domingo, 3 de julho de 2011

Toque de classe

"Depois de ter feito votos, na semana passada, para que no plantel do nosso Benfica «se realizem algumas das aquisições faladas e que não se concretizem todas as saídas propaladas», fiquei feliz, ao que julgo saber pelas notícias, que Pablo César Aimar será dos que ficam. Se os adeptos do Benfica se habituaram a exigir que a equipa jogue bem e com eficácia, mas também com elevada «nota artística», Aimar está em todos os planos - técnico, táctico e artístico - e acrescenta um inegável toque de classe.

Todos os jogadores do plantel são importantes, alguns são decisivos, todos têm um papel a desempenhar individualmente e no jogo de equipa, direi mesmo que não há insubstituíveis e assim é que deve ser numa equipa equilibrada. Aimar pode entrar no 11 inicial, pode saltar do banco, pode ser substituído pelo cansaço da entrega ao jogo, porque ele é dos que não negam esforço ao trabalho colectivo. Mas nunca é a mesma coisa, Pablo Aimar estar ou não estar em campo. Tem uma visão de jogo que honra aquela camisola 10 que herdou de Rui Costa. E desequilibra, faz a diferença.

Diego Armando Maradona, sempre excessivo, disse um dia que «o único jogador por quem valia a pena pagar bilhete era Pablo Aimar». Não é o único mas é seguramente dos que valem o bilhete. O jogo de Pablo Aimar tem mais qualquer coisa. Já lhe chamaram perfume. Também talvez lhe possamos chamar filigrana ou alquimia, pedra preciosa ou magia.

E depois dá uma enorme vantagem ao plantel e ao 11: é que Pablo Aimar, jogador de fino recorte e homem de fino trato, amado pela bancada e respeitado pelo balneário, está feliz no Benfica."

João Paulo Guerra, in O Benfica

Money Talks, Bullshit Walks

"Uns quantos milhões de euros após ter feito juras de amor e de devoção que chegavam a abranger o dia seguinte à eternidade, o treinador Villas-Boas abandonou o seu clube.

Não está em causa o cómico de situação que o seu gesto de abandonar a “cadeira de sonho” acarretou. Aliás, aprende-se com o tempo e contactando com o futebol profissional que, salvo raríssimas excepções, o clubismo e o amor desinteressado ao clube é um exclusivo do 'adepto de bancada', seja em que clube for. Deste modo, rimo-nos todos da situação caricata em que o jovem André deixou o Sr. Costa, sabendo, no entanto, que isso pode acontecer em qualquer clube.

E aqui é que reside o cerne da questão. Durante anos, habituámo-nos a ouvir um estribilho por parte dos ‘opinadeiros’ de serviço do futebol luso que nos dizia, constantemente, que este tipo de situação nunca aconteceria no clube do Sr. Costa, pois este tinha uma “estrutura” de tal ordem perfeita e organizada que nunca isto seria permitido. Esta idiotice foi de tal forma repetida que ainda hoje oiço alguns companheiros de benfiquismo a repetirem esta cartilha como se fosse uma verdade insofismável. Prova-se, agora de forma mais visível, que não há “estrutura”, nem profissionalismo, nem organização, nem ameaças de guardas pretorianas, nem promessas, nem teoria alguma que possa fazer frente à lei do dinheiro. Isto acontece em todos os clubes, todos sem excepção.

Estranho apenas os especialistas que outrora garantiam a infalibilidade do Sr. Costa e que agora alternam entre o silêncio envergonhado e o malabarismo circense, tentando demonstrar que, afinal, o palhaço está travestido em imponente domador de feras. Por mais que tentem mascarar a realidade, a verdade é que a dita “estrutura”, pacoviamente qualificada como infalível, ficou com as calças na mão a uma semana de começar a época. E isto, tal como o aconselhamento familiar a árbitros na antevéspera dos jogos, é um exclusivo da tal “estrutura infalível”."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica