segunda-feira, 25 de julho de 2011

O peso da responsabilidade

"O Benfica afina os motores para o começo da temporada. Uns partiram, outros ficaram, outros acabam de chegar. É sempre assim, mesmo quando se ganha, já que hoje a mobilidade e a volatilidade do mercado futebolístico faz com que não haja certezas quanto ao futuro de cada jogador na sua equipa, sobretudo se teve êxito, se conseguiu impor-se em termos internacionais e se tem vontade de tentar a sorte noutras paragens. O coração pode morar até ao fim num clube, mas a ambição e o desejo de triunfo fazem com que a razão e a conveniência falem muito mais alto que os afectos.

Por muito que nos custe, no Benfica como noutros clubes, é esta a regra do jogo. Convém não esquecer, parafraseando o Prof. Adriano Moreira, sempre lúcido e certeiro, numa entrevista recente, que vivemos num tempo em que “o preço das coisas é o valor das coisas”. E não existe coração que fale ou bata mais alto que esta lógica implacável.

O Benfica prepara-se para começar e, acima de tudo, para transformar numa verdadeira equipa o colectivo que já é. Sabemos que são duas coisas diferentes e que, por vezes, é grande a distância que as separa. Mas, uma coisa é certa: aconteça o que acontecer, a equipa não pode ter um arranque, em competição a valer, com uma perda de pontos que, logo à partida, lhe comprometa o título. Para isso bastaram o sobressalto e a frustração da época anterior. É demasiado cedo para se vestir a camisola de tons escuros do pessimismo quando tudo está ainda a começar. Para tons sombrios, bastam os da crise nacional, europeia e mundial.

Uma das virtudes e méritos do futebol reside justamente na capacidade que tem de nos fazer acreditar na vitória quando tudo em volta parece querer derrotar-nos. Como sempre, o Benfica tem o destino nas suas próprias mãos e não pode alienar ou delegar essa responsabilidade, por muitas e boas razões. Haverá compromisso maior com o presente e com o futuro?"


José Jorge Letria, in O Benfica

Mais soltos

"1. Escrevo depois do Torneio do Guadiana e antes do jogo de apresentação frente ao Toulouse. Ganhámos o Torneio - o que é engraçado mas não diz nada - mas o mais importante é que a equipa se começa a aproximar do que se pretende, apesar das (naturais) deficiências defensivas, que nos têm custado golos que normalmente não aconteceriam. Vi a equipa bem mais disponível fisicamente, bem mais solta, a fazer 'pressing' alto, a não deixar o adversário sair do seu meio-campo. E já vi algumas boas combinações ofensivas. Ainda será cedo para se tirarem conclusões, mas estamos no caminho certo e com um lote alargado de opções. Começo a estar (moderadamente ainda) optimista...


2. Para muitos, uma das mais 'entusiasmantes' curiosidades dos (demasiados longos) períodos de transferências é saber quais os jogadores que o FC Porto 'rouba' ao Benfica. O Benfica - dizem - descobre-os e o FC Porto contrata-os. Ou o Benfica tenta renovar o contrato com eles e, de repente, aparecem nas Antas ou no Dragão. E depois lá vêm os elogios à 'máquina' ou 'organização' portista. Da Luz já nos levaram (e ainda bem...) o Jankauskas, o Sokota e o Cristian Rodriguez. Os dois primeiros foram 'flops'. O terceiro um pesadíssimo encargo (para se transferir deram-lhe ordenado milionário), que até agora não justificou e do qual não se conseguem ver livres. Além de que - principalmente - a sua saída nos abriu uma vaga que viria a ser preenchida pelo Di Maria. Deu-nos um jeitão!...

À conversa vem sem o nome de Falcao que, esse sim, lamento não termos podido contratar (fala-se também no Álvaro Pereira mas sem ele 'criámos' o Fábio Coentrão. Mas um só nome não justifica tanta conversa. Se o FC Porto se preocupa tanto em contratar jogadores do Benfica ou anunciados como tal, que lhe faça bom proveito. É o mesmo tipo de 'guerrinha' parva que está em todos os discursos ou conversas do seu presidente, que faz sempre do nosso Clube o principal tema das suas palavras.

Claro que, depois, aparece sempre quem, tentando mostrar-se imparcial, critique os dois clubes, falando nas ridículas de um e outro na compra de jogadores 'descobertos' pelo rival. Como se o Sport Lisboa e Benfica já tivesse ido contratar algum jogador dado como certo no FC Porto..."


Arons de Carvalho, in O Benfica

Novos ricos

"From: Domingos Amaral

To: Luís Filipe Vieira


Caro Luís Filipe Vieira

Quando estamos mortos de sede, o primeiro copo de água é fantástico, o segundo necessário, o terceiro um pouco forçado e o quarto insuportável. Chama-se a isto a lei das utilidades marginais decrescentes, e também se pode aplicar à dor.

À primeira, dói muito; à segunda, ainda dói; à quarta ou quinta vez, já não dói nada. Vem isto a propósito do suposto “desvio” de Alex Sandro e Danilo do Benfica para o FC Porto. São mais dois numa longa lista de “desviados”, sempre apresentados como um “drama” pela comunicação social, mas para nós nem chegam a um beliscão. Ainda para mais neste caso.

Senão vejamos: à esquerda, em poucos dias, o Benfica contratou baratinho um bom lateral, campeão de França (Emerson); e muito barato um excelente lateral, campeão da Europa e do Mundo (Capdevila). À direita, não precisávamos de comprar ninguém porque temos, apenas, o melhor lateral a jogar em Portugal, e um dos melhores do Mundo (Maxi Pereira). Portanto, o FC Porto gastou 23 milhões de euros, leiam bem, 23 milhões de euros (!) para “desviar” dois jogadores de que o Benfica ou não necessitava, ou substituiu num abrir e fechar de olhos! Ainda bem que o senhor não enfiou esses barretes.

Se o FC Porto se transformou num capitalista barrigudo e novo rico, com charuto na boca e notas a transbordar do bolso, é lá com eles. Eu ainda sou do tempo em que o FC Porto comprava laterais por 500 mil euros e os vendia por 15 milhões, como Cissokho. Agora, compra-os quase ao preço que antes os vendia. Merece, sem dúvida, o prémio da melhor gestão. Em Portugal e arredores."


Considerações (Ser Benfiquista)

"Ser benfiquista é uma coisa que não está ao alcance de qualquer um. É por tudo isto que aqueles que não são da nossa cor nos odeiam visceralmente.

A grandeza do nosso Clube assusta. Logo, causa inveja e esta passa imediatamente ao tal ódio incontido que cega tudo e todos sem qualquer discriminação social.

Há uns anos, Jesualdo Ferreira, foi o culpado indirecto de José Mourinho não ter regressado ao Sport Lisboa e Benfica. Este, não queria nem vê-lo e Jesualdo não saía nem punha o lugar à disposição sem ser indemnizado. A nossa Direcção bem tentou demover Mourinho, mas nada feito. Assim sendo, Jesualdo continuou até ao jogo com o Gondomar e depois foi colocado em Braga a expensas do Benfica e nem obrigado nos disse. Pelo contrário, veio para Braga dizer mal da nossa instituição. Entretanto, José Mourinho saiu do Leiria para o Porto com os resultados que todos nós conhecemos. Se não fossemos o Clube solidário que somos e um Clube de causas era fácil.

Vamos inverter os papéis. E se isto tivesse acontecido num outro clube bem conhecido? Jesualdo sofria uma cilada, o carro era incendiado, fugia a sete pés e era ele a rescindir o contrato, sem justa causa.

E se Balboa e Zoro estivessem nesse mesmo clube? Teria sido mais ou menos igual: um taco de Basebol na cabeça ou num joelho com a ameaça de que da próxima vez era bem pior. E se fosse um autarca? Ainda mais grave, conforme o lugar que se ocupa na sociedade. Por isso é que eu me orgulho de ser benfiquista. Teremos de continuar cada vez mais a ser gratos e solidários, para sermos cada vez maiores."

José Alberto Pinheiro, in O Benfica

Mais do que um Clube

"A dimensão e implantação social do Benfica obriga-o a ser mais do que um clube. Essa dimensão acarreta responsabilidades para com o país, para com a construção de cidadania.

Neste âmbito, importa realçar o trabalho silencioso, inestimável e que muito me orgulha realizado pela Fundação Benfica. O trabalho desenvolvido ao nível da intervenção precoce sobre os factores de exclusão e o desenvolvimento de mecanismos que promovem o sucesso educativo de crianças e jovens deve ser salientado.

Recentemente, vi declarações do director da Fundação Benfica, Jorge Miranda, sobre os resultados obtidos, logo no primeiro ano de implementação, com o projecto “Para ti, se não faltares!”. Ou seja, um projecto que desenvolveu em largas centenas de jovens uma grande motivação para combater a falta de assiduidade às aulas e, deste modo, melhorar o rendimento escolar. A julgar pelos testemunhos dos pais dos jovens envolvidos, a medida foi um sucesso. Os responsáveis, perante o sucesso obtido, delinearam novas metas, novos objectivos, para continuar a ajudar ao desenvolvimento destes jovens.

Objectivamente, não são estes projectos que nos fazem vibrar e viver diariamente o Benfica. Todos discutimos apaixonadamente sobre quem será o lateral esquerdo, o defesa central que acompanhará o Garay, a necessidade ou não de contratar mais um guarda-redes, a táctica indicada para o plantel.,, Todos defendemos os nossos futebolistas preferidos e olhamos de soslaio para os que tardam em convencer-nos da sua competência. E tudo isto é feito de forma apaixonada e cheios de certezas absolutas que se transformam em certezas relativas com intervalos de noventa minutos.

No entanto, convém que também olhemos para projectos aglutinadores e válidos como os que são desenvolvidos pela Fundação Benfica. Porque o Benfica é, efectivamente, muito mais do que um clube…"


Pedro F. Ferreira, in O Benfica