma independência dos organizadores das provas. É por isso que passam os anos e, para alguns e com o mesmo formato, ainda parece que o AD “não deu” nada…"
Ricardo Costa, in Record

Bem-vinda!

"From: Domingos Amaral
To: Luz Jardim Amaral

Minha querida filha
Nasceste numa quarta-feira à noite, precisamente às 22h52, como o teu irmão Duarte sempre lembra. Enquanto a tua querida mãe Sofia esperava pela sua cesariana, na companhia das tuas avós e tias e da tua irmã mais velha, Carolina (a Leonor ainda é pequenina e ficou em casa), eu e o Duarte demos um saltinho ao estádio do Benfica. Foi rápido e fácil, apenas uma pequena caminhada, pois tu estavas pronta a nascer precisamente no Hospital da Luz, que é mesmo ao lado da nossa catedral, o Estádio da Luz. Mas foste muito querida em ter esperado por nós, em ter-nos deixado assistir a um belo jogo do Benfica. É, aliás, magnífico sinal teres nascido numa grande noite europeia, em que tudo correu bem à nossa família e ao Benfica. Que fantástica jogatana, que excelente equipa que se está ali a formar! Foi essa a conclusão que eu e o teu irmão retirámos de um jogo onde Jesus espantou definitivamente os fantasmas que nos assombravam este início de época. Enquanto crescias na barriga da tua mãe, muitos apostavam numa saída desgraçada de Jorge Jesus ainda em setembro. Não aconteceu e ainda bem. Sabes, querida filha, ele é um bocado teimoso mas quando acerta não há melhor, e o Benfica dele enche-nos o coração de alegria, tal como o teu nascimento. E foi por tudo isto, a que alguns chamam coincidências mas ambos sabemos que é destino, que a tua mãe e eu decidimos chamar-te Luz. Nome lindo, pequeno e simples, ao mesmo tempo forte e essencial à vida e (aqui só entre nós que ninguém nos ouve), glorioso! Um nome que a ti muito bem fica. Mil beijos do pai."

Domingos Amaral, in Record