"1. Há cerca de um ano escrevi aqui, a propósito de estatuto legal dos árbitros: “O repto é alterar todo o processo de recrutamento e evolução dos árbitros nas sucessivas categorias, desde as camadas jovens até à 1.ª categoria. Submetidos desde a base a critérios esconsos e a fiscalização discutível, os árbitros que chegam hoje ao topo não são muitas vezes – ou não podem ser – os melhores. Ressente-se a independência e magoa-se a qualidade das suas atuações. Por isso se deve redigir quem e como se chega a árbitro – em carreiras distintas para “grupos de modalidades” – e instituir um corpo de arbitragem autónomo de quem organiza as competições (ainda que financiado e balizado pelas competições). Um corpo escolhido, formado e avaliado por “comités de técnicos de arbitragem” designados pelo Estado e atuantes, em secções diferenciadas, nas federações e nas associações. E com a possibilidade de tais organismos federativos e associativos recorrerem, no caso da gestão e organização dos árbitros profissionais, a entidades externas e, no caso da aprendizagem e reciclagem das competências de todos os árbitros, a formadores fora do ambiente fechado das federações e das associações (p. ex., universidades). Sem pôr em causa a autorregulação, mas assegurando o seu futuro.
2. Passou mais um ano. O futebol português é dramaticamente previsível, em personagens e em argumentos. Os árbitros estão novamente em cima do lume dos esquemas do maniqueísmo. Continuamos a ouvir o mesmo, com o inevitável “o Apito Dourado não deu em nada”! Claro que quem tal afirma não sabe o que diz ou apenas o diz a pensar em 3 ou 4 processos criminais que dominaram os media. Não é verdade!
3. O Apito Dourado (AD) lidou com corrupção, coação, falsificação de relatórios e tráfico de influências. O fundamental do AD foi julgado desportivamente pelo Conselho de Disciplina da Federação, uma vez que o AD averiguou esmagadoramente jogos e factos da (então) 2.ª Divisão B – pelo menos em junho e julho de 2008, foram suspensos 35 árbitros e observadores, com castigos entre 8 meses e 9 anos e 4 meses (e com árbitros a ultrapassarem, nas penas somadas, o castigo máximo de 10 anos!). O residual do AD foi julgado desportivamente pela Comissão Disciplinar da Liga em maio de 2008: suspensões de 6 árbitros com castigos entre 2 anos e meio a 6 anos.
4. O Apito Dourado foi a maior “limpeza” que se fez na arbitragem com base em adulteração grosseira das regras. Para além dos crimes (pois nem tudo era ou foi considerado crime), os órgãos jurisdicionais desportivos atuaram (ainda que com “défice” do Conselho de Justiça…) e os prevaricadores foram afastados. “Deu”. Acima de tudo, vemos que a arbitragem de 1.ª categoria se qualificou e os internacionais são considerados lá fora. Porém, cá dentro, o AD não deu o suficiente para se saltar em definitivo para um outro formato de árbitro – que exige mais que a profissionalização e solicita uma independência dos organizadores das provas. É por isso que passam os anos e, para alguns e com o mesmo formato, ainda parece que o AD “não deu” nada…"
Ricardo Costa, in Record
2. Passou mais um ano. O futebol português é dramaticamente previsível, em personagens e em argumentos. Os árbitros estão novamente em cima do lume dos esquemas do maniqueísmo. Continuamos a ouvir o mesmo, com o inevitável “o Apito Dourado não deu em nada”! Claro que quem tal afirma não sabe o que diz ou apenas o diz a pensar em 3 ou 4 processos criminais que dominaram os media. Não é verdade!
3. O Apito Dourado (AD) lidou com corrupção, coação, falsificação de relatórios e tráfico de influências. O fundamental do AD foi julgado desportivamente pelo Conselho de Disciplina da Federação, uma vez que o AD averiguou esmagadoramente jogos e factos da (então) 2.ª Divisão B – pelo menos em junho e julho de 2008, foram suspensos 35 árbitros e observadores, com castigos entre 8 meses e 9 anos e 4 meses (e com árbitros a ultrapassarem, nas penas somadas, o castigo máximo de 10 anos!). O residual do AD foi julgado desportivamente pela Comissão Disciplinar da Liga em maio de 2008: suspensões de 6 árbitros com castigos entre 2 anos e meio a 6 anos.
4. O Apito Dourado foi a maior “limpeza” que se fez na arbitragem com base em adulteração grosseira das regras. Para além dos crimes (pois nem tudo era ou foi considerado crime), os órgãos jurisdicionais desportivos atuaram (ainda que com “défice” do Conselho de Justiça…) e os prevaricadores foram afastados. “Deu”. Acima de tudo, vemos que a arbitragem de 1.ª categoria se qualificou e os internacionais são considerados lá fora. Porém, cá dentro, o AD não deu o suficiente para se saltar em definitivo para um outro formato de árbitro – que exige mais que a profissionalização e solicita uma independência dos organizadores das provas. É por isso que passam os anos e, para alguns e com o mesmo formato, ainda parece que o AD “não deu” nada…"
Ricardo Costa, in Record